sexta-feira, 15 de maio de 2015

Recepção «triunfal» a Nkurunziza

No centro de Bujumbura, a chegada do autocrata é festejada por uma «grande» multidão. Compare-se com a densidade humana no mesmo local, há dois dias atrás.

Revolução popular no Burundi continua

Confirmada a entrada no país do Presidente deposto Nkurunziza, por via terrestre, com o cínico beneplácito do Presidente do Rwanda (apesar de há cerca de uma semana este lhe ter pedido para dar ouvidos ao seu povo), entrando pela cidade fronteiriça de Negozi, seu bastião; foi entretanto anunciada a sua partida para Bujumbura, um percurso de pouco menos de 100Km. Puderam-se ouvir, partindo ruidosamente do centro de  Bujumbura, algumas viaturas de apoiantes fazendo-se à estrada para o irem receber. Elementos de uma sinistra milícia presidencial com vocação para esquadrões da morte, esperam a chegada do presidente: comparem-se as dezenas de milhar de anteontem com as dúzias de que falava há pouco o correspondente da BBC.

Enquanto isso se passa, um importante documento (que pode mesmo ser considerado de precedente a nível mundial), uma carta aberta assinada por quatro ex-presidentes do Burundi, vem desautorizar Nkurunziza e reforçar as firmes convicções da revolução popular, que exige que Nkurunziza retire a sua candidatura a um terceiro mandato. Enquanto isso, neste momento, as milícias gritam na rua, em jeito de provocação: «Acabou-se o reinado de Niyombare [chefe dos amotinados, cujo paradeiro é de momento desconhecido], viva o PRIMEIRO MANDATO de Nkurunziza».

Após o lamentável caso da surreal rendição da segunda figura golpista, que terá atraiçoado o líder e sido cooptado pelo Presidente deposto, teme-se, à boca pequena, segundo o jornalista do Le Monde Jean Pierre Remy, uma sangrenta repressão. Em muitas zonas do país, a própria polícia tinha aderido ao Golpe de Estado consonante com o desejo de Revolução Popular (muitos dos chefes de posto foram presos). O que provocou uma reacção popular de indignação e repúdio, acusando o falhanço militar de ter quebrado o levantamento popular. Em Musaga, a população interpôs-se entre a polícia, que vinha prender os «cabecilhas» e a barragem dos militares golpistas. Num momento de tensão, a polícia chegou a disparar por cima da multidão. Os militares acabaram por ser eles próprios a levantar a barragem e a sugerir à polícia que se acalmassem...

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Tentativa de intoxicação

Após o anúncio via Twitter do retorno ao país do Presidente Nkurunziza, a jornalista Sonia Rolley está a publicar, desde há cerca de meia hora, informações imprecisas que estão a ser largamente difundidas e propagadas. Resta saber se a jornalista da RFI foi desinformada ou é cúmplice de uma manobra de contra-informação, dando conta de um «reconhecimento da derrota», por parte do General Cyrille Ndayirukiye (apresentado como número dois da revolta), com declarações surreais como «Notre initiative même si elle a échoué a mis à nu une armée qui est inféodée au parti au pouvoir.» Alguém que ouviu o mesmo audio, disse que não era ele, mas alguém que o citava... Parece óbvio que estas «notícias» se destinam a a desacreditar e desmoralizar a revolução, travando as várias colunas militares de apoio à revolução, que se dirigem para Bujumbura, originárias de vários pontos do país.

Polícia vandaliza, no Burundi

Elementos da Polícia afectos ao ex-Presidente incendiaram as instalações de duas Rádios favoráveis aos rebeldes: que dizer de uma polícia que, em vez de defender a propriedade, é a própria a promover a pilhagem? As operações da polícia contra as rádios foram efectuadas em estilo guerrilha: «bate e foge» (da fúria da população). Desde ontem que aparentemente se luta pelo controlo dos meios de comunicação. O assalto rebelde à Rádio-Televisão (único meio de chegar a todo o país) parece ter falhado, mas demonstra claramente que são os revoltosos que estão ao ataque, tentando acabar com as bolsas de resistência pró-Nkurunziza, e não o contrário, como afirmava ontem o Chefe de Estado Maior lealista.  Face à escalada da violência a população parece ter optado por ficar em casa, para já.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Revolução popular no Burundi

Aproveitando uma deslocação de Nkurunziza à Tanzânia, o General Godofredo Niyombare, proclamou esta manhã a destituição do Presidente do país. Ex-Chefe de Estado Maior das Forças Armadas e companheiro de partido de longa data de Nkurunziza, fora nomeado em Dezembro passado para a chefia do Serviço de Informações, mas acabou demitido em Março, por divergências com o Presidente.

A noite caiu em Bujumbura e, segundo os vários media que estão a reportar, o desfecho não é claro. O centro das atenções transferiu-se entretanto para o aeroporto, ocupado pela tropa. Se o Presidente conseguir aterrar, conseguirá eventualmente agarrar-se ao poder; mas ninguém sabe para que lado estão virados os militares que ocuparam o aeroporto, ou se Nkurunziza arriscará a viagem.

Tudo começou bem cedo, esta manhã. A grande originalidade deste dia foi decerto o importante papel desempenhado pelas mulheres, que tinham marcado uma jornada de luta contra a pretensão do Presidente de concorrer a um terceiro mandato, e pela reabertura da RPA, rádio contestatária fechada pelo regime. Ocuparam o centro de Bujumbura, tendo sido dispersas a canhão de água, reagrupando-se em seguida.

Mais tarde, o grosso dos manifestantes tentou fazer a junção com as mulheres, sendo impedidos pela polícia. Alguns elementos revoltosos do Exército, com um blindado, juntaram-se aos populares e enfrentaram a polícia, avançando muito lentamente com a multidão. A polícia entretanto desapareceu das ruas. As chefias militares reuniram-se para discutir a saída para a crise, sem que se perceba muito bem, para já, para que lado pende a situação.

Parece que o Presidente conseguiu assegurar a fidelidade de algumas unidades, mesmo se duvidosa: quando um repórter francês perguntou, há pouco, a um dos soldados de guarda ao Aeroporto (entretanto fechado e de luzes apagadas, tendo um avião belga sido desviado para Nairobi) de que lado estava, se do lado do povo se do lado do Presidente, este não soube responder... Aterrará para continuar a aterrorizar?

Se em termos militares as coisas estão confusas, já em termos de controlo dos meios de comunicação, as coisas parecem correr melhor para os revolucionários. A polémica RPA voltou a emitir, o que foi festejado com alegria por toda a população; enquanto, por outro lado, a REMA, pro-governamental, que tinha vindo a dar notícias enganosas sobre a revolução e a apelar a uma «guerra de catanas», foi silenciada.

A televisão, defendida por um contingente leal ao Presidente, continuou aparentemente com a sua programação, como se nada se passasse. A população festeja ruidosamente nas ruas a desgraça pública do Presidente e julga que o Golpe foi um sucesso. Os slogans dos manifestantes a que foi dado maior relevo no Twitter, foram, para as mulheres, «Pierre Nkurunziza para Haia»; já para os homens, foi destacada a consciência de que «Pela primeira vez o povo decide e é respeitado», ou «Somos hutus, somos tutsis, somos o Burundi!». 

O que levou o jornalista do Le Monde, Jean Pierre Remy, a exclamar, traduzindo o sentimento geral «O que se joga em Bujumbura é o futuro virtual de vários outros poderes africanos».





Créditos Twitter: Sonia Rolley @ RFI e Jean Pierre Remy @ Le Monde

Taxistas taxativos

A tensão social, com o agravamento do autismo das autoridades, está em plena explosão. Os tiros no pé que esta política induzirá serão consecutivos e rapidamente deitarão abaixo qualquer estrutura repressiva, por mais eficiente que seja. O caso dos taxistas é paradigmático.

Numa tentativa para conter o descontentamento popular, as autoridades pretendem congelar o preço das corridas de táxi, importante fatia do orçamento familiar na cintura de Luanda, apesar dos fortes aumentos de preço no combustível. Face à negação, a classe dos taxistas, na sua generalidade, passaram a desrespeitar a tabela oficial, que deixou de ser economicamente sustentável. Numa operação de intimidação ocorrida ontem, vários foram presos «com a boca na botija» e obrigados a pagar uma pesada multa. A solidariedade profissional entra agora em campo, gerando a revolta.

ONU dá o alarme

A ONU acaba de exigir em comunicado a abertura de um inquérito independente para apurar a dimensão do massacre ocorrido na Caála, em Angola, chamando a atenção para os relatos alarmantes dando conta de centenas senão mesmo mais de um milhar de mortos, como estimou o principal partido da oposição, a UNITA. Numa subtil alusão à responsabilidade de José Eduardo dos Santos na carnificina (já denunciada por Justino Pinto de Andrade), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou ainda que o tratamento dado à questão, nos media estatais, terá contribuído para criar um ambiente persecutório, que continua até hoje.

Apesar de a LUSA não ter ignorado a notícia, a imprensa portuguesa continua cobardemente surda, cega e muda perante o caso. Só o Correio da Manhã lhe dedicou um envergonhado minuto. Aparentemente, a entrada de capital angolano na estrutura accionista indígena comprou todas as consciências.

Se a UNITA viu o acesso à zona do massacre barrado (pois precisavam de tempo para ocultar as provas), já a CASA-CE produziu um relatório descrevendo circunstancialmente o ocorrido, concluindo pela premeditação, baseando-se nas movimentações militares prévias, acusando a Presidência de pretender criar um bode expiatório - que servisse para desviar a atenção das pessoas dos graves problemas económicos internos que o país atravessa, servindo ainda como intimidação para qualquer acção de contestação da oposição, como evidencia a tentativa de colagem de Kalupeteca à UNITA.

Relatório que o Presidente se recusou a receber. O ditador entrou em total negação, a todos os níveis. Num diabólico autismo, deita alegremente achas para a fogueira, caindo no ridículo de criar prémios com o seu próprio nome, comprando aviões de luxo, ou insistindo no seu discurso belicista de potência regional (em segunda mão). À beira do precipício, José Eduardo dos Santos enceta uma fuga para a frente. O resultado será inevitavelmente desastroso.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Dívida pública em carteira

Enquanto o Governador do Banco Nacional de Angola encerrava o Fórum de investimento em Dívida Pública, o relatório semanal da mesma instituição, dava conta da colocação de menos de 0,5% do previsto. Os 99,5% sobrantes juntam-se assim aos montes de títulos do tesouro já amontoados desde Fevereiro. Ou seja, as autoridades monetárias não conseguem sequer absorver um por mil das divisas em dólares colocadas no mercado, evidenciando um grave desequilíbrio na execução da componente de financiamento interno do OGE, já revisto.

As declarações do Governador, dando a entender que os 300 milhões de dólares por semana que têm vindo a ser disponibilizados para a banca serão brevemente reduzidos, falando em RACIONAmento [ó senhor Artur Queirós, anda a dormir? este é um erro de palmatória, aqui só poderia ser usada «RACIONAlização», está esquecido do mestre? não há «retiradas», apenas «reposicionamentos estratégicos»], redundam na gaffe imperdoável de um alarmante discurso quanto ao nível de reservas (continua a referir dados - opacos - de Fevereiro), induzindo ainda maior depreciação da moeda...

O dólar deu hoje novo salto, para mais de 200Kz, no mercado informal.

O medo da ciber-revu

Apesar da fraca taxa de penetração da internet em Angola, cujo acesso se mantém restrito a uma elite, o FaceBook constituiu-se rapidamente como uma plataforma de partilha de informações não sujeitas à apertada e hegemónica censura oficial. Por isso, os bocas de aluguer do regime não perdem uma ocasião para diabolizarem a ameaça que representa para o regime o acesso a informações livres, contrariando as mentiras descabeladas que repetem à exaustão.

Dedicaram à questão dois editoriais nos últimos dois dias, no Jornal de Angola, a Voz do Dono.

Graças ao adjunto, ficamos a saber dos perigos de desinformação que representam essas informações «não confirmadas» veiculadas por tais meios: «quem foi atrás da “má nova” está a constatar, felizmente, que afinal a premonição não passou de uma mentira descabelada», chegando ao cúmulo de insinuar que aquilo que se passou no Sumi se tratou de um suicídio colectivo! Pouco dias depois do dia da liberdade de imprensa, associa esta «a um convite à irresponsabilidade, à proliferação de informações falsas com o claro objectivo de criar um ambiente generalizado de descrédito e, desse modo, caminhar-se para o aprofundamento da crise de valores sociais.» Os maiores expoentes dessa crise são o próprio Manaças, o Director e o Mentor!

Não assinado, mas na mesma ordem de ideias, o editorial de hoje, a pretexto de uma feira de novas tecnologias em Luanda, defende as vantagens da universalização do acesso à internet, MAS...

«Esperamos que as últimas cenas reprováveis, em matéria de propagação pela Internet de conteúdos informáticos que degeneraram em actos criminosos, sirvam como ensinamento para todos os utilizadores das novas tecnologias de informação e comunicação. É verdade que, em muitos casos, o acesso às novas tecnologias de informação e comunicação é feito sem a preparação elementar sobre os conteúdos a inserir e partilhar, sobretudo nas redes sociais onde o aparente “vale tudo” esteja a servir como regra de actuação.»

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Eça agora, ó Queirós!

O discurso do medo. O fantasma da guerra. O apelo à violência. A eternização no poder. A retórica da mentira. A arrogância do vencedor. A ofensa gratuita. Que rica colecção de medalhas que o pseudo-jornalista consegue amontoar num simples artigo de «opinião». No entanto, o mentor de José Eduardo dos Santos (de outra forma, como compreender que estes delírios fiquem sem reparo?), cometeu um erro, desta vez. Comprou guerra com uma força que poderá revelar-se altamente maléfica para os seus desígnios de fossilização da sociedade. Farta-se de soprar, já em tom de falsete, na sua corneta, com ampla difusão e cobertura institucional, mas já ninguém liga aos seus sinais de alarme. Sabe que a sua hora está a chegar: a fuga para a frente é típica dos desesperados. O seu estado psicológico está a assumir claros contornos patológicos. Duvido muito que a pessoa a quem se dirige vista a camisola da UNITA, como quiseram fazer com Kalupeteca (à força de invenções e de verem inimigos por todo lado). Os doentes agudos de paranóia, quando se lhes pergunta quem lhes quer fazer mal, onde está o seu inimigo, respondem vagamente «eles...». Ao jornalista frustrado que opina no Jornal de Angola (a Voz do Dono), sugerimos que, por uma questão de igualdade de género, acrescente à minuta «ou elas...» ou «e elas...» ou as duas coisas juntas e/ou. yô

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Assim num dá, Nunda

O Chefe de Estado Maior angolano, ao assumir em Luanda a presidência rotativa do respectivo órgão CPLP, em substituição do seu homólogo português, produziu declarações centradas essencialmente na Guiné-Bissau:

«Formulo votos de que as suas Forças Armadas [da Guiné-Bissau] tenham, na pessoa do seu Chefe do Estado-Maior General, a mão firme que conduzirá às reformas preconizadas para o sector militar».

Há três anos que José Eduardo dos Santos alimenta essa psicose, em busca de vingança pela humilhação que sofreu nessa altura. Que o CEFMA cumpra acriticamente um guião presidencial sem qualquer nexo razoável, só pode desmerecer o benefício da dúvida que lhe foi concedido pela opinião pública, quando assumiu o cargo, como ex-militante da UNITA.

Também eu quero formular votos, lembrando precisamente a reacção dos militares guineenses em 2012 (não estamos para aturar este arrogante e prepotente! que julga que pode vir dar ordens na terra dos outros). [Aproveite mazé o exemplo dos militares guineenses, e entregue aos tugas o «presente», bem embrulhadinho.]

«Formulo votos de que as suas Forças Armadas [de Angola] tenham, na pessoa do seu Chefe do Estado-Maior General, a mão firme que conduzirá às reformas inevitáveis para o país», face à acelerada erosão do regime e ao risco de o poder cair na rua.

Aponta-se à consideração de Vossa Excelência o exemplo do Burundi, no qual as forças armadas se interpuseram recentemente entre o Governo e a população, dando claros sinais de que não tolerarão mais mortes inúteis.

Antes que querer vir dar lições de moral aos outros, a soldo de um velho decadente, senil e em plena negação, desmarque-se a si e às Forças Armadas nacionais, das agressões e morticínios contra os seus próprios cidadãos.

PS No mesmo contexto de agressão soberana, os Ministros português e brasileiro dos Negócios Estrangeiros reuniram em Brasília com semelhante ordem de trabalhos, sem participação sequer dos interessados guineenses, dando-se ao luxo de emitir declarações conjuntas abusivas, no estilo a que já nos habituaram. Que curiosa obsessão sincronizada!

Director Nacional ridicularizado

Num debate promovido ontem pela TV Zimbo sobre o estado da Liberdade de Imprensa em Angola, Rui Vasco, Director Nacional de Informação, mostrou que não está minimamente qualificado para o cargo que exerce. Perante as câmaras, numa amostra bem representativa da mediocridade do regime, foi completamente cilindrado pela Secretária Geral do Sindicato dos Jornalistas, Luisa Rogério, que confrontou o ignorante com um perfeito domínio dos dossiers. O exercício acabou por redundar numa humilhante gaguez, por parte do representante do poder instituído, que não deixou margens para dúvidas a ninguém, quanto ao lado para que pende a razão.

Marcolino Moco apela à Presidência

«Estou convencido que teremos de resolver este problema de forma pacífica. E era bom que fosse com a colaboração do próprio Presidente dos Santos. (...) É preciso acabar com o caso de prisioneiros políticos e humilhados em Cabinda; acabar com os casos “Rafael Marques”; acabar com os casos “Kalupeteka”, só passíveis de ter lugar, onde o medo de perder o poder e o aproveitamento político não lembram nem ao diabo». Palavras publicadas ontem na sua página da internet, após quase um trimestre de silêncio. Sub-entenda-se: é que se não vai a bem, vai a mal!

Há três meses, em entrevista à Folha 8 de 31 de Janeiro, Marcolino Moco defendia que «está à vista de todos que o MPLA está refém do Presiden­te; o meu problema não é o próximo Presidente ser filho do Presidente (já há e houve muitos) mas a questão do regime (fortes risos), a não ser que ele volte atrás, está à vista que ninguém o vai contra­riar. Agora, o que está fora de caso (risos) é, realmen­te, até onde o Presidente Santos chegou e quer che­gar para teimosamente se­gurar o poder pessoal, até para além da vida, dentro de um Estado proclamado democrático. (...) A situação do BESA devia fazer pensar os que acham que morremos de inveja por não exer­cermos o poder e por isso criticamos ou como dizem “cospe no prato onde co­meu”. É particularmente grave que um Banco Na­cional cubra o crédito mal parado a particulares, nas volumosas somas anun­ciadas, por ordem de um chefe de governo intocá­vel. E, na mesma altura, ou logo a seguir, não há divisas no país. Se vierem coisas piores do que isso, então adeus... Na verdade é o Presidente que, hoje, se tornou refém de si próprio. (...) A úni­ca solução para um governo imediatista é a arte de encontrar “bodes expiatórios” e “desculpas do mau pagador”, o que nas cir­cunstâncias nem é difícil, num país onde se reprime e até se mata quem recla­me. (...) Acredito que um dia o bom senso despertará as consciências dos homens da elite política da minha geração, a tempo que futu­ras gerações não resolvam isso de forma inesperada. Os sinais não andam muito longe e isso não se resolve com eleições sucessiva­mente armadilhadas, para a UA, a ONU e UE verem.»

Entretanto, afastado da política, Moco tem acedido ao pedido de vários partidos da oposição, participando em vários eventos, constituindo-se de certa forma, como uma autoridade transversal. Nesse contexto, são especialmente significativas as suas declarações de que «a única organização que está a tentar actuar com o que a situação exige são os chamados jovens revolucionários que têm levado a cabo manifestações em Luanda de forma pacifica. Isto porque, segundo disse, esse movimento está a colocar a questão politica fundamental em Angola no centro das atenções, nomeadamente o facto do regime não permitir manifestações pacíficas, não dar explicações sobre pessoas desaparecidas, não permitir a liberdade de imprensa e não encontrar quem possa substituir o chefe de estado no poder há 34 anos. Disse ainda que a oposição, particularmente a UNITA deveria tentar enquadrar a resistência dos chamados Jovens Revolucionários encontrando uma plataforma de entendimentos com outros partidos políticos  e todos os outros sectores da sociedade até mesmo dentro do MPLA.» É natural que, não tendo a sua dignidade à venda, sinta uma grande empatia pelos revu.


Quando lhe perguntaram qual era o vício do regime que considerava mais grave, respondeu em entrevista, sem pestanejar: «O culto de personalidade. Há pessoas que pensam que o Presidente da República é insubstituível e que, no seio do partido, não há ninguém que possa liderar o país. Quando o chefe de Estado diz alguma coisa, todos aceitam e não se pode discutir ou contrariar. (...) Encontraram uma forma de eternizar uma pessoa no poder. Nunca tive a ambição de chegar ao poder. Mas, no futuro, posso ter.» Admita, senhor Presidente, que há gente bem mais competente. Não se faça de mouco.

Literatura inflaccionista

«Hoje de manhã, assim que levantei depois de agradecer o 'Ngana Nzambi', fui directo revisar as news no face. Encontrei mambos como: Mel Gamboa desentende-se com o Observatório de Imprensa; filho do Kalupeteca com paradeiro incerto, faz revelações bombásticas; Samakuva vai tocar o apito da arvorada e tantas outras cenas. Tentei molhar os ossos para sair, dei por conta que os bidons estavam vazios. Caralho! Pego no telemóvel trim trim trim, e do outro lado atende: "Alô puto localização?" O puto: Kota tô no Camama I. Eu: "Preciso de água mó ndengue". Passados alguns minutos o puto aparece: "Kota esses mambos assim é sempre bom na Segunda-feira hoje assim complica. Já estava mbora para esticar nas zonas por onde não há água". Eu: "Ya ndengue tens razão, mas é que ontem não dava estava a fazer manifestação pacífica em casa para cumprir as ordens da Mel Gamboa". Agarro em 400kz e pimbas 8 bidons. Depois de tudo o puto berra: " Kota hoje assim é o último dia a pagar por esse preço, pela próxima será 75kz por bidon e o kota como é bué informado nesses mambos de política acho que já sabe o porquê né?" Fiz de conta que não sabia: "Nada puto não sei de nada qual é a dica então?" O Puto: "Então o kota não sabe que o combustível subiu desde a madrugada de Sexta-feira?" Dentro de mim pensei: "Porras malditos ya! Já começamos a sentir as conseguências dos aumentos?" Em seguida disfarcei com um riso irónico e disse-lhe: "Sim ya não há maka vamos pagar por esse preço, fazer o quê? Você nos ajuda muito. Também a culpa não é tua. Tá fixe puto valeu". Depois de tudo peguei em 20kz, para comprar pão daqueles pequenos de cada 10kz, nos Mamadús, assim que cheguei lá 15kz. Pensei novamente, isso é azar meu Deus! "E a propósito ó Ali, como é que foi lá na Esquadra Sexta-feira, quando te levaram? Ele: "O sefi deles les fendeu e falou assim eu mandar vocês pra contolar barrios nó pra trazer estangelos. Depois sefi mi falou assim você pode ir tabalar". Eu: "Bem feito corruptos de merda. É verdade mesmo que você não tem os documentos de estadia?" Ele: mó sefi falou assim já ta resorve". Eu: "Ah ok! E diz-me ó Ali, porquê o pão de 10kz agora passou para 15kz?" Ele: "Oh! O kota nó sabi que o combustívele subiu?" Eu: "Porras mas agora tudo subiu por causa do combustível? No pão vai gasolina? Agora assim como é que vou comer esse ca-pão? Vou trabalhar e só espero que a merda do táxi não subiu também! Toma toma e da-me o troco de 5kz"»

Impressões do Eusébio Maneco, na sua página do FaceBook, a quem agradeço a autorização para publicação.

Chicotada de hipocrisia

O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, ontem, em declarações numa reunião de «Alto Nível» nas Nações Unidas:

«Orgulhamo-nos pelo facto de Angola ser campeã em África da promoção do uso de meios pacíficos, da concertação política e diplomática, bem como na aposta da cooperação económica como parte das soluções para os desafios que afligem numerosas sociedades. Hoje, está provado que o uso do chamado “Soft Power”, o uso de meios não letais e com grande capacidade de persuasão, acarreta mais benefícios que o recurso a meios coercivos»

terça-feira, 5 de maio de 2015

Estranha semi-óptica


A notícia, repassada pela agência noticiosa angolana, de que o secretário de Estado norte-americano John Kerry declarou ontem (segunda-feira) que a polémica candidatura do presidente do Burundi a um terceiro mandato é contrária à Constituição do país (a qual, dada a conjuntura angolana, nunca deveria ter escapado à tesoura dos censores de serviço), vinha acompanhada por uma imagem de arquivo. Um ligeiro zoom efectuado à imagem da France Press (tirada a 9 de Abril, na cimeira entre os Estados Unidos e Cuba realizada no Panamá), faz aparecer, à direita, aquilo que parece outra mão, com o dedo no ar, para fazer alguma pergunta... «_Não haverá mais casos, nas mesmas circunstâncias.?». No entanto, uma pesquisa mais aturada, permite perceber que se trata da mão esquerda de Kerry: «_Sim, sim. Muitos mais.» Seria de bom tom adoptar o mesmo procedimento, em casos similares.


MPLA - Mensalão, Petrolão, Lulão, Angolão

O publicista de José Eduardo dos Santos nas eleições de 2012 apanhado na teia de corrupção para financiar o Partido de Lula, naquilo que mais parece configurar uma vingança política pelo «ataque» a Dilma, precisamente pelas mesmas razões. Cortina de fumo sobre as makas cujas malhas se estendem através do Atlântico, num indigno comércio triangular de soberania, que também inclui Portugal, à revelia dos interesses colectivos dos povos da CPLP, vulgar macaquice invertida do antigo sistema colonial. Siga os links abaixo:





Angolão

SOBRE O PT e o PSDB:

Dizem lá que um não presta
E o outro não vale nada
Que um só faz coisa errada
O outro coisa funesta

De cá, olhando, só resta
Virar o nariz pro lado
Porque o cheiro exalado
É pra fugir, mas não fujo
Sei que de fato é um sujo
Falando dum mal lavado

Ministério da Desinformação

A minha avó, quando eu era pequeno, sempre que desconfiava que estava a mentir, ameaçava: «_Sabes o que é que eu faço aos mentirosos? Ponho-lhes piri-piri na língua!»


Na página do FaceBook do Ministério da «Comunicação Social» angolano, no dia 2 de Maio, Pedro Castro e Silva, do Banco Nacional de Angola afirmava à TPA que «a subida do preço dos derivados do petróleo não vai causar inflação».

Já hoje, como «notícia de última hora», avança-se que a corrida de táxi, que custava 100Kz, poderá sofrer um pequeno aumento de 15%. Estes números fazem evidentemente lembrar o (não) câmbio oficial ao dólar. Partiu de 100, vai oficialmente nos 115, mas, de facto, equivale a 200, na informalidade da rua. A notícia, que era apenas que não houve acordo com os taxistas, deu lugar à tentativa de imposição administrativa de uma referência de preço completamente insustentável em termos económicos. Mas decerto que o senhor Ministro não anda de táxi...

Enquanto o país se verga aos sacrifícios em nome da quebra no preço do petróleo, a «elite» não sente os efeitos da crise. Segundo a VISA, «durante a semana da Páscoa, os angolanos usaram os cartões de crédito para gastar sete milhões de euros (811 milhões de kwanzas), o que representa uma subida de 48 por cento face aos cerca de cinco milhões (579 milhões de kwanzas) gastos no mesmo período do ano passado, disse uma fonte oficial da maior rede de crédito do mundo. “Os espanhóis, franceses e angolanos foram os maiores gastadores com cartões em Portugal”, disse uma fonte oficial da entidade financeira à imprensa portuguesa, sublinhando que “os hotéis, o entretenimento e o vestuário foram os sectores que registaram o maior volume de transacções”.»

Incrível é que o Jornal de Angola tenha colado essa notícia a outra: os incapazes, medíocres e corruptos do Governo português financiam pessoalmente o ditador com 500 milhões de euros, à custa do contribuinte, já espremido até ao tutano!

domingo, 3 de maio de 2015

3 de Maio - Dia Mundial da Liberdade de Imprensa

Como todos os anos por esta altura, a Freedom House publicou o seu relatório anual, resultado de uma metodologia de observação dos direitos políticos e das liberdades civis, no respeitante à liberdade de imprensa em todos os países do mundo (e algumas zonas disputadas). A novidade deste ano prende-se com uma apresentação numérica do próprio score, que antes era apenas disponibilizado no rating por escalões. A organização aplica uma metodologia de classificação que distingue os países em três grandes grupos: os países livres (até 30), parcialmente livres (de 30 a 60) e não livres (mais de 60): constata-se uma distribuição equitativa das duas centenas de países pelas três categorias, com aproximadamente um terço cada, embora apenas um sétimo da população mundial viva em países considerados livres.

Segundo a FH, a pressão sobre os jornalistas aumentou significativamente ao longo do ano de 2014, com múltiplas origens, citando nomeadamente «a utilização de leis de segurança interna para silenciar vozes críticas, recurso a tácticas de intimidação de jornalistas, e tentativas de manipulação do conteúdo por parte dos donos dos media ao serviço dos seus interesses comerciais».

O relatório, na parte dedicada à África Sub-Sahariana, destaca o salto da Guiné-Bissau, de «não livre» para «parcialmente livre» e refere o péssimo precedente que constitui a prisão dos bloggers etíopes Zona 9. Apresento uma tabela com os países da CPLP, destacando Cabo Verde, o país africano com a melhor pontuação.

Atendendo à revolução do dia de Todos os Santos do ano passado, não há dúvidas que a imprensa do Burkina Faso deu um salto qualitativo, que decerto se notará para o ano, numa tendência consistente de melhoria.


Já Angola, numa já de si lamentável posição, deverá piorar substancialmente a sua pontuação para o ano, se atendermos às preocupações manifestadas pela Freedom House:

«Enquanto algumas partes do mundo se encontram inacessíveis devido ao caos provocado pela violência desmesurada, outras há onde os repórteres são deliberadamente barrados por governos repressivos, tal como acontece no Tibete (...) Activistas, simples residentes, ou cidadãos transformados em jornalistas para a ocasião, tentam disseminar alguma informação, mas não podem substituir o trabalho efectuado por profissionais recorrendo aos meios adequados: é por vezes mais fácil mandar notícias para o exterior, do que contactar audiências dentro da área afectada»


A degradação da Liberdade de Imprensa em Angola, a todos os níveis enunciados pela Freedom House, foi denunciada pela Secretária-Geral do Sindicato dos Jornalistas, Luísa Rogério.

Marketing financeiro para idiotas

As autoridades monetárias, desesperadas por absorver massa circulante e conter as pressões inflaccionistas em troca dos montes de papel que possuem em armazém (a colocação dos títulos do tesouro tem sido tendencialmente nula, como este blog vem demonstrando pela análise dos relatórios semanais do Banco Nacional de Angola), lançaram um Fórum nacional de Investimento em Dívida pública «com o objectivo de dinimizar o mercado secundário», publicitado pela Agência Noticiosa oficial. Vai ser difícil minimizar os estragos e dinamizar a venda de títulos do tesouro: só um regime onde a arrogância impera, pode alimentar a pretensão de fazer de burros os seus cidadãos. O marketing monetário utilizado poderia ser acusado de enganoso (para evitar o termo «burla»), se não fosse tão estúpido.

Oferecendo uma taxa de juro nominal inferior a 10% ao ano, tal investimento pressupunha confiança no Governo, que a taxa de inflacção real mensal se mantivesse bem abaixo de 1% e que o câmbio ao dólar não resvalasse. Com um cenário tão animador, não se compreende a falta de adesão a instrumentos financeiros tão competitivos no mercado internacional (ver folheto) conhecendo o grande número de capitalistas angolanos, fruto da consistente política de acumulação primitiva promovida por José Eduardo dos Santos. É decerto uma conspiração do mercado, dado que a procura não excede 1% «dos Títulos de dívida pública já emitidos» (mesmo essa ínfima parte, não foi de livre vontade, mas enfim...).


Uma vez que o regime se recusa a indexar o kwanza ao petróleo, talvez devesse indexar os salários à gasolina.

Brevemente, em vez de ordenado, receberão TTs de «alta liquidez». Um milagre do capitalismo de Estado...

Ou a institucionalização da palhaçada?

sábado, 2 de maio de 2015

Mudança geracional em Angola

Palavras finais de Mfuka Muzemba em entrevista a'O País: «Entendo que o meu esforço de agora é desencadearmos um movimento no âmbito de uma plataforma de intervenção e cidadania para que os jovens consigam manter um espaço permanente de debate sobre as grandes questões do país. Para começarmos a preparar uma geração. Eu vou-lhe dizer uma coisa: a realidade do país nos próximos quatro ou cinco anos será diferente. O cidadão vai falar mais alto do que os partidos. Há uma geração que está a emergir e com bastante satisfação. E é isso que me faz acreditar que mantenho a convicção de que o país pode ter futuro com essa geração. É uma geração em que fazem parte jovens ligados a vários partidos, mas que se vai autonomizando. E é esta geração que vai provocar a mudança qualitativa que se espera.»

Alguns activistas já foram libertados

O jornalista da Rádio Despertar Daniel Portacio insiste com a Polícia para ser devolvido ao local da detenção, onde tem o carro estacionado.

Outros activistas começam a ser libertados.

Prisão de Mário Faustino

Confirma-se a prisão de Mário Faustino, mentor e porta-voz da manifestação de desmobilizados, bem como dos restantes elementos da organização.

Nem um cabelo

Que nem um cabelo de Nito Alves toque no chão. De outra forma, comprometem o perdão.

Medo dos jacarés

Vários activistas, entre eles Nito Alves, Emiliano Catumbela, Daniel Zola, Laurinda Manuel, Rid Miguel, Raul Mandela e um jornalista da Rádio Despertar, Daniel Portacio, estão retidos pelos sinistros Serviços Secretos numa Escola das proximidades do Largo. Atendendo aos precedentes de há três anos, talvez fosse melhor cercar a escola e não deixar que transfiram ilegalmente, para destino desconhecido, uma geração que representa o futuro de Angola. Cidadãos que não cometeram qualquer crime, presos arbitrariamente quando pretendiam fazer uso de um direito constitucional, não podem ser entregues à humilhação gratuita. É, aliás, pouco pedagógica e verdadeiramente indigna, a ocupação de um campus para este fim.