quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Hipocrisia

A LUSA publicou um artigo expressamente dedicado à ECOMIB»MISSANG. Face às incríveis patranhas emanadas da CPLP, não se vislumbra uma nota de sentido crítico, ou sequer uma simples alusão velada ao que realmente está em causa. Para quê intitular «Força militar africana com mandato da ONU» se estamos a falar de um simples capricho de José Eduardo dos Santos, sinalizando uma iminente senilidade? Não é preciso dar tantas voltas para esconder o rabo! Que aqui há gato, já não escapa a ninguém. Assumam e deixem-se de tentar encobrir o sol com a peneira.

Mas já agora, uns pauzinhos na engrenagem:

1) A CEDEAO. Por mais floreados que pintem, a sub-região não vai na conversa do afro-imperialismo angolano. «Reconfigurar», para esta CPLP, corresponde à proposta de revezar as forças da CEDEAO por forças angolanas. In illo tempore, a Nigéria não viu com nada bons olhos a estadia da MISSANG, não é de esperar que altere essa posição, sobretudo atendendo à intenção de multiplicar o efectivo por sete, perfazendo os 1800 elementos. Infelizmente, as relações de José Eduardo dos Santos com a França arriscam-se a arrefecer, depois da morte, há poucos dias, num acidente de aviação na Rússia, do presidente da TOTAL, com quem andava a «namorar». Não deverá pois esperar muita compreensão do lado da francofonia, para quem a presença angolana também é vista como uma ameaça (terá sido, aliás, esse o argumento que fez desestabilizar a balança nos dias seguintes ao 12 de Abril de 2012).

2) Os restantes elementos do Conselho de Segurança. Efectivamente, os «jogos» no Conselho de Segurança nunca são pela positiva, mas pela negativa. Cada vez que um elemento puxa a brasa à sua sardinha, é refreado pela oposição decidida de outro membro. Por isso é considerado ineficaz. Angola chegar ao «poleiro» e querer utilizar a sua posição em causa própria vai decerto fazer desconfiar os outros membros. Depois de se inteirarem da situação, vão achar que se trata de uma atitude completamente irresponsável e injustificada, e Angola perderá o eventual prestígio que adquiriu ao entrar para esse «colégio» (situação que não é nova, pois já aconteceu com Portugal, pela mesma razão).

O cenário é dissuasivo, mas não creio que o bom-senso venha a prevalecer, face ao adiantado estado de psicose já diagnosticado. Continua válido aquilo que disse Orlando Castro, há dois anos:

«Foi necessário os militares guineenses dizerem que não estão para ser protectorado de Angola para que, humilhada no seu sentimento de potência e dona de Portugal, Luanda puxasse dos galões e desse ordens ao reino português para papaguear uma série de asneiras»

Finalmente, ficarão isolados DSP e JES, esgotadas as máscaras e os pretextos rebuscados. Qual a razão de procurar forçar a cobertura internacional para uma relação de âmbito estritamente bilateral?

Para responder às recomendações do General Correia de Barros do Centro de Estudos Estratégicos de Angola, que disse, em tempos, quando criticou a MISSANG, que «a cooperação, em matéria tão sensível como a Defesa, nunca deverá ser efectuada numa base bilateral, mas ao abrigo de organizações internacionais como a ONU ou a UA, ou no seio de organizações sub-regionais, como a SADC ou a CEDEAO»? Uma vez que acataram uma parte das suas recomendações, deveriam lembrar outras...  tal como quando este aponta o inconveniente suplementar de Angola não pertencer à CEDEAO e Bissau estar demasiado «fora da área geográfica e organizacional» angolana (reconhecendo perante a Radio France Internacional que Angola demonstrou precipitação e nervosismo em todo o processo MISSANG - stress que, pelos vistos, continua a demonstrar!)

Declaração final MNEs - CPLP

«Encorajou as autoridades da Guiné-Bissau a concertar com a CEDEAO, e outros parceiros africanos, o mandato de uma ECOMIB reconfigurada para apoiar a implementação das reformas.

Notou, ainda, as vantagens de tal mandato vir a ser reconhecido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para gerar confiança internacional no processo de reformas e facilitar o seu cofinanciamento.

(...)

Sublinhou, a este respeito, que o GIC (Grupo Internacional de Contacto) deverá ter em conta a tomada de decisões, a curto prazo, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas quanto à renovação e atualização do mandato da UNIOGBIS e reconhecimento do mandato da ECOMIB reconfigurada para apoiar as reformas do sector de defesa e segurança.»

Não se trata, obviamente, de uma ECOMIB reconfigurada, mas de uma MISSANG reciclada, que deverá coroar os esforços de Angola para chegar ao Conselho de Segurança. Julgo que há aqui um grande equívoco da diplomacia angolana pois o poder, no CS das NU, é um não-poder, consubstanciado no direito de veto. Não dá para atribuir missões ou «reconhecer» mandatos.

Mas o plano tem, entre outros, um ponto fraco capital: fica dependente da CEDEAO, para reconfigurar a sua ECOMIB. Como a CEDEAO não está mesmo nada para aí virada, a ideia da planeada invasão fica adiada, pelo menos por mais 100 dias que é quanto dura ainda o mandato da ECOMIB, tantos quantos a extensão do estado de graça solicitada por DSP. Não havendo, nessa data, concertação possível com a CEDEAO, que vão fazer? Assumir uma força «africana» auto-proposta e proclamada? Com que designação? Força de apoio à implementação de reformas? O ridículo de toda esta psicose serve apenas para desacreditar a CPLP!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Sondagem 7ze: participe

Quem deu a Jomav o telefone de Dilma?

RESPOSTA

a) Rui Machete
b) José Eduardo dos Santos
c) a própria

Brevemente publicaremos os resultados da sondagem.

Machete chamado de urgência a Lisboa

No mais grave incidente desde a guerra fria, a OTAN acaba de emitir uma declaração sobre incidentes semelhantes, em Portugal e na Noruega, envolvendo a invasão de espaço aéreo por aviões russos, entretanto perseguidos pelas respectivas Forças Aéreas. O assunto ainda foi a tempo de sair no jornal da noite de hoje da RTP1, apresentado por José Rodrigues dos Santos. O Correio da Manhã esclarece melhor os contornos do assunto, que parece configurar uma provocação.

A convocação do Embaixador russo, com carácter de urgência, tornou-se uma Necessidade absoluta. O incidente terá de ser tratado com benevolência, entendido na sua acepção de «comunicação» geoestratégica à escala europeia e mundial. A mensagem é clara, se bem que inconsequente, na prática. Trata-se da capacidade de «bate» (traduzindo literalmente do «frappe» francês) longínqua, na periferia das coordenadas de Moscovo.

Domingos Simões Pereira anuncia projecto

Segundo a Lusa, no acto da inauguração da conferência de MNEs da CPLP, o Primeiro-Ministro pediu um apoio orçamental directo para pagar salários. Decorrendo em paralelo um encontro de empresários, não julgo lá muito edificante esta cena da pedinchice.


Pode compreender-se que o papel de DSP implique um equilíbrio por vezes difícil de conseguir, mas o exemplo que escolheu, segundo notícia da TSF, para ilustrar as reformas pretendidas para o sector militar, foi, no mínimo, pitoresco, para não dizer grotesco. Um museu etnológico para Amura? Face à gravidade da imagem de penúria do país, que apresenta, foi o único projecto que lhe ocorreu? Mesmo sabendo que isso poderia ser percebido como uma desapropriação simbólica das Forças Armadas, da histórica fortaleza e da companhia de Cabral? Estou curioso sobre se o PM já partilhou esse projecto com as FA, ou se é apenas um sinal de «boa vontade» para consumo externo, de que está «no bom caminho». Independentemente disso, julgo que teria sido mais inteligente apresentar o assunto ao contrário, começando talvez pela «construção de modernas infra-estruturas» para o QG. Esse discurso já muito repetitivo que tem por refrão as forças armadas como inimigo interno não tem futuro num cenário de propalada reconciliação.

P.S. Não se compreende, por outro lado, a «perspectiva da continuidade de uma força internacional de estabilização, após o período do presente mandato» segundo notícia não assinada do Luanda Digital (sugerindo a substituição do contingente da CEDEAO por outro da «CPLP»). Sim, como compreender que, para além do esforço financeiro a fundo perdido que já está a pedir para despesas correntes, ainda se sobrecarreguem os doadores com mais essas pesadíssimas despesas de manutenção? A expressão «reforço da "imunidade" (figura que está na moda, com o Ébola) do sistema democrático» saiu mesmo da boca do 1M guineense ou é outra vez a network a especular, como as aspas deixam supor? É que soa demais a guarda pretoriana, que, por acaso, até rima com angolana. 

Uma mão cheia de nada

Nas primeiras declarações públicas em Bissau (sempre com o seu proverbial sentido de oportunidade) enquanto espera pelo verdadeiro VIP, seu dono, que traz a pasta com o dinheiro e o chicote, um Machete cheché repete declarações sem sentido, que nada acrescentam à sua miserável presença. Já se sabia da sua demagógica «esperança» em relação à TAP, isso não constitui novidade nenhuma. O desmentido é pura hipocrisia, uma vez que a TAP não falou de condições «técnicas» mas de condições «sanitárias», na sequência de uma reunião «de alto nível» com um Director-Geral extremista, reunião essa que o Senhor Ministro se obstina em desconhecer, num mal disfarçado desafio a Pedro Passos Coelho, o qual, neste momento, já não tem qualquer controlo ou autoridade sobre muitos Ministérios. Um Primeiro-Ministro deixar um Director-Geral atrevido usurpar-lhe as funções e um MNE «desinformado» sobre um assunto público e de importância capital para a sua esfera de competências, serve para amostra do estado de desgovernação a que Portugal chegou.

Mais uma bronca dos primatas nas notícias

O aziago (não) Seide (nada), da PNN, volta à carga, com mais uma argolada. Conseguiu produzir uma «notícia» claramente enviesada colocando na boca de uma secretária da Embaixada da África do Sul, que pomposamente tratou por «Secretária Política», que a África do Sul apoiaria a reforma das Forças Armadas. Caro irmão do Bambaram di Padida: cuidado com as notícias destes farsantes disfarçados de jornalistas.

Menos de 24h depois, o Embaixador acaba de publicar um desmentido esclarecendo que a senhora só pode ter produzido essas declarações a título pessoal, não tendo sido mandatada para o efeito. Depois de citada ipsis verbis «A missão diplomática sul-africana vai apoiar a Guiné-Bissau na reestruturação de aparelho administrativo e na reorganização dos sectores de Defesa e Segurança, e é nessa qualidade que me encontro presente aqui no Parlamento guineense para expressar a nossa intenção», a quebra de confiança custar-lhe-à, aparentemente, o emprego. Resta saber se a inconfidência se ficou a dever à desmiolada da rapariga, ou se o jornalista deu uma mãozinha ao cozinhar o texto: conseguiu tramar a Alexandra, mas é a intencionalidade do texto que me deixa curioso quanto ao profissionalismo e ética do pseudo-jornalista, que, pelos vistos, gosta de forjar notícias.

Factor de competitividade lusófona

A TAP é, sem dúvida, um factor de competitividade.

Privar a lusofonia desse factor, mais do que um erro económico, é um crime político.

Até o insuportável e asqueroso Machete faz agora concorrência à TAP, oferecendo boleias para Bissau à custa do contribuinte português.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Air France retoma voo para Conacri

Depois de um trovão, que há uns dias provocou danos na pista, o aeroporto de Conacri, que tinha estado meses inactivo, banido pelas companhias aéreas, reabriu ontem com um voo da Air France, que há pouco tempo decidira retomar a ligação (a França tinha apenas cerca de 500 cidadãos na Guiné-Conacri, dos quais a grande maioria, sem grandes vínculos, em funções de cooperação, fez as malas e voltou a Paris logo no início da actual crise viral).

Depois dos ingleses, os primeiros a decidirem retomar as ligações à Serra Leoa, considerando intempestiva e contraproducente a interdição, também Obama fez questão de se envolver pública e mediaticamente no assunto, criticando a opção pelo isolamento dos países afectados, a estigmatização regional e a psicose colectiva. Nesse sentido, chegou mesmo a dar um forte sinal, encontrando-se com a enfermeira que havia tratado do único caso (fatal) nos EUA.

Das antigas potências coloniais, só Portugal mantém a figura do apartheid (mesmo sem casos declarados em Bissau) instigado por um zeloso inquisidor (simples DG), baseado num perigoso utilitarismo. Nem todas as cruzadas foram contra os muçulmanos: a quarta, de ignóbil memória, foi contra a heresia cátara... face às ordens para passar todos à espada, sem excepção de sexo ou idade, alguns soldados dirigiram-se ao Papa, argumentando que nem todos eram hereges.

Ao que o Papa terá respondido: «Matem-nos a todos. Deus escolherá os seus»

P.S. E, já agora, para que não fiquem a pensar que a referida Cruzada foi um «sucesso» pelo extermínio dos «infectados», diga-se que a Igreja passou os cem anos seguintes a combater as ideias cátaras, cujas raízes, afinal, não tinham ficado confinadas aos corpos dos mortos. Um magnífico exemplo é o Santíssimo Milagre da Eucaristia de Santarém, de inspiração franciscana, o qual, meio século depois do massacre, se destinava a combater ideias cátaras, que negavam a «presença real» de Cristo na hóstia. A própria poesia de D. Dinis, nos seus ideais de cortesia, ou o culto do Espírito Santo, não representam mais que a propagação do «vírus» cátaro.

sábado, 18 de outubro de 2014

O Estado da Nação

Vale a pena ler o artigo do Embaixador Francisco Seixas da Costa no Diário Económico. Artigo esclarecedor, dele emerge um patriotismo lúcido, dispensando as habituais «papas na língua» (que caracterizam normalmente os diplomatas). Para uma pessoa comedida, como tem revelado no seu blog, terminar o seu artigo com um (quase) apelo à revolta, denunciando um elevado potencial de inflamabilidade social, é esclarecedor, por si, do momento que Portugal atravessa.

Aproveito para dizer que, nos textos em jeito de comentário que o irmão do Bambaram di Padida tem publicado, prefiro a designação «governo fascista», etc. do que a referência genérica a «tugas». Há que distinguir o povo português da classe política incompetente que tem desmantelado o país e este artigo é um bom exemplo. Lembrando Cabral, «a nossa luta não é contra o povo português...»

Retomando o senhor embaixador, também eu não duvido que o espírito da Nação, farto de ser espezinhado e prostituído, saberá convocar a sua força anímica e, um dia destes, despertará finalmente (poderá é acordar mal disposto). O estado a que isto chegou!

Machete em Milão II

Já agora, em relação às outras declarações produzidas pelo incompetente e balofo MNE português, em Milão, de que, cândida e ingenuamente, «deconhece fraudes» no processo eleitoral em Moçambique, poderia apontar-se, desde já, uma, pública e patente: as pretensas sondagens «científicas» apoiadas em «margens de erro» da treta, cujo discurso deixa claramente a descoberto a intenção de enviesar a percepção final dos resultados. Todos sabem como aconteceu o golpe contra Gbagbo, na Costa do Marfim... é na antecipação que está o ganho.

O pequeno e saloio Machete não tem pinta para Pinóquio. Só quem for muito distraído é que não terá percebido a orgânica da farsa montada pela FRELIMO, com base no know-how do Partido irmão da costa atlântica. Nem precisava de se esforçar muito, se quisesse mesmo saber do esquema desta fraude: bastaria investigar o «Observatório Eleitoral» promotor da «amostragem» (com conhecimento sistémico da «engenharia» do ramo) divulgada pelo CIP, um Centro de «Integridade» Pública cujo I central soa a falso.

A RENAMO não gostou. Mesmo sendo-lhe dado um «rebuçado» (pois aparentemente sai beneficiada, a fraude é à custa de terceiros) o Porta-Voz falou bem quando disse que não se tratava de vitória ou derrota, mas de uma questão de transparência, que foi aquilo que não houve, nas eleições. Gostaríamos de ouvir a versão dos observadores eleitorais internacionais em relação à opacidade assumida, à força de contingentes de polícia de choque... Foram, entretanto, denunciados «erros informáticos» e o outro Partido também anuncia a contestação dos resultados, prometendo levar o caso «até às últimas consequências». Nem vale a pena publicar os resultados «finais» porque, pelos vistos, ninguém quer saber, nem lhes vai ligar patavina, estando estes gravemente feridos na sua legitimidade. Estes senhores julgam que realizar eleições consiste em deitar fora as urnas e cozinhar um resultado «aceitável».

PS Tal é a manipulação que, em 2009, a percentagem parcial oficialmente publicada para cada um dos três candidatos, somada, dá mais que os 100% de votantes: 75,5 + 16,5 + 8,6 = 100,6%. Não é possível falar de erro de arredondamento, pois tratando-se apenas de três parcelas, o erro máximo teria de ser inferior a 0,3% (isto partindo do princípio que estamos apenas a falar dos votos expressos e não nulos). A outra única justificação possível para tal facto, de haver mais votos que votantes, é terem aceitado «duplas» (ou triplas) escolhas, como no Totobola. Daqui a cem anos, com a FRELIMO ainda no poder, os resultados serão uma vitória por 99,9%, seguidos da RENAMO, com 99,8%... Tudo isto, com receio de perderem a hegemonia face à emergência do novo Partido, que poderia trazer sangue novo ao país, ultrapassando o maniqueísmo histórico e belicoso dos dois partidos tradicionais. Depois da revolta que o «Eixo do Mal» prepara em Moçambique, esperemos que nunca mais, na CPLP, tenham a lata de falar em «manutenção da paz» na Guiné-Bissau.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Quem espera, desespera

Afirmações perfeitamente gratuitas, as de Rui Machete, em Milão, relatadas pela Visão. Será simples ingenuidade? Quem saiba ler, percebe perfeitamente que a ligação foi adiada para sempre, até novas ordens.

Segundo se pode ler no comunicado da companhia, a ligação teria sido adiada «por um período NÃO INFERIOR a 45 dias». Neste contexto, «esperar» não quer dizer absolutamente nada. Está a gozar com as pessoas?

Será que as preocupações «sanitárias» do Ministério da Saúde e dos seus «imprescindíveis» tecnocratas não foram discutidas em Conselho de Ministros? Tratando-se de um país estrangeiro, o MNE não foi notificado?

Por este andar, sendo as pretensas autoridades a dar o exemplo, brevemente teremos check-points no fim da nossa própria rua. Mesmo (e sobretudo) para além da irresponsabilidade dos políticos, a TAP fica mal vista.

As autoridades portuguesas reagiram como as turbas russas, que agora se dedicam a transformar os guineenses em bodes expiatórios para os seus medos! A Putin, que também está em Milão, exigem-se providências.

Se o país aspira a rivalizar como grande potência com os Estados Unidos, tem de dar um exemplo de tolerância interna. Os guineenses são convidados e ficaria muito mal se houvesse algum problema neste contexto.

Que nem um dos cabelos de nenhum estudante guineense toque em chão russo. Num outro sentido, estas reacções deverão fazer-nos pensar [como se terão sentido os nigerianos, por altura daquela «montagem» expiatória].

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Quarentena virtual

Numa inqualificável paranóia, assumida pelo Director Geral de Saúde, este deixou claro que houve uma «reunião de topo» (em declarações à Lusa nas quais o tecnocrata dá a entender que terá mesmo colocado o lugar à disposição, reunião na qual eram mais os conselheiros que propriamente os portugueses considerados em risco, que se contam pelos dedos da mão), na qual foi decidido manifestar preocupações «sanitárias» e sugerir à TAP que adie sine die a retoma da ligação aérea a Bissau. Para gente de vistas curtas, esta é a decisão mais confortável. A mediocridade adora imaginar-se protegida por sugestões de «escudos miraculosos» que os colocariam ao abrigo de perigos imaginários. Como o Didinho perguntava, há uns tempos: e se a epidemia for declarada em Espanha, vamos fechar a fronteira? (como somos dependentes de tudo, antes de morrermos do vírus, presumivelmente morreremos, mais trivialmente, de fome) Mas como a Guiné-Bissau é o «elo mais fraco»...

Que a TAP, como companhia privada, venha assumir acriticamente, em comunicado, decisões políticas deste calibre, deixando de explorar uma rota altamente lucrativa e um dos seus destinos identitários e tradicionais (ininterruptamente há mais de meio século) num momento crítico do país, votando-o ao isolamento e encarecendo ainda mais a maior parte dos géneros, é precisamente contra a sua missão (pelo menos enquanto ainda pertence aos contribuintes): a manter-se a dificuldade de acesso a Lisboa, os comerciantes de Bissau terão de procurar outros esquemas de fornecimento, atendendo a rotas e ligações, enfraquecendo assim, não apenas a actividade económica derivada, mas também a relação (anteriormente umbilical) a Portugal. Os correios guineenses, por seu lado, tendo anunciado prematuramente a normalização do correio exterior no pressuposto dessa retoma, serão igualmente prejudicados.

Imagine-se que, em 1975, em plena crise de refugiados do ex-Ultramar, a TAP, em vez de montar uma ponte aérea, tinha simplesmente decidido que «não existiam condições de segurança» (e não existiam, de facto!) para voar. Os ingleses têm meia dúzia de gatos pingados na Serra Leoa e mantêm os voos, com preocupações adicionais de segurança, mas mantêm. Largamente subestimados, há pelo menos três mil portugueses (que já quiseram salvar com a Armada, numa operação fútil que custou aos contribuintes seis milhões de euros - dois mil euros «por cabeça» de português) na Guiné-Bissau e bem mais do que outro tanto, de guineenses em Portugal (dos quais uma parte já adquiriu a nacionalidade). Tudo isto revela muita falta de respeito pela mobilidade das pessoas e pela integridade do espaço «CPLP».

PS Que ninguém se tenha lembrado de informar (já nem digo de partilhar a decisão) o Primeiro-Ministro guineense (que chegou a vir expressamente a Lisboa para tratar deste assunto) é de uma grande falta de ética... Um simples telefonema de pré-aviso tê-lo-ia poupado ao mal estar de ser apanhado de surpresa pelos jornalistas, num assunto sensível e crucial para o país. É que Machete não trata destes assuntos tão triviais como voos civis. Talvez haja ilacções a tirar (em relação a certas «proximidades») por parte de Domingos Simões Pereira.

sábado, 11 de outubro de 2014

O barulho das luzes

Silêncio ensurdecedor? do Presidente da República em relação às Cartas Abertas endereçadas por Fernando Didinho e pelos Magistrados, reagindo a declarações públicas bastante desadequadas.


É legítimo e louvável que o Presidente queira manifestar, com impacto, a sua firme vontade de resolver os cancros que afectam a vida nacional, comunicando um forte sinal nesse sentido. No entanto, essa veia mediática, «arrebentando» pelo bombástico, arrisca-se a sujar o cenário. É preciso muito cuidado no manuseio de explosivos...

As falhas de comunicação apontadas ao Primeiro-Ministro pel'O Democrata, referindo-se à insignificância do Porta-Voz do Governo, poderiam igualmente ser apontadas à Presidência. Serifo, em menos tempo que os 100 dias que já passaram, dotou a Presidência de uma página na internet... Estarão as novas autoridades em vias de ficarem autistas?

A comunicação não se faz apenas num sentido. Já que Sua Excelência o Presidente da República parece estar empenhado na sua missão, aceite as críticas e tenha a humildade de rever a sua posição, endereçando um eventual pedido de desculpas à classe dos Magistrados, de forma a repor formalmente a indispensável confiança intra-institucional.

Depois da investida de cabeça baixa, a imagem do Presidente sofrerá maior desgaste na ausência de resposta. Parece justificar-se, na Presidência, uma profunda reflexão quanto à consistência do papel a desempenhar. Gastar rajadas de cartuxos a atirar para o ar à toa não parece a melhor política. Mude para tiro a tiro, mas acerte no alvo!

O óscar da interactividade (e do trabalho de casa) vai para o Ministério da Administração Interna, reagindo exemplarmente, mostrando estar atento aos «watch dogs», mesmo pelo meio de grande salganhada.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Não há almoços gratuitos II

Grave falha deontológica em entrevista publicada na DW: deveriam desconfiar, quando um auto-intitulado especialista oferece os seus pareceres sem lhe terem perguntado nada (e de borla!).


Atrás do pseudo-politólogo, esconde-se (mal, diga-se de passagem) um prostituto-psicótico, armado em comissário dos petro-dólares de Jo$é Eduardo dos $antos (com cuja generosidade conta para dotar o seu pseudo-instituto), falando na importância do dinheiro, para «financiar» a reforma e a dispensa das Forças Armadas guineenses. 

A troco desse dinheiro, uma força militar da «CPLP» ocuparia a Guiné-Bissau, substituindo a ECOMIB. Mas este senhor tem mandato da CPLP para fazer propostas destas? Enterraram o que sobrava da CPLP e agora desmembram-na em múltiplas organizações para dissimular o triste fim que lhe deram?

Não se fazem «entrevistas» em off, colando perguntas lidas e som de respostas pré-gravadas, decoradas e recitadas monocordicamente num folgo, uma por uma. Uma entrevista tem tempos mortos, tempos em que é necessário respirar para começar a falar... momentos de hesitação. 

A DW não deveria associar o seu nome e reputação a lobbies que disfarçam tão mal. Enfim... e o senhor que tanto quer brilhar na rádio, surpreendendo-nos com a sua fluência e rapidez de raciocínio!

Prefiram comida natural e larguem os enlatados, que fazem mal à saúde.

Não há almoços grátis

A «mulher de César» ficou muito ofendida, com os comentários que colocavam em causa a sua seriedade...


Ora não há fumo sem fogo: pelos vistos, parte importante do financiamente do narco-partido-único FRELIMO tem origem no tráfico de droga. Um barão do ramo, indiciado pelos Estados Unidos, sentou-se em lugar de honra, mesmo ao lado do candidato a apresentar pelo Partido às próximas eleições presidenciais, segundo relatório Africa Confidencial.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Mal d' Ita : boa vida

O Bambaram di Padida (ver link à direita) chamou a atenção para um artigo do Clube K, segundo o qual o General Mário Plácido Cirilo de Sá manifestou desconforto relativamente às notícias que, desde princípios de Julho, o ventilavam como a figura em vista para o cargo de novo embaixador na Guiné-Bissau.

Porta-voz por altura da batalha do Cuito-Cuanavale, chefiou depois o serviço de informações militares. Conta-se que Savimbi se escangalhava a rir dos relatórios por este assinados sobre a UNITA, cheios de imprecisões e desinformações; acabaria por ser demitido em 2001. Em 2009 seria nomeado para a central de compras estatal que assegura a logística das forças armadas e policiais; logo em 2010 reciclava a antiga Grula, em Portugal, que estava na falência, como plataforma para intermediar fornecimentos, tendo ultimamente criado, de raiz, uma outra empresa em Portugal, apresentando por objectivo o mesmo «magno destino».


Em 2011, foi um dos nomes propostos por Sebastião Martins (chefe da secreta demitido no fim do ano passado) para substituir o chefe da polícia Ambrósio de Lemos, no sentido de aumentar a repressão (devido ao susto do 7 de Março desse ano). Nessa altura, tal como faz agora, «fugiu com o rabo à seringa», manifestando a intenção de «se reformar», para se esquivar à «inglória» missão. O mal do senhor foi ter-se aburguesado: hoje considera-se um elemento de elevada «estatura», para quem seria indigno aceitar a representação diplomática de um país que nem consegue ver no mapa sem colocar os óculos.

No entanto, não se trata de uma Embaixada qualquer, mas de uma missão de elevada importância e prioridade para a Presidência. JES deve estar fulo: anda um homem a engordar uma Junta de militares, para depois estes se baldarem, quando tem serviço a sério para lhes atribuir? Com cada vez menos «operacionais» em quem confiar, não será para admirar que encurte a «travessia do deserto» de Sebastião Martins (que está de momento dedicado à vida académica em Lisboa, preparando uma tese de Mestrado versando sobre «estratégias» de contra-subversão política em Angola - desconhece-se se esta tese terá algum ponto realmente original, referente à utilização de crocodilos)... descobrindo-lhe uma súbita vocação diplomática. 

domingo, 5 de outubro de 2014

Luanda disponibiliza 1800 homens

A «pedido de várias famílias» [passaram por Luanda, segundo artigo publicado no Jornal de Angola, entre outros, a Presidente da RCA, Catherine Samba Panza, a presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Clarice Dlamini-Zuma, o enviado especial do Secretário Geral da ONU para os Grandes Lagos, Said Djinnit, o Comissário da União Africana para as Questões de Paz e Segurança, Smail Chergue, o comandante da Missão Multidimensional Integrada para a Estabilização da República Centro Africana, brigadeiro-general Martin Toumenta Chomu] Angola cedeu 1800 efectivos militares à MINUSCA.

A Jeune Afrique anota a «première», a alteração da política até aqui seguida, de não enviar tropas para o serviço da ONU; também a imprensa da república centro-africana mostra surpresa na disponibilidade demonstrada, falando um artigo do jornalista Jossart Muanza em «mudança de rumo» da política externa angolana.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Aviso à navegação

Daba Naualna apresentou o tema «As Forças Armadas no Estado de Direito Democrático: que reformas», no colóquio comemorativo dos 20 anos de abertura à democracia, cujo ficheiro audio foi disponibilizado pelos IBD através do YouTube.

Num tom de extrema gravidade, começou por denunciar as promoções per saltum, numa clara alusão ao processo de graduação e indigitação do actual Chefe de Estado Maior das Forças Armadas. Como falar de reformas, sem saber o que está mal, sem fazer o diagnóstico da actual situação? (Um estado de total desorganização, do qual deu apenas como exemplo o aspecto administrativo, para não fragilizar as Forças Armadas). Falou da ausência de Regulamento Militar e das sucessivas propostas para a sua Reforma que ficaram na gaveta. Não teria feito mais sentido avançar primeiro com uma reforma estrutural, legalmente consagrada e estabelecendo critérios objectivos? A opção pela qual enveredou o Presidente terá criado, nas suas palavras, um beco sem saída. Transparecem, do discurso de Daba Naualna, carregadas tensões, ao mais alto nível.

Efectivamente, Daba Naualna é uma peça chave no complexo puzzle que são as Forças Armadas da Guiné-Bissau. Chefe de Gabinete dos últimos quatro CEMFA, desde Tagma, Zamora, António, e, agora (e por enquanto, como frisou) de Biague. A apreensão que demonstra, tendo «sobrevivido aos perigos, até aqui», é decerto um péssimo sinal, de que algo vai mal: «Não pensem que [nós, militares] estamos à vontade com o que está a acontecer.» Como sempre, os protagonistas, «ou apanham ou sobrevivem» (palmas)... Numa nota mais informal, ainda acerca das promoções «se houver conflito, promove-se» [os que estiveram do lado certo, claro] (risos).

No curso da entrevista critica ainda a visão redutora segundo a qual a propalada Reforma significa aniquilar as Forças Armadas, para, «sobre os seus escombros» construir algo inteiramente novo; ou a perspectiva de quotas étnicas. A Daba Naualna (que, diga-se, teria dado o CEMFA ideal), parabéns pela coragem! E ainda bem para a instituição militar, pois possui elementos rectos, responsáveis e conscientes, com a auto-estima necessária (poderia recorrer a uma analogia leguminosa, «tomates», para não usar um palavrão) para chamar os bois pelos nomes. Para já, a única reforma nas Forças Armadas, consiste em «jobs for the boys». É só juntar o resto das peças ao puzzle...

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Caixa de ressonância

Permito-me fazer eco do artigo publicado pelo irmão Doka, que, no discurso proferido pelo Primeiro-Ministro na Assembleia Geral das Nações Unidas, chamou a atenção para a afirmação:

«saudamos os esforços de todos os actores políticos nacionais e dos parceiros externos no sentido de produzir o consenso necessário a favor da continuidade de uma força internacional de estabilização após o período do presente mandato» [da ECOMIB]

traduzindo: um importante «doador» condiciona a disponibilização de uma «gorda» fatia de financiamento a um remake, a um dejà vu, ou seja, ao envio de tropas «activas» (para proteger manu militari os investimentos que também pensa realizar?).

Esta é uma nova figura na ONU. Uma inovação sem precedentes. Não só um país requer a criação de uma força de «estabilização» (na ausência de qualquer instabilidade civil há mais de cinco anos) para um país em paz (com tantos problemas pelo mundo fora a necessitar de intervenção urgente), como, para além disso, já tem (ao contrário das missões da ONU que penam para encontrar voluntários...) contingente dedicado, prévia e voluntariosamente formado. Aparentemente, pelo tom e pelo contexto, Domingos Simões Pereira, sabendo que nunca haverá condições para tal farsa ser aprovada nessa Assembleia, apresenta o assunto como «facto consumado», quase tratando-se de «mera formalidade», o «beneplácito» tácito pedido às Nações Unidas, pois o assunto está a ser tratado de forma bilateral (ou deveríamos dizer «trilateral»?), nas costas da CEDEAO. Só falta escolher o nome da missão. A falta de originalidade deverá conduzir à adopção da designação de uma anterior missão, fazendo eco da desforra pretendida, MISSANG II.

Sugerimos ECOMISSANG pois fica assim mais ou menos proporcional - três letras em dez - a composição 700 elementos da ECOMIB - isto se forem todos mantidos - e 1800 da MISSANG - com sete letras... Não é que MISSANG 7 não ficasse bem também, pois os efectivos são sete vezes maiores que os da missão 1.

Estas tropas não servem para absolutamente nada a não ser para ilustrar o mérito do «neo-colonialismo» angolano, o qual infelizmente parece ter-se tornado numa obsessão do Presidente desse país. A presença simultânea de tropas de várias organizações é uma potencial fonte de atritos de efeito pernicioso, arriscando-se fortemente a afectar a estabilidade que dizem vir proteger. Quanto ao efeito sobre a soberania nacional, ou a ofensa à capacidade e competência das próprias Forças Armadas, nem me vou pronunciar, para não me repetir. Sim, que tudo isto não é novidade nenhuma, a agenda sempre foi bastante clara, transpirada por Chicotes e Machetes...

Em termos práticos, isto é uma traição ao Pacto de Transição. Transitou-se para onde, se querem fazer as coisas voltar para trás? Estará o Primeiro-Ministro esquecido que foi nesse contexto político que foi eleito? Ou acredita que recebeu o poder, não do povo, mas de José Eduardo dos Santos e de Cadogo?

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A morte de Cabral, segundo Alpoim Calvão

Esta opinião foi partilhada com jornalistas da Lusa há cerca de 10 anos.


«Negando o envolvimento de Portugal na morte de Cabral - "não tinha interesse nenhum, pois Lisboa queria dialogar" -, Alpoim Calvão afirmou que o PAIGC poderá ter estado envolvido na morte de Cabral, "uma vez que havia clivagens entre os cabo-verdianos e os guineenses, por aí também se pode ir lá. Na sequência da morte dele, quantos homens foram fuzilados pelo PAIGC, como ajuste de contas?»

Não se livra, no entanto, de certas suspeitas, havendo no blog de Luís Graça quem questione «um facto de que ninguém fala, um facto que não deixou rasto, a presença de Alpoim Calvão na Guiné em Janeiro de 1973. Que foi fazer a Bissau nessa data se era Comandante da Polícia Marítima do Porto de Lisboa? Na biografia que publicou – que alguém escreveu com os dados que ele forneceu – não consta qualquer viagem à Guiné nessa data. Mais: completamente a despropósito até tenta arranjar um pseudo alibi para aquela mesma data em que esteve na Guiné, em Janeiro de 1973. Sabe-se quando ele chegou, mas não se sabe em que dia partiu. Nem o que andou a fazer. Este facto já foi referido publicamente, já foram pedidos esclarecimentos, mas ninguém ligou nada. Nem o J. P. Castanheira, nem o russo que investigaram a morte de Cabral sequer puseram a hipótese de Calvão ter chegado à Guiné numa viagem-mistério duas ou três semanas antes do assassinato.» 

Calvão, um militar que se definia a si próprio como gostando de «fazer coisas», estava a montar, por essa altura, com o novo Ministro da Defesa e ex-Ministro do Ultramar, Silva Cunha, um serviço de informações tácticas militares, que viesse suprir a incompetência da PIDE no apoio operacional aos militares (que se revelara desastroso na Operação Mar Verde). 

Alpoim Calvão morreu ontem, já não poderá esclarecer essa questão. Foi, sem dúvida, um grande militar. Depois do 25 de Abril, acompanhou Spínola no exílio em Espanha... na opinião de Salgueiro Maia nas suas memórias, terá contribuído para pintar o cenário de negro carregado, para forçar o General-Presidente a avançar.

Voltou à Guiné-Bissau como empresário, criando nas Bijagós uma fábrica de transformação de caju que chegou a dar trabalho a 200 pessoas.

Glória ao Sr. Capitão-de-Mar-e-Guerra. Que a terra lhe seja leve, o céu azul e o mar verde.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Ainda o assassinato de Cabral

As intrigas dentro do PAIGC eram mais que muitas, os contactos com a PIDE pareciam ser uma alavanca, uma arma secreta dos traidores... E não estamos apenas a falar dos que essa «polícia» soltou (e, segundo alguns, telecomandou). É óbvio que a PIDE estava apostada numa estratégia de promoção das clivagens dentro do PAIGC, mas isso era mais que sabido, não era novidade nenhuma, sendo um factor de importância menor, como trama. Como o eminente historiador Leopoldo Amado escreveu, num artigo publicado pelo site do Didinho,

«à introdução da autonomia progressiva como isco, ao mesmo tempo que, por um lado, se exploravam as diferenças étnicas entre os guineenses, e, por outro, entre estes e os caboverdianos, Cabral contrapôs...»

Ora não há qualquer traço, nos arquivos da PIDE, da preparação de uma operação de tal envergadura (ao contrário de outras pequenas operações de muito menor importância, largamente documentadas). Lembre-se que o General Spínola lamentou publicamente a morte de Cabral. Como defende Joaquim Luís Fernandes, em comentário à mais recente entrevista (pelos vistos, quebrada) de Leopoldo Amado a'O Democrata, é difícil conceber que a PIDE fosse contra a política do General Spínola.

Na minha leitura pessoal e falível, o Leopoldo ficou irritado (e com razão) com a escolha de um título sensacionalista (passe a sua relevância), ainda para mais tendo ficado previamente acordado o seu direito de revisão. No contexto das acusações recentemente levantadas contra Pedro Pires, e talvez para desfazer um pouco o seu impacto, terá adoptado a política de «uma no cravo outra na ferradura», malhando a ferro frio, ou seja, insistindo na tecla da PIDE e dos «agentes duplos». No entanto, todas as evidências apontam claramente noutro sentido. Havia quem jogasse com pau de dois bicos...

Recordo-me de, há uns anos, o blog do Luís Graça ter partilhado um artigo de José Paulo Fafe de 1999, precisamente com base nos arquivos da PIDE, a história dos contactos de Nino Vieira, via Suíça, para se «render», com os seus homens, em troco de uma vida descansada (aburguesada) em Lisboa (nalgum momento em que se terá sentido mais tremido, devido a outras grandes responsabilidades)... Grande violência para o General Spínola, o qual, por detrás do júbilo manifestado publicamente na ocasião com essa perspectiva (que, como todos imaginam, não se chegou a concretizar), sentia a dor de ver reproduzido o filme (a ideia) pela qual morreram os seus Majores, ainda para mais, na pessoa que, na altura, teve por principal responsável pelo nefasto e bárbaro acontecimento, Nino Vieira e Pedro Pires... (que se saiba, Nino nunca comentou este artigo).

Quanto à PIDE, «coitada»… Quando foi o descalabro de Guiledje, o Director Geral telefonava para Bissau a perguntar se ainda se combatia em «Guidage no Sul» (confundindo os G’s da Guiné). Neste caso, não podemos afirmar que a PIDE tenha instrumentalizado os assassinos (muito mais plausível seria supor que estes sim foram instrumentalizados por «poderosas forças obscuras», que lhes deram cobertura para o efeito, pois estes ofereciam-se como bodes expiatórios ideais), mas decerto que podemos garantir que a PIDE está a ser «instrumentalizada», assancando-se-lhe uma força e capacidade que esta não tinha (nem no terreno, nem em relação à tropa ou na própria sociedade portuguesa), com o intento de apagar as pistas para os verdadeiros culpados.


Replicando um dito que li no irmão Doka:

Sanguessuga sta na nô metadi.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Kaleta II

Na avaliação de propostas e alternativas de fornecimento de electricidade, a autonomia energética não é um factor que se possa desprezar.

Sempre que se fala de investimento estrangeiro, para desenvolver e valorizar os recursos da Guiné-Bissau, parece que os investidores se retraem por razão da percepção dos «riscos políticos» associados.

[Verdade seja dita, pouco se tem feito para transmitir mensagens claras nesse sentido: uma das primeiras atitudes das novas autoridades, foi «queimar» o contrato das «areias pesadas» de Varela, nas mãos dos russos. Claro que seria esperar demais e acreditar no Pai Natal, que os russos, com um contrato «temporário» e «ilegítimo» como lhe poderiam chamar, iriam investir em grandes preocupações ecológicas! No entanto, fizeram uma primeira experiência, da qual seria importante conhecer os resultados e as expectativas criadas, bem como dar um sinal claro a futuros investidores. Não é preciso ser muito esperto para adivinhar que o discurso correcto, com visão de futuro, seria: «Consideramos este contrato assinado por um Governo ilegal. Contudo, para que se saiba, na Guiné-Bissau, mesmo para além das nossas “peripécias” políticas internas, respeitamos o investidor estrangeiro. Por isso, reuniremos com a firma interessada para avaliar a experiência, esclarecer as potencialidades do negócio e negociar uma eventual continuação da sua exploração económica, tendo em conta a minimização do seu impacto ecológico e humano.»]

Se a electricidade que vem do Sul for 1 CFA mais barata por KW, fará sentido optar por criar uma infra-estrutura completamente dependente do exterior? Então, quando se trata de Bissau, há imensos riscos políticos e para Conacri já não há? Uma estrutura nacional criará postos de trabalho localmente, mantendo o dinheiro a girar por perto… O argumento economicista, só por si, não é válido. Ser mais barata não basta: tem de ser muito mais barata e isso tem de ser exactamente quantificado e fixado contratualmente a longo prazo.

A Guiné-Bissau é um sítio altamente energético. Simplesmente, por ser rasa e chã, não possui uma capacidade de retenção directa, capaz de armazenar energia, para a distribuir continuamente, sob a forma de uma barragem. No entanto, flui imensa energia, não só para montante, com a enchente da maré, mas a vazante, incrementado pelas águas continentais. Criatividade no aproveitamento inteligente daquilo que a Natureza colocou generosamente à disposição da Guiné-Bissau, é certamente uma boa ideia, e contributos voluntaristas, mas claramente motivados, como o de Joaquim Luís Fernandes, são certamente merecedores, no mínimo, da maior atenção e discernimento.

Além dos argumentos já aduzidos, será que faz sentido (atendendo às fortes reduções no consumo obtidos nos últimos anos nas lâmpadas, electrodomésticos e outro «software» eléctrico), investir em distribuição, «hardware» com elevados custos paisagísticos, sobretudo sabendo que o potencial consumo é, para começar, incipiente, uma vez que vindo do nada? Para pequenos núcleos de consumo local (adstritos a uma certa disciplina, economia e racionalidade) pequenas unidades solares, cuja viabilidade económica é emergente, seriam perfeitamente suficientes e sustentáveis.

Um último ponto. É no mínimo curioso que, pouco tempo depois do anúncio da electricidade gambiana, para abastecer a região, surja esta proposta tão bem definida e «economicamente» apresentada pelo Eng. Baldé (não confundir com o seu homónimo do Petróleo, da Agência de Cooperação na zona económica comum Guiné-Bissau / Senegal, de nome próprio Júlio). Com estes exemplos, por que razão deveria a solidariedade regional servir de argumento?

De qualquer forma, seria proveitoso reflectir na proposta da Guiné-Conacri, mas na perspectiva de uma negociação «cerrada» para obter um preço a «granel» (aproveitando a sazonalidade), que seria eventualmente canalizado (por poucos Kms) para perto de Boé, na direcção de Buba, onde se poderia negociar, com um bom preço da electricidade como input, a transformação local da bauxite (o caminho-de-ferro não serviria para exportar bauxite em bruto, mas sim alumínio ou derivados, muito mais leves, ou mesmo produtos acabados, como bebidas em latas de 33cl), incrementando a racionalidade económica da sua exploração e o desenvolvimento nacional.

Kaleta na calha

Algumas nebulosas rodeiam o projecto hidro-eléctrico sino-guineense de Kaleta, recentemente defendido como solução para o abastecimento de electricidade na Guiné-Bissau, n'O Democrata (ver link à direita).

É estranho que o projecto da empresa chinesa de capitais estatais, responsável pelo projecto, em lugar algum da sua página da internet sobre o assunto, dê conta da localização exacta do projecto, o que deu origem a um erro da wikipédia, ao confundir duas localidades homónimas, sem desambiguar. Os jornalistas propagaram vários erros geográficos nos artigos que foram escrevendo sobre o assunto.

A origem do projecto estaria numa promessa eleitoral de Alpha Condé, de aliviar o carácter irregular do abastecimento de energia eléctrica. Estaria, em 2011, a contar com promessas de George Soros para financiar a fatia de 1/4 do investimento que caberia ao estado da Guiné-Conacri no projecto (financiando um banco chinês, evidentemente igualmente estatal, os restantes 3/4), o que não chegou a acontecer, tendo este conseguido a maioria dos fundos junto da CEDEAO, manifestando-se a posição do Senegal instável, entre o projecto de electricidade gambiana, o guineense e um eventual projecto próprio.

Logo no início, os trabalhos depararam-se com alguns imprevistos, como infiltrações, que atrasaram o projecto, e foram dadas instruções silenciando os técnicos, sobre o andamento. O presidente visitou o estaleiro em Junho deste ano, dando conta, com pompa e circunstância, de «grandes avanços» e de cerca de 75% de execução. No entanto, há componentes cujo fabrico, teste e transporte estão mais atrasados, revelando-se as declarações que foram sendo produzidas sobre os trabalhos bastante díspares e inconsistentes quanto ao cronograma previsto.


Quanto à capacidade de transporte da electricidade, na reportagem (clique na imagem para aceder) dedicada pela televisão guineense à visita presidencial a Kaleta, um engenheiro referiu como destino da electricidade Conacri, e eventualmente, Fria, cidade das proximidades, deixando implícito não estar, para já, prevista, qualquer linha para Noroeste, em direcção à Guiné-Bissau (ou em qualquer outra direcção, aliás).

No entanto, um dos entusiastas e pioneiros do projecto, o ex-Ministro da Energia, após ter sido despedido do cargo, em Janeiro deste ano, sugeria, em entrevista a uma rádio, que as expectativas do projecto estavam muito inflaccionadas junto da opinião pública, avisando que a potência prevista, de 240MW, só se verificaria, no melhor dos casos, sazonalmente, caindo para 45MW, no pico oposto, ou seja, o referido projecto só poderá garantir um abastecimento irregular. Da potência total anunciada, só uma parte inferior a 1/5 é certa e contínua, não sendo suficiente para as necessidades do país, e, na sua opinião, só com um próximo passo, a construção de uma outra barragem, complementar, nas proximidades do mesmo rio, o Konkoure, se poderia dar por resolvido o problema do abastecimento local em energia (isto, para não lembrar que, extraindo bauxite, poderão absorver imensa energia). As dúvidas aumentam quando se pode ver o projecto classificado, num site chinês de apoio à decisão, como de «suspicious or inactive».

A conclusão parece bastante óbvia: a grandeza do projecto não é sequer suficiente para as necessidades da Guiné-Conacri, não estando prevista (nem sendo expectável) a sua «canalização». A esperar pela segunda barragem (cujo financiamento ainda não está previsto), mesmo que os chineses continuassem com bom ritmo (espera-se, embora sem muita convicção, que a primeira turbina de Kaleta entre em funcionamento daqui a pouco mais de seis meses, em Maio de 2015), o país vizinho só virá a ser, eventualmente e na melhor das hipóteses, electricamente excedentário, já bem adentrados na segunda década deste século.

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PS Acabei de ler, no mesmo jornal (que se está rapidamente a tornar numa referência nacional), um magnífico artigo assinado pela redacção, em torno da função de Porta-Voz do Governo, que merece ser lido. Parabéns!

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O retorno à vaca fria

O apelo feito pelo Presidente para o regresso ao país, se não é novidade, pois já se dirigira à diáspora no mesmo sentido logo após a sua eleição, ganha outros significados no actual contexto: parece claro que o gesto antecipa a recepção (apoteótica) que se prepara ao intriguista-mor Cadogo, macaqueando o retorno de Nino...

Rui Machete, voz obediente ao seu dono, insiste em falar no envio de tropas angolanas para a Guiné-Bissau. Este conluio triangular, liderado pelos instigadores da desforra, José Eduardo dos Santos e o seu lacaio Carlos Gomes Junior, é altamente lesivo da soberania nacional e pernicioso para o futuro do país.

Se Angola (ou melhor, o seu dinheiro) poderia ser bem acolhida, a título de investimento no desenvolvimento da exploração de recursos, a insistência no envio de tropas é claramente inoportuna e só poderá prejudicar o clima, já de si tenso, no seio das Forças Armadas. Para além de uma ameaça, é uma ofensa!