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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Um por cento
A 11/11 do ano passado, o kwanza, sob pressão da depreciação do petróleo, furava a barreira psicológica dos 100 por 1 face ao dólar, passando a expressão a três dígitos. O regime tem (até aqui) controlado a sua política monetária, como se percebe pelo gráfico «chato» do câmbio relativamente ao dólar, na perspectiva da última década, com muitos patamares sustentados.
Negociando acima dos 90 por 1 há dez anos, depois de uma primeira experiência no novo patamar dos 80 por um, cancelada pelo Pai Natal (às 00h00 do dia 25 de Dezembro), o rácio seria retomado no dia 5 de Fevereiro de 2006, há precisamente 9 anos. No fim de Abril de 2007, entrava-se num novo patamar e máximo histórico, dos 75 kwanzas por dólar, o qual durará estável por cerca de dois anos.
Findo o primeiro trimestre de 2009, alguma turbulência e uma ligeira baixa, duram até ao princípio de Outubro desse ano, quando, antes de uma depreciação brusca, foi reposto o anterior nível, por um curto espaço de tempo.
[Faz sentido a interrogação pelas razões desses breves «contra-ciclos»: representarão uma forma de castigar especuladores (técnica que era muito apreciada por Cavaco Silva, no Banco de Portugal, no tempo do escudo), ou, por outro lado, de beneficiar grandes volumes de câmbios «amigos» à custa do Estado?]
Mas retomando a análise do gráfico. Até ao fim de Janeiro de 2010, a descida é «suavizada», vindo o segundo trimestre do ano a apresentar novamente uma turbulência inusitada. No fim de Agosto, um novo pico, parecendo querer retomar o patamar dos 90 por 1, é rapidamente contrariado, por um câmbio «bastardo» de 93 por 1, em torno do qual se negociará durante cerca de um ano.
Em Setembro de 2011, novo acerto, relativamente brusco, para os 95 por um, encetando novamente uma trajectória descendente de inclinação suave. que se estenderá pelos anos de 2012 e 2013, perdendo, nessas contas, um por ano, até aos 97 kwanzas por um dólar. Atente-se que em 2013 a volatilidade da moeda angolana face ao dólar dava já mostras de aumentar um pouco, embora sem grande expressão...
Apesar de nos últimos anos se notar algum dinamismo económico no país, baseado na «importação» de empresários portugueses, o modelo tem bastantes limitações, como já aqui apontámos, em tempos. O investimento realizado foi essencialmente no comércio para altos segmentos de mercado angolano, poupando estes às sempre incómodas deslocações a Lisboa para irem ao supermercado e às lojas chiques.
Em fins de Setembro do ano passado, o kwanza encetou novamente uma fase descendente, concomitantemente com a queda do dólar. No entanto, o Presidente angolano, embora tenha esconjurado os perigos na sua mensagem de Ano Novo, parece ter entrado em processo de negação. Com receitas nulas, aparenta ter perdido a cabeça, recorrendo a concessões «EE» (especiais e encobertas) aos chineses em troca de mega-financiamentos que lhe permitam sustentar a farsa por algum tempo mais, na expectativa da uma retoma da cotação do petróleo.
Ao mesmo tempo que restringe o acesso ao dólar por via bancária, proíbe, à boa maneira soviética, a importação de géneros, para evitar a sangria estrutural da frágil economia angolana, estrangulando-a assim irremediavelmente. Pior, empurrando para cima dos portugueses o ónus da especulação e açambarcamento, relativamente ao descontentamento (e estou a ser simpático, quero ver quando faltar a cerveja em Luanda!) que essas medidas não deixarão inevitavelmente de gerar.
O passo seguinte será decerto a diabolização do mercado negro (o qual as autoridades estão evidentemente a fomentar, com estas medidas), transformando comerciantes em bodes expiatórios. A tentativa de esticar a corda conduzirá rapidamente a moeda «real», de um por cento do dólar a um por mil. Do centésimo ao milésimo num ápice. Mais zero, menos zero, claro... É que, basta olhar para o gráfico do preço do petróleo, bastante mais «a pique», para reparar que o kwanza está sujeito a uma «margem» de correcção muito maior.
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