segunda-feira, 30 de março de 2015

Carta da Liga ao PGR angolano

Dos dois casos apontados pela Liga guineense dos Direitos Humanos em Carta Aberta ao Procurador Geral da República de Angola, destaco o da jornalista Milocas Pereira, por este assumir graves contornos políticos. De facto, esta tinha partilhado com amigos chegados que andava a ser perseguida por causa das suas opiniões em relação ao papel de Angola na crise que conduziu ao contra-golpe de 12 de Abril de 2012. Segundo certos rumores, consistentes com esse contexto e nunca desmentidos, Milocas teria ido ao Palácio Presidencial, havendo memória auditiva de uma grande discussão... nunca mais tendo sido vista desde aí. Ordens directas ou indirectas (com os seus esbirros a quererem fazer um «favor» ao chefe, livrando-o de um fardo incómodo)? De facto, nesse caso, pouco interessaria, pois a responsabilidade é inequivocamente de um só. A ocorrência é reveladora do espírito estalinista de José Eduardo dos Santos, na forma de lidar com a opinião alheia (não suportando aqueles que ousam dizer-lhe a verdade, nua e crua, de frente, olhos nos olhos). Qual é a legitimidade alienígena e amoral que José Eduardo dos Santos se arroga sobre a Guiné-Bissau, para mandar matar assim uma das suas filhas, por divergências políticas sobre a sua própria terra? Pede informação e conselhos e depois agradece condenando à morte, porque não lhe agradam as conclusões? Nem que tudo se viesse a revelar fruto de especulações infundadas, a Justiça angolana deveria investigar... Passaram três anos, nada foi feito. Em aNGOLA, a jUSTIÇA, tal como o poder, só funciona em sentido descendente.

sábado, 28 de março de 2015

Operação de limpeza

Mantenhamos a higiene no ciber-espaço guineense.

Má fama

Gostaria de apelar à comunidade guineense de blogs, para que se acabe de vez com os insultos, ofensas gratuitas, linguagem imprópria, difamação e calúnia. Os recentes acontecimentos reforçam a ideia, que já não é nova, de que é necessário fazer algo para disciplinar a má imagem que podem dar do país as intermináveis e estéreis querelas entre uns e outros. A verdade é que, como já defendi, julgo que a Guiné-Bissau tem uma vitalidade excepcional e precoce, se considerada no seu contexto regional, na apropriação de um espaço de opinião e participação virtual. Sem dúvida que mereceria transformar-se num caso de estudo para o Blogger: até o Governo é alcunhado de «Facebook».

Gostaria de comparar o actual panorama com a situação há pouco menos de duas décadas atrás. No «princípio», a internet era essencialmente concebida como um imenso espaço para o exercício da «liberdade» sob anonimato. Evidentemente que, nesse contexto, surgiam muitas coisas interessantes, um acesso a informação nunca antes visto, mas igualmente as maiores barbaridades, pois ninguém se responsabilizava por nada. Todos aqueles a quem «mosca tzé-tzé» diz qualquer coisa, saberão do que estou a falar. Sob esse pseudónimo, se bem que radical e por vezes provocatório, sempre se apelou a uma visão construtiva e a uma participação sem ofensas. Lembro que a comunidade elegera como espaço de encontro o fórum disponibilizado na plataforma PortugalNet, dividida por PALOPs. Por altura do conflito de 1998/99 e talvez em certa medida influenciado por isso, o fórum guineense era o que apresentava a esmagadora maioria da actividade «opinativa», com uma interacção largas dezenas ou centenas de vezes superior a todos os outros fóruns juntos; no entanto, a entropia que gerou a má língua acabou, para aqueles que se lembram, por fazer com que o administrador, depois de múltiplos avisos e admoestações, censuras, etc, para tentar limpar a «porcaria» (nojenta mixórdia?), acabou por tomar a decisão radical de fechar o fórum, já no ano 2000; alguns poucos, talvez se lembrem que conseguimos criar um fórum próprio, que funcionou durante seis meses [aliás, era melhor que o da PortugalNet, para cujo contador se estava no ano de 20100 (19 + 99) = (20 + 100) sofrendo do «virus do milénio»] até a PortugalNet ser obrigada a reabrir.

Claro que na altura, só na Diáspora era possível aceder à Internet; só de há poucos anos a esta parte se começou a divulgar em Bissau, encontrando-se hoje em franco crescimento, como me é dado constatar, à minha escala insignificante e sem pretensões de representatividade, pelas estatísticas do meu próprio blog. Entretanto, a forma como se encara a internet evoluiu muito: partindo do anonimato e irresponsabilidade, o paradigma FaceBook, ao insistir na consistência identitária, veio disciplinar e «civilizar» esse mundo «selvagem» que era o ciberespaço, fazendo evoluir as mentalidades. Anteriormente podia dizer-se tudo, mas não tinha grande importância, porque era uma máscara que o declinava, chegando a notar-se a existência de desdobramentos de personalidade cujos heterónimos se insultavam mutuamente! Hoje, a ideia prevalecente é a de que o mundo virtual deve servir para a organização das nossas vidas, ou seja, de cara descoberta e na maior transparência, sem prejuízo do nível de privacidade que cada um deseja manter em relação à sua vida em particular. Somos, de qualquer forma, uma amostra com alguma visibilidade da Guiné-Bissau.

Vamos contribuir de forma positiva, mostrando que respeitamos os nossos irmãos e as nossas irmãs.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Cheiro nauseabundo

Pelos vistos, o mau cheiro emanado dos contentores a apodrecer, aqui denunciados, foi oportuno, pois acaba de ser partilhada publicamente a suspensão «provisória» da limitação de importações. A confusão é grande, sempre no maior vazio legal, uma vez que, apesar de o Decreto-Executivo se encontrar em vigor desde 23 de Janeiro (afectando grandemente os exportadores portugueses), os principais actores reconhecem que a medida está «suspensa» ou foi «adiada», embora não haja qualquer despacho legal que o formalize.

Pedro Queiroz, em defesa dos interesses agro-alimentares portugueses declarou ao Público (Angola é o maior mercado externo para a cerveja portuguesa, consumindo mais que o próprio mercado interno português, segundo o mesmo artigo) classificou a suspensão como uma boa medida, MAS (não há bela sem senão) afirmou que

«não estamos minimamente tranquilos porque há muitas dificuldades com a falta de divisas»...

Terra (b)ranka ou terra (b)ronka?

Presidente guineense, em encontro com o homólogo (broncosauro) português, confessa-se entristecido com as responsabilidades assumidas na Mesa Redonda. Palavra obviamente mal escolhida, consiste de facto num acto falhado, traduzindo a sua aversão visceral à despreocupação e ligeireza de abordagem do Primeiro-Ministro. Sizudo, como sempre, o Presidente (à excepção da fotogenia exigível nos registos protocolares)...

Rapidez relativa

O blog do irmão Umaro levou um minuto a corrigir um erro que não era seu, estando de parabéns.

Já no Portal do Governo, apesar dos erros aqui assinalados há uma semana, e das promessas de «actualização diária», nada foi feito.

Florentino Mendes Pereira continua a ser Primeiro-Ministro e, como toda a gente sabe, deslocou-se a Bruxelas com o Presidente.

Ou seja: a rapidez relativa do blog é, portanto:

1m x 60 = 1h x24 = 1d x 7 = 1s

= 10080 x

Ou seja o blog revelou-se (pelo menos, pois o tempo continua a contar, voltaremos a fazer as contas quando perfizer um mês) mais de 10 000 vezes mais eficiente que o Portal de DSP, no qual, aliás, o ainda Presidente do PAIGC nem sequer existe.

Pá na ceia

Teria sido mais cómodo, para Rafael Marques, conservar-se no exterior do país, fora do alcance da omnipotente máquina do regime. À falta de acordo de extradição e, além disso, inocentado pela Justiça portuguesa, nada o obrigava a ir até Luanda.

O jornalista do Público, em artigo publicado hoje, chama-lhe «luta quixotesca», mas a essa expressão prefiro a comparação com David & Golias, ou o adjectivo «titânica», que já há dias utilizei, sobre o mesmo assunto. Rafael mostrou-se decidido a subir à sua cruz (gostaríamos também, por falar em Cruz, de ouvir o Domingos...)

«É uma honra e um orgulho enfrentar um tal imenso poder»


O arcanjo Rafael transporta no seu nome a cura divina para os males do mundo. E veio interromper a ceia dos poderosos, colocando-lhes o pé na porta, uma cunha naquele que é, sem sombra para dúvidas, um processo político.

No entanto, pode virar-se o feitiço contra o feiticeiro...


Deus livre o regime de o transformar em mártir.

Polícia despistada

A ingenuidade da Polícia angolana, num alerta perante um forte incremento na emissão de cheques «sem cobertura», torna-se reveladora daquilo que as autoridades monetárias pretendem negar. Efectivamente, constatar simplesmente que a distribuição desses casos não é regular ao longo da semana, sentindo-se sobretudo à Quinta e Sexta, com um claro pico no último dia útil (sem o tentar explicar), parece enfermar de falta de perspicácia. É decerto prematuro classificar os emissores como meliantes, pois duvido que a maior parte julgue que pode fazer promessas de pagamento, ficando impune o seu incumprimento. Julgo que estes são apenas indícios claros de que a inflacção se prepara para disparar. Basta fazer as contas, de uma forma muito legal, ao tempo que leva um cheque nos procedimentos de devolução e queixa (com o emissor sempre de boa fé, claro, tal como o seu gerente bancário)...

Ao comprar à Sexta e, se em vez de pagar em dinheiro, pagar em cheque (a compensar na semana seguinte, melhor ainda «para o fim do mês, quando receber»), ser-lhe-á automaticamente concedido um imbatível «desconto», pois os preços terão subido, entretanto.

Entretanto, as novas moedas de 50 e de 100 terão «valor» unicamente para colecção.

Purga radical na Sonangol

Finalmente foram encontrados os bodes expiatórios, para a «ineficiência» da Sonangol. Decerto serão responsabilizados pela queda no preço do petróleo.

Integral redefinição de competências internas e total renovação de conselhos de administração de subsidiárias. Uma verdadeira chicotada psicológica à moda soviética.

UNITA sente-se ameaçada pelo MR

Samakuva não merecia o desprezo a que foi votado pelos distraídos e absentistas Parlamentares portugueses, pois a mensagem é a da defesa do Regime. Num discurso contraditório, o líder da UNITA diz não confiar em José Eduardo dos Santos para a organização de eleições, mas, por outro lado, pretende «evitar a ruptura». É natural que se sinta ultrapassado...

quinta-feira, 26 de março de 2015

Parabéns a nós! Parabéns a mim!


Bilhões de parabéns!

Pseudo-Rectificação

Uma vez mais, em pouco tempo, vejo-me obrigado a efectuar uma rectificação. Agradeço ao anónimo responsável pela chamada de atenção. Com todo o respeito pelo irmão Umaro, não julgo legítimo que tome a liberdade de imprensa a ponto de tentar encobrir um erro do Primeiro-Ministro, alterando o bilião da nota que copiou, e que o próprio nem sequer corrigiu no original. É louvável, mas não queira ser mais papista que o Papa. DSP estava simplesmente a sonhar alto: perdido por um, perdido por mil (ou por um trilião, porque não?).

Evangelho de JOMAV + DSP segundo o PN

Talvez os estúdios de Bruxelas do Progresso Nacional devessem ter pedido aos «heróis» para encenarem uma foto actual do entusiasmo do Presidente e do Primeiro-Ministro. Para quê utilizar uma foto desactualizada (já data da campanha eleitoral)? Será desnecessário destacar que (como a realidade se viria a encarregar de demonstrar) esses sorrisos fotogénicos não auguravam nada de bom...

Que dizer se estes não se deixam fotografar juntos? Hipocrisia e cinismo? Que esperar? Coabitação institucional? A mesa redonda foi considerada uma panaceia para todos os males... Mas os vícios continuam.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Comunicado Final

A Mesa Redonda revelou-se um grave equívoco, bem representado pelo número simples apresentado: 1 BILIÃO. Indiferentemente de se tratarem de euros ou de dólares, queriam decerto dizer mil milhões. Ou bilhão, em brasileiro. Um bilião corresponde a um milhão de milhões e não a mil milhões.

Mas os equívocos não se ficam por aqui. Nem a brincar, terminar um comunicado que deveria ser de coesão nacional, com uma ofensa às Forças Armadas guineenses. Os dois últimos pontos são uma verdadeira vergonha, dedicados apenas à intenção de ocupação angolana. Afinal esta mesa redonda foi uma farsa, servindo apenas para reafirmar a venda do país, contra uns trocos?

Rapidamente se compreende o teor da referida Resolução 2203...

«Notant les efforts que fait le Gouvernement pour asseoir le contrôle et la tutelle effectifs des autorités civiles sur les forces de défense et de sécurité, faute de quoi le bon fonctionnement des institutions de l’État pourrait être entravé par la collusion entre certains acteurs politiques et les chefs militaires.
(...)
Exige de nouveau des forces de sécurité et de défense qu’elles se soumettent pleinement à la tutelle du pouvoir civil.»

Convidando os «parceiros» a contribuírem para a sua «manutenção». Será que esses custos serão a abater ao «BILIÃO», ou apenas ao envelope angolano?

Este assédio está a tomar contornos de verdadeiro mau gosto. Como é possível que um país que acaba de pedir ajuda alimentar internacional ao PAM (ver última notícia no Folha 8) insista em despender grandes somas de dinheiro para alimentar um corpo expedicionário indesejado pelos guineenses? Com a conivência das duas principais figuras do Estado?

Neste caso, BILIÃO rima com TRAIÇÃO.

Estatísticas

Aderindo, desta vez, ao desafio do editor do Ditadura do Consenso, publico as estatísticas por país, por browser e por sistema operativo, relativamente ao dia, semana, mês e «sempre».





Viva Nito Alves!

terça-feira, 24 de março de 2015

Rafael Marques ataca Portal

5 milhões de dólares gastos num «Portal» que não faz nada e, para além disso, nem sequer corresponde à designação oficial. O «modelo» angolano parece ter inspirado DSP... A «qualidade» informática é igualmente péssima e inconsequente.

Mais 20 ou 30 Kwanzas por dólar

A banca «angolana» pelos vistos assumiu o banditismo e arbitrariedade impostos pelo regime, queimando a possibilidade de enviar dólares para Angola (são convertidos à força em Kwanzas à taxa oficial). Segundo declarações à VOA da Direcção do Milenium, os lesados podem queixar-se a quem quiserem (ao «responsável», talvez...).

Pura extorsão! Efeito pernicioso: o «capital» arranjará outro canal, nunca mais ninguém mandará dinheiro «virtual» para Luanda, o que não deixará de se ressentir imediatamente no câmbio do dólar. A amplitude formal / informal deverá agravar-se para mais do dobro.

Entretanto, parece que há contentores importados com géneros a apodrecer, por causa das confusões das quotas de importação e das makas conexas no Ministério do Comércio. Mais 10 ou 20 Kwanzas a juntar aos anteriores...

Feios, porcos e maus

O Secretariado da UNITA em Cabinda, num comunicado excepcionalmente feroz e contrastante com a moleza do Secreriado Nacional, acusa o Regime de:

ASSASSINOS, LADRÕES E VIOLADORES DA CONSTITUIÇÃO

Citando Rafael Marques, é preciso resgatar o país das mãos que o conspurcam!

Libertem o Mavungo!

Coragem & Determinação

Rafael Marques enfrenta o regime despótico de José Eduardo dos Santos, num desafio titânico. À SIC, afirmou que «todos sabemos qual é o papel do Governo português sobre Angola: É de total harmonia com os interesses corruptos e autoritários deste regime».

Em primeiro lugar gostaria de lembrar, a propósito, a ilegalidade do próprio julgamento, uma vez que os mesmos acusadores já se tinham sujeitado a outro foro, sendo um elementar princípio da Justiça que ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo crime. Claro que as regras do jogo não interessam para nada: em Angola, o espírito do legislador é descartável por qualquer conveniência bem colocada.

[imagine-se alguém acusado de assassinato e ilibado, voltando a ser acusado de homicídio... o seu calvário nunca mais acabaria, enquanto houvessem sinónimos. Os próprios Mandamentos teriam de passar a mais de 100, pois seria preciso acrescentar ao «Não matarás», «Não praticarás o homícidio», «Não cometas assassinatos», etc; o regime vai ainda mais longe, com novos conceitos de Direito, fundindo duas palavras!]

Prendem-se activistas pacíficos forjando inventonas, coartam-se todos os dias Direitos constitucionais básicos como o de Manifestação (até de simples reivindações estudantis - aliás imediatamente satisfeitas - de tal forma é o medo dos ventos do Burkina)... Tal como afirma Rafael no seu livro, mais do que um simples documentário, o estudo dos Diamantes de Sangue é uma amostra representativa do Regime.

Este julgamento é uma verdadeira farsa, mas a grande vantagem de Rafael Marques é que tem razão e está preparado para cumprir o seu destino, sujeitando-se à consciência do Juiz. A sua dignidade, coragem e determinação poderão levá-lo à prisão. Talvez, para aproveitar o tempo privado de liberdade, possa começar a escrever o próximo título: «Petróleo de sangue», dedicado à «província» de Cabinda.

Mas, se for preso, não será por muito tempo. Rapidamente o responsável político, segundo a Constituição angolana, o irá substituir, precisamente na mesma cela. Rafael Marques poderia trocar de lugar com José Eduardo dos Santos: sentar-se-ia o ditador no banco dos réus e o activista no cadeirão presidencial. Justiça seria reposta e Angola ficaria decerto a ganhar com uma nova partida, em bases saudáveis.

Libertem o Tempo!

segunda-feira, 23 de março de 2015

Estatísticas

Adiro ao desafio do Progresso Nacional, por uma questão de transparência, com uma tiragem actual das estatísticas mensais deste blog por país, correspondendo a uma leitura de 15 263 visualizações de página nos últimos trinta dias, afixados nesta altura no contador.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Paranóia

O governo ocupante e ilegal do Protectorado português de Cabinda manifesta um profundo desprezo pelo povo, vendo em qualquer tentativa de manifestação uma invisível mão estrangeira, chegando ao cúmulo do ridículo quando, mantendo sob prisão um activista cívico, o acusa de sedição e atentado à segurança do estado, apontando o seu comunicado uma mirabolante apreensão de explosivos, ocorrida num incrível recontro com um grupo de invasores estrangeiros, que uns tiros para o ar entretanto convenientemente afugentaram. Seria risível, não fosse tão grave. É o cúmulo da hipocrisia: o regime angolano perdeu completamente o pudor, se é que ainda lhe sobrava alguma réstia de vergonha na cara.

il est

Na minha opinião, é ainda prematuro, na falta de esclarecimentos por parte da Polícia Judiciária relativamente ao teor processual invocado para a detenção do irmão Doka nas suas instalações, pretender acusar o Governo de nepotismo, colocando em causa a autonomia e o rigor institucional, ainda recentemente elogiados pela Ministra da Justiça, por ocasião do acto solene comemorando o trigésimo segundo aniversário da PJ.

É que aquilo que pode ter começado por ser um boato, está a tomar proporções alarmantes. É estranho que não tenha ocorrido a ninguém que a detenção em causa possa estar relacionada com a investigação da fuga de informação do Estado, envolvendo correspondência entre o Supremo e o Ministério da Justiça, recentemente publicada no seu blog pessoal.

Em relação ao irmão Doka, julgo que, mesmo que tenha cometido ultimamente alguns excessos, no legítimo exercício da sua liberdade de expressão [como julgar que podia desafiar impunemente as autoridades, ou que podia contribuir para o descrédito de uma instituição como a PJ (talvez seja uma chamada de atenção para o facto de que difamar injustamente pessoas colectivas pode ser mais grave do que injuriar pessoas singulares), sugerindo ser esta um pau mandado do executivo à revelia do seu enquadramento legal], não cometeu qualquer crime que justifique a sua retenção para além das 24h já decorridas. Acabo, aliás, enquanto escrevo, de ler com agrado que a PJ fez o seu trabalho e entregou o caso ao Ministério Público. Pelos vistos, brevemente se fará luz sobre o caso.

Queria pedir ao irmão Doka que encare com serenidade e humildade o destino que escolheu, eventualmente reconhecendo os seus erros. Mas que evite quaisquer comparações com Angola, inteiramente despropositadas. Se, em Angola, Doka fizesse 1% do que fez em Bissau, já teria sido transformado, há muito, em patê pa jacarés. Já agora recomenda-se ao seu alter-ego, DokaN (não sei se é o 2, o 3, ou o 4), que, em solidariedade com o (habeas) corpo, faça uns tempos de silêncio. Caso não aceite a sugestão, por favor, corrija pelo menos o francês: por uma questão de objectividade, até à libertação do Doka, prefira o «il est Charlie» ao je suis.

Ausência notada

A «concertação» triangular que deveria ter lugar em Luanda, sob os auspícios de José Eduardo dos Santos, não contou, como chegou a ser anunciado, com a presença de Domingos Simões Pereira, ficando reduzida ao beija-mão do balofo Secretário de Estado da Cooperação português, que já não foi a tempo de cancelar a viagem de avião. O acto, que se pretendia de solene protagonismo angolano, acabou por degenerar numa palhaçada, proclamando hipocritamente o SEC, em conjunto com o MNE local, ter tratado da «importância dos países da Comunidade Países de Língua Portuguesa (CPLP), na conferência de doadores para a Guiné-Bissau [nas costas dos principais interessados?], a realizar em Bruxelas, no próximo dia 25 de Março». O fim de um namoro?

Fachada

Os engenheiros costumam criticar os arquitectos por estes «começarem» a casa pelo tecto, por colocarem a carroça do «belo» à frente dos bois (a viabilidade económica).

Já DSP, que alimenta uma relação demasiado compulsiva com o espelho, parece adoptar uma estratégia algo diferente: dar início à obra pela fachada.

Foram hoje apresentadas duas páginas oficiais do GOVerno na Internet, sob o domínio nacional GW.

Uma, pomposamente designada de «Portal», apresenta a composição do Governo e o seu Programa. Parece ser sintomático que uma página com menos recheio que um blog, pretenda ufanar-se dessa designação, que Didinho sempre recusou humildemente para o seu site sobre a Guiné-Bissau (aquele que, de longe, mais se assemelhou à definição de «Portal»). Um portal não é uma lista de currículos, «completada» com o anúncio de futura actualização «frequente».

É algo de funcional, que não se resume a meia dúzia de copy/pastes, num design duvidoso, que ninguém se deu ao trabalho de verificar (talvez por se pensar que ninguém cuida de mais nada para além da fachada).



Quis dar os parabéns ao meu amigo Florentino Mendes Pereira (que está muito bem conservado, para os seus 51 anos) por ter sido hoje promovido ao cargo de Primeiro-Ministro (é verdade, também não sabia, soube precisamente aqui por este novo, actualizado e autorizado Portal), liguei-lhe para o número de telefone que constava dos Contactos e responderam-me, em inglês (o que estranhei), que não conheciam nenhum Florentino. Julgo que deve haver algum número trocado, ou outra gralha parecida.

De qualquer forma, o país fica claramente a ganhar, pois parece já perfeitamente óbvio que DSP não foi talhado para a missão que dele se esperava, parecendo incapaz de se rodear das pessoas mais indicadas, ou sequer de dialogar e reunir consensos, deixando antever um inevitável lamento do tempo perdido que representou a sua governação.

Talvez tivesse sido mais pragmático fazer como a Ministra da Justiça, que prometeu primeiro uma simples página, evoluindo depois consistentemente para um Portal: é que torna-se mais convincente, mais persuasivo. Um verdadeiro Portal inclui os mecanismos necessários à sua reprodução e actualização. Já agora, recomenda-se que solicitem à senhora Ministra as suas últimas Intervenções oficiais. Não basta estarem previstos os sítios para as coisas, se não existir depois qualquer conteúdo relacionado (quando esses discursos até estão na internet, onde os poderiam ter ido buscar: que preguiça imperdoável; perante evidências deste calibre, torna-se difícil acreditar nas promessas de actualização, levando-nos antes a suspeitar que se trata apenas de mais um projecto sem amanhã).

Outra página, para francês ler, comporta a visão idílica resultante da «epifania» do Primeiro-Ministro, na cândida postura de uma criança que acredita no Pai Natal: fez uma extensa lista de pedidos, na qual todos os seus desejos são «prioritários», partindo do pressuposto de que serão todos concedidos. No entanto, não se sabe se o seu sorriso será suficiente... esperemos que não vire amarelo.

O problema, ao contrário do que insinua o irmão Doka, não está nos consultores tugas, que evidentemente não fazem a mínima ideia de como chegar ao Paraíso prometido por DSP, estando apenas interessados no seu quinhão daquilo que parecem encarar como maná dos Deuses. O que já deu lugar a avisos à navegação por parte do Presidente, criticando aquele que parece ser o espírito prevalecente do endividamente «a todo o custo». O problema parece ser o próprio DSP, que chega a ser patético: para além da sua incipiente e inconsistente abordagem governativa, demonstra ser inconsequente, o que parece deveras preocupante, quanto à racionalidade da utilização dos Fundos a serem colocados à disposição pelos parceiros.

O mais importante, como argumento de credibilização, consistiria na criação de mecanismos de acompanhamento dos financiamentos, garantindo uma eficaz transparência, o que não foi acautelado, apesar das várias recomendações. Ora só muito recentemente o Governo encetou timidamente o cumprimento de uma promessa eleitoral explícita, consubstanciada no seu Programa, prevendo a generalização de «auditorias multidisciplinares às empresas privatizadas por objetivos e aos Fundos autónomos com participação do Estado ou de interesse público: FUNPI, Fundo Rodoviário, Fundo do Turismo, Fundo de Mineração, etc…». Para além de um pequeno passo nesse sentido (lamentavelmente inspirado mais por guerrilhas políticas do que por convicção), da prometida transparência, nada se viu ainda. Muita parra, pouca uva.

É bom que DSP tenha deixado um plano de contingência para a eventualidade de os cenários não corresponderem às expectativas, pois nesse caso estaremos perante a maior urgência de uma verdadeira governação. Como Presidente do Partido, talvez devesse ter optado pelo cargo de Presidente da República. Terá sempre um papel a dizer, mas não deve, para isso, constituir-se como força de bloqueio da situação política, o que só pode prejudicar a imagem e os interesses do país. Teria tudo a ganhar em sair pelo seu próprio pé, de preferência depois de um «sucesso» em Bruxelas, abrindo caminho para uma solução institucional de compromisso, preservando assim a sua influência.

A China, que de qualquer forma privilegia as relações bilaterais, já deu o seu recado, cujo sentido não oferece qualquer dúvida. Entretanto, parece que José Eduardo dos Santos roeu a corda, sob pretexto aparentemente fútil. Esperemos que em Bruxelas não seja só fachada, como os cenários dos filmes de cowboys, nos quais a porta do Salloon dá... para a rua.

Dito isto, desejo boa viagem ao elenco governamental, com os votos dos maiores sucessos na mesa redonda.