sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Perigos da retórica incendiária: o exemplo cisplatino

Este artigo foi motivado pela reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ocorrida no passado dia 14 de Fevereiro, sobre a actual situação política na Guiné-Bissau.

Ainda antes de entrar no assunto, uma pequena nota, apontando a injustificada irresponsabilidade dos termos do discurso emanado da mais alta instância desta instituição internacional, optando pela desqualificação da retórica, uma arte outrora nobre, mas hoje sofrendo o prejuízo de uma forte conotação negativa, devido ao abuso que dela tem feito toda uma escumalha de políticos indecorosos, colocando-a ao serviço da mais boçal propaganda, da reles hipocrisia e da vulgar mentira.

A história é sem dúvida um grande armazém de lições, se bem que muito mal gerido. Quantos erros poderiam ter sido evitados? Quantas mortes? Quantos retrocessos? Não só na Guiné-Bissau, em Portugal... Enfim, no mundo inteiro. É lamentável ver políticos ignorantes e gananciosos, repetindo interminavelmente os mesmos erros, a ponto de desgastarem as teclas do piano. Não admira que este depois desafine, que proliferem os desacordos. O terrorismo não se combate com o terror.

Não precisava de atravessar o Atlântico para partilhar aquilo que quero dizer, pois o espírito poderia ser ilustrado recorrendo a Portugal, onde se passou exactamente a mesma coisa que no Uruguai, nesse início do Século XX. Quem leia a imprensa da época, muito antes do assassinato do Rei Dom Carlos & Filho, constatará que o facto foi prenunciado com antecedência, pela virulência do discurso maçónico e carbonário, escarrapachado sem pejo em letra de imprensa nos mais variados meios.

Efectivamente, muitos outros exemplos se poderiam encontrar, pois não foi apanágio exclusivo destes países, bem pelo contrário, este princípio de século foi fértil em tensões sociais, originadas nas profundas alterações sociais a que dera origem a revolução industrial e a recomposição do corpus social, com o advento do proletariado. Nesse âmbito, o caso mais flagrante foi sem dúvida o russo, cuja alma profundamente religiosa viria paradoxalmente a dar à luz o aborto soviético.

Mas então, por que razão a escolha do Uruguai? Para além das ligações afectivas lusas à colónia de Sacramento, Portugal pode considerar-se o grande patrocinador da independência uruguaia, pela conveniência do estabelecimento desse estado-tampão entre a Argentina e o Brasil, assegurando a navegação e o comércio (ou melhor, o contrabando, grande fonte de receitas) no Rio da Prata, pelo controlo da sua desembocadura, também muito cobiçada pelos ingleses.

A província Cisplatina, na margem esquerda do Rio que servia várias províncias brasileiras, foi assim anexada pouco antes da declaração de independência brasileira e incorporada no Reino Unido (de Portugal e do Brasil). Todavia, aos comerciantes ingleses que operavam na zona, não interessava nem a hegemonia espanhola (ou argentina) em ambas as margens, nem o expansionismo português. Assim nasceria o novo país, pouco mais de meia dúzia de anos depois.

Dom Pedro, passado de quarto a primeiro e já imperador, que se havia empenhado numa longa, desgastante e ingrata guerra, viu a sua popularidade cair em flecha e acabou por desistir da anexação em proveito do seu novo império (no entanto, mais pequeno que aquele que herdara). Porém, garantiria o essencial dos seus objectivos estratégicos, mantendo uma espécie de protectorado sobre o Uruguai, consagrando o direito de intervenção em caso de ingerência argentina.

O intervencionismo maçónico-britânico, motivado pelos seus interesses comerciais, visava a conquista de Montevideo, cidade considerada a chave do Rio da Prata, à imagem da estratégia empregue com Gibraltar, que controlava o tráfego naval no estreito. Contudo, o ferrenho nacionalismo dos gaúchos uruguaios do interior, transformou-se em matadouro para os ingleses. Foi por isso com alívio que o mediador inglês concluiu, em Agosto de 1828: «Colocámos algodão entre dois cristais».

Para não nos afastarmos do tema, resumiremos rapidamente a história do país ao longo do resto desse século XIX, como uma série quase ininterrupta de guerras civis, promovida por caudilhos terra-tenentes de grandes áreas dedicadas à exploração extensiva da pecuária, à produção de carne (salgada para conservação, antes do advento da tecnologia do frio) e de lã, ainda hoje a base da economia exportadora do país, por essa razão muito dependente da cotação dessas matérias.

Mas então, perguntará o leitor, qual a relação com a Guiné-Bissau? Há múltiplos pontos em comum. O Uruguai é um dos mais pequenos países do continente. Também a Guiné-Bissau está actualmente dependente, na quase totalidade (98%, segundo os últimos dados disponíveis) de uma única commodity, a castanha de cajú. Também na Guiné-Bissau os políticos não se entendem. Também aqui há sobretudo dois Partidos, se bem que um deles quase nunca tenha governado.

No Uruguai, no início do Século XX, havia dois Partidos, os Colorados e os Blancos, que traduzi (ilegitimamente). Talvez este seja um caso de daltonismo, pois estes últimos se poderiam chamar, com mais propriedade, de vermelhos, e não é por vos estar a falar por altura do dia de São Valentim, nem pelo sangue que correu, nem por serem índios (os quais foram quase todos exterminados). Os coloridos eram os donos do chão, os brancos sobretudo emigrantes chegados da Europa.

Com efeito, o Uruguai era, por essa altura, um país sub-povoado, visto como destino de excelência pelos emigrantes de uma Europa no extremo oposto, com alta densidade populacional. Se as motivações de muitos emigrantes eram de natureza económica, uma boa parte também o fazia por motivos políticos. Não apenas de forma negativa, como os exilados da Comuna de Paris, mas também por razões positivas, não tivesse Garibaldi, o pai da unidade italiana, por lá passado.

Garibaldi, depois de estanciar na província brasileira de Rio Grande do Sul, que sonhou declarar independente do Brasil, aí se encontrou e se juntou com a companheira da sua vida (passe o romantismo, atendendo à proximidade do dia dos namorados), filha de pescadores açorianos, mulher «divorciada» e exímia manejadora da espada a cavalo, que o iniciou na cultura gaúcha. Daí seguiu para o Uruguai, com a sua legião de voluntários de camisa vermelha e bandeira preta, aliando-se aos coloridos.

Tal como as arquivoltas deste artigo, a fazer-nos lembrar a «pescadinha de rabo na boca», ou o ditado guineense «volta di mundu i rabu di pumba», não nos devemos deixar confundir pelas aparentes contradições do mundo. O revolucionário, que chegou a Grão Mestre do Grande Oriente italiano, foi iniciado numa loja de Montevideo, dependente da Maçonaria irregular brasileira e, paradoxalmente, viria a oferecer os seus serviços militares ao Papa Pio IX, em 1846.

Para evitar mais circunvoluções, e não perder o fio que nos oriente (não, este Oriente não vem da loja nem da designação da República - Oriental - do Uruguai) pois Ariana não nos perdoaria, regressemos ao Século XX. Nô riba Plata (uma graçola bi-linguística luso-crioula com Ribatejo, que inclui ambas as margens do Tejo, aquilo que o Uruguai pretende esconjurar). Neste princípio de Século, havia duas facções antagónicas, do lado de cá do Rio da Prata. Conservadores e subversivos.

Os gaúchos, agarrados às suas tradições, ao seu modo de vida, à propriedade da terra, duramente defendida com o sangue dos seus filhos, são contestados pelos imigrados anarquizantes, chegados da Europa, fertilizados pelas novas ideias radicais e contaminados pela urgência da apropriação política. Contudo, estes últimos encontraram adversários à altura nos primeiros, educados por vários séculos de conflitos fronteiriços. As divergências iriam redundar em guerra aberta.

No entanto, o Uruguai teve a sorte de beneficiar de um líder à altura do desafio, que se chamava José. Que merece por isso o respeito do mundo, a título de paradigma de tolerância, sem por isso degenerar em indecisão ou tibieza. Em termos de Presidentes, o Uruguai teve recentemente como seu sucessor um outro José. Este, se mereceu o respeito global pela sua humildade e honestidade humana, ficando conhecido pelos seus exemplos anti-corrupção, por outro lado, não se pode gabar de tal performance.

Exactamente um século separa estes homónimos, Batlle e Mujica, na presidência do Uruguai. Chegámos então finalmente, depois de tantas considerações preliminares, ao prometido cerne da questão, os perigos da retórica inflamatória. Neste ponto recorreremos ao poder da palavra, que pode ser uma importante arma política, encarnando em especial na poesia. E desde já nos declaramos tributários de um magnífico estudo de Daniel Vidal, da FHUCE-UDELAR sobre a poesia anarquista no Uruguai.

Este autor apresenta-nos a evolução do poeta anarquista Ángel Falco (1885-1971), que na sua juventude havia apelado à violência, com um discurso internacionalista e anti-nacional. Porém, devido à benéfica influência de um líder carismático, o presidente José Batlle, evoluiu e acabou por transformar-se num bom e pacífico patriota. É essa lição que pretendo partilhar hoje aqui. Se queres a paz, prepara-te para a guerra. Mas a verdadeira batalha é a do Verbo encarnado.

Ainda antes de entrar no assunto (correndo o risco de me tornar irritante com tanto preâmbulo), que é a segunda presidência do nosso José (oriundo da casta presidencial, filho de Presidente e por isso Presidente-Rei, como Fernando Pessoa chamaria a Sidónio Pais, passados uns anos do desenrolar desta história) há que dizer que o Uruguai foi precursor em muita coisa, como a separação da igreja e os direitos da mulher, introduzindo o divórcio a simples pedido da mulher sem quaisquer formalidades.

Aconteceu isso por 1907. Enquanto na Europa ainda andavam a sonhar com os soldadinhos de chumbo do Napoleão e a ler um idiota alemão chamado Clausewitz que não percebia nada da poda (erro que conduziria a Europa ao estúpido massacre da sua juventude nas trincheiras, numa guerra estática), equipou o seu exército com metralhadoras, para lidar com uma rebelião de um líder branco que aparecera, eliminando-o sob uma saraivada de balas. Aparício Saraiva morreu em combate a 10/09/1904.

Mas José não humilhou os vencidos. Sabendo que, em qualquer circunstância, mais vale uma má paz que uma boa guerra, chamou os seus adversários, e deu-lhes a escolher entre duas opções: 1) continuavam a esticar a corda e a fazer o que andavam a fazer e matava-os a todos; 2) sentavam-se à mesa a negociar. Já sentados, perguntou-lhes o que queriam. Direitos dos trabalhadores? Sim, senhor. Jornada de oito horas? Sim, senhor. Divórcio? Sim, senhor. Educação gratuita? Sim, senhor.

Era isso que queriam? Parecia razoável. Até porque os seus apoiantes eram fazendeiros paternalistas das pampas e não capitalistas sem coração da cidade. Mas não só. O próprio Presidente vivia em plena ilegalidade, com uma mulher separada, para «escândalo» da sociedade. Vai daí, convidou os próprios vencidos a redigirem as leis que se propunham, mas bem feitas e sustentadas. A do divórcio (1907) levou dois anos a preparar, mas é considerada precursora em todo o mundo.

Voltando ao nosso Anjo da Morte. Em Junho de 1908, o matutino El Día publica uma magnífica caricatura de Ángel Falco, o poeta vermelho, que o mostrava vestido de preto, patilhas generosas, abundante bigode e farta juba, com duas bombas nas mãos, contendo cada uma o título de dois dos seus livros mais famosos, «Cânticos vermelhos» e «Vida que canta». O falcão assumira essa imagem, por exemplo num poema de 1905 no qual opunha à noite russa «a Aurora das bombas anarquistas».

O problema das palavras acaba por ser semelhante ao das bombas. Depois de serem lançadas, não é possível voltar atrás para recuperá-las. O mal está feito. No entanto, há uma profunda diferença entre as respectivas naturezas. O anarquista que lança uma bomba para o meio da multidão, procura o terror indiscriminado; o poeta procura convencer, e para isso aposta na vida do indivíduo e não na morte. Daniel Vidal sublinha o carácter antitético, neste caso, da passagem do escrito ao feito.

Ora já uma década antes, no mesmo diário, Batlle havia enfrentado esta questão, numa polémica lançada pelo então Ministro das Indústrias Eduardo Acevedo, no El Siglo de 8 de Dezembro de 1895, a que este respondeu no dia imediato, 9, voltando à carga dois dias depois. Interessante que se utilizem os termos de «inflacção retórica», para traduzir essa bombástica escalada, que parecia estar irresponsavelmente na moda. Era de temer que das palavras pudessem passar aos actos mas José não estava nem aí.

Por falar em bombas, o próprio Presidente seria vítima de um atentado, com um engenho explosivo composto por várias dezenas de cartuchos de dinamite, ao fim da tarde do dia 6 de Agosto de 1904, o qual explodiu (por precipitação do accionador) a poucos metros do coche que o transportava, com a esposa e dois filhos menores, escapando toda a família milagrosamente incólume. Ao susto dos seus o Presidente reagiu com uma grande calma, como se não fosse nada com ele.

Depois de tranquilizadas as crianças, dirigiu-se aos seus homens, pedindo para tratarem de o levar até à polícia, onde pretendia apresentar queixa. Nessa mesma noite, já perante o chefe interino da Polícia de Investigação Criminal, senhor Salvador Russo, responsabilizou-o pessoalmente não só pela vida dos ignobéis conspiradores, como também pela sua integridade física e moral, o que levou um artigo recente a sugerir que a síndrome de Estocolmo (1973) deveria antes receber o seu nome.

Acabou por se descobrir que os bombistas eram de duvidosa filiação, tendo recebido dinheiro para executar o diabólico plano. Os violentos activistas sofreram assim um rude golpe, ficando desacreditados, coisa que uma repressão cega não conseguiria, transformando-os em mártires. Vários foram os anarquistas que condenaram a tentativa de atentado, entre eles V. Garcia, que afirmou numa conferência que «seria incapaz de empunhar o punhal contra o mais liberal dos Presidentes».

Graças à sua coragem e determinação, o Presidente começou a ganhar o respeito dos seus próprios adversários anarquistas brancos (sobretudo italianos, um pouco à imagem dos sem abrigo, ou «descamisados» argentinos que Evita Péron perenizou) passando a notar-se uma inflexão no discurso destes, com uma maior contenção verbal, circulando a ideia de que se deveriam abster de usar «insultos grosseiros» e preferir uma linguagem «culta e razoável», chegando a auto-censurar-se.

Voltando a Daniel Vidal, este defende no artigo citado que a liberdade poética, implicando uma profusa liberalidade do palavreado, toma por escudo a metáfora. Pode mesmo servir para esconjurar um desfecho sangrento, verbalizando-o. Aparentemente, José Batlle compreendeu-o, mesmo conhecendo os riscos inerentes a uma semântica doutrinária que caía fora da alçada do bom senso. Daí ter tido a boa ideia de dividir as águas entre o escrito e o falado. Exemplar!

O chefe da polícia de Montevideo, Coronel Pereyra, foi instruído para ignorar pura e simplesmente as manifestações culturais, as declamações de poesia nos pontos de encontro anarquistas; mas, por outro lado, recebeu ordens precisas para fazer cumprir com a lei, e nesse contexto se dirigiu pessoalmente aos operários, numa manifestação realizada por ocasião do 1º de Maio: «Podem gritar todos os "vivas" que quiserem, no entanto, estão desde já terminantemente proibidos de gritar "morras"»!

O próprio Ángel Falco, que não tivera quaisquer problemas com a publicação dos seus «Cânticos vermelhos», onde escrevia «Povo, povo, que esperas? / Luta e mata e afoga aos teus senhores / no sangue de todos os teus martírios» acabaria detido no 1º de Maio de 1911, por ter publicamente classificado como «canalhesca» a intervenção policial contra alguns exaltados. Aquilo que pode passar por uma figura de estilo, por escrito, assume outro valor, quando dito de viva voz, alto e bom som.

Nem tudo pode ou deve ser posto no mesmo saco, em termos da instrumentalização bélica do verbo. A 22 desse mesmo mês de Maio, no contexto da convocação de uma Greve Geral, o propagandista Cândido Miguez apelou à queima de vagões dos caminhos de ferro, como em Barcelona; Carlos Casares disse que «abririam sulcos a dinamite nas ruas de Montevideo como o arado faz na terra» e Gregorio del Valle ameaçou «pisar a cabeça dos patrões como a reptéis venenosos». Todos acabariam presos.

Por outro lado, o Código Penal de 1889 prescrevia explicitamente que «quem ofender, de qualquer maneira que seja, com palavras ou com feitos, a honra, a rectidão, ou o simples decoro de uma pessoa, será castigado, ao arbítrio do Juiz, com prisão até seis meses, ou multa até seiscentos pesos». Há uma clara diferença de grau na pressão ideológica, quando se trata da incitação à violência e da passagem da ideia à açção: entre a leitura privada e a pública, entre o genérico e o pessoal.

Por isso é decerto preferível, o termo de activista cívico ao de militante partidário, o qual remete para uma linguagem militar. O activista age através da palavra. Obviamente aspira a conseguir extrair o máximo proveito possível para a sua palavra e as suas ideias, a convencer pelo debate. Mas só tem a perder em confundir-se com um militante, em tornar-se um fanático intolerante, como os exemplos que muitas vezes nos proporcionam os adeptos da bola quando envergam a camisola do seu clube.

Defende Daniel Vidal que «a conotação simbólica depende do contexto de emissão, o discurso poético e cultural neutraliza o insulto e a ameaça com o somnífero metafórico. Pelo contrário, a oratória política ou sindical potencia a sua virulência. A poesia fortalece as mentes, o discurso directo das ruas altera a ordem e a lei». Segundo Alberto Felde, no café Polo Bamba, «quando alguém produzia um discurso de RETÓRICA INCENDIÁRIA de praceta, valia-lhe por vezes a chegada da polícia e a prisão».

A retórica dos políticos guineenses, quando inflamada, excede por vezes os limites do bom senso. Mas a retórica da ONU não é melhor, pois é inoperante, estéril e vazia, sobretudo pela sua especial acutilância em ordem a países pequenos e aparentemente indefesos. Mas há que reconhecer que nunca na ONU se escreveu tão bem, como no passado dia 14 de Fevereiro: uma autêntica pérola, «instar os políticos guineenses a absterem-se de retórica inflamatória». A quem se endereçam?

Às facções em litígio, na aparentemente interminável crise política que mantém o país parado há quase dois anos? Aos dirigentes partidários que promovem o bloqueio das instituições? A Guiné-Bissau tem tudo a ganhar em olhar para o exemplo uruguaio de há pouco mais de um século atrás. Uma das batalhas de Batlle foi contra os governos inclusivos que herdara, pois achava que os membros que os integravam deveriam ser responsabilizados pelos seus actos e pelas suas omissões.

Mas, por outro lado, tudo fazia para fiscalizar os seus próprios partidários. Quando os seus adversários quiseram bloquear a sua legitimidade, chegou a dar instruções aos coloridos para votarem nos socialistas. O primeiro deputado destes, Emilio Frugoni, foi eleito dessa forma, como se pode ler num artigo postado no FaceBook. A sua curiosa engenharia eleitoral pode parecer contraditória, mas teve o seu sucesso. Muitos anarquistas seus adversários acabariam como diplomatas no exterior.

Acreditava que as maiorias legislativas deviam ser cuidadosamente passadas ao crivo e vigiadas, para conservarem a legitimidade obtida nas urnas; e ninguém melhor para isso que as minorias calejadas no pensamento e na acção. O próprio Eduardo Acevedo, já citado, perante a recusa do seu Partido em autorizar aos seus militantes participar da fórmula fiscalizadora, e aceitarem as bancas oferecidas, fez o elogio de Batlle, considerando-o como «o mais avançado da América Latina».

Hoje em dia, na América do Sul, o Uruguai é o país com o maior Índice de Desenvolvimento Humano, com a melhor qualidade de vida, com menos desigualdades sociais medidas pelo Índice de Gini e o maior PIB per capita e ainda, segundo a Transparência Internacional, classificado como o menos corrupto desse mesmo continente. O país é conhecido por ser pioneiro em medidas relacionadas com direitos civis e democratização da sociedade, como o divórcio e o direito de voto feminino.

Ultimamente, mantém intacto esse prestígio, tendo legalizado o cultivo, venda e o consumo de canábis, o que levou a revista britânica The Economist a classificar o Uruguai como o país do ano de 2013, pela promoção de «reformas inovadoras que não se limitam apenas a melhorar um país, mas que, se imitadas, poderiam beneficiar o mundo». A Reader's Digest também classificou o Uruguai como o nono país «mais habitável e verde» do mundo e o primeiro em toda a América.

A Guiné-Bissau tem condições para dar um grande salto para a frente. Os guineenses, que durante muito tempo mantiveram um impressionante nível de analfabetismo, foram alfanumerotizados em pouco tempo, graças à sua pioneira adesão às novas tecnologias da comunicação, aos telemóveis, à internet. Reconhecer os bons exemplos do Uruguai, o qual em tempos se encontrava em condições semelhantes de impasse político, de «retórica inflamatória» e à beira de um ataque de nervos, pode ser uma boa política.

A Guiné-Bissau teve o seu chefe de guerra com Amílcar Cabral, que lhe deu prestígio internacional. Precisa hoje de líderes de paz e tolerância à altura de José Batlle. Contribui tu também: quando vires a hipocrisia, a corrupção, a mediocridade, a intolerância, a inveja; combate-lhe com Batlle!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Lacerda volta a atacar

Rabo escondido com gato de fora. Finalmente, vem-se a perceber que os amigos de Costa e os amigos de Passos Coelho são todos farinha do mesmo saco. À imagem do que fizeram com falso resgate do BAO na Guiné-Bissau, usaram do mesmo expediente para colocarem os portugueses a pagar o buraco na Caixa, que serviu para se financiarem à grande e à francesa, nas suas inconsistentes masturbações maçónicas. E quem aparece, movendo-se na sombra do Primeiro-Ministro? Lacerda novamente, no Golpe, para não variar. A hipocrisia e o cinismo abrangem toda a «sociedade política», que usou e descartou uma equipa de gestão, deitando-lhes um falso tapete, apenas para mais depressa se livrarem dela, depois de cumprida a função que dela esperavam. Quanto ao editor da SIC, tem razão naquilo que diz, mas poupe-nos à vaidade de pretender ter inventado a pólvora! Só não via quem não queria: finalmente retirou a trave que tinha no olho, mas não se gabe tanto, não convence ninguém que seja assim tão, tão, tão, tão pioneiro.

Depois do cancelamento da «garantia soberana» que afundou o BES, quem volta a estar em destaque nos calotes da Caixa e suas redes de beneficiários? Isabel dos Santos, através não só da EFACEC mas de todas as outras ligações, mais ou menos camufladas sob estruturas de sociedades em cascata e de participações cruzadas; ou Sobrinho, do grupo DN... As carecadas começam a aparecer à luz do dia. Interessante é que as revelações da imprensa portuguesa só surjam no contexto já desesperado da falência angolana [Isabel admite em conferência de imprensa a falência da Sonangol], a quem os senhores arquitectos do vento e da espuma do mar se expuseram furiosamente, numa submissão canina que hoje, que a denunciam, parece àqueles que o fazem já há muito tempo, bem tardio. Andavam distraídos? Prognósticos, só depois do jogo acabado? Em equipa que ganha não se mexe? O resultado da sua necedade está à vista...

Depois dos inebriantes «fumos das Índias» que empobreceram o país, o herdeiro dá um tiro no pé e amputa o Brasil, o Marquês de Sá da Bandeira vira o país para África, onde o capital colonial acumulado seria século e meio depois violentamente delapidado em pouco tempo (ao contrário do que fizeram outras nações de descolonização mais precoce). No entanto, não satisfeitos, voltaram «em força» para Angola, sujeitando-se a uma humilhante inversão de papéis. A farsa chegou tão longe no faz de conta, que há uma forte propensão para entrar em negação, como o Kwanza de José Eduardo dos Santos, que, apesar da ligeira recuperação do preço do petróleo, deverá desvalorizar no mercado informal para os 1000Kw por dólar (ou mais) na primeira semana de Dezembro, mas continua a afixar o inalterado e fantasioso câmbio oficial de 165 por dólar. A distorção da realidade atinge uns absurdos 600%, meia dúzia de vezes!

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Vaca fria dá à luz nado-morto

O Presidente não está mesmo bem do côco: com o siso oco, embalou na direcção errada. Desperdiçou o seu último cartucho ingloriamente, numa figura sem qualquer possibilidade de reunir o consenso social mínimo. Uma tomada de posse de enterro, sem uma palavra, sem ninguém. Um estado de graça que nunca começou. Um verdadeiro tiro no pé. Assinando o decreto da sua própria demissão não faria melhor: viola a constituição, legitima os seus actos «soberanos» com um «roteiro» exterior, chegando ao cúmulo de demagogia de pretender que o seu governo «inclusivo» (que o PAIGc aliás, já condenou) é «expressão e emanação da vontade popular». Jomav não sabe o que faz nem sabe o que diz. Já nada lhe parece poder aproveitar.

De golpe em golpe...

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A grande farra

Até há bem pouco tempo (exceptuando «assassinatos» pontuais de mentirosos e hipócritas como José Niza) a política portuguesa era tabu, neste blog. No entanto, o descaramento de Lacerda, ao insultar a inteligência dos guineenses, veio alterar as coisas.

O Observador está de parabéns, pela investigação de fundo à crise financeira nacional, especulada pelos medíocres e irresponsáveis «gestores» da banca. Apesar de, inevitavelmente, bastante longo, merece ser lido com toda a atenção este artigo.

Não se trata apenas da banca, mas da falência de um país, sob os olhares coniventes de uma classe política cega, anti-patriótica e corrupta, abusando da inércia e incúria de um povo manso e crédulo, para fazer vingar todo o género de chico-espertices.

Tive a felicidade de ter por Mestre a Leonardo Ferraz de Carvalho, com quem mantive pessoalmente (infelizmente morreu prematuramente, envenenado por esta gentalha!) muitas conversas sobre a realidade deste género de carapaus de corrida.

Não se fartava de avisar, no início dos anos 90 para os perigos da mentalidade de farra que se gerava. Pregava no deserto, como se viu. Apenas o Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles comentava ou dava feedback, daquilo que publicava no Independente.

Vou contar uma história pessoal, pois julgo que a ocasião o merece. Na viragem do milénio, eu era quadro do INE empenhado numa renovação técnica e tecnológica do Instituto, através de um Gabinete de Estudos e de um Grupo de Trabalho inter-regional.

Tendo tomado o gosto à investigação de todas as áreas, decidi abordar a área financeira, que era uma área tradicionalmente reservada, pela sua sensibilidade política e por ser «apropriada» pelos pseudo-tecnocratas monetaristas do Banco de Portugal & afins.

O que despoletou a minha pesquisa, foi um certo escândalo que se gerara, perante a introdução do euro, ao descobrir que a dívida pública tinha triplicado, em pouco mais de década e meia, desde que a Banca nacionalizada em 1975 começara a ser reprivatizada.

Era a primeira campainha de alarme. As estatísticas regionais, ao permitirem publicar uma maior desagregação geográfica, colocavam a nu muitas verdades e manipulações. Em termos de informação financeira, a banca privada fornecia dados da dívida.

Ora se, grosso modo, o défice público triplicara entre 1985 e 2000, consegui reunir dados que mostravam que a dívida privada aumentara exponencialmente mais. Ou seja: até 1985, a dívida total era a dívida pública. Depois, à pública, era preciso somar a privada.

Cheguei pois à inevitável conclusão de que a banca preparava uma insustentável farra, com a cumplicidade europeia. Estavam a «descontar» já a capacidade de financiamento que uma moeda forte haveria de proporcionar. Uma «aposta» especulativa no Euro.

Se havia uma certa polémica, com as pessoas escandalizadas, face ao discurso «futurista» do Euro e da União Europeia, qual a razão desse triplicar da dívida? Num país habituado às poupanças, à estabilidade monetária do ouro de Salazar...

Os alemães inundavam a banca portuguesa de dinheiro. E do oito passou-se ao oitenta. De um país de poupanças, passou-se, numa geração, a um país crivado de dívidas. Um país rico de gente pobre que se tornou num país pobre de gente «rica».

Os dados permitiam mostrar que a dívida privada era já, por essa altura, cerca de sete vezes a dívida pública, e ninguém parecia prestar qualquer atenção aos dados de base, todos encantados com o canto da sereia, ou melhor da senhora Alemanha euro.

Se a dívida privada era sete vezes a pública, a dívida total não triplicara, multiplicara por 21! (7x3) Claro que me pareceu algo de assustador, mas que deveria ser publicado. Comecei a trabalhar na parte gráfica, produzindo tabelas e gráficos adequados.

Entretanto, para além de outros dissabores, sou chamado à Direcção, pelo Vice, Engenheiro Chambel, eminência parda do sistema, para uma reunião. Dá-me conta que tomara conhecimento do trabalho em curso, que já encaminhara para quem de Direito.

Fiquei muito surpreendido, por saber de um interesse tão actual da Direcção no trabalho desenvolvido, até que, depois de uma conversa descontraída e de «alto nível» de inteligência da situação, me atira com: «tem a noção do que é a confiança sistémica»?

Claro que fiquei logo esclarecido do que me esperava. Tratava-se de esquecer o trabalho e, sobretudo, nem pensar em «transpirar» para fora. Sendo do quadro, estava abrangido pelo «sigilo estatístico». Contestei. Também tinha (supostamente) «autonomia técnica».

Acabariam rapidamente por me colocar na prateleira. Recusei ficar sem funções e revoltei-me contra todas as imposições que considerava ilegítimas. Fui eu próprio a bater com a porta. Os dados eram semi-públicos. Poderia ter publicado o trabalho.

Mas para quê? Farto de ter partilhado o estigma de «profeta da desgraça» lançado sobre Leonardo Ferraz de Carvalho com os seus prudentes avisos, sabia que rapidamente seria desacreditado, e até me tentariam humilhar «pseudo-tecnicamente».

Ou simplesmente ignorariam, já inebriados com os odores da farra em preparação. Não. Não me armaria em «desmancha-prazeres». O tempo confirmou todos os receios, mostrando que o não questionamento nos conduz como ovelhas ao matadouro.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

A fala do umbigo

Domingos Simões Pereira incita subrepticiamente à violência, não restando dúvidas de que é uma ameaça à segurança nacional. Deveriam ser tomadas providências, apesar do vazio governativo, para inibir o senhor de atentar contra a paz interior, arrecadando-o atrás das grades. O PAIGc está a um passo da extinção.

Como é possível ignorar a este ponto o 7 de Junho? Então «a Guiné-Bissau vive a mais profunda crise política e institucional jamais registada desde a implantação da democracia multipartidária»? Passe a vaidade de a ter produzido... Sendo sua, torna-se numa obra-prima, claro! É subestimar aqueles, igualmente maus, que o antecederam! Então e Nino, não teve profundas crises institucionais? E Cadogo, não as teve também?

Dois coelhos de uma cajadada: minimiza 1998 e banaliza a ameaça da violência que quer sugerir nas entrelinhas. Não satisfeito com essa barbaridade, ainda tem tempo para assumir publicamente aquilo que os mais atentos já tinham percebido, a manipulação da franja manifestante que apelida por «Sociedade Civil».

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Funcionários desmarcam-se dos deputados

Defendendo que «os deputados não constituem o total dos funcionários da ANP», estes ameaçam com paralisação. Mas como pode algo que já está paralisado, paralisar? Para alisar o busílis, talvez fosse melhor uma manifestação, contra o instigador da situação em que se encontram, ao paralisar a instituição e o país.

Apito colorido

Há que felicitar o «Movimento» pela sonora ideia de distribuir apitos coloridos para assinalar os beneficiários da folha de pagamento da «Manifestação». Tal como no dia 5, as mulheres contam-se pelos dedos de uma mão. Subiu o assobio (se ainda tiverem folgo para isso), vaiando o falhanço.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Desafio das diferenças

Se encontrar mais de uma dúzia de pessoas diferentes, entre as duas fotos, temos um suborno à sua espera.


Depois do fiasco da manifestação, da desacreditação da organização, o comanditário insiste na fuga para a frente, renovando o desafio e escalando no discurso, agora com a novidade de se dirigir expressamente às forças da ordem em termos ofensivos, decretando ainda  para Sexta-Feira de manhã o «recolher obrigatório», com restrição de trânsito e imposição de fecho de portas a escolas e comerciantes. Lamentavelmente, o evento não passará de mais um nado-morto, a juntar ao outro flop. Uma prova de força, nesta altura? É não ter a mínima noção da realidade e da «representatividade», que decerto terá o mesmo inapelável castigo.

Luís Nancassa desautorizado e acusado de suborno para aderir à manifestação

Luís Nancassa, que preside aos destinos do Sinaprof, Sindicado dos Professores, e envolveu a sua organização na malograda manifestação de Sábado contra Jomav, foi desautorizado pelos seus correlegionários, acusando-o de suborno (esqueceram-se de colocar o dedo na ferida e desmascararem por quem!). O Sindicato não participará em mais manifestações, concentrando-se na sua vocação, a defesa dos interesses de classe dos professores, e nas formas tradicionais de luta, as greves.

É o fim da macacada e a pública prova, se é que ainda era necessária, do envolvimento encoberto de DSP no domínio da «acção cívica», esgotado o seu contributo partidário. Gato escondido com o rabo de fora.

PRS 2 - PAIGcv 1

Sou o triângulo que caio redondo nos ângulos do quadrado.

O PAIGcv só aceita Olivais; o PRS os outros dois. É o triângulo das Bermudas: o consenso engoliu os candidatos e terá de ser resolvida a quadratura do círculo.

Faz lembrar uma expressão um pouco tenebrosa de C.V.:

«Amo insensatamente os ácidos,
os gumes
e os ângulos agudos».

A barganha da vergonha

O PAIGc diz que se Jomav não escolher Olivais, estará a desrespeitar Conacri? E que dizer do PAIGc, ao pretender condicionar o Presidente, insistindo num nome que não propuseram em Conacri, violando todo o espírito do mesmo? Porque manda DSP recados por um vice-Presidente do Partido, sabendo que há um outro por reintegrar, ao abrigo do mesmo acordo?

O PAIGc já deu provas mais do que suficientes, aliás concludentes, que não tem alternativa para oferecer. Não sendo já possível ao Presidente recuperar o acordo, perante o beco sem saída no qual o bloqueio de DSP o quer encurralar, resta-lhe digno retorno à constituição, convidando o PRS a formar governo, fundamentando a sua decisão na incompetência manifesta.

Já BASTA de beneficiar o infractor!

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Quando os outros decidirem ser nós vai pegar fogo

Obrigado manos Ikopongo. Concerto revú proibido ontem e transmitido hoje pela internet, à mesma hora.
Algumas frases soltas [entre 25' e 30'] para consumo interno e exportação.


Que porra de país sem perspectivas! O que estamos a fazer com uma constituição atípica? Constituição? Não serve para nada! A constituição é uma merda. É um livro, que é para queimar, rasgar. Queima essa brincadeira! Se vocês perderem o pão e não derem a cara? Vivemos na corda bamba, sustentando a farsa. E se o mambo ruir? É a vossa acção que nos ampara. Agora pára, pensa um pouco, o coração dispara [diz pára!]. Que vais fazer, virar a cara? Virar a cara é tradição aqui na banda...

Voltar à estaca zero

Em qualquer processo de orientação, caso se ande muito à nora, há sempre essa possibilidade radical, aliás a última novidade em drones: a função back to base. O Presidente parece anunciar o enterro dos acordos de Conacri e o arranque de um novo processo participado de nomeação para a chefia do Governo de sua confiança, descartando os 3 nomes em carteira e relançando o debate, ao reconvocar as «forças vivas da nação».

Lês-me o lema do Lesmes?

Três tristes tigres. Três tristes tigres. Três tristes tigres...

O rato ruiu a rolha da garrafa do palácio do rei da prússia

Enfim, a formação é importante, mas quando a cagança começa a ruir, pode roer toda a estrutura. Acultura Sul...

sábado, 5 de novembro de 2016

O indesejado

A arrogância do pretendente deu lugar à angústia do preterido. DSP queixa-se de um pacto contra si? Será que vale a pena continuar a armar-se em vítima, quando o povo mostrou estar já farto das suas desventuras, boicotando as suas DeSesPeradas inventonas? «Já sabíamos que o PAIGC fabricava satélites em série, para fins partidários, tentando cobrir todo o espectro político a seu favor (o último parece ser a APU, expressamente dedicado a esvaziar o PRS). O que ainda não sabíamos, até ontem, é que também inventavam «Movimentos de inconformados»... Foi o próprio quem fez com Cassamá um pacto contra o povo e contra a soberania nacional, para impedir o funcionamento da ANP e bloquear o país. Não queira virar o bico ao prego; é tempo de parar e analisar com serenidade os «resultados» obtidos.

Vergonha nacional


"Líderes" ( aparentemente) de um país soberano alinhados tipo meninos de escola que se portaram mal!!!! O pior disto tudo é que eles mesmos não vêm isso. 

Francisco José Gomes Fernandes

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Nhamadjo desafia DSP

Serifo Nhamadjo, mesmo reconhecendo a eventual boa fé de Jomav, no intuito de conseguir uma rápida mudança de atitudes em relação aos dinheiros públicos, critica-o por ter colocado o carro à frente dos bois. Detentor de uma legitimidade «democrática», ou seja sistémica, (que o próprio Serifo não tinha), acusa Jomav de cuspir no prato que lhe deu de comer, reclamando outra ordem de legitimidade: não possuindo qualquer currículo em termos de legitimidade «revolucionária», restar-lhe-ia o carisma pessoal, mas não se pode afiançar que o tenha conseguido.


Qualquer leitura apressada poderá cair em erros de interpretação, facilitados pelo bombástico (se bem que parcial) título. Serifo não está a dizer para «devolver o poder a DSP». Está a dizer precisamente o contrário. Devolver os 15 ao PAIGC é, como os próprios já trataram de esclarecer, pedir a demissão de Domingos, promover para a direcção alguém (como Serifo, por exemplo) com competências relacionais à altura do desafio da sobrevivência do Partido, face ao cansaço e insatisfação cada vez maior da população em relação à classe política por este moldada.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Caçar & cassar

Rima mais é com Cassamá, que é preciso caçar e cassar das suas funções. Quando o povo despertar, não será a mando dos manipuladores do costume. E cuidado, pois é muito provável que não se contente com um, senão com todos a arder na mesma fogueira, os principais actores e autores. Quem tem rabo de palha, não brinca com fósforos. Não vá o feitiço virar-se contra o feiticeiro!

terça-feira, 25 de outubro de 2016

D. Lacerda Versus D. Lacerda

Domingos contra Diogo... Mais elementos sobre o resgate criminoso de Domingos Simões Pereira.

domingo, 23 de outubro de 2016

Violento ataque da Síndrome de Mana Madó

Diogo Lacerda Machado, Presidente do BAO, Banco da África Ocidental, que até aqui, preferia o anonimato e a discrição,

«Lacerda Machado é daquelas pessoas que não gosta de aparecer e que não se põe em bicos de pés para ganhar protagonismo — ao qual é avesso e que sempre deixou para António Costa»

parece ter sido acometido de uma fúria mediática, oferecendo-se, nos dois últimos dias, em notícias sobre a «jóia» guineense da «coroa» GeoCapital, a sociedade detentora da maioria do capital social (dos quais 24% adquiridos em 2007 ao Montepio Geral) desse Banco operando na Guiné-Bissau. De repente, virou one man show. Ou seja, virou mana madó, no vocabulário da «banda» (alguém que faz tudo por aparecer, sem medir os contextos, nem que seja pelas piores razões), calão que decerto desconhece, embora se gabe de «conhecer toda a gente em Angola».

Efectivamente teve lugar no dia 20 de outubro, pelas 14h30, no Auditório Agostinho da Silva da Universidade Lusófona, a conferência "Guiné-Bissau – A Porta de Entrada da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental", com o apoio da Câmara de Comércio e Indústria Portugal / Guiné-Bissau, a Embaixada da Guiné-Bissau em Portugal, a Universidade Lusófona e o Observatório Lusófono de Atividades Económicas, da RTP África e da AICEP. Para quem foi o destaque? Para as mediáticas declarações de Miguel Lacerda à LUSA, retomadas pela DW, de forma deveras curiosa:

«Além da ONU, o presidente do Banco da África Ocidental (BAO), o maior banco na Guiné-Bissau, também se manifestou em relação à situação do país, considerando que o povo guineense "merecia outra elite política".»

Quem é este senhor, que se julga um exemplo de «elite política»? O senhor pro bono. Que trabalha benévola e gratuitamente para o actual Primeiro-Ministro (e que gosta de ser percebido como puxando os cordelinhos da marioneta e fazendo andar a geringonça lá pelas maçonarias, mesmo estilhaçadas pelas diversificação das filiações tradicionais, legais e simbólicas). Agindo em alcateia, gente que não ama Deus nem ao povo, senão seus próprios interesses e de sua seita, julgando fazer do Banco Moza arte e de Portugal seu jardim privado. Governam estes senhores Portugal quase ininterruptamente há mais de dois séculos e vê-se o miserável estado a que chegou o país.

Ou seja: sempre foi o Costa a fazer os recados ao Diogo, pois este gostava de ficar na sombra. É realmente comovente alguém que ajuda o Estado por caridade e a quem não repugna invocar publicamente um abnegado «espírito de serviço público». Talvez não haja condecoração à altura, para tão esforçado contributo. Entrara para Secretário de Estado da Justiça, quando Costa assumiu a pasta, no Governo Guterres (1999), e esteve entretanto ligado a múltiplas negociações, estando a ser investigado pela PGR, no âmbito de um desses trabalhos «gratuitos» em que a GeoCapital recebeu um prémio de mais de 4 milhões, a recompensar um negócio ruinoso. Para além disso, para quem ainda tem o descaramento, como o Primeiro-Ministro, de defender que podia poupar os dois mil euros brutos do contrato que lhe fez para calar o seu bloco de apoio político, é difícil explicar o pagamento de 170 000 euros (apenas nos dois primeiros meses do ano) ao seu escritório de advogados... Operador fantasma, ganha a vários carrinhos... Enfim, uma grande confusão, entre a esfera pública e a privada. Quase que nos faziam voltar a acreditar em almoços gratuitos!

Lacerda passou pelo grande Oriente lusitano, Macau, de onde veio, no início da década de noventa com a ideia de que a China iria despertar. Traz na bagagem a visão de uma agência de investimentos vocacionada para encaminhar investimentos chineses para os PALOP, que partilha com Jorge Ferro Ribeiro, e com o famoso investidor macaense Stanley Ho, o qual deveria garantir a consistência financeira do projecto GeoCapital, que se apresentava como um interlocutor privilegiado graças às suas conexões políticas. Ou seja, o capital de que se recomendavam era essencialmente político (traduzindo para leigos : tráfico de influências), o que se pode constatar pela quota de 5% detida por Almeida Santos, medíocre maçon dos quatro costados que dispensa apresentações. Atente-se que, tal como na conferência supra-citada, o pretexto é a «porta de entrada em África». Há rotinas que dificilmente mudam. Ainda segundo a mesma fonte,

«A Geocapital investe em Macau, em Portugal e nos PALOP, e detém as participações nos bancos africanos onde Diogo Lacerda tem altos cargos. Desta empresa fazem ainda parte outros nomes conhecidos da política e dos negócios. Caso de João Silveira Botelho, antigo chefe de gabinete de Leonor Beleza e membro do conselho de administração da Fundação Champalimaud; ou de Alípio Dias, ex-secretário de Estado das Finanças, do Orçamento, ex-deputado do PSD e antigo administrador do BCP, condenado, em 2014, a quatro anos de inibição do exercício de funções bancárias, no caso das offshores do banco de Jardim Gonçalves.»



Uma pequena pesquisa, permite constatar que apenas os investimentos em Cabo Verde se mantém aparentemente saudáveis. Da gabarolice em Angola (corrupção na Sonangol) só cinzas. Também em Moçambique, as conclusões da investigadora Ana Cristina Alves, no seu livro de 2012 A Mamba e o Dragão já não permitiam dúvidas quanto ao «fracasso da iniciativa», nas palavras da autora:

«Apesar de toda a publicidade e das elevadas expectativas geradas, (...) nenhum dos mega-projectos anunciados se materializou (...) A Geocapital entrou com grande estrondo no mercado sino-lusófono, sobretudo pelo perfil do capital politico que estava por detrás da iniciativa e pelas promessas de investimento de larga escala, mas com o passar dos anos tornou-se evidente que o vigor inicial da Geocapital acabou por se esfumar (...) Esta iniciativa confiava em grande parte nas redes pessoais e no conhecimento local, ligações políticas com o partido no poder. A grande mais-valia da Geocapital era sem dúvida o capital politico – guanxi – com as elites governantes…»

E na Guiné-Bissau? Como nasceu o BAO? Aparentemente, foi o «património» do próprio Nino que esteve na sua origem, em 1997. Abertura à democracia, abertura à iniciativa privada, adesão ao CFA... parecia justificar-se. Era necessário um testa-de-ferro: Cadogo. No entanto, o Banco só viria a abrir as portas no segundo trimestre do ano 2000, já perante um cenário político completamente diferente, vindo mesmo a ser o único a operar no país em 2002. Por essa altura, ninguém imaginaria que Nino voltaria ao poder. Daí Cadogo ter ficado nominalmente com a parte do leão, entre outras participações camufladas de empresas suas, que depois alienou parcialmente à GeoCapital a partir de 2005, tal como o faria o Montepio, primeiro parceiro de Cadogo. Acabando Carlos Gomes Jr por manter apenas cerca de 20% das partes de capital (a que se deveriam somar um pouco mais de 3% de um seu homónimo e progenitor, que viria depois a envolver-se em pouco edificantes cenas com o filho a propósito do negócio, acabando expulso do Conselho de Administração).

Mas voltando aos grandes projectos financeiros para Macau (Banco, etc), que era supostamente a base da iniciativa, parece que, aos jornalistas portugueses que em Abril exploraram o caso Lacerda, terá escapado um artigo essencial, que nos informa que a GeoCapital perdeu todos os seus funcionários e escritórios em Macau há já quase um ano, por falta de pagamento (nalguns casos desde Agosto de 2014). Pelos vistos, a elite financeira macaense desinteressou-se, devido à medíocre qualidade e péssimos resultados apresentados pela maçonaria portuguesa, e deixaram cair o projecto, no qual restaram apenas, como participações resistentes, a Caixa em Cabo Verde, o BAO na Guiné-Bissau e o Banco Mais em Moçambique (a anterior participação no Banco Moza fora vendida à filial africana do BES, com ela indo a enterrar: ficou a pertencer ao Novo Banco a 49% mas foi precisamente hoje noticiada a intervenção do Banco Central e a suspensão da administração).

Tudo isto para voltarmos às declarações proferidas pelo novíssimo mana madó cá da banda CPLP e publicadas este Sábado, quase um dia depois das anteriores, na mesma agência noticiosa, para quem parece não ter estado mais ninguém na referida conferência. Declarações completamente demagógicas e hipócritas, constituem pura mentira. Façamos a lista, para além, claro, das já habituais sobredimensionadas expectativas:

1) «o que se passou não foi um resgate financeiro, nem um 'bail-out' nem um 'bail-in'; o que aconteceu foi uma operação financeira que permitiu salvar a maioria dos empresários da Guiné-Bissau da falência, não os bancos» Ah, se os clientes não pagarem, os bancos sobrevivem? sim, sim, e também há almoços gratuitos à la carte todos os dias, mas apenas para quem pertença ao PAIGC (todos os perdões foram para a gente do Partido no «poder»).

2) «os acionistas do BAO, o maior banco a operar no país, até já tinham acordado realizar uma operação de aumento de capital para acomodar as perdas no balanço» pois, pois, tal como o fizeram em Macau... e donde viria o dinheiro? muntruss!

3) «a operação lançada pelo Governo em 2015 de cedência parcial de crédito e de financiamento ao Tesouro foi essencial para impedir o colapso do país no seguimento do golpe de Estado, em 2012.» Então o terem pago em 2015 o prejuízo de 2012 foi retroactivo e permitiu evitar o colapso três anos antes? ok! e o Governo não cedeu crédito ao BAO, quem o fez foi o BAO ao Governo (esqueceu-se, claro, de acrescentar o «mal-parado»).

4) «O dia escolhido para o golpe de Estado foi o pior possível, porque nessa quinta-feira, 12 de abril, era o dia de maior exposição dos empresários» sim, claro, era uma data fetiche (como a quinta-feira negra! de 29)

5) «A economia da Guiné-Bissau ia simplesmente acabar porque os dois bancos teriam de executar a dívida dos empresários, confiscar os ativos e a própria comissão bancária sabia que era um absurdo, porque íamos matar todos os empresários porque nenhum tinha capacidade para pagar de volta» Pretensioso! Visão apocalíptica... então a economia ia acabar sem os seus serviços! eheh... é não ter noção de economia nem da realidade e que a «bancarização» é rudimentar na Guiné-Bissau... e executar a dívida aos empresários? Se a banca em Portugal, não consegue! São processos morosos na Justiça. Tente imaginar-se a eficácia da medida em Bissau.

Para além disso, ainda tem tempo para se contradizer, «do ponto de vista do Balanço era neutro» (ver ponto 2 «acomodar perdas no balanço»). Ah... está-se a ver a qualidade do banqueiro. Está pura e simplesmente a sugerir que bastaria manter as dívidas (fazendo de conta que não eram incobráveis), enquanto ninguém descobrisse... E parece que os guineenses lhe devem um profundo agradecimento por não terem passado fome. O abuso vai ao ponto de desmerecer as contra-indicações do FMI, afirmando que 6 ou 7 milhões não chega para coisa nenhuma? Para além de banqueiro, também é Ministro das Finanças? Pobre e mal agradecido! Salvo in extremis pelos bandidos e ainda caga de alto?

Persona non grata!

PS E já agora, como português: o povo português também merecia outra elite política!

sábado, 22 de outubro de 2016

BAO BABa-se


O retorno de Cadogo em perspectiva? É o que parece, ao atentar nas declarações saudosistas do Presidente do Banco da África Ocidental, de imediato retomadas pelo Jornal de Angola da colaboracionista LUSA. Não confundir a elite política com o PAIGC, a contra elite. Diogo Lacerda não deveria andar a esconder-se do PGR português, em vez de andar a cantar de galo? Amanhã, dossier completo. Revelações surpreendentes. Citando o Bambaram di Padida (link à direita) o povo guineense merece outra «elite» bancária.

Pacto com o Diabo

Pelos vistos, há uma contaminação com o vírus Domingos. Não bastava um (DSP e mais nenhum), em Conacri apareceu outro, o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros angolano, e agora, ficamos a saber que, afinal, lá estava outro ainda, o padre da Fonseca.

DSP tinha montado para sexta mais uma peça do seu enredo de mentira e manipulação pro-Olivais, com um Agnelo Regala, do satélite PAIGC União para a Mudança, patético a rezar a pés juntos de que se teria chegado a consenso em Conacri, mas que foi guardado segredo...

Mas a «Sociedade Civil», que também esteve em Conacri, já se antecipara a tal absurdo (o seu líder decerto não esqueceu o vexame que DSP lhe fez passar obrigando-o a dar o dito por não dito). Lembre-se que o mesmo também desaconselhava um governo inclusivo.

[Embora Umaro Djau se tenha insurgido hoje contra esta fragmentação anti-constitucional, neste caso, foi útil ter mais testemunhas de um processo político enquinado; ler também artigo de Nataniel Sanhá, no mesmo site, sobre este déficit de soberania popular]

A RDP, como sempre o faz, alinhou sem vergonha no jogo de DSP. A forma recorrente e politicamente intencional como este jornalista usa a sua suposta «imparcialidade» deveria ser objecto de um aturado caso de estudo deontológico, de tão «exemplar» que é.

Mas o que mais choca são as declarações do Padre Domingos da Fonseca, insistindo na mentira e «triste» com a crua verdade apresentada por Jorge Gomes. Se mentir, por si, já é feio, senhor padre, fazer um pacto com o Diabo, em torno de uma tese cabeluda, é pior.

Não serão «bloguíces» mal amanhadas colocando tudo no mesmo saco e tentando confundir as pessoas que vingarão. Não são «duas opiniões contra uma», como tentam apresentar os confusionistas, mas sim de mais uma conspiração do DeSesPero do PAIGC & acólitos, Lda.

Fica mal, como apontou o mano Didinho, que se diga que a Guiné «já tem NOVO Primeiro-Ministro», quando o Presidente afirmou que ainda não encetou o processo, informando o anterior. Ainda para mais a um ex-Ministro da Comunicação Social, que deveria ter mais tento...

DSP, costumeiro das manobras dilatórias, pretende ganhar tempo, na vã esperança de provocar uma ruptura no seio do «grupo dos 15» (consagrado pela «Cimeira» de Conacri), apostando numa eventual azia de Baciro. Mas Jomav parece querer fazer as coisas como deve ser.

Aliás, o pretenso «consenso» baseia-se em pontos contraditórios entre si, como esse dos 15, que deveriam reconstituir a pseudo-maioria. Para cumprir o acordo será portanto necessária uma grande dose de bom senso. Não há consensos «à pressão»: para quê repetir os erros?