segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Papa apela às consciências

O Papa fez hoje um veemente apelo à Comunidade Internacional para que se interesse pela grave situação na República Centro Africana, secundando assim a boa vontade da França, que parece incapaz de lhe por cobro. Mais do que acudir aos fogos que, no actual contexto de sub-desenvolvimento agudo e crónico, não deixarão de continuar a ocorrer, é necessário um novo modelo de cooperação entre os continentes vizinhos, que permita travar essa humilhação e dar uma nota de esperança num futuro melhor.

Os europeus, velhos, ricos e cada vez menos, precisam dos africanos, jovens, pobres e cada vez mais; ao Norte o saber fazer, ao Sul os recursos. A complementaridade pode ser explorada em conjunto, alicerçada no respeito e no mútuo interesse. A República Centro Africana, é, a este propósito, um caso paradigmático dos vícios do «por e dispor» francês no Continente. Lembre-se o envolvimento duvidoso de Giscard d'Estaing, ao ponto de participar numa palhaçada «napoleónica», para logo depois depor Bokassa.

Se, até um certo ponto, a França foi responsável por uma certa estabilidade africana pós-independências (a que convinha aos seus interesses, sobretudo minerais), a que custo de traições, de prepotência neo-colonial e de servilismo africano? Esperemos que não venha a ser necessário pagar esse preço, sob a forma actual de uma espiral de violência avassaladora. A União Europeia não pode fazer ouvidos de mercador: ignorar a questão será muito pior... O espectro de Lampedusa deveria ser suficientemente esclarecedor.

UE oferece os seus serviços

A União Europeia propõe-se enviar observadores para um país cujas autoridades não reconhece? A senhora Catherine Ashton, que ainda há pouco tempo se apressou a denegrir a Guiné-Bissau, a reboque do Governo português, no caso do avião da TAP, deveria ser um pouco mais elegante, na forma como apresenta as suas propostas de voyeuse.

Ver notícia da RTP.

A alta representante da União Europeia para a política externa mal consegue disfarçar que a UE não tem uma política externa; muito menos para África. Os franceses, herdeiros da FrançAfrique, andam à nora e a apanhar bonés, com Hollande, mas já acusaram a «apatia» da Europa quanto às ameaças à segurança global neste continente. Mas como tratá-las?

Depois do Mali, os franceses intervieram na República Centro Africana, e parecem querer conservar algum protagonismo no continente. Mas, tal como Mitterrand, que rapidamente voltou aos velhos métodos da maçonaria, parece que o «etablishment» tenta a todo o custo empurrar Hollande pelo mesmo caminho. Gendarme? Algo tem de mudar na Europa.

Se não fosse a cegueira dos políticos e do «etablishment» português, já teria havido uma cimeira europeia exclusivamente dedicada à definição de uma política comum sustentável com este continente: em vez de entregar todo o «ouro» à França, Portugal tem um importante papel estratégico, neste campo, a desempenhar, num novo e original modelo.

Tal como sugeria o malogrado herói burkinabê (a quem chamavam o Che africano): em vez da malícia da «ajuda ao desenvolvimento», entre outros vícios, sujeita a obscuros interesses e perniciosamente fomentadora da dependência, porque não criar um sistema de pontos, onde os menos corruptos e mais amigos do povo seriam recompensados?

Porque não, de boa fé, em igualdade e fraternidade, ajudar os africanos a conduzirem o seu desenvolvimento sustentável em bases saudáveis e não mais na cupidez e na ganância? Considerem as relações Primavera Árabe, Sudões, Mali, Centro Africana. Se não fizerem algo consistente, é toda essa banda que ficará de costa a costa a ferro e fogo.

Isto num cenário que querem à força empurrar para o choque entre religiões, depois da paranóia securitária e segregacionista dos Estados Unidos pós 11 de Setembro. O perigo da intolerância e das identidades assassinas, neste mundo sem regras, cresce exponencialmente, como tem triste e insistentemente avisado Amin Maalouf, nos seus conhecidos best-sellers.

Há uma percepção simplista ocidental, em relação ao Islão, como um bloco único, mas isso está longe de ser verdade. Os anglo-saxões, ostracizando um Irão avançado, pervertendo equilíbrios, encobrindo uma Arábia Saudita feudal, beneficiaram a intolerância e o radicalismo primário de uma ortodoxia básica e literalista do Islão, com lamentáveis resultados.

À senhora Catherine Ashton, questiona-se porque se mostra tão preocupada com as eleições na Guiné-Bissau, se, por exemplo, com Angola, que é um país bem maior, nem sequer reclamou de não ter sido convidada como «observadora» para as últimas eleições? Onde estão os manuais de normalização de procedimentos, tão caros à anquilosada burocracia europeia?

Escândalo!

A Guiné-Bissau não apresenta equipa de futebol nos Jogos da Lusofonia, em Goa?

Ver notícia no Times of India

Portugal, que teria todo o interesse em utilizar o potencial do seu futebol como embaixador do país na Ásia, não vai estar presente, alegadamente para não incorrer em riscos de paludismo! Julgo que Portugal não se apercebeu bem da janela de oportunidade que lhe lançou a União Indiana. A insensibilidade e incompetência no Palácio das Necessidades são atordoantes.

Cabo Verde também não vai a Goa defender o título; mas o Brasil já confirmou a sua presença.

Gostaria de fazer um apelo aos jogadores de futebol de Angola, Cabo Verde, Portugal e Guiné-Bissau, para mandarem à fava as razões comerciais e insistirem, por sua iniciativa, em participar neste encontro pluricontinental, dando um exemplo identitário de convivência multi-racial. É escandaloso que falem tanto da Lusofonia e de Futebol, com a morte de Eusébio, mas desperdicem oportunidades de ouro para comungar desse espírito.

Mosca 7ZE apela a CR7 para se envolver pessoalmente na Lusofonia! Ou vai desistir com medo de um mosquito?

domingo, 12 de janeiro de 2014

Roubo de arrastão

Este arresto é claramente ilegal, por melhor fundamentadas que sejam as suas razões. O Senegal colocou o carro à frente dos bois, com o Ministro das Pescas a lamentar-se «não ter ainda aprovado legislação que permita o confisco»: quis apresentar serviço, dar um exemplo «dissuasivo», mas o tiro saiu-lhe pela culatra.

O Ministro senegalês pode sentir-se lesado, como sugeriu, por a Guiné-Bissau vender licenças aos seus pescadores artesanais, para depois lhes tirar o peixe do «cesto», vendendo igualmente licenças a grandes navios de pesca industrial. Isso só poderá resolver-se num contexto sub-regional de gestão de recursos.

As autoridades senegalesas deverão utilizar a diplomacia, para sensibilizar o Governo guineense para a conveniência de uma gestão transfronteiriça sustentada; melhor, poderão utilizar para esse fim os mecanismos de integração sub-regional da CEDEAO. Promover litígios com ligeireza não parece boa estratégia.

A Guiné-Bissau não é um feudo do Senegal

O diário senegalês EnQuête parece estar a gerar confusão. Ontem, titulava na sua primeira página: «A Guiné-Bissau rebela-se contra o Senegal». Ora, a Guiné-Bissau não é uma província senegalesa, para se poder rebelar. Cuidado com as palavras, há que manter as distâncias: a Guiné-Bissau é independente.

Será que é a presença de alguns soldados em Bissau que já permite estas liberdades? O acordo para a protecção das águas territoriais, face à ausência de meios, era com a Marinha da Nigéria. Aprisionar navios terceiros nas águas territoriais de um vizinho? Raptar e maltratar guineenses, nas suas próprias águas?

No arsenal deste litígio e na lógica da escalada, como meio de pressionar o Senegal a restituir a liberdade aos guineenses ilegalmente aprisionados na secção militar do porto de Dakar a bordo do Oleg Naydenov, consta ainda a possibilidade da exigência da retirada imediata da componente senegalesa da ECOMIB.

TAP - Há mais de meio século a voar para os PALOP


Um sobrescrito de Primeiro Dia (em inglês FDC), de 1963, para recordação.

À venda por 3,99€. Para comprar.

sábado, 11 de janeiro de 2014

O silêncio do GreenPeace no caso do arrastão russo

O Greenpeace fez apenas um comunicado de ocasião sobre o caso Oleg Naydenov no seu site, afirmando não conhecer os dados do problema e ter tomado conhecimento do caso pela comunicação social, lavando assim as mãos das acusações russas. Depois de expressar preocupação pelo uso excessivo da força, não deu mais sinal nesta história. Decerto o GreenPeace ainda tem na memória o caso do Rainbow Warrior, dinamitado pelos serviços secretos franceses em 1985, tendo morrido no atentado o fotógrafo português Fernando Pereira.

Para manter o rótulo de «luta ambiental», o Ministro das Pescas senegalês e Presidente do Partido Os Verdes, Haidar El-Ali, envolveu a organização Sea Shepherd, a qual, no entanto, ainda não publicitou, no seu site internacional, nem em iniciativas nem na Newsletter, qualquer referência à alegada operação publicitada pela Presidente para a França da organização, Lamya Essemlali. Do mais recente e quinto barco da organização, que já tem nome (de um activista costa-riquenho assassinado em Maio), não foi mostrada qualquer foto...

Carrascalão apoia Xanana

Mário Carrascalão, em entrevista publicada pelo Jornal de Notícias, vem incentivar Xanana Gusmão a continuar na política, face ao anúncio de renúncia deste ao cargo de Primeiro-Ministro.

Para além de Presidente do Partido Social Democrata, Mário Carrascalão é mais que um senador, é um herói da independência, que pagou a sua quota-parte de sangue. Tem por isso toda a legitimidade para pedir a Xanana que avance. Sugere a criação de um Governo de Inclusão, a redução do número de Ministros e a concentração de poderes...

Força na realização dos seus sonhos, grande Comandante!

Animal selvagem!

Mais uma magnífica anedota de pedagogia política, do Ady Teixeira, no Kafumbero, sintonizado na onda Guiné-Bissau!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Enclave de Cabinda

Agora que colocaram em causa o tabu das fronteiras coloniais, em vigor desde o Tratado de Viena, é permitido especular sobre identidades africanas, com legitimidade superior às linhas imaginárias traçadas por europeus a regra e esquadro.

Há unidades naturais de língua e cultura, já para não falar em legitimidade histórica, que se afirmam em identidades poderosas. Da floresta do Maiombe ecoa a vontade de independência, «generalizada entre a população», segundo Raul Tati.

É preciso ser forte, como Gandhi, ou Mandela, para, como o fazem os cabindas, excluírem a opção da luta armada. Talvez a solução esteja, de novo, num protectorado. Só que desta vez, em vez de território, seria um protectorado petrolífero.

José Eduardo dos Santos conservaria o petróleo, concedendo uma independência de facto (poderia chamar-lhe «larga autonomia») ao país. Podia ser um bom acordo...

Habeas barca

Se, em direito marítimo, houvesse uma figura equivalente ao habeas corpus, o Senegal, não apresentando quaisquer acusações, teria de libertar imediatamente o Oleg Naydenov...

O navio foi arrestado em águas da Guiné-Bissau, com marinheiros nacionais a bordo. É um acto grave, de «pirataria» ao nível de Estado, como acusam os responsáveis russos.

Enclave de Casamansa

O barco Aline Sitoe Diatta, que faz a ligação Dakar / Ziguinchor não conseguiu, na Quarta-Feira dia 8 de Janeiro entrar na desembocadura do rio, devido ao mau tempo, que provocou ondas de cerca de três metros e teve de voltar a Dakar. Num artigo do diário Actu24, os jornalistas lembram que este é (quase) o único meio de ligação «trans-gambiana», e que convém comprar os bilhetes com bastante antecedência, para se poder ter a certeza de viajar na data prevista, sobretudo nos períodos de maior afluência.

Os jornalistas recordam ainda que, desde a anterior presidência, está previsto o desaçoreamento do rio Casamansa, desde o porto de Zinguinchor, estabelecendo um canal com 400 metros de largura e 7 de fundo, até ao mar. Essa maior acessibilidade, permitiria igualmente, segundo o artigo, construir estruturas de armazenamento de combustíveis, para servir não só a «região natural» propriamente dita, como também a Guiné-Bissau e a Gâmbia. De facto, essa grande «região», dos grandes rios, é muito mais «natural» e difícil de se negá-lo.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

CPLP defende voo da TAP

O Secretário da CPLP, o moçambicano Murade Murargy, disse à LUSA esperar que a TAP reponha o voo para Bissau:  «Espero que encontrem uma solução definitiva para o problema, que está a prejudicar muita gente. Espero que a TAP também analise bem a situação e encontre uma saída de forma a retomar os voos».

Coruche, chi, credo!

Meia dúzia de milhar de quilómetros, várias fronteiras, imensas portagens informais. Este o percurso de uma caravana de material humanitário, que partiu de Portugal no dia seguinte ao Natal.

Chegaram a Bissau sãos e salvos, decerto graças à protecção de Nossa Senhora do Castelo, da antiquíssima capela de Coruche - fundada por Afonso Henriques - a qual tem um largo reportório de fotografias tipo passe da altura da Guerra Colonial, que as mães, namoradas, madrinhas de guerra, lá deixavam ou para lá enviavam, esperando assim invocar a protecção da respectiva padroeira; o facto é que, segundo a tradição, fosse por coincidência ou erro estatístico (ou milagre, propriamente dito), não morreu (na Guerra, presuma-se) nenhum dos homens (são centenas e centenas de fotos) à sua guarda.

Com outro tanto para lá, faz uma dúzia x 1000Km. Parabéns aos Desert Chalengers! E ao anfitrião Pepito!

Foi bonita a festa, pá.

Mal vindo

A proposta da CPLP de enviar um representante para Bissau não é benvinda. Embora se possa apreciar, a título privado, a figura do brasileiro nomeado para essa função, que desperta alguma simpatia, talvez devesse ter pensado duas vezes antes de aceitar tão pesado fardo. Por mais boa vontade que Carlos Moura se proponha, deveria ter começado por rever o contexto e expectativas inerentes à sua nomeação.

Com que legitimidade a CPLP «nomeia» um representante para um país cujas autoridades não reconhece? É, no mínimo, um abuso de confiança, para não ter de falar em provocação. O senhor Carlos Moura deverá começar o seu trabalho antes da viagem (que será bastante prolongada, agradeça ao MNE português), tendo muito cuidado com a sua acreditação e pedido de visto, à chegada ao aeroporto de Bissau.

É inaceitável que se imponham como convidados, sem que haja uma revisão séria e consentânea, do posicionamento da organização quanto à suspensão da Guiné-Bissau por motivos políticos. Natural que o país esteja não grato a iniciativas feitas nas suas costas, sem o seu envolvimento, em assuntos que lhe dizem directamente respeito. Resolvam isso, antes das eleições, como sugere o anónimo publicado pelo Doka, dando um passo de esperança; se não, mandem os representantes depois e apenas se forem convidados.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Bissaulhos

Rui Machete, cada vez que abre a boca, piora o seu caso.

Voltou, uma vez mais, a misturar alhos com bugalhos, elucidando-nos acerca da sua má-fé. 

No final de uma visita à sede da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), em Lisboa, face à pressão dos jornalistas questionando-o sobre quando seriam retomadas as ligações com Bissau, afirmou: 

«o Estado português já disse quais eram as condições que entendia necessárias para que a segurança fosse garantida», acrescentando que «existe um Governo de facto na Guiné, que não é reconhecido por Portugal nem por muitos países».

Que não era reconhecido, não é novidade nenhuma, agora que o Governo faça chantagem política utilizando como joguete várias comunidades do espaço lusófono (portugueses em Bissau e guineenses em Lisboa), não se compreende, a não ser no contexto da promoção de um clima de crispação e de tensão, claramente oposto às suas declarações formais.

ver notícia

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Crise alastra ao Norte

O Presidente do Sudão visitou hoje Juba, num sinal de apoio ao presidente do Sul. Os inimigos de ontem refazem alianças para desalojar os «rebeldes» dos campos petrolíferos. Jogada perigosa: foi como mediador, sob os auspícios da UA, e acaba tomando o partido do petróleo...

http://www.africa24monde.com/faits%20divers.php?article=b056eglrstv1267c026ehjoquvwy12

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Para bem a vocês

Parabéns ao Progresso Nacional, pelo primeiro aniversário. Quase um milhão de visualizações em um ano é um feito. Não há dúvida que o panorama informativo guineense beneficiou de um grande aumento da oferta neste ano de 2013, tendo saído claramente reforçado com a vossa juventude e vigor.

Refiro-me especialmente à importância crescente que assumiram os blogs e redes sociais, no contexto de uma cada vez maior acessibilidade à internet, não só por parte da Diáspora (o que não é propriamente novidade), mas também por parte de uma franja cada vez maior de leitores na Guiné.

Continuem a trabalhar!

Um grande abraço colectivo

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

De barriga inchada

«Não é por ser um governo inclusivo com todas as forças políticas presentes, incluindo os partidos políticos sem representação na Assembleia Nacional Popular, logo, sem legitimidade popular, que lhe confere a legalidade necessária para governar e representar o povo.»

Pergunto-me se este trecho é um elogio à exclusividade, se uma crítica à falta de representatividade...

Vamos lá ver se percebi bem: podem muito bem lá estar todos, mas a maior parte está a mais, porque não representa ninguém, por isso a palavra deve ser devolvida ao povo, numa óptica de exclusão (de todos os que não concordarem com a sua pessoa, presuma-se).

Denota de forma grosseira precisamente o contrário do espírito das recomendações do Representante do Secretário Geral da ONU, Ramos-Horta: «Eu é que sou o dono e o campeão da legalidade, da legitimidade e da representatividade»: trago na barriga um milhão de votos.

Ossos do ofício

O PR Serifo Nhamadjo tem uma crise política entre mãos, titula a RFI (ver Progresso Nacional): esteve hoje reunido com vários «stakeholders» (para utilizar a terminologia internacional), para a tentar resolver.

Obrigado, PN

Se uns falam em erosão do Governo de Transição, outros arriscam mesmo ser um fenómeno de dissolução. O Presidente parece que está «à espera de Godot», retendo as demissões do MNE e MI.

Resta ainda eventualmente, acrescentar à lista de cargos de «disponibilidade pendente» o de PGR. A confirmarem-se as notícias das «dificuldades de coabitação» entre PM e PR, o caso é grave.

Quem não deve andar nada satisfeito com o andar da carruagem é o Comando Militar. Impossível que o PM coloque o cargo à disposição sem que caia todo o Governo. Nesta altura do campeonato...

Será caso para simples remodelação ministerial?

Marcha triunfal

Carlos Gomes Junior, em comunicado publicado há pouco no Ditadura do Consenso, assume que o seu recenseamento não se destina apenas a exercer o direito de voto, como qualquer cidadão na Diáspora, mas constitui um primeiro passo para uma candidatura presidencial.

Depois de imensos erros de concordância com os quais semeia as suas expressões, perdendo constantemente o sujeito das suas próprias afirmações, termina o documento aplaudindo-se a si próprio como virtual vencedor, que se julga, do acto eleitoral a realizar.

De humilde pouco tem: ou é bruxo, ou está muito à frente no tempo (aliás, até data os seus Comunicados de Imprensa do dia seguinte ao da publicação - o documento apresenta-se datado de amanhã, dia 31 de Dezembro - mais um pouco e era datado de um ano antes!).

O moço com o osso no pescoço II

Paulo Gorjão voltou ao tema da Guiné-Bissau para parafrasear o artigo de Francisco Seixas da Costa, adoptando uma ridícula postura de superioridade em relação ao Senhor Embaixador. Reconhecendo explicitamente que Portugal tem perseguido por todos os meios e em todos os fóruns internacionais a Guiné-Bissau («sem o sucesso desejado», como o próprio confessa, aliás). Mais: assume a morte da CPLP, na sequência desta questiúncula sem jeito nenhum.

Estamos portanto reconhecidamente a falar de coisas muito graves, que o politólogo de Passos Coelho tenta varrer para debaixo do tapete, com inabalável displicência.

Quanto à teoria da «conspiração mediática» pró-guineense (esqueceu-se de anotar a coincidência de serem os mesmos da «anti-angolana», coisa que não lhe deve ter passado despercebida), os mecanismos foram os mesmos que os utilizados pelo MNE português e por Machete (para fazer o alarido que se sabe e deu celeuma): o pouco conhecimento dos jornalistas (olho por olho, dente por dente). Enquanto se tratou de bater no ceguinho (a Guiné-Bissau), aplaudiu; agora chore.

Por falar em ofícios...

Afinal, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que chorou baba e ranho, armado em prima dona ofendida, clamando que não tinha conhecimento dos vistos e que «deveriam» ter informado o «seu» Ministério da Embaixada da Guiné-Bissau em Marrocos, afinal foi informado, com vários dias de antecedência, pelo ofício 422 daquela representação diplomática, datado de 2 de Dezembro.

Mais informa a respectiva Embaixada, que tal documento era desnecessário, face à decisão do Governo de Transição de autorizar a entrada no país a qualquer interessado em viajar para lá (incumbindo as autoridades locais da emissão dos respectivos vistos, na entrada), logo a própria informação também não era obrigatória, tendo-o feito, no entanto, por uma «questão de transparência».

A confirmar-se esta notícia (solicita-se publicidade a uma cópia digital do ofício, que é coisa oficial e pública), as declarações tempestuosas de Delfim da Silva soam agora a falso e a pura hipocrisia.

O embaixador em Rabat.

Ver notícia.

Chover no molhado

O PGR, segundo o blog Saiba novidades publicou de manhã, «voltou à carga», afirmando ter falado «pessoalmente» com o Director da Polícia Judiciária, no sentido de proceder à detenção do Ministro. Mas o senhor Procurador não entende o que lhe dizem? Onde já se viu um Procurador dar «ordens» informais, pouco instruídas e de execução (mais do que) duvidosa e equívoca? O PGR ordena a um subordinado a prisão de um superior hierárquico, Ministro imune e em funções, e espera execução tempestiva?

Se tivesse feito o seu trabalho como deve ser, teria insistido em apurar que género de razões de segurança interna motivaram o Ministro a tão arriscada atitude, bem como fundamentado também, devida e formalmente, a acusação ao empresário envolvido, que a Polícia Judiciária manteve duas semanas à sua disposição. O que não foi manifestamente o caso: as acusações mantiveram-se vagas e improcedentes, nunca tendo sido tipificado qual o crime ou crimes de que os «suspeitos» eram acusados.

Achar que o Ministro não procedeu lá muito bem neste caso, é uma coisa; mas este não pode ser acusado a posteriori de «tráfico de refugiados» ou «criação de atrito político com Portugal», pois tais crimes não estão tipificados na Lei guineense; teria de moldar a acusação em termos de Lei ou conjunto de Leis nacionais grave e grosseiramente violadas, de forma a convencer a Assembleia da República a levantar a imunidade, equiparada a Deputado, de que gozam os membros do Governo. Senão qualquer um pode ser PGR!

Palavras, leva-as o vento. Um Procurador que não cumpre os trâmites oficiais e ainda vem reclamar de um «incumprimento» oficioso? E que, depois de ser formal, pública e oficialmente notificado, insiste na barbaridade cometida, afirmando pretender mover processos disciplinares, sem pés nem cabeça, a funcionários competentes? (ou será que o processo disciplinar também é só de boca?) O melhor que tem a fazer é pegar na caneta, verificar que tem tinta, e escrever uma carta colocando o cargo à disposição.

Obrigado, irmão Saiba

domingo, 29 de dezembro de 2013

Refresh de comentários

Apenas para publicar um comentário, entretanto colocado, ao artigo do Embaixador Seixas da Costa, publicado pelo Didinho.

«Sempre que se fala das ex-colónias, os portugueses inflam-se como nos tempos do ultimato inglês. Os comentários que surgem trazem o eco fantasmagórico do: "Para Angola rapidamente e em força!". A análise do embaixador é profundamente lúcida e obviamente não se insere naquele contexto. A questão essencial nas (não) relações entre a Guiné-Bissau e Portugal não é somente este episódio. O Governo de transição que resultou do golpe de estado de 2012 (acto naturalmente condenável, mas que, infelizmente, não é único na história daquele país) tomou em mãos uma situação muito complexa, mas tentou, e em certa medida conseguiu-o, manter os militares tranquilos, e conseguiu igualmente promover um governo de coligação com representação de todos os partidos, PAIGC incluído, pois este partido detém 5 ministérios (desde pelo menos Julho de 2013) e sem apoios financeiros excepto os da CEDEAO e muito significativamente de Timor-Leste, promover pela primeira vez naquele país um recenseamento que vai permitir outra transparência nas eleições marcadas para 16 de Março de 2014, retirando assim uma "justificação" para os sucessivos golpes de estado que contestam os poderes saídos de eleições grosseiramente fraudulentas, mesmo tomando em consideração o critério largo das outras eleições em África. Portugal nunca teve uma estratégia patriótica em relação aos países que outrora foram nossas colónias e nessa matéria também somos originais e diferentes das outras nações europeias que foram potências coloniais. Descolonizámos tarde e reactivamente aos acontecimentos que se impuseram no terreno. Agora com a democracia estabilizada andamos ao sabor da maré, leia-se dos negócios de uns poucos e, para mim, só neste âmbito se pode perceber as posições genuflectidas do nosso Governo em relação a Angola e a contrastante agressividade em relação à Guiné-Bissau. Somos fortes com os fracos e fracos com os fortes. Independentemente da forma, a posição do ministro guineense reflecte exactamente isso.»

Com o nosso agradecimento a Jorge Lemos Peixoto, pela citação;

Eu acrescentaria, em jeito de resposta a alguns dos comentários a esse artigo, que quiseram colocar ao mesmo nível o caso de Portugal (ou melhor, do seu incompetente MNE, que está em todas) com Angola e com a Guiné-Bissau (quando, precisamente, são opostos e antagonistas, passe a redundância), que é a própria soberania que está em causa, com esta atitude tão pouco digna (para não dizer cobarde) dos governantes portugueses.

Quanto ao erro que o Embaixador propaga, de que a «CPLP não se viu nem se ouviu», será simples falta de informação? Portugal e Angola constrangeram a CPLP a fazer e a dizer tudo e mais alguma coisa, moveram montanhas... (aliás, foi devido a esse mau ambiente que a CPLP morreu e deixou de ouvir falar dela, senhor Embaixador da memória curta) Parece antes má fé: tentativa de ignorar as inevitáveis consequências das incompetentes e pouco prudentes atitudes da diplomacia portuguesa; tentativa de arranjar bodes expiatórios para se a história das relações (as mais antigas do Império Português, com cinco séculos e meio: só para se ter uma ideia, os primeiros colonos brancos a chegarem à América, foi dois séculos depois) com a Guiné-Bissau correrem mal.