Conhecido o empenho de Paris na manipulação da CEDEAO, organização em vias de extinção, através da intoxicação da opinião pública simulando pretensos "consensos" ou procedendo a pouco fidedignas contagens de espingardas, vem este blog clarificar um ponto da situação, detalhando a posição actual de cada um dos 15 países da CEDEAO perante a perspectiva de vir a contribuir para uma intervenção militar.
Nigéria - o presidente Tinubu, já internamente fragilizado, percebeu a tempo que a sua inexperiência o levou a exorbitar, à saída da primeira cimeira, pelo que já engoliu o sapo e aderiu à "via negocial", consciente dos riscos de ser o próximo na lista de depostos.
Ghana e Benin - apesar de surgirem como agressores na maioria das listagens, fonte estratégica francesa reconhece que são desfavoráveis à intervenção militar.
Togo - Faure cheirou o perigo desde cedo e irritou Paris ao deslocar-se a Niamey por conta própria. Apostado em ser reconhecido como mediador, dificilmente contribuirá para o esforço de guerra.
Gâmbia - militarmente ocupada, não entra para a conta: o presidente, fantoche de Macky Sall, fez-se representar por personagem secundária.
Serra Leoa e Libéria - segundo a Jeune Afrique, exprimiram sérias reticências durante a última cimeira, sendo citados ao lado de Cabo Verde.
Cabo Verde - o presidente fez-se representar na cimeira da palhaçada e mal chegou o seu emissário produziu fortes declarações contra a intervenção.
Guiné-Bissau - segundo a Constituição, a definição da política externa compete ao Governo, o qual tomará posse hoje, competindo a declaração de guerra à Assembleia. É altamente improvável que o país alinhe na loucura, podendo mesmo o assunto tornar-se no primeiro percalço da cohabitação agora encetada.
Senegal - a braços com uma situação interna escaldante, Macky Sall faz jus à fama de serviçal de França de que o acusa o opositor Sonko, o qual mandou prender. O melhor será ir-se preparando para o golpe...
Costa do Marfim - o velhadas de recados de Paris está completamente cheché. A pedido de Macron, para tentar conservar as aparências de credibilidade e consistência de uma cimeira falhada, produziu declarações de improviso, reforçando-as com o contributo de um batalhão, cerca de mil homens. Ahahahah. Se o ridículo caquético tivesse alguma noção da realidade, ou alguma vez na vida tivesse jogado poker, saberia que neste tipo de game não há marcha atrás. Avec la mise à 1000000, veut "monter" à 1000? C'est sur ça que tu paries, Paris?
Em resumo: as posições estão bem marcadas. Só os dois fantoches de Paris se dizem ainda dispostos à solução militar, dispondo para o efeito, para já, de mil homens, para enfrentar os restantes quatro países membros, Mali, Burkina, Níger e Conacri.
Ou seja, depois do flop do primeiro bluff , um segundo disparate apenas para tentar salvar uma face já perdida, como quem tapa o sol com a peneira e entrando em clara negação. Ora negação é precisamente a palavra que melhor descreve a política de Macron que vai a enterrar com a CEDEAO.
Acrescente-se que a organização, tal como consta da sua designação, é de cariz económico, anda há décadas a tentar, sem sucesso, implementar uma moeda única, não dispondo de enquadramento legal para a agressão, pelo contrário, estipulam as alíneas d) a f) do artigo 4 do seu Tratado constituinte:
d) a não agressão entre Estados membros; e) a manutenção da paz, da segurança e da estabilidade regionais pela promoção e reforço das relações de boa vizinhança f) a resolução pacífica dos diferendos entre Estados membros, a cooperação activa entre países vizinhos e a promoção de um ambiente diplomático pacífico.
Finalmente, e não menos importante, a opinião pública da CEDEAO (e também respectivas diásporas) posiciona-se claramente contra a intervenção, multiplicando-se por todo o lado, os manifestos da sociedade civil, partidos, ou mesmo grupos de religiosos e de intelectuais.