quarta-feira, 29 de maio de 2013

Caricaturas UA

Com os devidos créditos ao excelente site alemão DW, pela recolha, três cartoons espectaculares sobre os desafios da UA...

Haswel Kunyunye, do Malawi



  
Victor Ndula, do Quénia
John Swanepoel e John Curtis, da África do Sul

São Tomé & Pilatos

Num show off de contabilidade duvidosa, as autoridades são tomenses promoveram uma «queima» de droga que pretendia demonstrar o seu empenhamento na luta contra o tráfico, como noticia hoje o site alemão DW, num artigo da autoria de Ramusel Graça.

No entanto, salvo erro de transcrição do jornalista, é difícil perceber como, com 11Kg de haxixe e 2,4 de liamba, se consegue perfazer o valor estimado de meio milhão de dólares: em Portugal, por exemplo, as quantidades apontadas dificilmente ultrapassariam os cinquenta mil dólares e a preço de retalho.

Para mais, tratando-se de drogas «leves», em processo de descriminalização em vários países (inclusive em alguns estados dos Estados Unidos), a encenação revela-se um pouco forçada, para não dizer mesmo, de mau gosto, no sério contexto da luta anti-droga transatlântica.

Pouco mais de três meses antes de 12 de Março de 2012, o mesmo site publicava uma notícia afirmando que estudos recentes evidenciavam o quanto o Brasil se tornou numa grande porta de saída de droga da América Latina para outras partes do mundo, com destaque para a África, com Angola e a Guiné-Bissau no centro do tráfico da droga

«O Brasil se tornou o principal ponto de partida da cocaína enviada para África. O delegado da Polícia Federal cita Angola e Guiné-Bissau, para além da Nigéria e do Senegal, como parte das placas giratórias da droga, destacando o papel de passageiros africanos que fazem o transporte da droga. Segundo o criminólogo, Genilson Zeferino, muitas vezes, envolvem jovens, tanto por aqui, como no continente africano: “No caso de África, sem uma política que dê à juventude condições de estudo, de trabalho, o tráfico de drogas aparece como possibilidade para ganhar dinheiro. É muito comum o caso de jovens que são envolvidos como “mulas”, o que não quer necessariamente dizer que são viciados”.»

Reparámos, no Progresso Nacional, que ainda ontem, o embaixador da paz da CEDEAO apelou aos governos e instituições da Organização para darem mais poder aos jovens, em prol da paz, estabilidade e desenvolvimento. Na sociedade africana, ainda bastante tradicional, o lugar dos mais velhos, com a sua experiência e sabedoria, deve ser acautelado; mas o papel dos mais novos, que poderão dar um impulso vital para o desenvolvimento, não deve ser descurado!

Preparem-se para intervir por todo o lado

A AFP, agência noticiosa francesa, acaba de publicar um artigo do seu correspondente em Nairobi, com vários contributos, um deles o de Musambayi Katumanga, professor de Ciências Políticas na Universidade de Nairobi:

«Si vous voulez créer une force de réaction rapide, préparez-vous à intervenir partout, car la plupart des Etats africains ne sont pas viables, même si leurs dirigeants refusent de le reconnaître. Ils sont dans la même situation que le Mali, c’est juste une question de temps.

L’insécurité africaine a commencé dés la Conférence de Berlin, quand les puissances coloniales européennes se sont partagé le continent, traçant des frontières niant l’histoire.»

Uma decisão histórica para a UA seria abolir o «tabu» que pesa sobre esse facto!

terça-feira, 28 de maio de 2013

Mensagem de esperança II

Thomas Friedman, um jornalista consciencioso, sentiu-se atraído pela Guiné-Bissau, por todo o «barulho» em torno deste pequeno país; e não se quis ficar pela recolha de informações (talvez tenha sentido o contraditório), viajou até Bissau há um mês, para ver com os seus próprios olhos: e o resultado foi uma total surpresa, que partilha com os seus leitores.

Critica os media, por não estarem atentos ao que se passa no terreno, «papando», sem espírito crítico, aquilo que lhes querem vender. Afirma que, passadas quatro décadas de ditaduras, violências e guerras, se abriu no último ano uma improvável e quase «estranha» janela de paz e estabilidade, que se sente na rua. Só depois então se pronuncia.

E a sua opinião vai precisamente no sentido contrário ao da «carneirada». Pergunta-se «Que deveríamos fazer [comunidade internacional] quanto ao aparente caos na Guiné-Bissau?» e responde: «Bem, talvez seja mais fácil começar por aquilo que não deveríamos fazer. (...) Temos de ter cuidado com a tessitura dos ideais de democracia que pretendemos exportar.»

E continua: a liberdade que se sente em Bissau representa uma grande e histórica oportunidade; seria injusto trair o povo guineense, retirando-lhe a confiança que parece manifestar nas suas hipóteses de desenvolvimento, fazendo-o duvidar das suas próprias capacidades. Depois elogia o espírito empreendedor dos guineenses...

Num oportuno recado, iluminado por uma imagem, diz que a Guiné-Bissau se encontra perante uma descida pejada de obstáculos, que deverá percorrer «muito lentamente». E talvez daqui a uns anos a Guiné seja um país completamente diferente, que compara (no título), imagine-se, com o Japão! Utopia? Talvez. «As pessoas em Bissau ainda não deixaram de sonhar».

Ver New York Times.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Estranheza

Como sou apaixonado por balística talvez seja suspeito.

Mas acho estranho que um homem como Osvaldo, esteja sub-aproveitado em Cabo Verde. Mesmo considerando a sua responsabilidade política (no verdadeiro sentido do termo, que não se resume a conotações «democráticas»), como combatente da liberdade das pátrias (é relevante que não use o singular), o facto é que existe uma manifesta dissonância.

Uma pesquisa utilizando o seu nome completo, retorna essencialmente (a 90%) fotos da entrega dos prisioneiros portugueses à Cruz Vermelha (numa delegação de duas mulheres e um homem - isto há mais de quatro décadas - sendo uma delas Titina Silá), o seu livro autobiográfico (precoce) «Nos tempos da minha infância», o facto de ter sido Ministro da Economia... e pouco mais.

Estive fisicamente na sua presença (em público e depois num pequeno particular). Se é capaz de hipocrisia (por exemplo quando afirmou que Coutinho Lima estava cercado e não tinha alternativas), não deixa de ser um homens de causas. Para além do grande respeito e amor que indubitavelmente sentia por Amílcar Cabral (o que o prejudicou, claro, pelo resto da sua carreira), é um verdadeiro patriota (no singular).

Ainda nos últimos dias, estivemos em campos opostos (o Senhor Comandante que me perdoe pela familiaridade recém-adquirida, não a utilizaria se não tivesse ficado agradavelmente surpreendido), quando vem defender a entrada da Guiné Equatorial na CPLP (diga-se em abono da verdade, no único sentido possível, o futuro) quando eu, pela minha parte, escrevi um artigo condenando-o.

Talvez tenha sido a presença do Julião, mas (e há coisas que não podem passar através das simples palavras escritas, é preciso ouvir - e estar a ver - quem as diz) fiquei com a nítida sensação de que o Senhor Comandante sabe algo sobre a morte de Cabral, que não só não é do domínio público, como lhe pesa e gostaria de partilhar, no espírito da queda dos tabus da mesa redonda de quinta.

Quando morreu Nino, publiquei uma notícia (que hoje considero parva) aqui neste blog provocatório. Eram uma data de coisas juntas. Um elogio ao Aly, como bom jornalista (tal como os bons avançados, no futebol), no sítio certo, no momento certo. Mas fartei-me de pensar nesse tipo de apresentação (choque), sobretudo porque, infelizmente, foi Mário Soares que deu o mote (e não gosto dele).

Claro que o meu maior problema foi que alguém julgasse que, uma vez na vida, concordava (ou, pelo menos estava em sintonia) com esse medíocre e responsável maior (a quem, para além - e mais que - dos afilhados, imputo grandes responsabilidades pela actual situação de Portugal); mas não consegui escamotear a minha alegria (não, não é apenas falta de tristeza) pela morte de Nino, que já esperava.

Apenas lamento que Manel Mina não tenha feito o mesmo grau de esforço que fez para salvar Nino (fiquei mesmo irritado com ele nesse dia 7 - não pela cartilha revolucionária herdada da vila de Ekaterine, porque sou estritamente franciscano e respeitador da vida - mas pelo lado prático, pela verdadeira «razão de estado» que legitima um mal menor para evitar um maior) para salvar um homem que respeitava ainda mais.

Mas os tempos eram outros, talvez não fosse mesmo possível. Mas quando se trata da razão, da verdade, julgo que estas se devem sobrepor a outros considerandos, mesmo com os riscos associados. Lembre-se o destino do Comodoro Lamine Sanhá, mais que herói da verticalidade, um mártir que talvez só não seja reconhecido porque o seu islamismo é inconveniente e inoportuno para a maior parte dos actores.

Todo este desabafo, apenas para lembrar as declarações públicas de Osvaldo, por essa altura, quando lhe pediram para se pronunciar sobre a ausência de qualquer chefe de estado no funeral de Nino Vieira: «Teve a sorte que mereceu. Era um homem sinistro». Na ideia do senhor Comandante, o komandante Kabi terá tido alguma coisa a ver com o assassinato de Amílcar Cabral?

A minha opinião sobre isso, já a dei, numa pequena biografia que publiquei aqui, por isso estou à vontade. Mas, da minha humilde pena, é considerada pura especulação (ou até loucura). Já de alguém que pressentiu o atentado... passadas quatro décadas e toda a amargura e recalcamento que daí possam advir, teria outro valor. A história talvez mereça que aclare esses momentos sombrios...

Perdoem a ingenuidade - e se souberem mais do que eu, chamem-me a atenção - mas julgo: que é óbvio que o carácter utópico de Cabral estava a «prejudicar» a ofensiva que veio a ter o seu nome, mas também que essa «deriva» emocional (talvez motivada pelo íntimo desejo de não humilhar Portugal) não parece suficiente para que a sua morte tenha sido decidida a leste.

Dever de ingerência ou maquiavelismo?

Grande novidade na UA (quero dizer, grande vitória diplomática de Angola): os líderes africanos reunidos na XXI Cimeira da UA, decidiram hoje de manhã o estabelecimento de uma força de intervenção rápida para acudir a situações de emergência. Veja notícia da Reuters.

Se a pressa revelada e o imediatismo da decisão, ao fim de 50 anos de actividade da Organização, são de si suspeitos; mais grave é o voluntarismo na constituição dessa força, cuja mobilização fica entregue aos países que «estiverem em condições de a fornecer».

Portanto: o respectivo Conselho de Paz e Segurança, poderá aceitar as prestáveis ofertas dos estados membros (acorrendo cada um, claro, às suas emergências «preferidas»)... uma vez flexibilizada a actuação dessa FIR até aos limites do inconcebível.

No entanto, com a guerra no Mali em banho maria (e a mensagem terrorista enviada do Niger para a UA), é óbvio que este novo princípio de ingerência vai dar pano para mangas, arriscando-se a agravar os problemas que pretende resolver...

Já agora, a Líbia também está precisada, e é um bom exemplo dos perniciosos resultados obtidos por uma «libertação» imposta de fora. Talvez o Brasil, que tem «um» olho no continente, devesse partilhar o seu conceito de «responsabilidade ao proteger»... De boas intenções está o inferno cheio.

domingo, 26 de maio de 2013

Cabo Verde exporta democracia!

Entrevista do Presidente de Cabo Verde à RFI, em Addis Abeba, na XXI Cimeira da UA.

Será que o Senhor Presidente também pretende restaurar o PAICG? Sim, agora com o cabo antes do fim.

Pelos vistos, a sensatez de Corsino Tolentino não foi suficiente para o esclarecer.

Eu cá acho que está a tornar-se um pouco repetitivo. Há mais de um ano a dizer a mesma coisa...

Condicionar um futuro governo? Tropas no terreno? E mais que veneno?

Fim do Mandato da CEDEAO

O mandato da CEDEAO, inicialmente de Maio a Novembro de 2012, foi depois estendido por mais seis meses, perfazendo portanto um ano, que agora expira.

Os burkinabés, os primeiros 140 soldados da força a chegar a Bissau, há exactamente um ano e uma semana, chegaram anteontem a Ouagadougou, com o sentimento da missão cumprida, sendo recebidos com grande pompa pelo CEMFA General Traoré, destacando a conduta exemplar dos seus elementos, como noticia hoje a imprensa local.

Seriedade e responsabilidade

Tal como Julião Soares defende no seu último livro «A destruição de um país», este «precisa de uma nova política externa de credibilidade e boa governança, o que pressupõe um diagnóstico rigoroso». Depois de tanto tempo à espera de um potencial «governo inclusivo», seria inglório apresentar uma solução de meias medidas (troca tintas). Talvez a melhor política fosse distinguir claramente duas fases para um Governo de Transição: uma primeira de diagnóstico, de recenseamento desenganado da realidade; seguida da discussão de um plano bem sistematizado, envolvendo organicamente o Governo numa actuação transparente, que permitisse a sua fiscalização pública, podendo para isso servir os blogs, que têm servido de procuradores informais e de veículos da liberdade de expressão.

É preciso começar por algum lado! Uma das promessas a que deu origem o pacto de transição em vigor foi a da realização de auditorias, não só às contas do antigo governo de Cadogo, como ao Governo então criado. Passado um ano e em término de mandato, está na altura de se começarem a dar sinais de seriedade, que possam inequívocamente ser interpretados como de boa vontade pela comunidade internacional. Caso não arranjem mais ninguém, ofereço-me eu para fazer essas auditorias (na condição de não ter qualquer entrave ao acesso a todo o tipo de dados que solicitar), pois, para além da indispensável competência técnica, estou minimamente por dentro da realidade guineense (e sou bem mais barato que uma equipa de consultores estrangeiros a alojar em hotéis de luxo).

Acabo voltando ao dissolvente e destrutivo título de Julião Soares: «depois de tantas convulsões, da desagregação da sociedade guineense e das ameaças que pairam sobre o seu futuro imediato, parece ter chegado o momento de grandes decisões.»

Sai a portuguesa, entra a espanhola

Na CPLP, os critérios andam um pouco alterados, numa óptica não só linguística, como ética. Veja-se o caso das 3G (desta vez os Gs são de Guinés): a organização forçou a saída da Guiné «portuguesa» por motivos políticos de ordem interna; mas admite a Guiné «espanhola» (onde ninguém fala português). Se se tratasse de uma promoção honorífica, de um exemplo para a organização, mas leia-se o recente título do DN «Aceitar ditador cruel na CPLP afectará credibilidade lusófona» e tirem-se as necessárias conclusões. Tudo isto para satisfazer um capricho de José Eduardo dos Santos (que também não é propriamente um santo)? Já agora, para legitimar internacionalmente o regime de Conacri, porque não admitir também a Guiné «francesa»?

Enunciado de bons princípios II

Acabei de ler (obrigado Progresso Nacional) duas notícias interessantes saídas na Jeune Afrique, no âmbito da XXI Cimeira da UA, que começa já amanhã.

Uma entrevista concedida por Nkosazana Dlamini-Zuma, presidente da UA, na qual estima que o grande desafio para África, uma vez liberta do colonialismo, é libertar-se da dependência. «Nenhum país deve ter, por base do seu desenvolvimento, a ajuda externa. (...) É uma questão de mentalidades.» Único país de África, para além da Argélia (o caso da Etiópia é especial), que me parece poder ser considerado como vencedor de uma guerra colonial / de libertação, está agora na hora de a Guiné se libertar das grilhetas da dependência (dissimulando ingerências interesseiras).

No mesmo tom, Carlos Lopes convida os africanos a criar a sua própria visão do (e lugar no) mundo. África deve romper com as percepções negativas em proveniência do exterior, «dissipar os mitos e a incompreensão», de forma a captar investimentos sérios e sustentáveis, e já não apenas draconianos e delapidatórios dos seus recursos. Acrescentaríamos que essa foi a última preocupação publicamente manifestada por Amílcar Cabral, numa conferência em Conacri, pouco tempo antes de morrer. Insurgia-se contra a continuação da exploração colonial por outros meios, mais sofisticados e pesados de consequências. E aproveitava para lembrar que a libertação tem de ser mental: «o arroz só coze dentro da panela».

«A hora é de aurora, estamos perante um renascimento africano» exclamou-se Carlos Lopes, «não sem lirismo» acrescentaria o cepticismo do jornalista. «África tem de assumir o controlo da sua narrativa e das suas relações internacionais». Já tinha desconfiado num artigo anterior, mas agora começo seriamente a pensar que parte destes felizes pensamentos, mesmo que classificados pelos outros de utópicos, se referem a uma secreta esperança que alimenta em relação ao seu país natal. A Guiné, que deu um exemplo final, autónomo e independente, na I Guerra de Libertação, estaria em condições de liderar a II?

sábado, 25 de maio de 2013

O fim dos tabus: mesa redonda de G3

Realizou-se na quinta-feira à tarde, em Coimbra, uma mesa redonda organizada pelo professor doutor (o primeiro guineense doutorado pela Universidade de Coimbra) Julião Soares sobre a guerra colonial / de libertação «Os 3 Gs da Guiné: Guidage - Guiledje - Gadamael». O cartaz, moderado pelo professor doutor da mesma Universidade, Luís Torgal, incluía vários oficiais superiores portugueses na reforma, o Tenente-Coronel Sandji Fati (que, por impedimento de última hora, não esteve presente) e o Doutor Osvaldo Lopes da Silva, que dirigiu a flagelação de Guiledje pelo PAIGC.

Conforme declarou o Julião (a quem, depois de ter lido o livro de Cabral, tive o prazer de conhecer pessoalmente nesta ocasião) à RTP, também a mim me parece importante sublinhar a importância do evento, assumindo definitivamente a queda dos tabus. Neste contexto, há igualmente que destacar o papel de destaque que tem vindo a desempenhar o blog de Luís Graça e a reaproximação à Guiné da sua «rede social» Tabanca Grande, incluindo o convívio entre antigos combatentes dos dois lados, patrocinado pela ONG guineense AD, de Carlos Schwarz (Pepito).

Chegou a hora de se fazer história, de forma positiva, como forma de intervenção informada na realidade actual, conforme defendeu Luís Torgal na introdução que fez a esta mesa redonda, que se constituiu como preparatória para um grande evento a organizar em Novembro, no mesmo espírito. No fim do encontro, o mesmo professor viria a fazer uma constatação que me parece bastante relevante: sendo a memória algo de tão selectivo e traiçoeiro, porque razão se teriam afigurado, aos presentes, as memórias da Guiné de forma tão viva e emotiva? Amigos da Guiné...

A primeira apresentação esteve a cargo do Coronel de Paraquedistas José Moura Calheiros, que, mesmo contra as fortes restrições de tempo (e teve o dobro do dos outros participantes, pois esteve em ambos os teatros de operações, Norte e Sul) fez uma brilhante apresentação táctica dos cenários com que se deparou, primeiro em Guidage, no Norte, depois em Gadamael, na sequência do abandono de Guiledje. Recomenda-se a leitura do seu livro, profusamente ilustrado «A última missão» (que consistiu na repatriação dos restos mortais de alguns homens sob o seu comando).

Em relação ao tempo, julgo importante anotar que a mesa redonda duraria quase 7 horas ininterruptas, sem sequer pausa para café, que chegou a ser anunciada, mas não respeitada. Depois do Coronel Calheiros, a palavra passou ao Coronel dos Comandos Raúl Folques, um dos comandantes da operação de Comandos Africanos efectuada sobre uma base do PAIGC, já em território senegalês, para aliviar a pressão sobre Guidage. Por várias vezes o senhor Coronel teve de controlar a sua emoção, para não explodir. Eu, como estava na assistência, virei a cara para o lado e chorei como uma Madalena arrependida.

Um por um, desfiou o rosário dos seus mortos em combate, dos seus mortos às mãos da fúria cega e assassina do PAIGC, para depois se perguntar, quase com raiva: «para quê»? Passados estes anos, para que serviu a guerra? Aos de cá, não! Aos de lá, pelos vistos, ainda menos. É desesperante! A Guiné e Portugal parecem partilhar um destino comum de incompetência dos seus políticos. Numa pequena conversa informal que tive depois com o senhor Coronel, lamentou a «ausência», na mesa redonda, de Salgueiro Maia, com quem conviveu por essa altura em Guidage: se fosse vivo lá estaria, claro.  

Em seguida, calhou a vez ao Coronel Coutinho Lima, ainda hoje visivelmente perturbado pelo papel que desempenhou no único abandono de um Quartel durante a guerra colonial. Talvez fosse melhor, para se justificar humanamente, assumir que errou, pelo menos em termos de uma análise exclusivamente militar. Ordenou a retirada tempestiva de um quartel relativamente bem fortificado, para outro onde não existiam as mínimas condições de defesa, expondo os seus homens, para além do desastre moral, à morte às mãos dos guerrilheiros do PAIGC, que, estranhamente (ou não - valeria a pena eliminar esses combatentes «inutilizados»? - eram mais úteis vivos, para desmoralizar o inimigo, que mortos), não explorou a situação.

O livro lançado na Academia Militar, a insistência em justificar-se (fez questão de distribuir o texto fotocopiado por todos os presentes), não me parece que sirva a paz interior que procura. Neste levantar do véu sobre a Guerra Colonial (não estaria a ser justo se me esquecesse de citar o importante papel que desempenhou na televisão Joaquim Furtado), importa não confundir dramas pessoais, com a verdade. Plagiando um blog guineense, a verdade liberta. Valerá a pena querer branquear e apresentar uma má decisão militar (por mais atenuantes que possam ser invocadas), como uma boa decisão humana?

O mal estar de Coutinho Lima assumiu uma manifestação um pouco desadequada: tinha preparado uma pequena encenação, no momento em que lhe é passada a palavra, abandona a sala, criando um momento de suspense (teria tido vergonha? e fugido?); voltando pouco depois trajado de guineense. Pareceu-me uma demonstração deslocada da sua necessidade de aprovação. Abandonei a sala, como fez também o Coronel Folques e mais uma ou duas pessoas. Esta sim, uma verdadeira retirada estratégica.

A desconchavada «palhaçada» foi denunciada na sala, quando tentou «comungar» com um guineense igualmente em trajes tradicionais: saiu humilhado, quem estava ao lado do comando africano, respondeu-lhe: «olhe que ele não era da sua equipa!» Por isso me pareceu deslocado e pouco fiel um pormenor no relato da Lusa, publicado pela agência noticiosa angolana: quando diz que a generalidade os participantes concordaram com Coutinho e Silva, que a retirada foi a decisão mais acertada. Eu estava presente e não me reconheço nessa afirmação. O jornalista chegou ao ponto de afirmar que foi um acto de «ousadia». Enfim...

Para além de ter falado outra vez José Calheiros, mostrando como os paraquedistas que se preparavam para reforçar Guiledje, chegados a Gadamael, conseguiram conter o PAIGC varrendo as redondezas (a mais forte razão o teriam feito em Guiledje), falou o Coronel Ferreira da Silva, que defendeu o quartel com um punhado de homens, mantendo uma presença de ocupação «psicológica»: «íamos disparando um obus de vez em quando para o PAIGC saber que ainda cá estávamos». Num estilo muito popular, lançou «nós fomos a maior geração desde os descobrimentos!» Concordo que, com uma excepção, a mesa era constituída por heróis: «em perigos e guerras esforçados, mais do que prometia a força humana...»

Em seguida, falou o Comandante da Marinha Pedro Lauret. Nesses dias comandava um dispositivo que consistia numa Lancha de Fiscalização Grande (a Orion) e duas Lanchas de Desembarque, com botes de apoio. A sua apresentação fotográfica dos modelos permitiu-lhe uma feliz referência à Lancha Vega, e ao seu Comandante Oliveira e Carmo, herói de outro G, uma década antes. Mas voltando aos Gs da Guiné: a retirada de Guiledje provocou uma grande confusão em Gadamael, que não tinha condições para acolher tanta gente. O PAIGC rapidamente rebateu o seu dispositivo sobre Gadamael, recomeçando a fustigar com redobrada intensidade...

Já desmoralizados, soldados (excepto um punhado respondendo ao comando de Ferreira da Silva e 33 homens da guarnição de artilharia residente) e população fogem para o tarrafo (zona alagada entre marés, onde uma pessoa fica rapidamente enterrada pela cintura), na confluência dos rios Cacine e Cachina. Poderia ter sido uma chacina. Os relatórios eram alarmantes e falavam em soldados completamente «traumatizados», «apáticos». Aparentemente, também o General Spínola ficou traumatizado, teve um ataque de fúria, chamou-lhes «Ratos» e «Cobardes».

No entanto, quando tenta desembarcar no seu Alouette em pleno cenário, como era seu costume, a comitiva de recepção apercebe-se do silvo de um disparo (tinham apurado mais ou menos 18 segundos para o impacto), o oficial só tem tempo para fazer sinal ao piloto do helicóptero, obrigar o General a flectir as pernas (não havia tempo para explicações), levantando este imediatamente voo... no timing previsto ocorreu o impacto, precisamente no local onde tinha estado o heli. A quadrícula estava bem estudada, o PAIGC tinha grandes artilheiros!

O Comandante da Orion, chamado a desempenhar uma missão de transporte dos paraquedistas (que estavam na mata de Cantanhez envolvidos numa caça aos representantes da ONU) para irem reforçar Gadamael, foi com indignação que se apercebeu de uma impensável ordem de Spínola para ninguém ajudar os fugitivos. Chamando os seus subordinados, disse-lhes que estava disposto a não cumprir aquelas ordens e a ir salvar aqueles homens, «nem que fosse de canoa».

Num pequeno momento informal, já depois do fim da mesa redonda, afirmou «Nós, militares, sabemos que certas ordens não são para cumprir». O Marechal Rommel parece-me que foi o único que ousou desafiar a psicopatia de Hitler sem morrer (pelo menos logo de seguida). Em 1940, aquando da guerra que o conduziria como um relâmpago a Paris, depois de cumpridos os melhores cenários operacionais, em Berlim começaram a assustar-se, chegando mesmo a julgar que poderia ser uma armadilha, e deram ordens para parar a ofensiva e consolidar posições. Mas Rommel sabia que a vantagem era precisamente a rapidez fulgurante, precisava sempre de mais gasolina que não lhe vinha de trás e que só podia encontrar mais à frente, se fosse sempre 50Km mais rápido que a propagação das notícias.

Quando se apercebem, em Berlim, que as ordens não estavam a ser cumpridas e que Rommel continuava a avançar em direcção a Paris, o próprio Hitler arranca o microfone das mãos do CEMFA e começa a vociferar com Rommel, que tinha o seu QG reunido a assistir aquilo tudo. Muito calmamente, saca da sua pistola Luger, dá um tiro no receptor, vira-se para os seus homens e diz: «O rádio teve um problema técnico. Como não conseguimos ouvir as últimas ordens, vamos continuar em direcção a Paris. Subam para os vossos tanques.» Outra dessas vezes foi quando, face à iminente queda da África do Norte, recebeu ordens para fuzilar os oficiais ingleses. Não apenas se recusou a cumprir essas ordens, rasgando-as ostensivamente à frente dos seus homens, como ordenou a sua libertação imediata.

O último conferencista, Osvaldo Lopes da Silva, próximo de Amílcar Cabral e de Titina Silá, foi combatente guineense da liberdade da pátria e comandante do assalto do PAIGC a Guiledje. Falou da evolução das estratégias de guerrilha: que começaram por ser de «bate e foge», de forma a obrigar Portugal a distribuir as suas forças pelo território; e que, numa fase mais avançada, passou a ser a de criar «abcessos de fixação» de modo a esgotar o inimigo. Explicou os pormenores tácticos da instalação das baterias no terreno, sua visibilidade e camuflagem, procedimentos de ajustamento do tiro, armas utilizadas e suas características. Lembrou ainda os estágios na China e na URSS e a feroz independência mantida por Cabral nos conflitos entre esses dois países, que o apoiavam. Teve também um triste lamento, de que teve o pressentimento do assassinato de Amílcar Cabral.

A nome da operação 2G do PAIGC (acabaram por ser 3) foi o do seu malogrado líder. É digno de nota que Osvaldo foi quem recebeu a maior ovação de entre os participantes nesta mesa redonda. Homens que se combatiam há 40 anos, reconhecem-se hoje mutuamente, o amor e motivação pela respectiva ideia de pátria que os animava, como também mérito e valentia aos seus adversários. Algumas ideias, que já tinha defendido há pouco tempo, na pequena biografia de Amílcar Cabral que apresentei para a exposição no Xantarim (para a qual contribuiu a minha leitura do excelente livro de Julião Soares), pareceram-me, essas sim, consensuais entre os circunstantes nesta mesa redonda.

Duas das mais importantes parecem-me ser:

1) A de que a introdução no teatro de operações, com sucesso, dos mísseis Terra-Ar SAM7, conhecidos por Strella, desequilibrou definitivamente o já de si frágil status quo no terreno. A força aérea sofre fortes restrições à sua operação, no apoio aproximado ao combate no solo, passando o tecto de actuação das poucas dezenas de metros acima do chão, para altitudes muito maiores, com uma drástica redução da sua eficácia. A guerrilha ganhou em mobilidade, podendo concentrar tropas a seu bel-prazer, com os portugueses pregados ao chão. Ao mesmo tempo, também os helis deixaram de fazer evacuações de feridos (e mortos) em zonas de combate, com grande impacto negativo no moral das tropas.

2) A de que o 25 de Abril se deveu essencialmente a estes 3G. Uma geração de heróis, que não recusou o apelo da pátria, face à iminência e inevitabilidade de uma derrota militar, para poupar o seu exército e o seu país a essa humilhação, fez uma revolução inadiável. O povo português ficou a dever a sua revolução aos guineenses, bem organizados e muito bem comandados, como reconheceu José Calheiros. Ditosas pátrias que tais filhos têm.

No fim da mesa redonda, mal grado o avançado da hora, foi aberto um espaço de debate, no qual intervim lembrando as palavras de Raúl Folques (o senhor Coronel, que estava com a filha e tinha de voltar para Lisboa, já não estava presente) quando disse que os Comandos Africanos eram uma verdadeira «casa» multi-étnica, com elementos de todas as etnias; dentro do mesmo espírito, lembrei um estudo feito sobre o islamismo na Guiné, por Salgueiro Maia, no entusiasmo do seu curso de Antropologia, no qual o mais interessante é que assume natural e implicitamente (e, na minha opinião, sem erro científico) a existência de uma identidade guineense, um maravilhoso caldeamento (o termo foi sugerido pelo Julião, no momento) cultural...

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Médicos 100 Fronteiras

A União Africana, que no Domingo dará início à sua XXI Cimeira, acaba de publicar, pela voz do seu Comissário para a Paz e Segurança, o enésimo apelo à realização de eleições antes do fim do ano. Quando chegarem a Novembro é isso que vão pedir ao Pai Natal?

O comissário, Ramtane Lamamra, referindo-se ao esforçado representante no terreno, diz que este «envidou até esforços para restaurar a unidade do Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC) para que este partido resgate a serenidade.»

Estamos perante um novo entendimento da esfera de actuação da UA, que agora faz e desfaz na política partidária dos países membros. Restaurar o PAIGC? Porquê? Está a soro? Ligado à máquina? E tem de acalmar? A situação está assim tão mal, senhor doutor?

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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Em defesa de Egas Moniz

Há quem diga que o velho Conde Dom Henrique, com a idade que tinha (morreu quando o putativo filho tinha um ano), não foi o verdadeiro pai de Afonso Henriques. E aqui, há duas «teorias da conspiração» paralelas. Uns apresentam uns relatos referindo que quando viram o bebé, era tão feio e deformado que, apercebendo-se que nunca serviria para rei e não querendo criar um caso «político» de falta de herdeiro do «condado-futuro reino», o enjeitaram e puseram no seu lugar um dos muitos filhos de Egas Moniz, igualmente recém-nascido; outros dizem que Egas Moniz era amante da Condessa portucalense... Só fumo?

Mas não é desse Egas Moniz que eu quero falar. É do seu homónimo e único cientista português que teve um (meio) Prémio Nobel, a quem quiseram recentemente, e sem qualquer justificação, retirar o mérito: o culpado de Hiroshima é Einstein? O que fizeram depois com a sua descoberta e o seu conhecimento neuro-anatómico, que permite transformar pessoas em vegetais, poderá servir para acusar o cientista que ia «roubar» cadáveres ao hospital e os levava no seu carro pessoal (parece um pouco macabro, bem sei), para depois fazer evoluir a ciência? É como acusar Wagner de ser Nazi.

Se nesse caso, o processo intentado, não parece ter qualquer justificação; já com o Prémio Nobel atribuído à causa da libertação timorense, não se passa o mesmo. Todos sabem que os laureados naturais eram Xanana Gusmão e Dom Ximenes Belo. Com a sua simplicidade e humildade, e para mais sendo um chefe de guerrilha aceitando um prémio de paz, pediu a Ramos Horta que fosse buscar a sua metade; consolidado o processo em Timor, não estará na altura de este devolver aquilo que não lhe pertence?

Ninguém quer lançar uma petição? Eu assino.

Orelhas a arder

Segundo consta, Ramos Horta foi chamado ao Estado Maior. Depois das infelizes declarações (a figurar numa futura autobiografia) quanto ao seu carácter heróico enfrentando (desarmado) as bazucas do General Injai, chegou duas horas mais cedo (não fosse um imprevisto qualquer de última hora) e saiu de lá com as orelhas a arder, com a ingratidão demonstrada pelos indígenas (talvez seja apenas um problema de comunicação, pois desconhece inteiramente a língua local, embora esta seja derivada do português).

Recomenda-se vivamente que leia a resolução hoje aprovada no Conselho de Segurança, aprovando todas as sugestões enviadas pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, no passado dia 9. Decerto após ter bem ponderado as coisas, sua excelência o Secretário-Geral fez história, avalizando o processo endógeno em curso. O senhor representante foi transferido para o WC da ONU (Palácio das Necessidades), onde se poderá dedicar com mais calma a aprender etiqueta, diplomacia, para já não falar de simples boa educação.

Tempestade num copo de água

O Tribunal Militar não tem jurisdição sobre civis. Parece um local desadequado, senão mesmo imprudente para fazer campanha ou manifestações de apoio. Não me apercebi que tivesse sido revogada a proibição de manifestação (sem que tivesse sido ofendida a liberdade de expressão: ainda ontem li Filipe Sanhá afirmar que nunca se viveu um momento de liberdade de expressão, sem medo, como o actual).

O Tribunal Militar, no âmbito das suas competências, pode apenas confrontar DSP com eventuais acusações emitidas por um militar, com o objectivo de averiguar da sua veracidade; no entanto, o resultado dessa vereação implica apenas militares; qualquer responsabilidade que daí possa advir para um civil, terá de ser remetida para um Tribunal Civil. Os apoiantes talvez se devessem guardar para essa altura.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Guiné-Bissau em Banda Desenhada

Kassumai de David Campos. Ver resumo.

Adivinha

Por falar em actores...

Quantos são os actores políticos na Guiné-Bissau?



21.




Como?




20 facções do PAIGC mais o povo.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Boa estrela

Crítica implícita ao MNE português
Comunicado Africa Monitor Intelligence 753

Guiné-Bissau: A “boa estrela” que Portugal não aproveita.

«Portugal goza na sociedade guineense, compreendida em todos os seus estratos, de uma aceitação cuja grandeza não está reflectida no estado de incipiência que as relações bilaterais apresentam. A aceitação especial de Portugal na Guiné-Bissau está traduzida em manifestações tão singelas como o bom acolhimento prestado aos portugueses, a atenção com que é acompanhada a vida quotidiana em Portugal (em todos os seus aspectos, a começar pelo futebol), até à adopção quase mimética de marcas, símbolos e tendências portuguesas.»

Que desperdício, senhor Ministro. Não estará na altura de deixar de se comportar como uma criança mimada (e insuportável) cujas birras duram e duram e duram...Até quando continuará a abusar da nossa paciência, a ameaçar a amizade Luso-Guineense e o espírito da CPLP?

Má onda

Uma revista espanhola acaba de publicar um artigo dedicado à actual situação na Guiné-Bissau, com o título «Pequenos cenários, grandes infernos», no qual o jornalista tenta fazer um apanhado da situação. Sem grandes novidades, nota-se que Lucas Polledo fez algum trabalho de casa, mergulhando no corpo das notícias recentes sobre a Guiné-Bissau.

O resultado acaba por ser um quadro negro, amostra representativa da incompreensão generalizada quanto ao processo actualmente em curso na Guiné. Um scuro absoluto sem pinta de chiaro. Os jornalistas, sempre superficiais, lêem uns recortes, fazem umas pesquisas, para logo a seguir embarcar no «cruzeiro» da «inevitabilidade» da desgraça, do incontornável «nadir». Talvez se estivessem mais atentos, pudessem ler outros sinais, mais positivos, que falam de identidade e de esperança, de um novo começo.

«Importantes actores internacionais, incluindo países da Região, parecem contemplar na sua agenda a possibilidade de intervenção militar, modalidade intervencionista já implementada no Mali, e que ganhou força depois das acusações da DEA às chefias militares.»

Um pouco mais de espírito crítico, senhor jornalista! Parece animado de boa vontade, talvez devesse colocar-se mais umas tantas questões importantes:

quem são os instigadores desta cabala, esses «importantes actores»?
só quererão, desinteressadamente, a paz e o bem do país?
intervenção militar com que objectivo?

Realmente a Guiné-Bissau, ao contrário do Afeganistão, é um espaço geográfico que passa despercebido no globo e nos planisférios; no entanto, como poderão afiançar portugueses e senegaleses (por experiência própria), pode tornar-se um verdadeiro inferno, para ingénuos e incautos candidatos a invasores.

Mensagem de esperança

Gostei bastante de ler o contributo de Filipe Sanhá, no site do Didinho.

Lembrei-me em especial de um dos seus contributos, há uns anos, por ocasião de uma interessante reflexão sobre modelos de desenvolvimento, na qual defendia a fixação gramatical do crioulo como factor de reforço da identidade nacional, e fui relê-lo.

Mas voltando à sua mensagem actual, quero sublinhar dois pontos que mais me alegraram, pela nota identitária e de esperança:

«A Guiné-Bissau cresceu e está a criar os seus próprios mecanismos e anticorpos para se assumir, definitivamente, como um País, que quer granjear respeito e preencher a sua cadeira no concerto das Nações.»

«Nas rádios, Jornais, bairros, bares e outros espaços de convívio, as pessoas falam abertamente sobre a problemática do País, sem medo. (...) Quem esteve e está em Bissau, apercebe-se disso de forma clara e transparente.»

Também o grito de revolta do Doka, não deixa, à sua maneira, de ser uma mensagem de esperança, ao encorpar uma firme vontade de mudança. 

Nô junta mon pa kumpu nô Guiné.

domingo, 19 de maio de 2013

Mapa geológico da Guiné-Bissau

O Laboratório Nacional de Energia e Geologia, LNEG, acabou de ganhar, segundo o semanário Sol, um contrato de 30 milhões de dólares, para a digitalização do terço sul de Angola.

Mas o mais interessante é que foi o bom trabalho desenvolvido com o Mapa Geológico da Guiné-Bissau, recentemente publicado, que serviu de currículo ao LNEG, frente a outras empresas bem colocadas (em Moçambique, o trabalho foi adjudicado a uma empresa russa).

Graças ao brilhante trabalho de campo (e de secretária) de Paulo Alves e uma pequena equipa (com o apoio na Guiné da Direcção Geral de Geologia e Minas) todo o conhecimento cartográfico sobre a Guiné-Bissau, não apenas português, mas também francês e russo, foi compilado neste mapa.

Para além disso, o mapeamento inclui uma rica amostragem litostratigráfica graficamente sintetizada e acessível. Decerto que se vai tornar numa ferramenta indispensável na reflexão sobre o futuro da Guiné-Bissau, sendo a sua disponibilização especialmente oportuna.

Bravo, Paulo Alves e equipa, merecem os maiores elogios; bem haja LNEG e IICT (Instituto de Investigação Científica Tropical): o conhecimento é para partilhar! Competência, iniciativa e generosidade felizmente ainda compensam. Parabéns pelo contrato!

P.S. O Didinho, que já tinha publicado a metodologia deste projecto, decerto disponibilizará em breve esta informação, devidamente classificada, para futura referência.

A China na vanguarda da informação!

28 pequenos partidos denunciam o Memorando de Entendimento, acusando PAIGC e PRS de violar o espírito do Pacto de Transição, segundo a agência noticiosa chinesa.

Nobel lança livro

Dom Ximenes Belo acaba de lançar um livro na Porto Editora «Os Antigos Reinos de Timor-Leste», no qual se debruça sobre a história de Timor. Interessante o apelo identitário, aos descendentes das antigas casas reais, para que se interessem pela sua identidade, que investiguem e preservem a memória e a sua presença real no mundo.

sábado, 18 de maio de 2013

Esclarecimento (puxão de orelhas)

Julgo que se justifica a convocação dos representantes das organizações internacionais à Presidência da República, um dia depois de por lá terem passado, no sentido de significar a esses elementos que devem evitar desempenhar o papel de actores na actual situação, com agendas estranhas à Guiné-Bissau.

Os resultados perniciosos estão à vista. Se o ouvido não for pequeno, a horta estéril ou o ramos simples galho verde, deverão perceber que as Forças Armadas guineenses em caso algum aceitarão mais forças estrangeiras no terreno, qualquer que seja o pretexto invocado ou as cabalas engendradas com esse fim.

Conspiração (e para mais, grosseira) com vista à ocupação estrangeira? O «roteiro» ex-ante que trazem estampado já tresanda; se pretendem realmente continuar gratos no país que tão bem vos acolheu, deverão pensar seriamente em mudar de atitude.

PS O senhor Representante talvez devesse ter optado pela saída airosa que lhe ofereceu o Senhor Secretário-Geral Ban Ki Moon, de se dedicar ao aspecto «diplomático» e deixar o terreno para um segundo representante. Fosse por teimosia e/ou falta de tacto, pelos vistos preferiu entrar para o clube dos rejeitados; olhe que a fotografia pode sair-lhe borrada... De árbitro passa a jogador e ainda leva cartão amarelo? O Senhor Secretário-Geral não preferirá removê-lo do campo antes que leve o vermelho e envergonhe a Organização?