Assistimos à polarização dos posicionamentos sobre a actual situação política entre dois fóruns partidários de "concertação", um liderado pelo PAIGC, outro pelo PRS. Não se tratasse da Guiné, qualquer um acharia curioso haver mais que uma sigla reivindicada por ambos os lados...
Num polo, DSP tenta capitalizar a onda real de descontentamento, sem qualquer legitimidade, diga-se de passagem, sendo o verdadeiro responsável pela eleição do actual presidente da república, o qual não venceu as eleições, pois foi ele próprio que as perdeu: qualquer um que tivesse ido à segunda volta teria ganho. Talvez seja melhor ler (ou reler, porque se leu, não percebeu) a edificante história do génio dos três desejos, para começar a ter cuidado com aquilo que deseja, pois pode virar-se o feitiço contra o feiticeiro... qualquer autêntica revolta soberana (quando um povo chega a esse ponto) passa incontornavelmente pela mudança de regime (e da forma de organização política), implicando, no caso da Guiné-Bissau, a obsolescência dos partidos em geral (parece castigo adequado atendendo ao "estado" a que as coisas chegaram) e do PAIGC em particular, responsável moral pelo descaminho histórico.
No polo oposto, e aparentemente como simples reacção ao PAIGC (basta constatar a inflação de referências a essa sigla na fúria de posicionamentos do PRS das últimas 24h), uma conferência "de imprensa" atabalhoada e nada esclarecedora (melhor seria dizer confusionista), onde pontifica Lassana Fati auto-proclamando-se (não é pública qualquer nomeação) como número 1 do PRS "em exercício" (na ida ao Palácio dia 2 prestar solidariedade ao presidente apresentara-se apenas como pertencendo "à direcção"), ladeado de Doménico Sanca do MADEM. Já o comunicado do PRS ontem emitido defendendo a vinda da ECOMIB II, sem qualquer assinatura, parece ilegal em termos estatutários, pois nenhum órgão superior do Partido foi convocado para assumir essa decisão; bem como ilegítimo em termos democráticos, devido ao sentimento contrário a essa suposta decisão por parte da esmagadora maioria da sua base eleitoral.
Esta perniciosa e perigosa dialéctica maniqueísta (passe o pleonasmo) em nada contribui para os objectivos de pacificação formalmente declarados por ambos os lados, nem para um verdadeiro debate, fragilizando o país face a várias ameaças actuais, tanto em termos mundiais, como subregionais e mesmo bilaterais (com a questão do acordo AGC por resolver).
PS Apelando implicitamente DSP no seu discurso (exemplo patente de retórica incendiária? ...conforme em tempos definido pela ONU no ambiente Guiné-Bissau) ao escape que configura o ponto 2 do artigo 2 da Constituição, refira-se como contra-ponto (a título de possibilidade meramente académica, tal como decerto DSP também o quis significar) o ponto 2 do artigo 20.