terça-feira, 20 de janeiro de 2015

42 anos de eterna saudade

Gostaria de, num gesto simbólico, oferecer ao INEP uma raridade bibliográfica que consegui finalmente adquirir, para esse efeito, depois de muito regatear com o alfarrabista. Trata-se eventualmente do primeiro trabalho de investigação científica de um guineense a ser publicado em letra de imprensa.

Para a sua escassez e eventual desconhecimento, terá decerto contribuído o facto de esta edição ter sido mandada recolher de todas as bibliotecas públicas, em Portugal, desde que o seu autor passou a ser rotulado de subversivo e persona non grata. Estou a falar, evidentemente, de Amílcar Lopes Cabral.

O livro de que falo, publicado em 1958 pela Junta de Investigações do Ultramar, na colecção Estudos, Ensaios e Documentos, intitula-se «Acerca de uma classificação fitossanitária do armazenamento» e apresenta um prefácio de Baeta Neves, com o elogio à oportunidade e mérito do seu autor.

Agradeço ao meu muito amado irmão Leopoldo, agora à frente dos destinos da instituição, que me informe como posso entregar a minha dádiva, ou promova a sua recolha e transporte para Bissau, onde espero possa servir como pequeno contributo para a refundação dos seus arquivos, tão ofendidos durante a guerra de 1998-99.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O riso da rosa

O ignóbil atentado do Charlie-Hebdo fez-me lembrar o obscurantismo terminal da Idade Média retratado por Humberto Eco n'O Nome da Rosa: a químio-terapia social radical recomendada pela escolástica tardia incluía a repressão do riso, vindo a culminar, mais tarde, com as barbaridades praticadas pela Inquisição (o que terá levado a um discreto mea culpa do Papa na sua recente alocução sobre o assunto, que os IBD publicaram). Tempo dos erros do magister dixit, sem lugar para a experimentação ou a ciência, bem patentes, por exemplo, nos erros crassos da geografia de Ptolomeu (mal se saía do Mediterrâneo).

O filme passa-se no ano de 1327, dois anos depois da morte de Dom Dinis, em Santarém. El Rei, casado com a mulher perfeita, uma «cátara», tentou introduzir uma síntese revolucionária com o culto do Espírito Santo, mas a reacção foi forte, apoiando-se nos desencontros filiais que marcaram o fim do seu reinado para lhe prejudicar a herança, a qual, no entanto, como símbolo e mito que era, lhe sobreviveu e se incrustou de forma indelével na identidade cultural nacional, regra geral como contra-poder.

No imaginário feminino, a Rainha Santa encarna a imagem branca, diurna, que a Igreja se esfalfou (apesar dos avisos dos Padres da Igreja) em promover como adorável modelo: a «virgem». No entanto, talvez por oposição, há que figurar o seu esposo na pintura... D. Dinis fez tudo quando quis, segundo se diz. É inconcebível a descontextualização do papel da mulher, associado à privação da sua sexualidade (uma verdadeira excisão social) criando um padrão intangível, que faz de todas as mulheres, por comparação com Maria, verdadeiras prostitutas.

Sem escape para a tentação terrena, a dialéctica católica acabou por empurrar Maria Madalena para o diabólico e muito secundário papel de contra-exemplo (contrariando as evidências do ensinamento do seu Mestre), o que viria a servir de guião a Dan Brown, para dar continuidade ao trabalho de Eco, fazendo cócegas num dos calcanhares de Aquiles do edifício da fé romana. Engraçado é que D. Dinis foi velado na Capela de Maria Madalena (embora esta pertencesse à Igreja de Santa Maria - ambas são, de qualquer forma, Maria...). É que os templários portugueses, que D. Dinis acabara de reconverter em Ordem de Cristo, tinham precisamente por madrinha Maria Madalena.

O bem, o bem, o bem... Esse discurso «teológico» formal da Igreja deu lugar a inúmeras críticas de hipocrisia e a imensas «reformas». Para além dos «amores» com Maria Madalena, muitos foram os episódios apagados (ou muito adulterados) da memória católica, por dogmas mais ou menos oportunos. É que era preciso vulgarizar e colocar os textos sagrados ao alcance do maior número... Embora, como católico, reconheça a importância civilizacional do dogma, para evitar precisamente retrocessos (os católicos andaram dois séculos a discutir o sexo dos anjos; chegando à conclusão de que, a certa altura, é necessário colocar um ponto final nas questões) ou derivas como aquelas que estão a acontecer no mundo muçulmano (o qual não é de forma alguma homogéneo, com várias identidades, sendo as mais visíveis a sunita e a chiita, mas que, por não ter o equivalente de um Papa, não é capaz de fixar um corpo dogmático estável, sendo por isso muito vulnerável às prédicas alucinadas, fundamentalistas e anti-sociais), não me impeço de pensar, de questionar, ou mesmo de elaborar opiniões.

E estou-me a lembrar de um desses episódios, que evidencia pormenores muito desencontrados dos apóstolos... o que teria levado a uma supressão selectiva. Referir-me-ei portanto apenas à versão canónica de Marcos, que nos conta a chegada de Cristo a Jerusalém (onde acaba por dar umas valentes biqueiradas nas bancas dos vendilhões que usurpavam a Casa do Senhor): ao ver uma figueira, o Mestre faz um desvio para passar por ela, dizendo que tinha fome, o que intriga bastante os Seus seguidores, pois não estavam em tempo de figos. Depois de todos terem chegado, o Mestre estendeu a mão... e, como era de esperar, não colheu figo nenhum, pois os não havia. Então, Jesus virou-se para a árvore e disse: «Nunca mais homem coma fruto teu». Mais tarde, à saída de Jerusalém, Pedro vira-se para o Mestre e aponta «Reparai, Mestre, a figueira que amaldiçoasteis secou!» Se a figueira fosse estéril, ainda se compreendia... Ora era normal que não desse frutos fora de tempo. Jesus Cristo era de uma maldade gratuita? Ou estaria o Mestre apenas a insinuar (seria só para os mais espertos?) que o «mal» também é um princípio «criativo» a considerar? Há, no mínimo, que relativizar. «E o Senhor louvou ao criado desonesto, pois os filhos da luz devem ser tão [ou mais] avisados quanto os filhos das trevas»...

O filme de Eco retrata precisamente a repressão de uma heresia, a qual, embora associada a ideias decerto generosas, se arriscava a colocar em risco a sociedade da época, concebida como comunidade dos crentes (vivos e mortos). Em Santarém, o Santíssimo Milagre foi uma magnífica obra dos franciscanos para ajudar os habitantes de Santarém a consolidar a sua fé na Eucaristia (precisamente o pomo da discórdia, ou seja, aquilo que os «hereges» negavam, estar Cristo naquele «bocadinho de pão» a que chamam hóstia)...

Engraçado é a constatação de que as derivas fundamentalistas, tanto cristãs como muçulmanas, tenham tomado por alvo as mulheres e o riso. Um bom treino para a liberdade mental é a capacidade de nos rirmos de nós próprios, de aceitarmos o ridículo (a Igreja tolerou sempre o Carnaval, muito a contra-gosto, como válvula de escape). Um dos elementos do culto legado por D. Dinis, de que ainda sobram algumas sombras na Festa dos Tabuleiros em Tomar, ou nos Açores, é igualmente a capacidade de subversão. Durante um dia, reinava o idiota da aldeia, ou uma criança, que era coroado por um dia, com pompa e circunstância, como imperador do Espírito Santo, e todos, sem excepção, lhe tinham de obedecer, por mais inconcebível ou ridícula que fosse a ordem. Há alguns (infelizmente relativamente vagos) relatos de tal culto se praticar nas carreiras dos Descobrimentos.

Estou a imaginar a Raínha Santa Isabel (tal como sua parente húngara, conhecida pelo Milagre das Rosas, um conhecido símbolo alquímico), tentando ocultar do seu marido, entre os folhos da saia, o Charlie-Hebdo: «São (só) risos, Senhor!»

PS A Igreja não se livra do fantasma da repressão albigense... Coincidência (ou não), foi no dia de Madalena que se deu o episódio de Béziers, durante o qual um dos guerreiros teria perguntado ao legado papal, antes do assalto (que seria fulminante), como fazer para distinguir quem era ou não herege, ao que este teria respondido: «Matem-nos a todos, Deus escolherá os seus», o que foi «religiosamente» cumprido, não escapando sequer as mulheres e crianças que se haviam refugiado na Catedral. Uma nota ainda, para os mais atentos, a quem não escapará a «fuga» à linha editorial deste blog, que se ocupa essencialmente de assuntos da Guiné-Bissau: foi uma certa irritação, contra a atitude do Presidente do Senegal em proibir a circulação do Charlie-Hebdo (bem como de certas pessoas que parecem querer branquear o atentado), a que não será decerto alheia a circunstância de ter bebido uns valentes copos de tinto (pois, como mostrou a Raínha, nem só de pão vive o homem [e a mulher]: também precisam de rosas, de risos e de gozo): talvez por isso o texto esteja denso, aparentemente confuso e com pouco nexo, mas o assunto é complexo (e não estou a falar de sexo, contrariamente ao que algumas mentes menos corteses possam pensar). Queiram perdoar, mas enfim: jorrou!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Choque

Estou de luto pelo meu desenhador francês de cartoons preferido. Habituei-me, ao longo dos anos, a acompanhá-lo no Nouvel Observateur, cheguei a comprar um ou outro número do Charlie-Hebdo (ainda conservo pelo menos um exemplar) em deslocações a Paris. Depois de Reiser, de quem também era admirador incondicional, foi a crítica mordaz de Wolinski, a sua sátira solta e corrosiva (da qual se desprendia uma saudável libertinagem em que os franceses são mestres), que durante muito tempo me reconciliou com a França. Para além do seu delicioso cartoon semanal no Nouvel Obs, ilustrava por vezes grandes reportagens, ou oferecia umas deliciosas pranchas a mais nalgum suplemento...

Em meu nome pessoal posso dizer que, sentindo a humilhação do mundo (e do muçulmano em particular) com a imposição da nova ordem mundial pós queda do muro, compreendi, na manhã de 11 de Setembro, as razões identitárias na origem do ataque ao símbolo. Hoje, sinto-me chocado. Wolinski era um símbolo para mim. Se a 11 de Setembro conseguia identificar-me com os executantes, hoje identifico-me com a vítima. Um ataque ad hominem contra um artista? O terrorismo tem destas coisas. Ganha quando nos consegue despertar uma raiva cega. Recuso deixar-me levar pela fúria.

Este ataque é especialmente grave pelo alvo que encarna, que é evidentemente a liberdade no mundo ocidental, pretendendo lançar um choque de civilizações. Resta saber se foi apenas obra de um par de alucinados, ou de alguma maléfica organização criada com esse mesmo fim. Resta-nos rezar para que os irmãos muçulmanos transviados em intolerâncias desmerecedoras dos ensinamentos do Profeta (as quais não podemos extrapolar para o conjunto da comunidade dos crentes), retornem ao caminho da razão e não mais pratiquem barbaridades em Seu nome.

De qualquer forma, tinha deixado aqui neste blog, há pouco mais de um mês, a minha opinião de que o risco de atentados tinha subido exponencialmente nos últimos tempos... depois do lançamento da operação dunas.

O direito ao bom nome

A Guiné-Bissau, com o seu glorioso passado de luta anti-colonial, tem direito ao seu bom nome, a ser tratada com respeito: se houve vitórias africanas realmente assertivas, essas foram decerto, no campo militar, Amílcar Cabral, no campo humano, Nelson Mandela, e, no campo político, Tomás Sankara.

A importância da Guiné-Bissau não pode ser medida ao «quilómetro quadrado». Basta considerar a materialidade da sua comunidade virtual de opinião, entre redes sociais e de blogues, para constatar que está muito à frente. Uma breve pesquisa a outros países da sub-região, de expressão francesa e inglesa, mostra que as suas comunidades virtuais estão ainda num estado muito incipiente e embrionário, ao nível de comentários alojados nalguns jornais com edição electrónica (ou seja, como já estavam os guineenses há mais de uma década, e hoje o progresso é muito rápido)!

[Isso traduz o efeito de uma geração formada em liberdade e esperança, mas que, infelizmente, não conseguiu reproduzir-se ou consolidar o impulso vital vindo de Cabral, sangrando a Nação os seus melhores quadros em benefício de uma diáspora de ouro, deixando o país à deriva em termos de educação e de futuro, como alertava Miguel de Barros há pouco tempo, em Lisboa. Não se estará perante um ponto de não retorno?]

Tal como os países, como identidade colectiva, têm direito ao bom nome (independentemente de se apontarem eventuais erros), não devendo ser ofendidos por terceiros (ainda para mais quando se dizem irmãos) também para os cidadãos e as cidadãs, como identidade singular, esse direito é inalienável, sendo altamente recomendável que seja respeitado para uma vida social saudável. Está na hora da guineendade sair da calabassa. De respeitar os nossos tempos de convivência, valorizando e consolidando a identidade comum. De semear o amor e não o ódio. Apostar naquilo que une e identifica, como os valores da diversidade e da tolerância. De fazer algo firme e duradouro pela terra.

Nô djunta mon.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Desidentificação radical

A CPLP não passa hoje de uma reles prostituta (para evitar aqui neste blog o saudável e mais que justificado vernáculo). Transformada em Agência de promoção dos pseudo-interesses económico-paranóicos de José Eduardo dos Santos, o seu Secretário Executivo ainda tem a lata de vir considerar «importante que cada cidadão de países da CPLP sinta a existência da organização, com a qual se identifiquem»...

«Não haverá nenhuma solução positiva para a Guiné sem o concurso de Angola»? Quem lhe encomendou o discurso? O senhor Secretário Executivo precisa de ler os estatutos da sua própria organização, que estipula, entre outros, como princípios fundamentais, a igualdade entre Países e a não ingerência nos seus assuntos internos. Que raio de pretensão, a de Angola querer apresentar-se publicamente como salvadora da pátria alheia!


Depois de um discurso de Ano Novo do seu Presidente, «confessando», para consumo interno, as grandes dificuldades que o país atravessa, será que não tem mais que fazer, para ocupar o seu precioso tempo e dinheiro (que vai escasseando)? Há clara inconsistência no discurso de «liderança» de Angola na CPLP! Não constituem estas declarações uma óbvia má educação, perante o momento, que se pretendia de afirmação do Brasil?

A CPLP não apenas se desintegrou, a título de organização, como, pior, se está a transformar numa imagem negativa e simétrica (para evitar o diabólico, que poderia ser confundido com alguma ortodoxia intolerante) do espírito que presidiu à sua criação. Em vez do reforço e promoção de uma identidade linguística e dos valores universalistas a ela associados, com as inerentes vantagens económicas, assiste-se a uma radical desidentificação.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Transparência em segunda mão

É louvável e oportuna a «fuga de informação» que permitiu aceder à versão digital (e integral?) do contrato (draconiano) estabelecido entre o Estado da Guiné-Bissau, na qualidade de fretador, e a transportadora aérea EuroAtlantic, cujos voos regulares de ligação directa Lisboa-Bissau vieram suprir uma lacuna, ou melhor, um incumprimento, da TAP em relação às obrigações históricas e culturais estatuídas na sua identidade corporativa.

Um facto patente é que o governo da Guiné-Bissau, na pressa de resolver um caso mediático, aceitou condições desiguais e muito degradadas em relação às de actuação da TAP, prejudicando, numa perspectiva estritamente conjuntural, as condições negociais estruturais, neste negócio de interesse nacional. Face ao precedente, a margem de manobra da TAP aumentou muito: à luz de uma eventual renegociação das condições de operação, a linha tem todas as condições para se tornar novamente rentável para a companhia, mesmo se com uma regularidade reduzida.

Lamentável, nisto tudo, é que, da transparência prometida por Domingos Simões Pereira, só emerge uma pequena ponta, pontualmente, e sempre a reboque...

[Nos contratos de recursos, como as Pescas, apenas esse para exemplo, de grande impacto nas contas do Estado, nada se soube do contrato assinado com a União Europeia sensivelmente na mesma altura que o Senegal (nomeadamente, se os contratos foram assinados para as águas territoriais de cada país stricto sensu, ou se excluem a zona comum explorada pela Agência de Cooperação bilateral - de forma a que o caso do Oleg Naydenov, fortemente lesivo dos direitos guineenses, não se venha a reproduzir)]

Tal como no caso da ANP, no qual a zanga de comadres permitiu reconhecer o peso dos interesses dos deputados-militantes, nas contas do Estado (aliás, sorrateiramente renovado por ocasião da aprovação do OGE, aprovando os deputados o seu próprio orçamento, incompatível com o do Estado).

Meio ano de governação e a prometida transparência nem vê-la. Acusações públicas veiculadas sobre importantes figuras do governo ficam sem resposta, sem sequer um esboço de esclarecimento, ou um processo de investigação. Talvez à figura de Procurador, à qual se veio juntar a de Promotor, seja necessário acrescentar a de Indiciador!

Obrigado, irmão Doka, pelo esforço.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Más notícias para DSP

O Club K fala, em artigo, de Angola ser «dos países mais afectados» pela queda do preço do petróleo, que perdeu um terço do seu valor no último trimestre. Ora «afectado» é pouco. O preço do barril de petróleo desceu abaixo do valor do custo de produção do petróleo angolano: Angola pode, pura e simplesmente, «apagar a luz do aeroporto», se a actual cotação de mercado se mantiver. Para DSP, isso traduz-se numa ideia simples: que não existe disponibilidade momentânea para o envelope financeiro prometido. A mesa redonda arrisca-se grandemente pois a ser uma ingrata espera por Godot.

Ao Primeiro-Ministro, não resta mais do que governar.

Pelos vistos, o novo cargo de Ministro da Administração Interna está a ter um parto difícil. Será que faz sentido, para o Presidente do PAIGC, permitir que este seja disputado pelos djagudis do seu Partido, que se preparam para retalhar o seu Governo, de qualquer forma? Talvez fizesse mais sentido racionalizar, reunindo esse Ministério ao da Justiça, pelas óbvias sinergias. Pouparia um ordenado de Ministro, muitas preocupações em guerrilhas intestinas e faria um favor ao País, premiando o empenho de Carmelita Pires, que abraçou o seu projecto de Governo (o qual se tem revelado, noutros campos, decepcionante e inconsistente).

domingo, 7 de dezembro de 2014

Novas de Angola

Marcha branca contra a violência policial, hoje, em Luanda. Ver cartaz

Angola em vias de se tornar num NARCO-ESTADO? Ver notícia

domingo, 30 de novembro de 2014

Rádio: respeito, responsabilidade e rigor

Vale a pena escutar até ao fim Carmelita Pires, que concedeu a sua primeira entrevista (em crioulo), desde que assumiu o cargo de Ministra de Justiça, ao Samba Bari, da Rádio Rispito, por ocasião do primeiro aniversário dessa estação de rádio on-line.

Respondendo a uma sequência bem conduzida de perguntas, que abordavam as principais questões do sector da Justiça, a Ministra revelou, para além de um profundo domínio dos seus dossiers, uma inquebrantável vontade e um pragmatismo invejável, insurgindo-se contra aqueles que pedem sempre mais «condições», mas não conseguem operacionalizar ou fazer a manutenção daquilo que possuem, lembrando, a esse propósito, o discurso pedagógico do saudoso Pepito (que conseguia fazer omoletes sem ovos!).

Com um pungente apelo à Diáspora [àquela que Filomeno Pina designou por «geração de ouro»] deixa a promessa de reunir apoios para facilitar o retorno num quadro legal e político propício a um «arranque definitivo» da Guiné-Bissau, no qual se mostra confiante. «Sabemos que não é fácil, mas também não é impossível.»

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Lançar o debate

Estive ontem no lançamento do livro de Luís Vicente, editado pelas edições Corubal.

Numa apresentação de sucesso, bastante informal e interactiva, durante a qual o autor teve um momento de verdadeira emoção, foi o discurso de Miguel de Barros, activista cívico, que mais me entusiasmou (e que motivou, de longe, a mais duradoura e efusiva ovação).

Começando por afirmar o carácter independente e não lucrativo da editora, frisou que o lançamento traduz uma dupla intenção: dar relevo à reflexão e ao papel da Diáspora (aproveitando a oportunidade para lembrar a sua responsabilidade); e lançar o debate político, sendo este o primeiro número de uma colecção de estudos e debates, em torno da boa governança.

O Miguel falou do descalabro da educação... da responsabilidade da geração «de ouro»; subentenda-se, o perigo de dissolução da nacionalidade pela miserável condição educativa: o sistema não consegue produzir alunos ao nível do 12º ano, sendo a média nos exames portugueses equivalentes de cerca de 0,5%. Não é muito mau, é assustador!

[Lembro-me das minhas conversas com o Pepito (também lembrado com saudade pelo Miguel), para quem essa «pedagogia» era o cerne da actuação. Lembro-me como se lamentava e como sentia como um murro na barriga, cada vez que os seus amigos diplomatas se queixavam que não conseguiam recrutar uma simples secretária...]

Quando confrontado com a questão do jornalista da RTP/RDP Jorge Gonçalves, que moderava a sessão, se terão sido 40 anos perdidos, lembrou o sistema de hortas escolares (eu lembro-me, em miúdo, de uma visita a Bafatá, na qual participei do entusiasmo associado a essas iniciativas) como exemplo de muitas coisas boas que se perderam pelo caminho.

Da conversa informal que se seguiu, parece ter-se desprendido o sentimento de que nunca poderemos falar de 40 anos desperdiçados. Talvez de tempo perdido. Mas que ficam os calos... A experiência negativa, como povo, não poderá ser convertida numa oportunidade, num desafio?

Miguel de Barros, confrontado com a afirmação, por parte do moderador, de um especial agravamento da situação nos dois anos que se seguiram ao 12 de Abril, reformulou a questão, dando a entender que houve uma transição de sucesso que criou uma janela de oportunidade.

No entanto, estará ela a ser aproveitada? Não merecerá o martirizado povo da Guiné-Bissau, o respeito dos seus políticos? Pessoas como Miguel de Barros ou Abdulai Sila (citado pelo Miguel, e de quem li recentemente uma magnífica poesia em prosa, com um oportuno aviso à navegação), não deveriam ser consultores do Primeiro-Ministro?

[Pagam-se 10 000 euros (segundo declaração de interesses do próprio) ao Presidente da ANP, que é um analfabeto funcional (só domina a linguagem básica da cartilha sovietizante do PAIGC dos «inimigos»), mais uma centena de outros de igual calibre na mesma casa... qual a produtividade, em termos de debate?]

Já nem falo do caso do autor, o Luís Vicente, o qual, como ficou patente na Sala de Audições da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é muito querido no concelho de Rio Maior. Talvez por isso mesmo, o próprio Luís pudesse dar o exemplo, desdobrando-se entre Bissau e Rio Maior, em «part-times» eficientes, envolvendo-se na aplicação das suas ideias e princípios de boa governação... A mão na lama.

Pelos vistos, a política de exclusão dos melhores continua... a esperança prometida mais uma vez traída?

Neste contexto, aproveito para considerar que me parece legítima a irritação do editor do Ditadura do Consenso, face à má qualidade do recentemente formado «Gabinete» de comunicação de Domingos Simões Pereira.

P.S. Tive uma pequena intervenção na qual considerei que a horta escolar seria um bom exemplo a adoptar pelas escolas, por exemplo em Portugal. Talvez servisse para formar as mentalidades para a actividade produtiva e o espírito empresarial, reduzindo o número de «doutores e engenheiros» desempregados de longa duração, porque não encontram (nem nunca entrarão, porque não servem para nada) emprego na respectiva «área de competências».

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Mea Culpa

Confesso que o artigo que publiquei, condenando vivamente a Igreja Católica angolana, não se justifica, ao presumir a unidade da Igreja em torno do discurso desadequado de alguns dos seus membros, sendo muitas as vozes discordantes que se elevam no seu seio. Aqui fica o pedido de desculpas pela abordagem precipitada e desastrada, bem como a rectificação. A este propósito, ler artigo sobre a contra-ofensiva «cívica» do regime, fertilizando «movimentos espontâneos».

Reputação imputada aos deputados

Francisco Seixas da Costa fala da reputação (dos deputados e dos órgãos de soberania em geral), da percepção externa da falência sistémica de um país, há muito anunciada. Esperemos que a purga continue, para ver se o país acorda do pesadelo. Como diz o senhor Embaixador: por um lado, ainda bem... antecipando um benéfico efeito catárquico. Ter-se-à Sua Excelência convertido ao sebastianismo? Em boa hora...


Como esconder três prostitutas num título?

Diga-se que, na Guiné-Bissau, a reputação imputada aos deputados também já viveu melhores dias.

domingo, 23 de novembro de 2014

Aniversário Rádio Rispito

Amanhã, a partir das 17h30, na Rádio Rispito, vou estar on-line para comemorar o aniversário, com o irmão Samba Bari. Não falhe. Participe!

Ver nexo à direita >

O Senhor não estava

Este meu blog, para além da sua «identidade corporativa», também serve, esporadicamente, de desabafo. Embora pouco dado a exercícios de personalidade, é isso que vou fazer. Partilhar a minha frustração.


O meu filho pediu-me para vir passar o fim-de-semana a Peniche, para ver o mar. Cá estávamos. Ele foi almoçar com uns amigos e eu pensei em aproveitar o tempo de relaxe para um pequeno momento espiritual (que incluía rezar pela vida dos angolanos de mente livre, que estão na vanguarda do seu povo e hoje se manifestam nas ruas de Luanda...), um plano que se apresentava de fácil execução, uma vez que hoje é Domingo.

Depois de deparar com várias igrejas fechadas, um senhor simpático que passeava um cãozinho, lá me disse que estava cá o Arcebispo de Lisboa, para assinalar a restituição ao culto da Igreja de São Pedro, a principal cá da terra. Suspirei de alívio e lá me dirigi para o centro, contente com a ideia de que, passada a hora da missa, evitaria «grandes confusões» (poderia esclarecer que sou católico praticante, embora não às horas convenientemente estipuladas). Qual o meu espanto (subi toda a escadaria e ainda tentei empurrar a porta) quando deparei com a igreja fechada e mais gente igualmente espantada. Eram então cerca de 13h20.

Então o Senhor Arcebispo ata as chaves de São Pedro à cintura e vai encher o bandulho? Não se critica que satisfaça as suas necessidades terrenas, mas que usurpe a Casa do Senhor... podiam ir todos almoçar e deixar a Igreja aberta, nada se passaria nem ninguém daria sequer por isso. Ou já não é essa a morada do Senhor, mas a vossa?

Algo vai mal na Igreja católica. Já agora, a propósito, aproveito para dar destaque às recentes acusações da forma vergonhosa como se comportam os seus sacerdotes em Angola, dando cobertura a todo o género de desmandos do Regime. Onde está a doutrina social da Igreja? Ao longo de dois mil anos, já tiveram mais que tempo para aprender que quanto mais tempo se recalca, maior é a explosão. O próprio exemplo do seu Profeta deveria ser uma imagem mais que suficientemente inspiradora.

Gabinete de Imprensa

O Primeiro-Ministro guineense, após uma série de críticas, quando à sua ausência de política de comunicação, parece ter envidado esforços nesse sentido. Eis o último parágrafo da última obra do recém-criado Gabinete de Propaganda, ou melhor, de hipocrisia, que inclui uma foto com o Secretário-Geral das Nações Unidas.

«O Primeiro-Ministro e o Presidente da ANP elucidaram o Secretário-Geral das Nações Unidas sobre a situação do funcionamento e de boas relações institucionais da República da Guiné-Bissau»

Uma semana lavam em público a roupa suja, na seguinte juntam-se para colaborarem num acto de traição à pátria?

Os titulares dos três mais importantes cargos soberanos demonstram assim que não estão interessados em governar para o país, em arregaçar as mangas e colocar as mãos na massa, mas apenas em conseguir
o chorudo cheque que José Eduardo dos Santos prometeu para comprar a Guiné-Bissau, para regalarem os seus miseráveis apetites privados. Pior que uma agenda exógena, deixaram cair as máscaras e arvoram agora uma agenda anti-nacional.

As Nações Unidas, que dão mostras de colaborar na farsa, deveriam ser avisadas que não parece nada boa ideia a transferência de 1800 angolanos para a MINUSCA: num país com fortes problemas de intolerância religiosa como tem mostrado ser a República Centro-Africana, os soldados de Angola (país que tem perseguido o Islão e arrasado mesquitas) arriscam-se a ser tomados por parciais. É querer apagar o fogo com petróleo...

Quanto aos 1800 que também querem enviar para Bissau, podem começar já a treinar os 1800 que os hão de substituir (não se esqueçam depois de notificar as mães dos primeiros).

sábado, 22 de novembro de 2014

Estado de desgraça

Obrigado, irmão do Bambaram di Padida, num artigo sobre a «queda» de DSP.

Uriel: um ano de saudade do pai


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Opinião jovem

Resposta à altura, à deputada da UNITA, por parte de Sedrick de Carvalho, em artigo de opinião no Club-K.

Dois patinhos

22/11 apresenta-se já como uma data histórica para Angola.

22/11 = 2

Tinha um grande amigo que gostava de decifrar símbolos e estudar números, que tratava o 22 pela engraçada expressão de «dois patinhos em contra-mão» (uma vez que nadam para a esquerda).

Além disso, no Montijo, já para se prevenirem do «azar» do 11, fazem do número um tabu. Quem disser «onze» arrisca-se a ser tratado de cornudo. Tradição local, em terras de touros, associando um par de cornos ao enunciador. No Montijo conta-se: «...oito, nove, dez, dezmaisum, doze...»

Para ser mais claro, os dois patinhos são:

2é2é / 1sa1as

Zantos e Zamakuva

Retomando o Luaty Beirão:

Ti'Zé, arreda o pé!
T'Isaías, perdes o pé!

Neste momento, parece haver uma única forma de conter a fúria popular: o Presidente e o chefe da oposição darem as mãos e juntarem-se aos jovens angolanos, numa manifestação pacífica que marque um novo pacto de regime, um governo inclusivo e partilhado, com base no mérito.

Segundo muitas opiniões, expressas em fóruns e comentários, se querem ter alguma coisa a dizer no futuro de Angola, é obrigatório darem o corpo ao manifesto; não venham depois tentar confiscar a sofrida vitória do vasto movimento revolucionário desencadeado, à imagem do Burkina Faso.

A «convocatória» dos professores, cujo único objectivo é conduzir à proibição ilegal da manifestação e não dar origem a uma verdadeira «contra-manifestação», é um feitiço que pode virar-se contra o feiticeiro. É que os professores, tomando o recente exemplo dos colegas chadianos, que a 11/11 se juntaram aos jovens nas ruas, podem tomar uma atitude pedagógica...

Subtil manipulação

O embaixador angolano apresentou na terça-feira as suas credenciais a Obama, à porta fechada, como se pode ler na agenda do Presidente dos Estados Unidos para esse dia. Clique na imagem para ampliar


A Angop apresenta, deste evento, a sua versão em inglês, como um grande elogio a Angola e a José Eduardo dos Santos, tentando pintar a coisa de «notícia» local (repare-se que começa por «Washington DC»), da qual os jornalistas teriam feito «copy/paste». No entanto, nem o Presidente norte-americano publicou nenhum comunicado ou discurso na página oficial da Presidência, nem nenhuma das agências noticiosas acreditadas na Casa Branca o fizeram (nem há qualquer traço desse texto «original», a essa hora, na internet), permitindo presumir que o referido artigo é da responsabilidade da memória selectiva do Embaixador (a própria etiqueta «diplomacy» o confirma).

Baseados nesse artigo da Agência Noticiosa oficial, o Jornal de Angola vai mais longe, na sua versão em português, de pura mistificação para consumo interno. A fotografia do embaixador com Obama, obra do fotógrafo oficial da Casa Branca Lawrence Jackson, que retrata o acontecimento no «original», é substituído por uma foto da AFP (Agência Noticiosa francesa), que nada tem a ver com o momento e apenas se destina a camuflar que o referido artigo foi «oportunamente» forjado no seio do regime, como «obra» de propaganda.

O irmão Samuel do No Djemberém, viu a sua boa fé abusada nesta esparrela e ao propagar esse texto, comete inadvertidamente o erro de o atribuir à «AFP» (conforme manifesta intenção dos manipuladores). O caso não deixa de ser um interessante case study em termos de perversão dos Direitos de Autor.

Adivinha II

Como espera o Primeiro-Ministro guineense «marcar pontos» nas Nações Unidas?

Dica: procurar o maior parágrafo, entre aqueles enumerados com «bolinha».

Obrigado, PN

Este «produto» representa sem dúvida uma aquisição infeliz, dado que o prazo de validade do fabricante expira este fim-de-semana.

Comentários para amanhã

Deixo apenas os títulos e respectivas ligações, para reflexão...

Voice of America - Luanda com "alta temperatura" neste sábado

O artigo do Club-K, Sobre a manifestação convocada pelos movimentos de cidadãos em Angola, assinado Albano Pedro, que serviu de fonte à citação do anterior artigo

Idem, apelo do Bloco Democrático ao Presidente da República, para que não permita que se instale uma tragédia nacional este fim-de-semana

Adivinha

Para quem é o recado?

GUINÉ-BISSAU: BRASIL «NÃO CONDICIONA» A SUA COOPERAÇÃO COM OS OUTROS PAÍSES


Obrigado, irmão Bambaram di Padida

Uma pista, para ajudar a esclarecer o assunto.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Os 3R's

Uma homenagem, no actual contexto, ao professor universitário e jornalista

Domingos da Cruz,
que cunhou a expressão dos três éRRes, em termos de Direito:

1) o direito à RAIVA perante o mal
2) o direito à REVOLTA quando este persiste
3) o direito à REVOLUÇÃO quando o mesmo se eterniza

Perseguido pelo regime desde 2008, pela publicação de vários livros (proibidos mas muito apetecidos) contestando a situação, viria a ser despedido das suas funções docentes, bem como processado pela Procuradoria Geral, por «incitação à desobediência colectiva e à violência». Várias vezes adiado, o caso foi finalmente a julgamento há cerca de um ano... Pouco antes da leitura da sentença, Domingos gozava o prato...

Questionado pela DW (faço alguns extractos) sobre o fundamento legal da acusação:

«_Sem lei não há crime. Não faz sentido absolutamente nenhum tal acusação, na medida em que o crime de incitação à desobediência colectiva e à violência não existe no ordenamento jurídico angolano.

DW África: Mas então o que é que vai fazer ao tribunal?

_Como deve calcular, vou ao tribunal para responder a "nada", do ponto de vista metafísico, porque efectivamente não existe crime nenhum. Para além disso, a tal lei foi revogada sendo substituída por uma outra que é a Lei dos Crimes Contra a Segurança do Estado. Surpreende-me o facto de, mesmo que tenha cometido algum excesso, investido dessa "autoridade" de jornalista e cidadão, uma opinião se transformou em crime.

DW África: Entende que o regime do Presidente Eduardo dos Santos teme uma espécie de Primavera Árabe em Angola?


_Mas muitas vezes as pessoas querem apoiar em espírito e alma e, contudo, não podem fazer muita coisa porque estamos sob escuta, nos telemóveis, nos "emails", na rede social Facebook. Tudo isso leva a que as pessoas se retraiam muito na manifestação das suas posições.

DW África: Acobardando-se?

_Claro, mas respeitamos essas pessoas porque esta é a realidade que vivemos em Angola

DW África: Face ao que acaba de dizer, pode concluir-se que os jornalistas praticam auto-censura, em termos de produção de ideias e de pensamento?

_Com certeza, absolutamente. Isto é um efeito sobre o qual, inclusive, muitos jornalistas em debates ou em diálogos mais ou menos privados dizem, por exemplo: ”sobre isso, eu queria pronunciar-me mas não posso fazê-lo". Trata-se de um exercício de terror, encontramo-nos num ambiente de catástrofe, do ponto de vista das liberdades para o exercício do jornalismo.

DW África:  Nos últimos tempos, tem sido exercida uma grande pressão sobre ativistas e jornalistas em Angola. As manifestação de jovens contra o o governo angolano são frequentes e normalmente reprimidas. Será que o regime de Luanda teme alguma situação de difícil controlo?


_De acordo com a nova conjuntura, do ponto de vista geopolítico internacional, parece-me que o regime entende que a qualquer altura pode despoletar uma situação complicada. Tem-se dito que Angola é uma espécie de barril de pólvora e falta-nos só identificar onde está o fósforo para que tal barril possa eclodir.
»

Numa entrevista à Por dentro de África:

«Pelo que sei sobre este grupo de delinquentes sob a capa de governantes, temem todo tipo de ideias autênticas. São absolutamente alérgicos ao pensamento, à cultura, à ciência, à racionalidade, à crítica, à deliberação pública, ao esclarecimento. Para mim, enquanto tal grupo detiver o poder, Angola continuará um país atrasado, de idiotas, sem bens sociais mínimos para viver, alto índice de corrupção, um país que envergonha os seus filhos que se pautam por uma vida ética! (serão estes a minoria?)

Angola é quase um romance ficcional no plano político, jurídico e noutras esferas. A acusação que pesa sobre mim baseia-se numa lei revogada em 2010: só num regime autoritário tal idiotice pode suceder. Aprofunda-se uma imagem caricatural do regime, tanto interna quanto externamente… Quando o ridículo chega a este ponto máximo é sinal que tal protagonista terá uma tragédia catastrofista. Talvez seja o fim dessa era que se aproxima!»


O juiz mandou finalmente arquivar o processo, face à inconsistência legal das acusações.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Exército forma Governo

No Burkina Faso, o Tenente-Coronel Zida, indigitado pelo Exército para conduzir a transição e que havia assumido a chefia do estado, depois da deposição de Compaore, foi o escolhido para o cargo de Primeiro-Ministro: Kafando, que sucedeu a Zida no posto e é o novo Presidente, anunciou hoje a escolha (que muitos antecipavam).

A França está a desenvolver esforços diplomáticos para conseguir que a União Europeia e os Estados Unidos condenem a opção antes das respectivas tomadas de posse, marcadas para depois de amanhã, argumentando com a tese de «Golpe de Estado». No entanto, podem tirar o cavalinho da chuva, basta lerem com atenção as declarações de Zida, que já desfez esse equívoco, à intenção da União Africana: «O que se passou no Burkina Faso foi um levantamento popular, não um Golpe de Estado».

A má vontade dos franceses em relação a Zida (depois de a AFP dar o tom, transparece nas primeiras reacções do Le Monde e Jeune Afrique) é, para já, um bom sinal: há a possibilidade de estarmos perante um homem íntegro, dificilmente manipulável, o que evidentemente não agrada a Paris.