sábado, 16 de setembro de 2023

Rica couve

A título de comentador televisivo, o General Richoux (ver minuto 13) dá parte da arrogância militar do exército francês relativamente às suas "emprises" em solo nigerino. Então o senhor General assume confiança absoluta nas suas forças especiais, garantindo facilidades em território inimigo? Segundo as suas palavras, estão ali perto, abrem caminho à Rambo, são invulneráveis e é impossível que algo corra mal. O mais chocante nem sequer é este absoluto desprezo pelo adversário, o qual só de si já é facilmente passível de se converter em derrota. Transmite informação importante: confessa que contam com a operacionalidade do aeroporto para fins tácticos, evidenciando o perigo, aqui cedo enunciado, que representa a base aérea como eventual testa de ponte para um desembarque aero-transportado. O que o senhor General não atentou foi nos avisos de Putin, desaconselhando vivamente a agressão ao Níger depois da passagem dos emissários de Goïta, os quais após reportarem seguiram para Niamey, hoje confirmados pelo reaparecimento de Surovikin do purgatório Prigozhin, com escala em Alger a caminho do mesmo destino. O que só pode querer dizer que a Junta conseguiu finalmente que o paizinho enviasse o necessário para dissuadir qualquer tentativa no sentido de descolar ou aterrar na "sua" base aérea, senhor General. Nas cercanias, não será difícil aos sitiantes escolher o(s) local(is) adequado(s) para instalar o(s) equipamento(s), fechando o eixo pelas duas pontas. O senhor General deveria mas é dedicar-se à agricultura e ir plantar legumes, que estas coisas da guerra são complicadas demais para a sua desmesurada cagança. A tragédia anunciada parece avizinhar-se a passos largos.

Auto-refém

Macron faz-se refém a si próprio e ainda vem publicamente reclamar. Onde já se viu um refém recusar um convite para sair do cativeiro? Síndrome de Estocolmo? O "refém" ainda reclama da comida? Alguém poderia explicar ao bebé mimado e adolescente psicopatausurpador do Eliseu, que opções têm custos?


Macron continua a alimentar a grande fogueira de ridículo em que arde: é obrigado a explicar-se, depois de ofício tentando ostracizar os artistas dos 3 (Burkina, Mali e Níger), medida que caiu muito mal no meio cultural e lhe valeu o desprezo de Jean-Luc Mélenchon apodando-o muito justamente de grande inquisidor.

Enquanto a Air France mantém a sua suspensão de voos para os 3, esperava ansiosamente a reabertura do espaço aéreo nigerino, para evitar grandes desvios para outros destinos, aproveitando de imediato para o atravessar. Já Air Algérie e Royal Air Maroc apressaram-se também para suprir o vazio como oportunidade de negócio...

PS Uma vez mais, os mimos não são meus, mas sim de um reputado líder da oposição, François Asselineau. Uma pequena amostra de comentários em media e vídeos do YouTube permite rapidamente chegar à sólida conclusão de que a opinião pública francesa já se apercebeu da perigosa realidade e da doença mental em fase terminal do seu ainda presidente, havendo cada vez mais gente a propor, para resolução do "impasse" africano, a respectiva demissão. Nem os artistas, nem os nigerinos, deveriam pagar pelas decisões dos seus governos: mesmo que sejam todos ou quase todos favoráveis à Junta. Como retaliação a estas medidas persecutórias, num contexto de reciprocidade negativa, a Air France poderia ser visada por uma exclusão particular do espaço aéreo comercial. 

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

666

No fim de semana fui até à Baiana para trocar uns tantos euros que tinha. O desafio era provar que conseguiria uma taxa de câmbio acima da média oficial de 656 francos CFA por cada euro. Entre as funções do BCEAO, que possui imponentes agências em cada um dos 8 países da UMOA, figura a de garante dessa paridade fixa. São admissíveis e compreensíveis pequenas variações centradas nessa média e a banda de variação cambial na rua, de cerca de 30F, é tradicionalmente desfavorável ao franco CFA. Contudo, até há cerca de um mês, nunca essa banda havia furado os limites oficiais. Ora consegui trocar os meus euros a 666 francos cada um! Explicando por miúdos: se o BCEAO é suposto disponibilizar os euros a 656, pelo menos ao sistema bancário, como é possível que eu consiga 10F a mais, se o cambista também tem a sua margem? Para que haveria de mos comprar a mim, se os pudesse comprar mais baratos muito oficialmente? Outro elemento a considerar é que o "deslize" ocorreu no curso de uma única semana, tendo decorrido há já mais de um mês, mantendo-se essa "paridade" de rua inalterada até agora. No mínimo estranho. Uma explicação que parece plausível consiste no arranque de um movimento especulativo que o Banco de França terá sido obrigado a travar, suportando a nova paridade informal recorrendo às suas reservas. Por razões políticas, parece óbvio que não haverá desvalorização declarada até à resolução do "impasse" Níger. Mas e depois? Quo vadis, CFA?

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Traquée au piège, vaincue et evincée

Le Niger est le cercueil de la France en Afrique, ainsi que celui de la CEDEAO. L'acharnement belliqueux auquel on assiste de la part de l'incendiaire qui préside à Paris est une folie, comme l'annonçait déjà il y a un mois Renaud Girard, le plus célèbre journaliste de guerre au Figaro. Mais Macron n'est soucieux ni de l'opinion consacrée ni des conséquences, a perdu tout sens d'État et est tombé en plein délire, contaminant les quelques chefs d'État africains qui restent - encore mais pas pour longtemps - à la francophilie, lesquels l'on peut désormais compter par les doigts d'une seule main. C'est le tout pour rien.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Bater à porta errada

O quay d'Orsay reclama a libertação do cidadão francês Stéphane Jullien, preso há uns dias pela polícia. É normal. Contudo, como não reconhecem as autoridades de facto, presume-se que o destinatário seja o presidente Bazoum. A França está a cobrir-se de ridículo, no Níger. 


Quem o diz é o carismático líder da oposição Hama Amadou, até aqui no exílio precisamente em Paris, que decidiu voltar ao seu país ameaçado, como bom patriota, manifestando o seu apoio à Junta Militar e identificando claramente o problema: o macro-ego de Macron.

A linha editorial do Le Monde, a qual deu inicialmente alguma cobertura a Macron, inflectiu finalmente, perante as evidências, intitulando artigo, na sua edição em inglês: France must get out of Niger trap. O ainda presidente está cada vez mais isolado, tanto externa, como internamente.

PS Num caso normal, um cidadão estrangeiro como este, acusado do gravíssimo crime de alta traição, por tentar entregar uma pizza ao sem papéis, em violação flagrante das novas leis do país, as quais proíbem qualquer apoio ao sitiado, seria visitado na prisão pelo seu embaixador.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Chá de qualquer erva

Para os nervos, é do melhor. Talvez devam servir uma taça (claro que de cicuta seria mais eficaz, do ponto de vista dos interesses que este jurou defender) ao senhor presidente, no palácio do Eliseu, quando lhe anunciarem que a sociedade civil chadiana está a exigir a partida das forças francesas e a denunciar os acordos bilaterais, alinhando-se com os seus irmãos nigerinos, a pretexto do assassinato de um soldado nacional por um estrangeiro, mas para o qual existem versões desencontradas: numa versão defendem ter-se tratado de legítima defesa de um enfermeiro quando atacado pelo paciente, noutra há um segundo interveniente que age em defesa do primeiro. Parece óbvio que a pressa de Paris em exfiltrar do país o(s) envolvido(s) só veio contribuir para o agravamento da situação, como ofensa soberana por evasão, antes do esclarecimento dos factos, à jurisdição local. Lembre-se que o jovem herdeiro apadrinhado em Njamena, inicialmente dado por garantido por Paris contra o Níger, antecipou-se ao próprio Tinubu a roer a corda rota estendida, apercebendo-se imediatamente do perigo para o seu frágil poder, que pretende consolidar.

Terrorista suicida

O louco masoquista Macron, já demitido por Jean Luc Mélenchon (depois de assumir as suas fraquezas e frustrações) perdeu as estribeiras, em plena cimeira do G20, onde a sua agenda pessoal se limitava precisamente a um encontro com o presidente nigeriano Tinubu (para o convencer a, pelo menos, avalizar a agressão francesa ao Níger), ao ser confrontado com o comunicado oficial da Junta Militar, acusando-o de "manobras sub-reptícias e dilatórias" relativamente à expedita retirada que estava em cima da mesa (generosa oferta, diga-se de passagem, para limitar a desonra da França). 


O discurso cansado de Macron, é pior que K7 ou disco riscado: não reconhece as autoridades de facto. Mas que falta de originalidade e de memória: vamos lá reavivá-la e debelar a PP (puta do Parkinson). Já reconheceu, não uma, mas duas vezes: quando quis retirar os seus cidadãos; quando o general BB (Bruno Baratz) comandante "no Sahel" se encontrou com o CEMFA  General Moussa Barmou, com a intenção de evacuar guarnições francesas no interior, mais expostas a acção de envergadura. Voltamos à estaca zero, quer guerra por desaforo? Eliseu virou manicómio!

Após o mea culpa de BB em Maio, admitindo que antes tudo estava mal, chegando a falar em "desbarkanização" das forças francesas (terá acusado recepção do gozo do exército português?), pretendiam dar a impressão de terem aprendido a lição do Mali (onde, depois de terem feito m... também alimentaram um discurso "irredutível"). Mas afinal era tudo treta, agora viram o bico ao prego, deixando cair a máscara do discurso manso para vestir a pele do lobo. Só que este está desdentado (apenas para retomar Tinubu quando tentou renegar a sina de "toothless bulldog").

Internamente, o bronco va t'en guerre, até já foi acusado pelos meios eruditos de trair as regras de ouro da diplomacia de origem francesa, quando cometeu o impensável, recusando-se a evacuar o seu embaixador declarado persona non grata. Transpirou mesmo que tudo se trata de decisões unilaterais de Macron, sem consultar sequer os seus mais chegados, de quem se fez acompanhar na sua deslocação à Guiné-Bissau. Portanto, vejamos se percebemos bem: um desvairado impotente está a conduzir sozinho a França para um ineluctável matadouro sem que ninguém trave o maluco e o algeme?

Completamente isolado em termos europeus, contra sérios avisos aos quais deveria prestar a sua atenção, como aquele, bem precoce, de Itália ou um outro de uma jornalista francesa (aliás já anteriormente elogiada por este blog como profunda conhecedora da matéria em causa), está mais que visto que a França está refém de um alienado reincidente. La France fait pitié. Son arrogance mal déguisée, crystalisée à l'Elysée, va mal tourner très rapidement, suite à cet entêtement au négationnisme, typique d'une certaine masculinité toxique, abondante chez les ex-maris.

Imagine-se que o Império do Mali, tomando conhecimento da tomada da Bastilha e da revolução francesa, tinha tomado a decisão de enviar tropas para devolver o poder ao antigo monarca. Aliás, ao contrário do Níger, onde ninguém apoia Macron, estes sempre teriam os chouans e os vendéens a quem se juntar, para garantir uma aparência de legitimidade. Se Bazoum vier pois a ser degolado graças aos bons ofícios de Macron, depois não venham reclamar que se tratou de uma barbaridade, só porque o método empregue não pagou direitos de autor ao filantropo Monsieur de Guillotin.

O resultado mais que provável, para além do falhanço total, será a interrupção do efeito dominó em curso, suplantado por um efeito terramoto, ou melhor, bomba atómica, para retomar a expressão cataclísmica de "explosão primária" cunhada por Leslie Varennes, com a queda instantânea e simultânea dos ainda ditadores da CEDEAO fantoches da França, na Costa do Marfim, Senegal e Bénin. Dans l'ordre ou dans le désordre, comme au tiercé. C'est possible que Faure arrive à s'en tirer au Togo, tenant compte qu'il n'est pas aussi con que les autres pour se faire trapper à ce piège.

PS Não foi por acaso que escolhi o título para este artigo: foi por hoje ser dia 11 de Setembro. À excepção deste, os outros mimos com que brindo o abominável visado, no corpo do texto, são extraídos dos artigos de opinião franceses citados. 

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Entradas de leão, saídas de carneiro

Apesar de todos os silogimos que possam encontrar, Macron sai do Níger com o rabo entre as pernas. E o primeiro prémio vai para "as autoridades francesas procuram adaptar a sua presença na região em consequência do golpe de Estado. Na sequência do ocorrido, os responsáveis franceses encetaram discussões com os seus homólogos nigerinos para avaliar as possibilidades de um alívio dos movimentos dos recursos militares franceses". Homólogos? Em que ficamos? Reconhecimento?


É só a nível local, informa a AFP, citando o Ministério do Exército, não com a Junta, apressando-se a acrescentar. Até aqui, era o Porta-Voz do Estado-Maior que fazia esse papel, empurrando agora tal ónus para o governo, pois obviamente não gostam da palavra "retirada", a qual a AFP frisou não constar do discurso oficial. Se consultassem a cartilha descobririam que a metáfora certa é "reposicionamento estratégico". Fontes bem informadas do Le Monde garantem que vai começar por Ouallam e Ayorou.

domingo, 3 de setembro de 2023

Despertar doloroso

O desinteresse do protocolo presidencial, com convites em cima da hora (marcado para as 15h, ao meio-dia muitos ainda não tinham recebido o telefonema) permite suspeitar que a estranha e inesperada iniciativa de Macron, ao convidar os líderes da oposição para um jantar franco e recatado, logo após a conferência de embaixadores, era obviamente para tentar um consenso "nacional" sobre o Níger, caso a situação rebentasse. Aparentemente, a opinião pública francesa dá mostras de se manter relativamente alheia à situação, inconsciente dos perigos que espreitam. A imensa maioria daquilo que foi publicado pela imprensa, sobre a referida "sessão de trabalho", focou aquilo que se passou depois do jantar, debruçando-se sobre os últimos dois pontos, concernentes à situação interna, os quais não passavam obviamente de areia atirada para os olhos, transformando-se em pura manobra de diversão política. "A montanha pariu um rato", como se escreveu num artigo em inglês, traduz bem a impressão que sobrou de tal encontro.


O mais interessante, acaba por ser o episódio que transpirou: a irritada e gratuita reacção de Macron face à proposta de redução dos actuais dois mandatos de sete anos presidenciais para um único. Terá exclamado que a limitação a dois mandatos foi uma "funeste connerie" - aprovada por Sarkozy em 2008, a qual o impede de se poder candidatar às próximas presidenciais - acrescentando que, "quem não se pode recandidatar perde o poder desde o primeiro dia". O que terá levado Jean-Luc Mélechon a concluir que "Macron a craqué", que o seu "reinado" acabou, e que já estamos na era pós-Macron, sugerindo mesmo um referendo para antecipar o termo do seu mandato. Só depois da enorme manifestação popular de ontem, com dezenas de milhar de pessoas e reconhecidamente a maior desde o golpe, à porta da base aérea onde estão cercados os militares franceses, o líder da France Insoumise parece ter acordado para o beco sem saída no qual Macron colocou o seu país. A partir de agora, tudo pode dar para o torto...

sábado, 2 de setembro de 2023

Fugiu-lhe a boca para a verdade

O Porta-Voz do Estado-Maior francês decerto não mediu bem as suas palavras. Nas suas ameaças, utiliza a palavra "emprise" para definir os "enclaves" franceses em território nigerino. O dicionário Larousse faz autoridade sobre o assunto:



Todos os sentidos da palavra apresentados, incluindo os sinónimos, são altamente comprometedores, implicando: 

1. Ascendente intelectual ou moral de alguém; influência de alguma coisa sobre uma pessoa.
sinónimos: ascendente - império - influência 
2. Tomada de posse pela administração de propriedade privada imobiliária.
3. Incorporação no domínio público de superfície ocupada por uma estrada, via férrea - ou aeroporto - e suas dependências 
Psicanálise
4. Relação de domínio, de manipulação e de maus tratos, utilizando a violência psicológica 

Os militares limitam-se a traduzir o espírito das instruções recebidas, contudo revela uma terrível falta de tacto, é anti-diplomático e muito susceptível de irritar os pan-africanistas, acirrando ainda mais os ânimos contra a França de Macron.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Camarões na grelha


Ontem ainda, no mesmo dia do golpe no Gabão, o nonagenário presidente camaronês decretou importantes mudanças nas Forças Armadas, enfiando claramente o barrete da desfrançafricanização, como um dos próximos na lista. 
Estão todos muito preocupados, individualmente e aos pares, 
mas pouco ou nada se ouve falar das equivalentes subregionais da CEDEAO. Já as metáforas sugestivas multiplicam-se: ONDA AVASSALADORA, algumas até se podem conjugar: VENTO DE PÂNICO espalha FOGO NO CAPIM.

Um artigo de opinião publicado num media camaronês equipara os golpes militares a cirurgias estéticas para estados neocoloniais.

Finalmente, o Senhor Embaixador pronuncia-se

Eu, que sou um assíduo leitor de longa data do agora mediaticamente famoso comentador e líder de opinião Francisco Seixas da Costa, de cuja hospitalidade no Seu blog - que pertence à minha lista à direita - tenho de confessar que já por várias abusei, andava nos últimos dias a remoer o prolongado tabu em relação à expulsão de França do Sahel, oposto a uma prolixa guerra na Ucrânia. Cheguei mesmo a pensar em reincidir em eventual indelicadeza, enviando mensagem instrumental e explicitamente não aceitável - conhecendo o protocolo compreensivelmente rigoroso dos comentários, o qual se pode traduzir por eventual mas sempre justa censura - apenas para tentar despertar a questão. Os recentes acontecimentos, mais equatoriais, foram a gota que, pelos vistos, fizeram transbordar o copo da visão geo-estratégica ao nível continental. Valeu a pena esperar, sem precipitações, pela autoridade da maturada sentença de Sua Eminência, conhecida por extremamente comedida e diplomática: esta é definitiva e lapidarmente sem apelo nem agravo.

França ondossa poder?

Os receios de que falava no post anterior, podem, afinal, revelar-se justificados, mesmo se não foi possível confirmar os rumores de os militares terem declarado que respeitariam todos os acordos internacionais.  O povo gabonês deve manter-se vigilante, prevenindo a possibilidade deste golpe se tratar de uma encenação de Paris destinada a descalçar a bota Bongo, que Macron já havia renegado, e endossar o poder a seu favor, confiscando-o a Ondo Ossa, cujas posições anti-francesas são bem conhecidas e que venceu as eleições por larga margem. Nesse caso, há a possibilidade de o próprio Nguema, caso tenha aceite desempenhar o papel, ouvir a voz e realinhar-se com o povo - o qual comemora alegremente na rua - e virar o bico ao prego, assumindo um papel histórico e a genuidade do discurso, descartando a total hipocrisia que representaria uma tal traição, a qual Deus e seus cidadãos, mais tarde ou mais cedo, lhe cobrariam. Quanto a França, nesse triste cenário, arriscaria fortemente a que o tiro lhe saísse pela culatra, deitando gasolina gabonesa para a grande fogueira em que está a arder. 7ze desculpa-se pela precipitação, declaradamente ocorrida sob pressão, bem como estar a oferecer duas versões contraditórias, mas admite que tudo é possível, e não apaga mensagens, como a AFP. Como defende um gabonês, para já comemora-se a queda de Bongo, depois logo se vê, o futuro revelará os seus personagens... Cada coisa a seu tempo.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Gã Bongo compulsivamente reformado: Gabon Go

Apesar de algumas reservas iniciais, justificadas pelo receio de uma encenação de mainmise francesa, tendo sido postos a circular rumores de uma suposta declaração de que os golpistas respeitariam todos os compromissos internacionais, associados a uma tentativa de desacreditar o porta-voz da Junta (que seria pouco depois promovido on-line pelos seus homens a novo homem forte), a esta hora já não restam grandes dúvidas de que se trata de um golpe anti-francês. O modus operandi é cópia fiel dos golpes na Guiné e no Níger: o chefe da guarda pretoriana assume as responsabilidades em nome do povo. Este golpe afigura-se mesmo como especialmente legítimo, por se constituir em denúncia de todos os vícios da FrançAfrique, desde a tradicional fraude até à mais recente moda: os terceiros mandatos. A própria reacção da chefe do governo francês, emanada no curso da muito especial conferência de embaixadores em curso sobre este género de assuntos, evidencia que não houve o até aqui "obrigatório" beneplácito da França. A condenação do golpe é risível, após a hipócrita diplomacia francesa se ter convenientemente mantido muda perante o golpe palaciano na "democracia", com a publicação dos resultados, já de si muito arrastada, a meio da noite, e do ataque à liberdade de expressão que configura o corte de ligação à internet. Concretizam-se os receios manifestados por Macron de contágio pelo vírus que classifica como "anti-democrático". Talvez esteja na hora de declarar a pandemia, porque ainda não acabou... a vassoura burkinabé vai continuar a varrer o continente. Libreville est libre! On Paris quel sera le prochain?

Mosca na durmi?

7ze na djungu? Já são várias mensagens, respondo pois pela origem... A catadupa de acontecimentos está a provocar um pico de trabalho de documentação, porque o Emplastro não publica nada que não seja devidamente confirmado e credível (ao contrário por exemplo da Agência do Vaticano, a qual 36 horas depois de este blog, na mensagem anterior e com base na Reuters, ter publicado que a expulsão de outros embaixadores era faketory Macron, ainda andavam a contaminar o mundo com mentiras mal enjorcadas). Há ainda o esforço de analisar a conjugação de acontecimentos naquilo que se configura desde já como o efeito dominó, já aqui antecipado, propagando as ondas de choque da escalada no Níger.


Nas próximas horas, actualização sucessiva, e por esta ordem, dos dossiers:

Gabão
Camarões
Níger 

sábado, 26 de agosto de 2023

Reuters goza France Presse

É com um misto de humor britânico e cinismo que a agência noticiosa inglesa dá conta da incrível operação de intoxicação à qual se prestou a sua congénere francesa, ao propagar as fakes encomendadas pelo Eliseu. 

Na tentativa de diluir a vergonha da expulsão do seu embaixador, inventaram primeiro que o alemão teria recebido a mesma carta, depois o americano. Claro que meio mundo acreditou, atendendo à origem. 

A AFP terá obviamente de suportar delirantes custos em termos de credibilidade. Muitas outras agências caíram. Basta atentar no caso português, com o Público a sair para as bancas envenenado pela marosca.

A Reuters sublinha a inconsistência da AFP no título e na escolha da citação entre aspas, ao justificarem o apagão do post relativo ao embaixador alemão por as "autoridades" terem declarado a sua inautenticidade.

Note-se que essas "autoridades" não são aquelas que o seu governo considera legítimas. A mesma coisa para o embaixador americano, reconhecendo desmentido do MNE nigerino (novo governo e não governo Bazoum).

Em resumo, papam não uma, mas várias fakes, de um presidente stressado que pretendia tapar o sol com a peneira, para depois apagarem notícias, com emendas piores que o próprio soneto, em dissonância total.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Impensável

A tensão atinge um pico terminal. Numa "première" mundial, o quay d'Orsay reage à expulsão do seu embaixador negando legitimidade às autoridades para tal, antecipando o anterior ultimato de dia 2 de Setembro para domingo ao anoitecer. Quem não quer sair a bem, terá de sair a mal. Persona non grata e ainda por cima, recalcitrante?

Tinubu denuncia Macron

A uma semana do fim do ultimato dado pela Junta Militar, Paris transpira stress por todos os canais. Ouattara e Macky Sall chantageiam o presidente nigeriano para a intervenção, julgando que as suas inexperientes declarações iniciais eram suficientes para o obrigar. Contudo, o presidente da Nigéria e da CEDEAO está bem amarrado, tanto pelos seus militares, como pelos líderes muçulmanos, tendo optado pelo bom senso de fugir com o rabo à seringa, denunciando as conversas "ultra-secretas" dos seus homólogos, confirmando a intenção francesa de intervir, mesmo sem a cobertura da CEDEAO. Com a França à beira do abismo, espera-se a qualquer momento a ordem de Macron para uma fuga em frente.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Benefício da dúvida

A eliminação de Prigohzin é um tiro no pé. Será difícil chegar a perceber se foi o Czar, se os seus ineficientes e ineficazes generais. A Rússia criou um abcesso de fixação que vai cobrar um cada vez mais elevado preço em sangue, o qual muito rapidamente ultrapassará os limites de tolerância da sociedade russa.

O assassinato não deixará de ser associado à demissão de Surovikin horas antes, o Kremlin arrisca-se a não poder contar com esse benefício da dúvida, dando origem a uma reacção de raiva, sempre imprevisível. Pode saltar a tampa aos russos, perante a falta de perspectivas para a guerra na Ucrânia.

Pessoalmente e em homenagem ao paladino da iniciativa privada, prefiro pensar que se trata de uma conspiração combinada entre os dois, para que Prigohzin desapareça do cenário durante uns tempos. Aparecerá a rir daqui a uns anos... Este é o meu benefício da dúvida, antes da promoção do herói a mártir.

Escassez induzida

Consequência lógica da imponderada decisão tomada em Conselho de Ministros, de fixação dos preços do arroz, será sem dúvida a escassez instantânea. Alguém de bom senso deveria desafiar o Primeiro-Ministro a tentar comprar hoje arroz, a esse preço "legal". Nenhum comerciante será tão pouco profissional a ponto de vender ao preço tabelado, sem garantias de reposição de stock com margem minimamente compensatória. Teria sido mais inteligente para Geraldo Martins pegar pela outra ponta, acautelando junto dos importadores, através de concessões alfandegárias futuras, como incentivo à importação, o abastecimento. O resultado desta medida populista contra as mais elementares regras de mercado, não tardará a ficar patente, arriscando-se a desacreditar a autoridade e a abortar o estado de graça do novo Governo.

Proposta para Prémio Nobel da Paz


Stanislas Poyet merece sem dúvida a distinção da Academia. A Paz constroi-se com acções concretas, não com palavras vãs, como na ONU. Este corajoso jornalista francês da Radio France, que destila um charme Leonardo DiCaprio, foi miseravelmente agredido e roubado, por uns quantos sobre-excitados. A Junta não tem qualquer interesse neste género de demonstrações altamente prejudiciais para os seus intentos, pelo contrário, tem todo o interesse em propagar a imagem da tolerância. Tal deveria ser rapidamente clarificado através de medidas fortes, protegendo os jornalistas, em especial os franceses, mais expostos. Seria assim dada uma maior relevância a este caso, evitando que se repita e invertendo o ónus.

Se tivessemos estadistas como Stanislas em vez de Macrons, a Paz estaria assegurada. Os cristãos podem rever-se nos ensinamentos do seu Mestre e constatar a eficiência do perdão. Em poucas, mas substanciosas palavras, esgotou o assunto. Começando pelo reconhecimento das novas autoridades, ao qual se nega o seu país, continua por uma declaração de amor ao povo nigerino, afirma que o sentimento já vem de bem antes do golpe de estado, desagrava os seus agressores, não desiste e defende a continuação de um saudável convívio entre os povos. 

Em relação ao M62, movimento que resulta da coligação de organizações da sociedade civil, com o fim específico de expulsar os militares franceses, cujo embrião foi uma manifestação realizada dia 11 à porta da base aérea de Niamey por estes controlada, deveriam esclarecer e formar as suas gentes: os jornalistas não só são úteis, como estão do mesmo lado. Aprender com Stanislas a distinguir as políticas da França, por mais detestáveis que sejam, do povo francês. A 2 de Setembro, expira o ultimato da Junta.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

L'Armée en stress

A Rádio Argel, estatal, lançou ontem o isco, um suposto pedido de utilização do espaço aéreo, com o objectivo explícito de alertar para a iminência de um ataque. Como se Paris se humilhasse ao ponto de insistir em algo já publicamente negado. A coisa poderia ter passado despercebida, pois esta manhã a notícia saiu apenas em italiano e romeno. Ridículo, o imediato desmentido do exército francês, jurando a pés juntos não ter efectuado qualquer pedido nos últimos dias. Serve apenas para evidenciar o stress a que está submetido o exército, muito cioso do seu prestígio. Aproveitam contudo a deixa para afiançar que "não têm nenhuma veleidade de atacar o Níger", sabendo nós que mesmo que tivessem, não nos diriam. 

Est-ce que l'on a oublié à l'Armée le communiqué à la veille de l'évacuation civile, faisant état que la militaire n'était pas à l'ordre du jour? Bon, il faudra la remettre, si l'on veut être cru.

Colère noire

Macron a piqué une crise en public contre le directeur des services secrets, à propos du Niger. En plein cul-de-sac, s'en prend à des boucs emissaires. 


No mesmo artigo, Leslie Varenne, reconhecida analista francesa, ex-jornalista de investigação, afirma que a intervenção que Macron prepara (independentemente do sucesso, o qual não considera garantido), mesmo debaixo da sombrinha da CEDEAO, é um verdadeiro tiro no pé, inevitavelmente conducente a uma "explosão primária" contra os interesses franceses em África. Sem poupar nas palavras fala em cataclismo e em cegueira de Macron.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Pera-doce não temos

_Avie-me dois pastelinhos de camarão

_Pastéis de camarão, não temos
_Então são dois copinhos de vinho branco

Esta cena do Pai Tirano pretende ser um conselho para Macron: não insista em Niamey. O líder da Junta já avisou para não darem a coisa como favas contadas, o desembarque será tudo menos pera-doce, arrisca-se mesmo a ser um osso demasiado duro de roer e rebentar com o prestígio adquirido pelo exército francês em Kowelsi, como se pode inferir de artigo do professor Kabamba.

Petição informada

Na continuação do pronunciamento do fim de Junho, a inteligência recomenda a César que escute a voz da razão. Com o exército atolado na Ucrânia, numa obsoleta guerra de trincheiras, num contexto moral claramente desfavorável, há que reconhecer e assumir os erros, para poder gizar estratégias para lidar com a situação criada, estabilizando uma saída negociada à escala mundial. Atendendo à escalada ocidental e internacionalização do conflito, a eventualidade de uma supremacia aérea ucraniana obriga a repensar a guerra de posições e a uma retoma consistente da iniciativa no chão. Vem aí o inverno, com custos humanos de manutenção no terreno medidos a palmo. A partir da próxima Primavera, o futuro da Rússia joga-se num desfile militar em Kiev, que deverá coroar uma ofensiva bem organizada e sucedida. Em vez de projectar uma imagem de fraqueza, é preciso analisar bem os factos. A Rússia está na mó de cima, como se vê em Niamey, devido ao sucesso registado ao nível da privatização da guerra. Em vez de incorporar aquilo que funciona bem numa coisa que funciona mal, o caminho a escolher é precisamente o contrário! Até os Estados Unidos serão ultrapassados pela direita e classificados como comunistas, com um exército de iniciativa estatal e uma indústria de defesa ineficiente. Para além da sua responsabilidade perante a mãe Rússia, é o próprio prestígio de Putin perante a história que está em jogo. De outra forma, mais valeria abdicar e nomear o sucessor óbvio.