Conta uma fábula que uma vez houve uma guerra entre os animais da terra e do céu. Enquanto parecia que os do ar estavam a ganhar, lá andavam os morcegos a esvoaçar, gritando e apoiando o ataque. No entanto, veio a acontecer que os da terra recuperaram terreno e acabaram por ganhar; no fim da guerra, aquando do ataque final contra os últimos ninhos de resistência, viram-se os morcegos na frente de combate, do lado dos da terra, dando vivas sobre as patas e tentando disfarçar as asas o melhor que podiam. Claro que os bichos não eram parvos e criaram um tribunal para julgar o caso, que condenou, para sempre, os morcegos a só poderem viver de noite.
Reparem que a condenação à escuridão não aconteceu por causa da maravilhosa capacidade de adaptação dos morcegos: em si, a polivalência é uma boa qualidade (quantas espécies não se extinguiram por estarem demasiado dependentes de certas condições ou nichos particulares? quantas firmas ou mesmo países não faliram por estarem dependentes de um único comprador ou de um único produto?); o que tramou os morcegos foi terem utilizado essa competência para tentar enganar os outros. Em português há um provérbio (ou melhor, uma única palavra utilizada como epíteto) que ilustra bem a atitude dos morcegos neste caso: «vira-casacas».
Parece que, na origem da expressão, terá estado um aristocrata alemão, o qual, vivendo numa zona de conflito, com avanços e recuos de ambas as partes, terá mandado fazer, a um alfaiate, um casaco com a particularidade de ser «retro-verso»: quando vinham os soldados de um dos lados, era azul, quando vinham do outro, também não havia problema, virava-se o casaco, ficava vermelho. Esperto. Se calhar safou-se melhor que os morcegos, mas o acto ficou-nos plasmado na língua e no espírito como pouco deontológico (se bem que muito comum). Também em Angola, em 1975, a maior parte da população era multi-filiada, com cartões de vários partidos (em bolsos diferentes).
(Continua)
Há 55 minutos
2 comentários:
Este artigo abriu-me um pouco o apetite e faz-me recordar um amigo meu Brasileiro que escreveu o Seguinte:
Os vira-casacas são, na verdade, pessoas que desprezam os valores éticos, morais, políticos e culturais. Os preceitos por eles admitidos são os que lhes viabilizam vantagens pessoais, não importando os meios pelos quais colocam em prática, embora sabendo tratar-se de atitudes reprováveis. Os vira-casacas e os puxa-sacos são irmãos gêmeos. Além dos graves defeitos citados, tais indivíduos agregam em seus currículos a figura detestável e repugnante do traidor contumaz.
(…) Habituados nessa tarefa ou arte, aludidos personagens são facilmente identificáveis pelo público que os repudiam. Essa maneira de agir dos vira-casacas, dá-nos a impressão de urubus em vôo razo à procura de carniça que melhor lhes abasteçam ou satisfaçam os seus mórbidos instintos. Os vira-casacas possuem também o faro dessas aves de rapina, por saberem quando a fonte que lhes saciou a sede está prestes a secar. Aí então é o momento da debandada.
Sabe como é que se classifica quem toda a vida apregoou e propalou aos quatro ventos os fundamentos da democracia e o estado de direito e que hoje num ápice defende a morte do estado de direito?
A resposta é: Vira-casacas.
Até já…
Só uma nota de rodapé:
Não se preocupe (como é habitual) com quem está por detrás da mensagem, mas sim com o conteúdo da mensagem. Não política não se combate o homem/mulher mas sim, as suas ideias.
Fui claro? Espero que sim.
Sem me esquecer, queria apenas que acompanhasse e actualizasse as notícias sobre o golpe de coca ontem citada no New York Times. Com muita pena minha, a nossa Guiné é uma espécie de Titanic. À afundar devagarinho, mas músicos, não faltam que vão animando a malta.
Quando é que será preso e condenado um traficante de droga na Guiné?
Boa sorte para esta tua jornada às Quintas no Xantarim amigo !
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