domingo, 21 de junho de 2015

Os medos de José Eduardo dos Santos

As peças de acusação contra os activistas angolanos presos durante este fim-de-semana, vão essencialmente consistir na apresentação de dois livros em preparação cujo tema é precisamente a queda da ditadura de José Eduardo dos Santos: um de Nuno Dala «O pensamento político dos jovens revús» e outro de Domingos da Cruz, «Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura». Tenho a honra de ter sido convidado para participar em ambos, respectivamente com um posfácio e com um comentário crítico. Por isso, à medida dos meus fracos recursos, aviso já: prender os autores não vai parar a sua divulgação; tenho ambos os originais em meu poder e, caso mais ninguém mais qualificado o faça e os seus autores continuarem presos, arranjarei maneira de os dar ao prelo e disponibilizar a baixo preço. Com uma censura prévia destas, o sucesso está garantido. Quanto à acusação de «Golpe de Estado», se fizerem um esforço para ler, descobrirão que se defende precisamente o contrário e se faz a apologia da não violência. Defendem os seus autores que não basta mudar de ditador, tratando-se de algo muito mais profundo, que radica numa profunda mudança de atitudes e de mentalidades: numa luta pela dignidade humana, restituir às pessoas um efectivo controlo da governação e uma autêntica soberania sobre os seus destinos.

Liberdade imediata para Nuno Dala e Domingos da Cruz!

Uma cambada de burros corruptos a humilhar intelectuais que representam um futuro positivo para Angola? Abaixo o apartheid da inteligência. O mundo está de pernas para o ar, dando razão à ilustração do livro de Domingos! E o ditador deixou cair a máscara...

Preto burro

O discurso simplista que nos «relata» as mazelas de cinco séculos de colonialismo, não deve enclausurar-nos as vistas para o processo (inacabado) de reconstrução de uma identidade africana, face aos resquícios mentais do sistema colonial, que continuam pesando sobre os povos do continente, despudoradamente alimentados por várias ex-potências coloniais, como forma de manter a sua influência, impedindo assim uma afirmação positiva do seu próprio caminho para o desenvolvimento. Tentarei apresentar-vos uma leitura actual do trabalho de Luís Cunha, cujo título «A imagem do negro na banda desenhada do Estado Novo» deu origem, na semana passada, a um interessante artigo no Observador. Um alerta para os cuidados a ter com a reprodução inconsciente e desinformada de estereótipos...

Portugal teve um colonialismo tardio, com uma duração inferior a um século: ao tráfico efectuado em fortalezas, no qual a soberania territorial não ia além do alcance de um tiro de canhão, não se pode fazer corresponder este conceito. Só por pressão da Alemanha recém unificada e pretendendo ao império ultramarino, Portugal foi obrigado a ocupar o sertão, cujas campanhas de «pacificação» se estenderam pelo princípio do Século XX. Salazar reinventou depois o Império, baseado numa visão paternalista, cujo «particularismo» escondia mal um profundo racismo, bem patente nas políticas de aculturação e «assimilação» levadas a cabo. A abordagem, que Adriano Moreira ainda tentou mitigar apostando numa intelectualidade africana, acabaria inevitavelmente mal, prolongando-se por uma guerra colonial ingrata, de mais de uma dúzia de anos, culminando na queda do regime e numa brusca e desastrosa «descolonização».

Desde muito cedo que o sistema colonial usou, na sua narrativa, a imagem do preto (por exemplo em bilhetes-postais ou na Exposição do Mundo Português de 1940), mas este era desprovido de voz (não nos referimos apenas a limitações tecnológicas, como no cinema), eventualmente, associado ao som do batuque, e apresentado como dócil figurante. Os movimentos de libertação denunciavam a «coisificação» de que o indígena era alvo e conduziram uma guerrilha militar que não souberam transformar em luta política, de transformação, de dignificação, de empoderamento do homem e da mulher africana. Num continente martirizado, pseudo-elites constituídas em cleptocracias, apoiadas pelos regimes ocidentais, prolongam uma agonia cujas feridas cada vez mais infectadas e expostas, estão à vista de toda a gente, com assassinatos xenófobos, boat-people apinhados, terroristas convertidos em Estados...


É legítimo questionar até que ponto não estamos perante uma profunda crise identitária. Não deveríamos antes encarar a descolonização como um processo que continua em andamento? Esse parece ser o tema central do escritor angolano José Eduardo Agualusa, ou, em relação a Moçambique, o que levou Cabaço a concluir que «as políticas socialistas não foram capazes de romper radicalmente com a “sociedade colonial” nem tampouco consolidar a tal “identidade nacional”». Do lado de cá, a descolonização mental implica lutar contra o preconceito que alimentamos contra a nossa própria História, cheia de pequenas histórias. Na primeira década do século XVI, um príncipe do Congo veio para estudar em Coimbra, onde se diplomou com distinção, chegando a Cardeal, em Roma! Já no século XIX, poderíamos igualmente lembrar Honório Barreto, guineense, mais patriota que muitos portugueses indígenas, que chegou a Governador da Guiné, despoletando o espanto e criando incrédulos pela Europa fora (um «preto» a dirigir uma administração colonial?).

Aqui na minha cidade, em Santarém, muita gente que já levei a visitar a Igreja do Hospital, fica surpreendida por saber que quem ali está enterrada, em lugar de destaque, na Capela Mor, é uma «preta», uma riquíssima «dona di tchom» de Cabo Verde e da Guiné, a qual, sem filhos, foi livre para dispor do seu património e patrocinar a construção da igreja, em meados do século XVII (convive curiosamente com Pedro Escuro, mas isso é outra história, bem mais antiga). E que dizer do Marquês de Sá da Bandeira, defendendo a abolição imediata do tráfico de escravos, nas primeiras décadas do Século XIX «é positivo que os habitantes portugueses das províncias da África, da Ásia e da Oceânia, sem diferença de raça, de cor ou de religião, têm direitos iguais àqueles de que gozamos nós portugueses da Europa»? Desde muito cedo, no Império, se manifestou uma alternativa «estratégica» (aliás duramente perseguida por D. Manuel, que chegou a mandar matar «colonos» portugueses desobedientes), na Guiné consistiu nos «lançados», aqueles que se escapavam ao regime, obrigações e modo de vida colonial, para se misturarem na vida local, acabando por se miscigenar. Outro bom exemplo foi Pero da Covilhã, o erudito espião ao serviço de Dom João Segundo, que face às notícias da morte do seu príncipe e Senhor, se deixou ficar pela Etiópia, como conselheiro real, criando numerosa descendência de vários casamentos. Ou outro homem de mão de Dom João Segundo, Afonso de Albuquerque, o artífice do Império asiático, incentivava os seus soldados a criarem raízes.

Nem devemos pretender padronizar demais as narrativas oficiais, que foram marcando (mas também sendo condicionadas) as épocas e os momentos, emprestando-lhes um cunho hegemónico que não tiveram, pois sempre existiram vozes discordantes, cujo bom senso se fazia ouvir, muitas vezes a contra-corrente. Um inquérito racista cujo objectivo consistia essencialmente em provar que os «pretos» tinham a idade mental das crianças, desenvolvido para o Congresso Nacional de Antropologia Colonial de 1934, desenvolvido junto de missionários, oficiais do exército, médicos, funcionários e outras profissões, no qual se inquiriam várias qualidades como aptidão para o trabalho, impulsividade, moralidade, sugestibilidade, auto-controle, capacidade de decisão, previdência, tenacidade, inteligência global e educabilidade, obteve apenas 27 respostas... deveras interessante é que alguns dos inquiridos defenderam que os brancos metropolitanos eram inferiores aos chinas e aos pretos da Guiné! Não podemos pois compactuar com discursos simplistas e redutores. Talvez devamos antes encarar com esperança os sinais dos tempos: nomeadamente as novas narrativas de resistência e de afirmação identitária, das quais o rap angolano, como agente de comunicação de uma revolução inadiável das mentalidades, é um bom exemplo, ao mesmo título que o Movimento Revu (revolucionário); ou ao novo impulso que as novas tecnologias e o acesso às redes sociais virtuais, vieram trazer à liberdade de expressão e de associação, criando um novo espaço de intervenção política, cuja acção informada, coerente, sustentável e, essencialmente, participada e partilhada na internet, tende a assumir um papel cada vez mais relevante, magnificando uma nova dimensão de activismo para uma cidadania global.

José Eduardo dos Santos aposta na perpetuação do preto burro! Todos os que ousarem pensar vão presos por «Golpe de Estado»! Libertem Luaty Beirão e Nito Alves!

Paranóia terminal

Num verdadeiro tiro no pé, o regime angolano prendeu ontem em casa (no caso de Luaty Beirão, algemado e maltratado à frente da filha pequena) uma série de 13 activistas, apreendendo igualmente todo o seu material informático e de telecomunicações, invocando como pretexto um «Golpe de Estado» em preparação (como se isso fosse possível, em Angola). Libertem já Luaty Beirão, Nito Alves, Mavungo, Kalupeteca e todos os outros pacifistas presos! Prisão imediata de José Eduardo dos Santos e seus esbirros, por atentado à segurança do Estado de Direito. O pobre (literalmente, agora) ditador agonizante quer castigar os vivos? Veremos o que fará Portugal, perante esta enormidade (sabendo que JES nunca mais lhes pagará um centésimo de yuan)... Continuarão os jornalistas a calar a cada vez maior e imparável oposição ao regime sanguinário e torcionário?

sábado, 20 de junho de 2015

O ladrão, o corrupto e o inimigo

Torna-se cada vez mais necessário construir uma consciência colectiva do perfil político dos nossos líderes. É urgente uma reflexão sobre quem nos deve governar. Basta de pessoas com mau carácter que nos são impostas para mandar, impostores com modos negativos, agir tendencioso, corruptos, sob influências ocultas dos lobbies. O Povo paga caro por incompetência de lideres com fraco perfil para governar, centrados no umbigo, megalómanos, gente fria, arrogante, complexada, amantes do «quero, posso e mando», ditando as regras de cima para baixo: em vez de servirem o Povo, servem-se!

Será falta de uma cultura de liderança capaz? O Guineense é capaz, se escolhermos os líderes por Meritocracia, perfil de liderança positiva!

“quem te avisa, teu amigo é” - o ladrão, corrupto ou inimigo, não pode levar a mal, este aviso.

Por Filomeno Pina | filompina@hotmail.com

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terça-feira, 16 de junho de 2015

Em plena crise institucional

A pedido, em relação ao artigo anterior, clarifico a posição da falta de legitimidade da Presidência da República e do Presidente da Assembleia, em caso de queda do Governo: o povo guineense votou no projecto do Engenheiro (está visto que se enganou, mas isso é outra questão) Domingos Simões Pereira. Ninguém votou expressamente em Jomav ou Cassamá. Por isso, esta «constelação» triangular, caso se desfaça, deverá automaticamente devolver a soberania ao povo, permitindo a discussão de novas propostas, mais rigorosas e consistentes, apostadas num verdadeiro combate à impunidade, como todos defendem.

Afirmou Jomav acerca do pronunciamento de Luanda «Não é aceitável! [Cassamá]! (...) não fui eleito por voto universal, livre e secreto dos guineenses para ser conivente com situações como estas. É chegado o momento de definirmos o tipo de instituições e modelo de sociedade que queremos para nós e para os nossos filhos! Não me consigo conformar com a degradação e cada vez mais acentuada inversão de valores que reina na nossa praça.» Mas voltando ao tema da confiança, oiça-se o mesmo Jomav «A confiança dos cidadãos nas Instituições da República e nos titulares dos Órgãos de Soberania depende da eficácia e discrição da actuação do servidor público. Essa actuação deve ser pautada pela apresentação de resultados concretos aos cidadãos, pela contenção e por um enorme sentido de Estado».

A única saída parece ser uma alternativa concertada, um sapo que todos possam engolir.

Não cortar a árvore pela raiz

O Gabinete do Primeiro-Ministro, de forma um tanto ou quanto obtusa e narcisista, propõe um exercício de confiança à sociedade, sugerindo a imagem de uma árvore. A raiz dessa árvore, segundo o método exposto, seria a confiança entre as instituições de soberania; o tronco a confiança na Justiça e Segurança (polícia e forças armadas); os galhos seriam os meios de comunicação social, o poder tradicional e as crenças culturais, que alimentariam a confiança das folhas, neste caso, os cidadãos e as cidadãs.

A imagem parece aliciante, no entanto, não se percebe muito bem o estilo paternalista e autista do discurso. Qual a intenção do Senhor Primeiro-Ministro com esta iniciativa de «governança»? Se fizermos uma abordagem botton-up (a árvore cresce de baixo para cima, portanto corresponde àquilo que entendemos por top-down), poderemos perceber facilmente que aquilo que encrava, neste momento, na Guiné-Bissau, é a «confiança entre as instutuições de soberania», sem a qual a árvore não pode «funcionar».

Ora essa parte é da responsabilidade solidária do Senhor Primeiro, juntamente com os Presidentes da República e da Assembleia. Pretenderá o senhor Primeiro-Ministro maquilhar a realidade, que está aos olhos de toda a gente? Esconder que perdeu completamente a autoridade e não tem vocação para governar? Como pode alguém confiar num Estado que expropria madeira e areia, sem qualquer enquadramento legal, deixando apodrecer a situação, envolvendo países estrangeiros?

Ou cujas providências cautelares não são cumpridas? Onde, apesar de ameaças de auditorias, nada foi feito para apurar as contas que eram legitimamente exigidas numa Câmara de Comércio, permitindo uma tomada de posse ilegítima? Como falar depois levianamente de impunidade, se é o próprio a incentivá-la? Reunir um Conselho de Ministros com um Secretário de Estado em prisão preventiva? Com outro Secretário de Estado que «negoceia» com mafiosos, candidatos a «Companhias Aéreas» de bandeira?

Vossa Excelência deveria mudar de espelho, pois aquele que tem usado está decerto viciado, revelando a sua incomparável beleza mas ocultando lamentavelmente as suas imperfeições. Do «triunvirato» que as eleições legaram ao país, o maior responsável nominal é Vossa Excelência, que escolheu (erradamente) o cargo e os candidatos aos dois outros. Considerando-se o melhor (a falta de humildade talvez não lhe permita reconhecer-se como «o menos mau»), deverá fazer o esforço de aguentar.

Ou seja, não permitir que, depois de fazerem o seu enterro, o PAIGC volte às disputas intestinas e sem futuro. Não será decerto fingindo que nada se passa que atingirá esse objectivo. Para colocar um fim a este status quo da indecisão e da incerteza, que em muito está a prejudicar o país, é necessário que retome as rédeas do Partido, do Governo e do Estado. Quanto à legitimidade dos dois outros órgãos de soberania, neste contexto, é pura e simplesmente nula, em caso de queda de Vossa Excelência.

Um pouco de consistência, por favor.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Repressão brutal no Burundi

As armas estão a crepitar desde o princípio desta noite, nos quarteirões centrais de Bujumbura. A polícia procede a detenções em massa, desconhecendo-se o paradeiro de muitos presos. Seis centenas de universitários, temendo pela vida, procuraram refúgio na Embaixada americana, que se recusam a abandonar.

Após uma breve trégua durante o fim-de-semana, a população continua a manifestar nas ruas a sua oposição ao terceiro mandato de Nkurunziza, repudiando o mediador proposto pela ONU, por descarada parcialidade. Segundo a sociedade civil, com Nkurunziza, não haverá eleições; segundo Nkurunziza, sem ele, não haverá eleições. Que pensar?

O Presidente Zuma, recordando o exemplo de Madiba, já avisou, na perspectiva da realização da 25ª Cimeira ordinária da União Africana, que começa amanhã na África do Sul, que o principal tema que estará em cima da mesa será um interdito sobre os terceiros mandatos e a eternização no poder.

O que vem reduzir ainda mais a margem de manobra, não só de Nkurunziza e Kagame, como de outros ditadores, autênticas lapas agarradas ao poder. Fazendo as contas a quatro anos por mandato, José Eduardo dos Santos estaria já no décimo!

terça-feira, 9 de junho de 2015

Angola - o novo Narco-Estado

A «branca» sul-americana encontrou um novo destino do outro lado do Atlântico: Luanda. Não apenas como placa giratória do tráfico, mas como mercado de consumo.

O Club-K noticia hoje que a Procuradoria chamou os jornalistas do jornal «O Crime», cuja primeira edição, de Outubro do ano passado, revelava a extensão da implicação de altas figuras do regime no negócio (embora sem citar nomes), no sentido de denunciarem as suas fontes (ninguém explica ao Senhor Procurador que o maior Direito que assiste a um jornalista é o de proteger as suas fontes?)

Sentindo-se ofendido por a sua foto fazer manchete (as fotos apenas pretendiam chamar a atenção para os responsáveis, não implicando obviamente uma acusação, pelo menos directa), o Ministro do Interior enfiou a carapuça e terá accionado o processo, pretendendo envolver igualmente o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, com o objectivo de diluir a sua própria responsabilidade (o General Nunda poderá sempre, por sua vez, sentindo-se lesado, processar o Ministro do Interior, por abuso de identidade).

Mas façamos um breve resumo de como o regime angolano, graças às suas relações privilegiadas com Portugal e com o Brasil, se tornou, nos últimos três anos, no maior Narco-Estado africano, traficando (e consumindo) quantidades industriais de cocaína, numa triangulação cujas tímidas denúncias que vão corajosamente sendo feitas aqui e ali, de um e de outro lado do Atlântico, não passam da ponta do iceberg. O primeiro sinal veio com a prisão (a pretexto ridículo - e não relacionado, claro) do comandante provincial da Polícia de Luanda e mais duas dezenas dos seus homens, no início de 2012, o qual, embora mais tarde tenha optado por um prudente silêncio, colocou na altura a boca no trombone e denunciou que «a minha travessia do deserto e a dos meus homens começou quando desmantelámos os cartéis da droga no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro e no Porto comercial de Luanda» e insinuando ainda uma total má fé «foram pura e simplesmente retirados de cena, surgindo um órgão sem competência: (...) a introdução de outros órgãos no processo, que interferiram e desviaram o curso dos acontecimentos, prendendo inocentes e mantendo os criminosos fora do circuito e dos acontecimentos que se encontravam claramente inseridos no processo pendente». 

Aparentemente, o comandante Quim Ribeiro meteu-se com gente graúda, continuando hoje a expiar o seu «crime» nas prisões do regime (enquanto, cúmulo da hipocrisia, o Ministro do Interior ainda há pouco tempo visitava Moscovo para uma Conferência Anti-Drogas)... No contexto de um interminável e completamente descabido processo ao encontro de profissionais com décadas de serviço, suas esposas dirigiram-se em princípios de Dezembro do ano passado à redacção do Club-K, acusando a PGR, em entrevista concedida no local, de forjar provas e de tentarem coagir os subordinados de Quim Ribeiro a prestarem falsas declarações contra o seu antigo superior (que estes terão dignamente declinado, por respeito), e pessoalmente o próprio Procurador de ter interesses empresariais no ramo! Ameaçando mesmo «Mas ainda que matem o meu marido, nós temos tudo bem guardado e se acontecer alguma coisa com ele os nomes irão parar até́ às instâncias internacionais de combate ao narcotráfico. Algumas destas pessoas não satisfeitas com o que já́ fizeram, continuam a perseguir‐nos. Mas estas pessoas que se lembrem do que aconteceu aos narcotraficantes da Guiné‐Bissau, onde foram mesmo lhes buscar para serem presos e julgados nos Estados Unidos da América.» A esposa de outro dos réus revelou, na mesma ocasião, em artigo publicado mais tarde, como a Procuradoria chamara o seu marido para lhe «fazer uma proposta suja de suborno»!

Mas não foi apenas o PGR a ser acusado. O agora muito «ofendido» Ministro do Interior, pela mesma altura deslocou-se pessoalmente ao estabelecimento prisional onde Quim Ribeiro se encontrava detido, numa clara tentativa de aliciamento. Falhados os seus intentos, ainda tentou instrumentalizar amigos chegados do visado (que o haviam abandonado com a sua queda em desgraça) para o mesmo fim, tendo o ex-Comandante recusado recebê-los, segundo reporta outro artigo do Club-K. Entretanto, o negócio continua de vento em popa, tal como o champanhe, não conhecendo os efeitos da crise. Ainda há pouco menos de três meses, o segundo Comandante da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, dava conta das suas preocupações em entrevista à Rádio Nacional (que eu difundi aqui) «Não digo só placa giratória, mas também, já um país de consumo, e há sinais graves de ostentação de riqueza proveniente de droga», reportando-se a pequenas apreensões (marginais, pois o grosso passa por outro lado), apontando o exemplo insignificante de um nigeriano, simples «mula», apanhado com 70 cápsulas... A questão enunciada pela mulher de Quim Ribeiro faz todo o sentido: isso é tapar o sol com a peneira, qualquer criança de rua o sabe, pois «desde que o meu marido foi preso, nunca mais se apreendeu droga no aeroporto ou se apreendem são quantidades irrisórias. Será́ que deixaram de meter droga em Angola ou agora essa entrada de droga está protegida pela polícia?».

Zé Eduardo dos Santos = Ditador Nojento = Assassino = Corrupto = Narco-Traficante

Lamentável estado

Uma denúncia pública das condições de operação do Hospital Militar de Luanda, por funcionários devidamente identificados, acaba por representar uma amostra representativa do estado do país, que «se tem vindo a degradar dia pós dia, os saques são tantos que já não sobra nada para garantir as mínimas condições

Conselho do «escritor» do regime (na vã tentativa de o salvar e por isso pode ter gosto a cínico... «com a verdade me enganas») para José Eduardo dos Santos: quanto mais impedirem as manifestações, mais haverá gente que fica com vontade de se manifestar. E quando o fizerem, será com mais força. É a tal panela de pressão. Penso que era melhor destapá-la. Qual é o problema? Se tudo está a correr tão bem não há que ter medo de nada.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Economist Intelligence Unit (LUSA)

安哥拉总统若泽·爱德华多·多斯桑托斯,敲开每一扇门,世界银行高盛,希望能募集了总计约25十亿美元。

domingo, 7 de junho de 2015

Im(p)unidade selectiva

De imunidade a impunidade, vai um simples letra. A VOA dá parte dessas preocupações, enquanto a LUSA, depois de contactar vários responsáveis judiciais guineenses, refere a estranheza manifestada por estes quanto à libertação do Secretário de Estado Idelfrides Fernandes, preso dois dias antes.

Não ficando claro de quem partiu a ordem para a sua libertação, apenas surgiram (do nada?) algumas «explicações», invocando razões de saúde e as más condições de detenção (o dúbio e oportuno papel da Liga na denúncia dessa situação, uns dias antes, traz igualmente água no bico)...

E se fosse o vulgar cidadão, deverá presumir-se que igual complacência se manifestaria? O que é facto é que essa «doença» se manifestou de forma súbita, pois um dia antes da sua prisão, fôra visto a jantar, com óptima disposição, num restaurante de Bissau, e no próprio dia, à saída da ANP (armado em deputado para insinuar imunidade, aliás incompatível com o seu estatuto de membro do Governo) não patenteava qualquer sinal desse mal que repentinamente o acometeu (decerto do foro alérgico).

A confirmar-se a sua saída para tratamento (fuga ao Tribunal) para Dakar, será um grande golpe na credibilidade da Justiça guineense, em reconstrução. Este senhor, pelos vistos com razão, julga-se acima da Lei do país, sem pudor em fazer gala de ter as costas quentes, depois de tecer uma teia de cumplicidades nos últimos três governos: Cadogo, Transição, DSP.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Carta aberta a José Eduardo dos Santos

«Senhor JES, inicio esta carta com as mesmas dificuldades que sempre tive em tratar-lhe como presidente da república. Tudo isto porque não conheço um único compatriota meu que o tenha legitimado uma única vez, para o cargo que o senhor ocupa abusivamente há mais de 35 anos. E também porque não reconheço no senhor qualidades exemplares para o tratar como presidente da república, dado o alto significado que esta palavra tem para mim. Através desta carta quero-lhe dizer também que cada vez que leio um discurso do senhor, chego quase sempre à mesma conclusão. E acho que ainda bem que a maioria dos angolanos não leva muito a sério as suas palavras que, repito; não têm passado de palavras ao vento. E é lamentável que o senhor não saiba aproveitar as tantas oportunidades que tem tido para se desculpar perante o povo angolano. Pelo sofrimento que tem causado, desde que o senhor e seu bando de bajuladores, incluindo o seu clube de amigos (MPLA), se transformaram em novos colonizadores. Ao implantar em Angola um regime baseado no assassinato, na mentira, prisões, perseguições, humilhação, intolerância, mortes, e uma corrupção cada vez mais assustadora chefiada pelo senhor. Aproveito para lhe perguntar como é que um mau carácter e corrupto do tamanho do senhor, tido como responsável pela grande disparidade, que aumenta cada vez mais entre os tantos pobres da minha terra e os poucos ricaços (na sua maioria seus familiares e amigos). Como pode ter um descaramento tal? Ser tão arrojado ao ponto de se dar ao luxo de pensar que pode dispensar-nos? Pelo contrário, deveria convidar, desafiando-nos para uma reflexão conjunta sobre várias questões que jamais serão prioridade do regime sob sua gestão... Porque a ordem, como tudo indica, é para roubar o mais rápido possível, perseguir, prender e matar tudo quanto seja contra. Ou será que o senhor perdeu noção do que diz, quando afirma que isto é normal, compreensível : isso é comportamento próprio de corruptos, ou então quem lhe escreveu o discurso não lhe foi bem explicito. É caso para repetir! Ainda bem que os angolanos nunca levaram muito a sério os discursos feitos pelo senhor que não têm passado de palavras ao vento. E é exactamente com este tipo de discurso que JES tem procurado esconder sempre o seu verdadeiro rosto evitando falar-nos dos seus assaltos aos cofres públicos. Da maldade que institucionalizou no país e porque razão nunca condenou uma única vez um corrupto ou assassino, e nunca repudiou qualquer assassinato de um seu adversário politico. Mas também com que moral poderia um presidente de um país, responsável pela falta de tolerância, fome, miséria e morte de tantas crianças, convidar essa mesma nação para uma reflexão? Quando esses males todos que essa nação vive são consequência directa dos actos praticados por este mesmo presidente e pessoas que o rodeiam? Senhor JES, aproveito dizer-lhe que os angolanos têm esperança e confiança sim num futuro melhor que passa pela alternância do poder. E que estão cansados de tanta demagogia falaciosa do senhor, e da colonização de bajuladores que chegam a considerá-lo como figura do ano. Apenas porque a sua estadia no poder garante a estabilidade financeira e o aumento de contas em bancos estrangeiros de toda essa corja que militantemente segue os maus exemplos do senhor e sua família. Também gostaria que soubesse que os angolanos igualmente ainda não perderam as esperanças e confiança em qualquer dia honrar os nomes de todas as vitimas do senhor e seu regime brutal. Pessoalmente não defino como presidente de uma república um homem com tão mau carácter como o senhor, que institucionalizou inclusive a maldade para satisfação das suas necessidades, negócios em nome dos seus filhos e para agradar a alguns estrangeiros que por enquanto o vão mimando. A nossa história nos ensina sim que nunca os angolanos viveram assim tão humilhados na sua própria terra e foram tratados piores que os cães de alguns semi-analfabetos que nunca se imaginaram um dia no banco dos réus. Se o senhor demagogicamente considera legítimo que cada angolano alcance um nível de vida digno, porque razão os manda arbitrariamente prender? E não raramente, até matar, professores, policias, bombeiros, antigos combatentes, jovens, funcionários públicos e outros, quando esses reivindicam os seus legítimos direitos? O senhor disse numa das suas passagens que com determinação, coragem, firmeza e grande vontade de vencer, os angolanos conquistariam a independência e a paz. Será que o senhor está lúcido do que diz ou o mandaram dizer? Será que paz para o senhor significa aprisionar até os tantos cadáveres e vitimas do seu regime que se recusa a entregar aos seus entes queridos para que sejam condignamente enterrados? Será que paz significa matar, mandar matar e deixar matar quem é da UNITA, FLEC, BD, PROTECTORADO, apenas porque não concordam com o senhor e o querem ver fora do poder? Se é legitimo que ninguém cruze seus braços porque se dão ao luxo de criarem uma espécie de esquadrão da morte e são treinados para torturarem? Sinceramente só me resta defini-lo como um dos piores demagogos que já conheci na minha vida, desde que nasci, há mais de 50 anos. Não posso definir como presidente da república alguém que não garante a estabilidade no meu pais, porque é falso, populista e mentiroso. Alguém que usa e abusa das leis constitucionais para tirar proveito próprio e partidário, que teme deixar o poder para não perder imunidade e ser forçado a prestar contas pelos crimes cometidos. Alguém que não tem consciência limpa não se pode sentir à vontade para punir com justiça os corruptos e os assassinos, nem condenar o vandalismo, o servilismo e a intolerância, qualquer que seja. Alguém que não utiliza critérios legais para fazer nomeações de figuras como ministros, Presidente do Supremo Tribunal, diplomatas, presidente da CNE. Presidente da república para mim tem que ser um homem livre, capaz de se comunicar com todos os angolanos sem olhar se são da UNITA / BD / FNLA, se são mulatos, pretos, brancos, sulanos, cabindas ou lundas, ou se são de origem cubana, chinesa, caboverdiana, santomense, portuguesa, sul-africana, acreditando ou não nas suas palavras. Nunca ouvi, uma única vez sequer, o senhor condenar um qualquer acto de agressão física ou moral contra os seus adversários políticos... como posso considerá-lo presidente da república? Se, quanto se sabe, o senhor odeia os antigos combatentes que foram da UNITA, FNLA e inclusive seus próprios camaradas que pertencem à linha do Marcolino Moco. E alguns têm desaparecido para sempre de forma estranha e duvidosa, enquanto suspeitos de saberem tanta coisa, que poderiam servir de trunfo para os considerados inimigos do regime. Sinceramente, fico pasmado como é que ainda há angolanos que se declaram aberta e publicamente como estando ao lado e partilhando das ideias do senhor. Como democrata devo aceitar isto? Mais : não me vou esforçar para perceber até aonde chegará a bajulação em Angola e qual o tamanho da falta de vergonha de certa gente. Numa linguagem simples, quero dizer : num país onde quase tudo é perverso, nada mais reina do que essa mesma perversidade.»

Esta carta (inserida nos comentários a este artigo), enviada de Berlim por Jaime Osvaldo Armando da Cunha, embora pareça actual, é de Janeiro do ano passado. Muitas coisas soam a premonitórias, demonstrando à saciedade que a eternização do regime, a falta de alternância, só poderão exacerbar cada vez mais o actual estado de coisas, piorando as condições de vida de todos os angolanos e de todas as angolanas. 

BES@-me mucho

Alerta SPORTING ! O «sobrinho» de José Eduardo já enterrou uma instituição portuguesa mais antiga que o vosso Clube. Aceitam-se apostas sobre quem irá agora enterrar primeiro: o tio dos Santos ou o menino Jesus... Até os cardos riem salgado! A factura do enterro? Mandem para Pequim!

A grande conspiração contra o povo do Burundi

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Burundi acaba de emitir um comunicado, no qual «deplora» a recusa da oposição em relação ao mediador proposto por Nkurunziza, descaradamente parcial a favor do Presidente e da sua inconstitucional ambição. O documento fecha com a hipocrisia total, ao afirmar «o empenho do governo do Burundi na condução do processo eleitoral da forma o mais óptima possível e nos limites da constituição em vigor». Mais óptima? Limites da constituição, depois de grosseiramente violada?

Que a Conferência dos Grandes Lagos esteja interessada em apoiar Nkurunziza, não admira, dado os Presidentes em situações homólogas, a começar pelo vizinho Rwanda, cujo hipócrita Presidente Kagame, igualmente obrigado pelo acordo de Arusha, pretende também atropelar a constituição e o seu povo para se eternizar no poder. Não esquecer outro vizinho, arqui-inimigo deste último (embora em concordância neste caso), igualmente começado por Ka - bila... E o maior apoiante deste último, José Eduardo dos Santos, que na reunião que convocou em Luanda da mesma conferência, agitou o espantalho da «desestabilização externa» para sugerir a constituição de uma secreta comum, dirigida pelo seu homem de mão, Miala.

Diz este artigo que não ficou claro quem sugeriu este nome como o «mais» indicado, ficando-se na dúvida se o próprio José Eduardo dos Santos, se a representante do Burundi... A mim palpita-me que foi o próprio. José Eduardo dos Santos está senil, com os pés para a cova, já não manda nada e exposto a um golpe dos seus próprios (envenenamento? - ninguém estranharia, diriam que foi uma dose mal calculada de fisioterapia): assiste-se já a uma luta pelo poder dos mais «espertos»... Este regime abominável sem o seu mentor só se pode tornar pior ainda, em todos os seus vícios, logo obrigatoriamente mais repressivo.

Da União Africana, que há muito perdeu a sua identidade, já tudo se pode esperar. Agora que o Conselho de Segurança das Nações Unidas vá na conversa, já custa muito mais a aceitar. Passando o irrelevante voto de Angola (que não tem condições para ser «potência regional», como pretende, segundo recente avaliação oficial dos Estados Unidos), como é possível trair um povo que, em peso, manifestou legítima e unanimemente a sua repulsa por um acto ilegal? Deixando-o às mãos sanguinárias de um detestável tirano?

Depois de silenciar todas as rádios não controladas, hoje, a televisão francesa foi obrigada a retirar do terreno, por lhe ter sido retirada a acreditação, sob pretexto que estariam a fomentar as manifestações. Depois, virão as lágrimas de crocodilo... chorando sobre o leite derramado. A única solução será abandonar o povo do Burundi à sua sorte?

Kofi Annan dá o alarme

I believe President Nkurunziza has lost his legitimacy and should step aside. Burundi needs to find a new leader for the country. What is happening could be tragic.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Elogio público

Quero fazer um elogio a Sonia Rolley, corajosa jornalista francesa da RFI, que acompanhou os protestos no Burundi, contra o terceiro mandato de Nkurunziza. Esses protestos foram curiosamente decididos a 25 de Abril, mantendo-se ininterruptamente até hoje. A Sonia foi afastada do cenário, decerto por superiores hierárquicos temendo pela sua vida (lembre-se que a RFI perdeu dois repórteres no Mali há bem pouco tempo), mas continua a acompanhar a situação pelo Twitter. Publicou agora um resumo áudio de seis minutos (em francês), o qual recomendo vivamente, com os momentos mais emocionantes dessa revolução popular em curso, até à «inventona» que serviu para queimar os verdadeiros patriotas no exército e a sua empatia com o povo.

Neste pequeno mas emocionante resumo, destaco o relevo dado ao papel das mulheres, a partir do 3'48''. Transcrevo o discurso galvanizador e cheio de firmeza, deixando transparecer a sua fúria e raiva, discurso verdadeiramente político (do qual o Presidente seria inteiramente incapaz pois enquanto mandava matar o povo na rua, fazia-se fotografar a jogar futebol, inteiramente equipado, para transmitir a ideia de tranquilidade) de uma anciã: «Queremos a Paz, o respeito pela Constituição e pelos Acordos de Arusha, que nos concederam a paz que tanto desejámos, depois de tanto sangue derramado e que continua a ser derramado». Uns dias depois, uma jovem manifestava a sua indignação pela actuação da Polícia, massacrando a jacto de água, gazeando a lacrimogéneo e assustando as mulheres com balas reais: «É uma vergonha! Viemos até aqui marchando pacificamente, somos mulheres "armadas" com lenços brancos. Há apenas mulheres e raparigas em toda esta multidão. Viemos exprimir pacificamente a nossa recusa do terceiro mandato, que está a violentar o nosso país»

Quando os homens tentam fazer a junção com as mulheres, no centro de Bujumbura, a notícia cai como uma bomba: o ex-chefe da secreta de Nkurunziza declara um «Golpe de Estado», aos microfones de uma rádio privada. A «inventona», oportunamente encenada para silenciar as rádios privadas, criou uma dinâmica revolucionária que assustou os próprios mandantes. O entusiasmo popular era contagiante: cantava-se o hino e os alegres slogans inventados na hora fazem lembrar o 25 de Abril. Para terminar, a Sónia escolheu as declarações de um manifestante empolgado, que traduziam perfeitamente o sentimento do povo: «Este é um dia inesquecível, que vai entrar para a história! É a primeira vez que o povo decide uma coisa e essa coisa se realiza. Foi o povo que disse não! Estamos fartos desse gajo!» Imagine-se que, a 25 de Abril, a Cavalaria 7 tinha obedecido à ordem de fogo? Solidariedade com o Burundi, onde o povo não larga a rua, apesar da repressão e das provocações e assassinatos evidentemente promovidos pelo odiado ditador.

Entretanto, no Rwanda, a máscara do Presidente parece ter caído: já tinha aqui realçado o seu papel dúbio na crise do vizinho, ao deixar Nkurunziza utilizar o seu território para chegar ao Burundi. Ontem, silenciou definitivamente a Rádio BBC. A oposição tenta prevenir o mais que óbvio aproveitamento político que este se prepara para fazer, baseado no precedente do seu parceiro: pretendem inviabilizar qualquer alteração constitucional que tolere o terceiro mandato de mais um candidato a usurpador. Os ditadores parecem estar a apoiar, de todas as formas, sob a vergonhosa passividade da comunidade internacional, o «abcesso de fixação» no Burundi, tentando evitar o efeito de contágio. No entanto, nesta era de novas tecnologias e internet, as pessoas já não dependem apenas dos mass media, facilmente manipuláveis ou silenciáveis. O povo rwandês, calejado pelo genocídio, saberá satisfazer o pedido formulado onomasticamente pelo ditador: Kagame! Ok, seja feita a sua vontade.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Evidentes sinais de desespero

José Eduardo dos Santos, desesperado para arranjar dinheiro fresco, tirou o dia para tratar do assunto. Como já deve ter percebido que os chineses não estão para ser chantageados (como costuma fazer com os corruptos vendilhões da soberania portuguesa), lançou também um apelo a Putin, tentando apostar nas rivalidades entre as duas potências emergentes... No entanto, não deverá ter mais sorte do que com os chineses, pois Putin também se encontra com graves dificuldades financeiras, pelas mesmas razões. Uma simples miragem, tal como a banana, que se pode ver na foto em cima da mesa, aos seus pés, que não passa do reflexo da catana.

Entretanto, o discurso atabalhoado do Governador do Banco de Angola, prometendo aumentar o número de leilões, embora não a quantidade de dólares (supostamente) vendida, com vagas e inconsistentes promessas de desafogo monetário a curto prazo, baseadas em premissas falaciosas, vem apenas reforçar a ideia de que se trata de uma despudorada manobra de contra-informação, para ocultar a banca rota iminente. A LUSA, como nos vem habituando neste caso em particular, cumpre um vergonhoso papel de voz do dono, não se percebendo como pode uma agência noticiosa estatal lidar com esta clara corrupção da mais óbvia verdade.

Efectivamente, com dois artigos perfeitamente redundantes, publicados em dois dias úteis consecutivos (passada sexta e esta segunda), temos gato escondido com o rabo de fora: para bom entendedor, basta reconhecer o tipo de jornalismo que enviesa sempre no mesmo sentido. No seu afã justificativo, o idiota que produziu a primeira notícia, nem sequer foi capaz de se reler e pelo meio de frases totalmente sem sentido, produz pérolas como «devido à projeção inicial macroeconómica devido à quebra na cotação do barril de crude no mercado inicial». O artigo resume-se a pura propaganda, repetindo a tanga do regime sem o mínimo espírito crítico.

A segunda notícia é do mesmo nível ou pior ainda, pois embora introduza alguns rearranjos, conserva as piores redundâncias do anterior (do devido «ao quadrado», até ao descomprimir, com e sem aspas, em sítios diferentes). As alterações são de «extrema» relevância: onde estava  «apontou o governador, em declarações aos jornalistas» pode neste encontrar-se «apontou José Pedro de Morais Júnior.» Onde era referido «para breve o anúncio de novas medidas» passa a ser referida a passagem de dois para três leilões semanais, embora essa já constasse igualmente do texto inicial. Mesmo muito mau, isto de copiar e colar o lixo já produzido...

A «flexibilização», ou «descompressão» do mercado cambial, é agora possível, segundo a LUSA, porque no OGE foi considerada uma cotação do petróleo de $40 e esta se encontra «estabilizada» nos $60. Ahahah. «Estabilizada»? Só se for no fim-de-semana, que separa os dois artigos, quando os mercados estão fechados! (ver gráfico na barra lateral à direita) [se assim fosse para que precisa tão desesperadamente do empréstimo dos chineses? não esquecer que, mesmo com o petróleo a $60, ainda está abaixo do custo de produção] Para além de desinformar, ainda pretende fazer futurologia? Para jornalista, não serve, talvez dê um bom bruxo ou adivinho.

Por outro lado, ao mesmo jornalista, parecem ter escapado as conclusões da 44ª reunião ordinária do Comité de Política Monetária, que surge na página do Banco de Angola logo por baixo do relatório semanal, e que comporta uma informação importante: apesar de a situação da Senhora Dona Maria Odete Patrocínio ter sido pontualmente resolvida, a banca continua a chular todas as outras pessoas em situação similar: ao longo do mês de Abril a banca forçou a conversão de 113 milhões de dólares em divisas, ao câmbio oficial, prejudicando largas dezenas de milhar de angolanos que recebem pequenas quantias para sua sobrevivência...

A favor de quem? dos poucos que usam o cartão no exterior, comprando as divisas à cotação oficial (a metade do valor real). Portanto, enquanto os pobres têm de comprar o Kwanza ao dobro do seu valor, os ricos compram o Dólar a metade do seu valor! Antes, o regime era comunista, havia a justificação «moral» para a repartição da fome... Em Inglaterra, ao tempo da visita do Rei Ricardo Coração de Leão, a Saladino, na Palestina, surgiu um revoltado contra o usurpador da terra, que ficou conhecido por roubar aos ricos para dar aos pobres. Já o Robin do Futungo, rouba aos pobres para dar aos ricos! No entanto, se não consegue rapidamente dinheiro...

Até os dóceis deputados já reclamam de salários em atraso.

sábado, 30 de maio de 2015

José Eduardo dos Santos hipoteca Angola a Pequim

O pseudo-presidente angolano, ou dragão de papel, como lhe mandou chamar o Rei de Marrocos, irá brevemente à China negociar a venda do país, em troca de 25 mil milhões de dólares, almofada financeira que o colocaria ao abrigo da crise do petróleo por mais de um ano. Segundo artigo do Club-K, o Ministro das Finanças fez deslocação «secreta», ignorada pela Imprensa oficial... 

Talvez devesse compreender que, dada sua avançada idade, as garantias são escassas: existindo um apreciável risco que venha a deixar esta vida a curto prazo, o PCC deveria considerar seriamente, numa balança de probabilidades, as vantagens e desvantagens da concessão de um crédito de natureza política neste montante astronómico. É que, à falta do signatário, será mais difícil obrigar legitimamente os seus sucessores, sejam eles quais forem.

Já tinha aqui alertado discretamente os decisores da República Popular (não a de Angola) para os riscos de crédito, quando pela primeira vez se aventou publicamente essa hipótese (embora, por essa altura, se falasse de apenas um décimo dessa quantia), bem como aqui, embora com outros destinatários.

Para gastos sumptuários, despesas perdulárias, compra de sucata militar, prémios com o seu nome, legando a dívida aos angolanos e alienando o país? O senhor pseudo-presidente não se entusiasme... Nunca se ouviu um chinês dizer que não, aliás, é uma palavra que esse povo diplomático desconhece, por isso Pequim rima com sim. O que não quer dizer que seja sempre assim. Ou julga que é o único esperto habilitado a não cumprir com aquilo que promete?

Andar a cantar de galo, armado em carapau de corrida, não fica bem a quem depende de dinheiro emprestado...

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Adivinha quem é o pseudo-dragão?

A quem se destina o seguinte recado, hoje saído na imprensa marroquina, a propósito da visita do Rei de Marrocos?

«Quels sont ces pays africains, qui se déclarent faussement des puissances régionales,
qui en ont fait de même? Aucun !
Des pseudo "dragons" africains
qui n'arrivent même pas à assurer
le minimum vital à leur peuple!»

«Que países africanos, entre aqueles que falsamente se proclamam potências regionais, deram o seu apoio [à Guiné-Bissau] como está Marrocos a fazer? Nenhum! Pseudo-"dragões" africanos que não conseguem sequer garantir o mínimo vital para o seu povo!»

Se o plural pode ajudar, esclareça-se desde já que, apesar dum incidente diplomático recente entre os dois países, o principal destinatário da carapuça não é o novo presidente da Nigéria, muçulmano do Norte e que o Rei apoiou nas eleições contra a boa sorte do antigo.

Ao desesperado apelo de fundos das autoridades guineenses,

reforçado pelos intempestivos avisos à navegação que o agente duplo Trovoada emite pela CPLP em nome da ONU , pelos quais ficamos a saber que DSP nada pode fazer sem meios, pois as promessas da mesa redonda não passaram disso mesmo e está completamente sem dinheiro (tudo bem misturado com as ingerências do costume, tentando chantagear com o fantasma da «reforma» da defesa «as condições não estão ainda reunidas para que se possa avançar com margem de sucesso no apuramento das responsabilidades e na punição de culpados ["golpistas"]. (...) Injai foi removido e está tranquilo. (...) Outras altas patentes estão a ser mudadas»)

respondeu o monarca (decerto depois de ouvir as queixas surdas dos seus anfitriões) apontando o dedo a quem muito promete e nada cumpre...

Apenas uma dica: lembre-se que Angola tinha prometido, com pompa e declarações de circunstância (gabando o seu papel de potência regional, o seu lugar no Conselho de Segurança, o seu papel na «paz» do continente), quase dois mil homens para a força centro-africana; uma pequena nota de rodapé meio esquecida do Jornal de Angola veio recentemente anunciar que afinal, «desistiram». Tal como a Garantia ao BES, ou as muitas comissões de inquérito (evidentemente inconclusivas) extintas à dúzia por decreto sibilino.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Meia-Haste

Podemos ver a Bandeira guineense a meia altura da marroquina, no Palácio Real.

A semi-óptica imperial marroquina, transposta para além do Sahara, fica igualmente bem patente no próprio tamanho escolhido para as bandeiras.

Embora esta possa ser considerada uma simples ilusão, pois as bandeiras não estão na mesma haste, nem no mesmo plano, não deixa de ser significativo que, embora as duas bandeiras estejam representadas ao mesmo nível no balcão, uma outra, bastante maior e mais alta, encha a praça.

As relações entre os países devem-se de reciprocidade, portanto Sua Majestade deve-se de retribuir o protocolo a Sua Excelência o Presidente da Guiné-Bissau, convidando-o para uma visita de Estado.

Cedendo-lhe a sua residência principal e sobrepondo a bandeira da Guiné-Bissau à sua própria.

Ocorre-me o célebre provérbio imperial e soberano: «À mulher de César não basta ser séria, também tem de o parecer»

terça-feira, 26 de maio de 2015

O poder do preconceito

Tive hoje uma reflexão que partilho. Partiu de um texto de Nuno Dala, intitulado África, a realidade e o afrocentrismo irracional e bacoco, publicado no FaceBook:

«São neste momento 22h55. Passei o dia a pensar como daria minha contribuição no debate do Dia de África como forma de celebrar o continente que durante séculos foi colonizado, pilhado e humilhado pelos europeus. Ocorre-me apontar que a REALIDADE de África é visível nos seus indicadores em matéria de governação, transparência, direitos humanos (DH), índice de desenvolvimento humano (IDH), estado da infância (IF), índice de democracia (ID) etc. E o balanço já todos sabemos: ÁFRICA ESTÁ MAL, MAL, MAL! (Há felizmente excepções, embora raras). 

Mas afinal, por que será que DEZENAS DE ANOS DEPOIS de o colonizador ter-se ido embora África continua estagnada? Há várias razões, que são sobejamente conhecidas. O que de facto devo aqui trazer à atenção é um sério problema que acaba contribuindo para a estagnação do continente. Trata-se do que eu chamo de AFROCENTRISMO IRRACIONAL, uma "corrente" que tem muitos representantes também em Angola. O afrocentrismo irracional chega a ser patético, trágico e cómico. É ver gente que glorifica até mesmo os aspectos negativos e perniciosos das culturas africanas (poligamia, excisão, machismo, magia "negra" etc.). É ver esta gente a fingir que não está a ver que o continente nos últimos tempo teve (tem) muitas "espécies raras" do piorio (Idi Amin Dada, Bocassa, Mobutu, Robert Mugabe, Botha, Abacha, Banda, José Eduardo dos Santos etc.) que só ajudaram a consolidar a ideia de que o africano está parado civilizacionalmente, não progride! É ver esta gente a falar de "colonização cultural" e "académica", quando muitos deles (francamente) se perfilam em autoridade científica infalível (ou lago assim), defensores irracionais de algo que também não compreendem ou acham que compreendem. É daí que os vemos a dizer disparates como estes: 'Havia escravos brancos no Reino do Kôngo' (como se isto fosse mesmo razão de orgulho para nós!); 'a Rainha de Sabá era africana ou mukongo' (mas o que isto tem de útil?); 'havia democracia no Reino do Kongo' (que ridículo!); 'os afro-americanos devem retornar às raízes' (mas nem percebem que os afro-americanos desenvolveram uma nova identidade com o passar dos séculos!)...Minha pergunta é: para quê inventar tudo isso? É mesmo com estes disparates que vamos recolocar África na estrada da civilização?
»


Ao que Kayenga Kamalamba respondeu: 

«Cleptocracia, são os modelos de governação do continente " Berço da Humanidade". Diz- se que quem está no berço dorme! Será que nós os africanos ainda estamos dormindo? Estamos à espera que alguém nos venha a acordar, para que nos despertemos?»

Ao que respondi:

«A monarquia não é forçosamente má, no que se distingue da cleptocracia. Embora a cromatologia seja uma linguagem enformada por brancos (na qual o preto representa as trevas e o mal), pode dizer-se que, tal como na magia, que pode ser distinguida entre branca e negra, o mesmo acontece com a monarquia. Há uma monarquia boa e benéfica «branca», assente num contrato, em que o governado se obriga a obedecer, mas o governante se obriga, em troca, a bem governar. Rompido esse contrato, o governante, ordenado não ao bem comum mas apenas ao seu interesse particular, perde a sua legitimidade e o seu regime torna-se numa patocracia (o poder patológico), numa monarquia «negra», má e maléfica, um feitiço do qual pode ser bastante difícil os povos se livrarem. Em relação às cores, sugiro que se proceda a uma inversão valorativa do espectro cromático, e se comece a valorizar eticamente, junto das crianças, o preto. Black is beautiful. Antes que se fizesse luz, existiam as trevas, onde reside todo o potencial... Nem a Luz o seria, se não houvessem Trevas primordiais. A humanidade nasceu em África, ser branco não passa de uma «doença» de adaptação a latitudes mais frias, cujo sintoma é a falta de melanina (a qual se corrige, num sentido ou no outro, em poucas gerações)... Isso começa nas histórias que contamos às crianças: em vez de «branca de neve», porque não contar a «preta de carvão» (ou de petróleo, ehehe), que representaria as mesmas qualidades de pureza, etc? Num novo protocolo linguístico, circunscrito ao Continente (se um africano for à Europa, poderá usar o protocolo local, para se fazer compreender, mas em África, podemos esperar que, reciprocamente, respeitem novas idiossincrasias) diremos Magia «Negra» para significar (ao contrário do que até aqui se faz) magia benfazeja, e magia branca (para significar o diabólico). 

Inspirado, ainda produzi uma réplica, tentando aclarar alguns aspectos menos claros:

«A magia não tem forçosamente apenas conotações negativas. Isso parece-me ser reduzir demais as coisas. Claro que não devemos acreditar no Pai Natal, que tudo se resolverá por «magia». Parece-me que é sobretudo preciso lutar contra a forma como o africano encara o mundo moderno: de forma mágica, como «caixa negra», o que o inibe que querer aprender a técnica de dele se apropriar e o colocar ao seu serviço. Se a razão pode explicar muita coisa, não explica definitivamente tudo. Um dos erros em que caiu a geração «científica» foi precisamente a des-sacralização, privando as pessoas de uma faceta mágica, que permitia explicar de forma acessível o modo como o Cosmos possui uma natural propensão para o equilíbrio. A desidentificação é altamente perigosa, neste contexto, como sugere Nuno Dala, pois conduz à negação (da qual podemos constatar um caso paradigmático com Michael Jackson). Pode ser uma explicação de contos de fadas, mas a magia, concebida como capacidade de abstracção mas também de operação, de receptividade perante o maravilhoso, de abertura à utopia, não é forçosamente contra-producente. Trata-se apenas de, através de um ritual propiciador, criar o ambiente legitimador adequado, agindo sobre as mentalidades e introduzindo uma dinâmica de desenvolvimento consistente. Que dizer dos jovens americanos que se suicidam porque não foram preparados para as sequelas da guerra estúpida para onde os enviaram sem preparação adequada? Não podemos estimar que um «simples» pele-vermelha (como lhes chamavam), estava melhor preparado, iniciaticamente, para a guerra e para a morte e suas consequências psicológicas? O ritual de desenterrar o machado de guerra preparava o guerreiro para a excepção que representava a guerra, permitindo-lhe manter a sua humanidade... sabe sempre que aquele momento pontual passará e as coisas voltarão à ordem normal, depois de enterrado o referido machado e fumado o cachimbo da paz. Tal como o legionário do Império Romano, para quem, depois do ritual de lançamento de uma lança, do lado de cá da fronteira, para lá, estava oficialmente declarada a guerra, ficando isento de crimes de guerra «mentais». A magia tem a ver com o poder de convicção (que alguns resumem a uma fé cega), cuja consistência opera inevitavelmente sobre a realidade, a qual, como toda a ferramenta inclusive a ciência, pode ser usada para o bem, ou para o mal.


Em tempos, desenhei e fabriquei um jogo de xadrez de viagem em madeira, sem brancas nem pretas, porque isso é apenas convenção. O jogo tem apenas pequenos buracos nos sítios das casas, e, embora de perfil as peças sejam iguais, umas são torneadas e vistas de cima são redondas, e as outras são trabalhadas à tupia e apresentam secção quadrada. As peças são transportadas dentro da caixa, que por ser facilmente transportável e as peças não caírem, mesmo na vertical, digo que é «de viagem». O rei das esferas tem um cubo por cima, e o rei dos cubos, uma esfera. Muita gente, mesmo após explicações mais que convincentes, recusa-se a ver no objecto um tabuleiro de xadrez, embora eu demonstre jogando com outra pessoa, aderente do «protocolo» e ambos os jogadores possam evidente e individualmente, proceder à notação oficialmente reconhecida das jogadas, em plena sintonia (não havendo portanto dúvidas de que aquilo que estão a jogar é xadrez). Produzi meia dúzia e ainda tenho dois para venda. Madeira de Pinho e Mogno. Lado do cubo e diâmetro do esfera de 2,5cm. Preço 250€.

sábado, 23 de maio de 2015

Regime a falar para as paredes

Ontem, na cidade do Dundo, uma importante cerimónia oficial ficou às moscas, boicotada pela população, apesar da cerveja e comida à borla. Imagem bem representativa da legitimidade actual do MPLA.


A não perder, a opinião de Marcolino Moco, quanto aos recentes desenvolvimentos, ainda um pouco confusos em termos de desenlace, do caso Rafael Marques.

«Minha idéia sobre o fim do caso Rafael Marques:

Devido às ocupações que me preenchem o tempo, no presente momento, não pude aprofundar a situação reflectida do que captei nas redes sociais sobre o caso. Mas se bem o entendi, chamaria a isso a vitória do bom senso. No quadro da situação geral que o país vive, é por uma solução desse tipo que eu torcia, especialmente quando vi que estavam agregadas ao caso pessoas de um bom senso proverbial, como os generais Ndalo, Matos, Nunda e outros. Quem nos dera que conseguíssemos resolver de forma semelhante o problema mãe de todos esses problemas: devolver a soberania ao(s) povo(s) de Angola, sem ser necessária mais uma revolução sangrenta; acabar de vez com a repressão contra manifestantes pacíficos, acabar com a continuação de presos de opinião em Cabinda e nas Lundas, assistirmos ao fim da entrega de todas as instituições a uma família e pouco mais! Na verdade, este é o problema fundamental que temos de resolver, preferencialmente, de forma pacífica. Mas o que se observa é que o Presidente José Eduardo dos Santos acha que a solução é controlar cada vez mais poder (vejam isso de controlar mais pessoalmente o sistema eleitoral?), controlar pessoalmente a comunicação social de Angola e de Portugal; enfim, usar de chantagem contra nacionais e estrangeiros, na base dos recursos naturais do país. Há melhor exemplo de como utilizar a soberania nacional capturada, para chantagem à comunidade internacional do que aquele comunicado do governo de Angola, sobre o caso Kalupeteka? Quando, seja qual seja a gravidade do acontecido, o que se exige, legitimamente, é apenas esclarecimento sobre vidas perdidas?»

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Intentona ou Inventona?

Quem liderou a tentativa de Golpe de Estado no Burundi? Aquele que ainda há três meses atrás, era Chefe da Secreta do Presidente «deposto».  Aparentemente perito em diversões e golpes de teatro, num momento em que se arriscava a ver a capital inundada, lançou o isco, para ver aqueles que cairiam. Desde o primeiro momento que nunca se percebeu bem de que lado estavam «as tropas»; o blindado abandonado em frente à sede da Rádio-Televisão, como consequência de «violentos combates», não apresenta qualquer dano visível, parecendo óbvio que tudo não passou de encenação para abusar o povo do Burundi e quebrar a revolta popular, como alguns, mais clarividentes, logo denunciaram. Tratava-se apenas de purgar a tropa dos elementos patrióticos que aderissem de boa fé. No entanto, devido às circunstâncias, a dimensão da adesão excedeu largamente a expectativas, mostrando à evidência a falência da legitimidade presidencial. E não será outro ditador nojento que o vai salvar.

Com o país em plena insubordinação civil, os activistas conseguiram realizar manifestações em muitos locais.

Num primeiro tempo, fugiam perante os tiros de intimidação para o ar.

Num segundo tempo, passaram a sentar-se no chão, de cada vez que os militares disparavam, partindo depois novamente contra as barragens avançando devagar, com os braços no ar (para mostrar que estavam completamente desarmados) e cantando o hino nacional.

Em vários locais conseguiram chegar ao contacto com os militares e parlamentar, expondo os seus sólidos argumentos.

Entretanto, continuando a dar provas de autismo, Nkurunziza comete mais uma inconstitucionalidade flagrante: demitiu dois ministros (o que significa que, para além de violar os acordos de Arusha, face à dissolução do Parlamento, os novos «indigitados» não poderão tomar posse). O dos Negócios Estrangeiros e o da Defesa (este último, por ter afirmado, no curso dos acontecimentos: «o exército é o último reduto do povo»). Depois de ter chamado aos manifestantes «insurrectos», chamou-lhes «bandidos», depois «golpistas», ainda ontem «terroristas»  d'al Shabaab, e hoje, deu o último passo da farsa genocidária, classificando-os como «tutsis»!

É a cartada do desespero.

Créditos Twitter : Sonia Rolley.

Saudamos a defesa da Ordem Constitucional pelas forças leais ao Presidente da República, cuja legitimidade não pode ser posta em causa

José Eduardo dos Santos, hoje, sobre a situação no Burundi, por ocasião da Cimeira Extraordinária da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, publicado pelo Portal de Angola. Sustenta ainda a diversão lançada por Nkurunziza:

«Convido Vossas Excelências a inscrever na nossa agenda como ponto de destaque o fenómeno do terrorismo e a encarar com muita seriedade a forma de o prevenir e combater. O massacre de cerca de centena e meia de estudantes no Quénia e outros actos terroristas perpetrados pelo grupo Al Shabab, são crimes que condenamos com veemência.»


Em termos de massacres, comparado com o terrorismo de Estado de José Eduardo dos Santos, no grupo Al Shabab, são uns meninos. É o próprio José Eduardo dos Santos que está a atar o seu destino ao de Nkurunziza. Não deverá pois admirar-se, se os angolanos se inspirarem no povo burundês para se libertarem da tirania.

Cumprimento do OGE = 1 / 1000

Segundo o relatório semanal do Banco de Angola, o resultado do financiamento interno no período em consideração foi equivalente a um Título do Tesouro efectivamente colocado por cada mil emitidos.