quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Liberdade de imprensa

Não faz sentido colocar obstáculos à liberdade de imprensa, quando os jornalistas não fazem mais que o seu trabalho, informar.


Depois do caso Rádio Bombolom, que «rendeu» ao país imensa publicidade negativa perante o exterior, para quê recomeçar o filme? 

Na boca ficadu... ka ta entra mosca. Se o General fala, é notícia. Para o bem e para o mal. O crioulo é uma língua sobretudo oral, com um ritmo e teatralidade próprios, muito propenso à metáfora; os verdadeiros conteúdos emocionais, passados para escrito, ou traduzidos, para ouvidos «brancos» não iniciados, podem induzir em erro. Como a história da «catana»: julgo que a maior parte dos comentadores comete o mesmo erro que cometeu em tempos Zamora, subestimando o General Injai; porque razão não haveria o General de ser capaz de ironia? Estava mais perto da verdade Ramos Horta, quando disse que não valia a pena os seus guarda-costas andarem com as «fuscas» por Bissau, porque se o General fosse atrás dele, seria com «bazucas».

Transcrevo a mensagem que recebi de Braima Darame, a quem dou desde já os parabéns pelo profissionalismo:

«Boa Noite, amigo

A Rádio Jovem foi intimidada esta noite por um grupo de indivíduos não identificados que ordenou não emitir mais a notícia do chefe das forças armadas, alegando que era uma reunião sem direito a gravação para os jornalistas convidados. Em fim, estamos tranquilos, pois fomos formalmente convidados para cobrir a reunião que decorreu hoje no clube das forças armadas esta manhã. Passamos o som com áudio, é crime? Foi aquilo que dizem que transmitimos na primeira pessoa. Por ser um acto de censura, não emitimos o jornal das 22h e se não for resolvido em breve não vamos emitir os próximos noticiários na Rádio Jovem. Por hoje, vamos ter que fechar as portas devido as chamadas anónimas e a falta de segurança para o turno nocturno da rádio.»

PS Quanto às declarações propriamente ditas, não vejo nelas nada de propriamente reprovável ou censurável: o General manifestou insatisfação (sentimento decerto partilhado pela imensa maioria dos guineenses) com a fórmula de transição escolhida, assumindo ter-se tratado de um desperdício de tempo; considero mesmo bastante oportunas, a preocupação e a motivação que deram origem a estas declarações... 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

USA => Off

É o shut down. O apagão. O estouro.

Obama é um flop. Ver o artigo que já aqui tinha escrito há uns meses, o fim de Obama. Quis lançar uma guerra para tapar os olhos aos americanos. Não conseguiu. Agora, que emerge o desastre financeiro em que se encontra a América, tenta fazer da oposição o bode expiatório para os seus falhanços e crenças despesistas (demasiado optimistas). Como pode acusar os republicanos de fazerem chantagem (ver DN), quem não tem feito outra coisa, desde que lançou o «seu» sistema de saúde (a contra-ciclo, em plena crise)?

E isto é apenas a face visível do iceberg.

1 Outubro 2013 => 1€ = $1,35

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Cadáver (adiado) & enjoado

Rui Machete fez-se fotografar com Ban Ki-Moon com os cantos da boca virados para baixo, ao contrário do seu anfitrião. Explicou aquilo «que seu país tem feito para ajudar a resolver o impasse político na nação africana de língua portuguesa», a Guiné-Bissau.

Hipócrita!

domingo, 29 de setembro de 2013

Petição

Concordando com as premissas do Movimento de Salvação Nacional (mas não com as ilacções), submeto uma alternativa (num plágio descarado, que não deixa de ser um elogio), titulada com nomes (isto é um puro modelo, cada um poderá alterá-lo, se assim o entender), ao jeito dos desafios no PN. O email da página da presidência, para poder enviar a sua petição a título pessoal, ao cuidado de Lamine Djatá:

rgbpresidencia@gmail.com

Excelentíssimo Senhor Presidente da República da Guiné-Bissau,

Sua Excelência Serifo Nhamadjo,

Como cidadã(o) guineense, referindo-me à alínea 1) do artigo 62° da Constituição, venho por este meio requerer junto à Magna instância que V. Exa representa, a realização de um referendo oferecendo ao povo da Guiné-Bissau a possibilidade de optar entre um Governo de Salvação Nacional e a realização de eleições (com a inevitável confusão inerente).

Consciente de que é provavelmente a primeira vez na história do direito internacional que os cidadãos de um estado formulam um tal pedido, permita-me indicar as razões que me levaram a optar pelo presente requerimento, que considero ser o último recurso para salvar o nosso povo e consolidar a soberania reconquistada. Com a derrota do colonialismo português nas matas da Guiné-Bissau, nasce a esperança de uma nova vida para o Povo Guineense: educação, saúde, trabalho para todos, num Estado independente. A dignidade ameaçada com a colonização portuguesa seria assim readquirida.

Mas a esperança de uma vida nova, não passou disso mesmo: uma esperança. Os ideais de Amílcar Cabral e dos combatentes que deram a vida por uma Guiné-Bissau independente foram traídos. Traídos pelo partido único (PAIGC) que governou a Guiné-Bissau depois da independência até às primeiras eleições multipartidárias em 1994. Traídos pela classe politica guineense que tem vindo a servir-se sistematicamente do aparelho de estado para se enriquecer, em vez de servir o Povo Guineense.

A história recente da Guiné-Bissau pode resumir-se assim: eleições seguidas de golpe estado; golpe de estado seguido de eleições. Quarenta anos depois da independência, a Guiné-Bissau, de acordo com o relatório de desenvolvimento humano 2013 das Nações Unidas, encontra-se no 176° lugar do conjunto de 186 países. Todos os indicadores de desenvolvimento analisados são negativos. Na Guiné-Bissau, a esperança de vida à nascença é de menos de 49 anos.

O que se esconde atrás destes dados, são tragédias pessoais, enorme desperdício de capital humano!

Queiram então compreender e aceitar, caros candidatos às eleições Presidenciais

Desta vez NÃO têm a confiança do Povo Guineense.
Desta vez NÃO acreditamos em nenhuma das vossas promessas.
Desta vez NÃO acreditamos em nenhum dos senhores.

Desta vez:

NÃO acreditamos no sr Carlos Gomes Jr. (Cadogo) ,
NÃO acreditamos no sr. Paulo Gomes.
NÃO acreditamos no sr. Helder Vaz.
NÃO acreditamos no sr. Tcherno Djalo.
NÃO acreditamos no sr. Kumba Yala.
NÃO acreditamos em nenhum candidato(a) que ainda não se declarou.
Não temos mais nenhuma esperança nem nenhuma confiança na “classe politica Guineense”.
Nós, Povo Guineense, depois de décadas de traição, mentiras, corrupção, incompetência, abuso de poder, violência, humilhação, a ÚNICA solução em que acreditamos hoje é

a criação de um Governo de Salvação Nacional

nesse sentido, seguindo o exemplo de Paulo Portas em Portugal (cujo cargo de Vice Primeiro-Ministro foi criado «por medida»), quero subscrever a proposta para um Governo de Salvação Nacional, com mandato para três anos, prorrogáveis por igual período, graças ao mesmo instrumento democrático, um referendo.

Advoga-se a criação de cargos de «Vice» completamente independentes, cujo papel será de contrabalançar o «déficit» de legitimidade dos titulares, garantindo uma transição e um término do mandato tranquilo, trabalhando em conjunto na criação de um clima de confiança gerador da necessária estabilidade política e credibilidade internacional.

Vice-Presidente - Kaft Kosta
Vice-CEMFA - Daba Na Walna

Primeiro Ministro de Salvação - Fernando Casimiro
Vice-Primeiro Ministro de Salvação - Filomeno Pina

Podemos então aproveitar esta oportunidade para convidar todos os candidatos que estão verdadeiramente interessados – e acreditamos que todos estão – no bem estar do nosso Povo e no futuro da nossa terra, a enviarem por email uma mensagem a Sua Excelência o Presidente da República.

Os candidatos que querem mesmo servir o nosso povo, poderão sempre fazê-lo. Para tal bastará apenas provar ao Primeiro-Ministro do Governo de Salvação, pessoa imparcial, que têm o mérito moral, intelectual e técnico, para servir o povo Guineense. Uma selecção da(o)s melhores filha(o)s da Guiné será feita com base na competência e no mérito.

Se tem a motivação e as capacidades necessárias, envie o seu CV para o site Didinho.org que escolherá os melhores para servir o Povo Guineense e garantirá também a formação de um governo de Salvação Nacional competente e honesto para a Guiné-Bissau. É evidente que as próximas eleições não devem ser realizadas. Os que sabem quanto é 2+2, sabem também que não existem condições objectivas para realizar eleições na Guiné-Bissau em 2013, nem em 2014…

Se os senhores querem mesmo o bem do nosso Povo e não servir a vossa ambição pessoal e obedecer à «comunidade internacional», participando num processo eleitoral inútil, desperdiçando meios financeiros que poderiam ser utilizados para comprar remédios e pagar salários em atraso, mostrariam uma grande inteligência e amor ao nosso povo subscrevendo esta petição que solicita um referendo a um Governo de Salvação Nacional.

PS Acrescento que não falei com nenhum dos «propostos», é de minha única responsabilidade esta proposta de Governo de Salvação Nacional.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

40 anos depois, GB de novo na ONU

Sua Excelência o Presidente da República da Guiné-Bissau, fez ontem, perante a 68ª Assembleia Geral das Nações Unidas, reunida em Nova Iorque, um interessante discurso, que em muito dignificou o país.

Começou por esclarecer as circunstâncias (e as motivações) que lhe conferiram legitimidade para aceitar o cargo que actualmente desempenha, referindo a consciência da irrevogabilidade do facto consumado pelo contra-golpe (não podendo portanto ser considerado «golpista» como querem alguns) e o processo de legitimação da transição com base no órgão legítimo nunca dissolvido, a ANP, à qual se constituiu deputado por vários mandatos, sendo seu Vice-Presidente à data dos factos. Não encarou pois o cargo como um benefício mas como um sacrifício pessoal.

Depois, referiu-se à ignóbil campanha de «terra queimada», do «quanto pior, melhor», promovida entretanto pela «outra parte» (cujo último acto teve por triste e infantil protagonista Rui Machete, apenas para lhe dar previamente razão), no sentido de tentar minar e desacreditar os esforços de reconciliação, promovidos de boa fé.

Em termos estruturais, referiu-se, como principal factor de bloqueio no caminho do desenvolvimento, à «pescadinha de rabo na boca», ao ciclo vicioso da pobreza com a instabilidade, no qual a pobreza gera instabilidade, que por sua vez engendra mais pobreza. Está na altura para colocar um fim a este ciclo!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O canto do cisne

Rui Machete, o que de piorzinho produziu o vazio mental daqueles (os homenzinhos de avental) que se auto-intitulam pedreiros mas não passam de uns reles serventes (sem noções de arquitectura e incapazes de alinhar dois tijolos, aliás o Portugal que hoje temos foi a sua «grande obra»), o mais recente Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal (e entretanto caído em desgraça e já demissionário, depois de se ter descoberto que mentiu, com várias notícias hoje nos jornais nacionais, DN, etc mas para informação veja-se este artigo de Eduardo Oliveira Silva no Clube de Jornalistas) teve um desempenho patético e indigno da sua pátria, nas Nações Unidas, como lacaio do imperialismo angolano, num encontro realizado «à margem da Assembleia Geral» em curso.

Depois de Portugal ter desperdiçado o seu lugar no Conselho de Segurança numa feroz e inglória perseguição às novas autoridades de facto da Guiné-Bissau, com origem no contra-golpe de 12 de Abril do ano passado, agora que a ONU reconhece as autoridades consolidadas por ano e meio de de paz (apesar de todas as provocações) e de bom senso (sem assassinatos políticos), com a derrota definitiva da farsa que alimentaram por demasiado tempo, não reconhece a evidência dos factos e faz declarações explosivas aos meios de comunicação (n'A Bola face à quebra de legitimidade entretanto no ar, a redacção sentiu-se na obrigação de uma assinatura colectiva), em nome de uma CPLP que quer fazer crer «unida», contra a Guiné-Bissau. Esperemos pela confirmação das posições dos outros seis países...

Na improvável hipótese de mais alguma diplomacia lusófona se querer juntar a Angola e a Rui Machete, a verdadeira e legítima CPLP ficará reduzida à Guiné-Bissau, eventualmente a Timor-Leste (foi entretanto anunciada a visita do grande Comandante Xanana a Bissau)... Um encontro contrariando o espírito do que acontece na Assembleia Geral (perante o mundo)? Só para tentar evidenciar uma exclusão que os factos desmentem? Mas engana quem? Mentiroso! (não sou eu que lhe chamo, várias pessoas o fizeram antes, hoje) Hipócrita! Mau perdedor (isto já sou eu a acrescentar). Vá curtir a sua reforma de 132 000 euros, mas esconda-se, se é que tem um pingo de vergonha (não tem é nenhuma, os americanos e o Obama é que de certeza não se deixam enganar, com todos os relatórios que receberam da FLAD sobre a «gestão» mama taku deste senhor).

Foi um rico serviço, este encomendado pelo Isnogood (aquele que quer ser Primeiro-Ministro no lugar do Primeiro-Ministro - pessoalmente prefiro o termo de Grão-Vizir), que este palhaço executou acriticamente: delapidar o pouco que restava do capital de credibilidade da CPLP, sem que se perceba o que esperava ganhar com isso. Então a CPLP «quer»? Quem não reconhece não tem «querer»! E já agora, como sabem que não há condições, enviaram espiões? E porque estão tão preocupados? Primeiro, o discurso era de que «Ai, credo, perpetuam-se no poder, preparam-se para adiar as eleições», agora de repente, pedem descontos de tempo... O rei recusa-se a ser despromovido a peão? Esse peão recusa-se a avançar perante as fracas possibilidades de ser (re)promovido? Para que é o tempo? para se dedicarem a mais inventonas?

P.S. Quem deve estar muito triste e envergonhado com todo este comportamento da diplomacia portuguesa para com as antigas colónias, é Adriano Moreira. Espero sinceramente que, aquele a quem se deve a defesa da educação para os povos das «Províncias Ultramarinas», que pretendia com isso propor uma alternativa possível àquela que viria a ser a Guerra Colonial (por isso viria a ser afastado por Salazar), nos deixe o seu contributo e opinião sobre este caso, pois costuma comentar o que se passa na ONU. Não concordo com a tese de que não se deve discutir o passado: se tivesse sido assim e não assado... Se o futuro é um campo de possibilidades em aberto, porque não discutir o passado? Julgo que o Senhor Doutor, que admiro muito, como já em tempos tive ocasião para lhe transmitir pessoalmente, deveria deixar cair alguns tabus (de humildade) que fez pesar sobre a sua carreira. Talvez o facto de que pudesse vir ajudar a uma futura refundação da CPLP o justificasse.

A CPLP vendeu a alma!

Fogo de vista

Os derradeiros peões isolados do governo «legítimo», vão gastando os últimos cartuchos...

Em Paris, na Embaixada ilegalmente ocupada, os squatters queriam continuar indefinidamente a passar vistos para um país imaginário, no qual Cadogo continuaria supostamente a reinar, graças a um software (em francês) fora do prazo de validade.

Em Bilbao, um gato pingado original e adâmico, de uma célula de saudosistas (da «velha senhora» ou «antigo regime»), no país basco, que se auto-proclama pomposamente «comunidade guineense em Espanha», anuncia que

«começou hoje a distribuir um abaixo assinado para exigir o regresso ao país de todos os exilados políticos, destacando, entre eles, o ex-primeiro Ministro Carlos Gomes Junior»

1) Os abaixo assinados não se distribuem. Recolhem-se assinaturas por baixo, numa folha.
2) O «ex»-Primeiro-Ministro (como muito bem se lhe referem, pelo menos numa coisa acertaram) não está impedido de regressar ao país
3) Nem sequer tem estatuto de «exilado político» no país que o acolheu
4) À excepção desse que «destacam» (e que não o é, pois não passa de um simples turista), poderiam dar algum outro exemplo de «exilado político»?

Tanta «petição» e «abaixo assinado» já aborrece. Esta gentalha não representa coisíssima nenhuma! Percebe-se bem demais onde querem chegar. Não estará na altura de desistirem? Se há um ano, ainda podiam dizer que tinham a comunidade internacional ao lado do vosso «campeão», hoje, que o Presidente discursa perante a Assembleia Geral da ONU, passa-se o contrário. Deveriam seguir o exemplo do embaixador guineense lá acreditado, renderem-se às evidências e deixarem de tentar contaminar e prejudicar o processo de reconciliação nacional, com azia de maus perdedores.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Quem te avisa...

Recebi um email de uma pessoa amiga, criticando-me por não ter propriamente «comemorado», com produção própria, mas apenas «comentado» as comemorações do 24 de Setembro. Além disso, o artigo de João Galvão Borges «galvanizou-me», com a sua matriz mental «dialéctica» (no bom sentido). in Quo Vadis, PAIGC

«Creio entretanto que Amílcar Cabral se sentiria bem mais homenageado e bem mais feliz (!) se soubesse implementados os Princípios que lhe eram caros: a honestidade, a competência, a seriedade, a lealdade e a abnegação dos seus compatriotas para que as suas tão queridas terras, Guiné-Bissau e Cabo-Verde, alcancem a verdadeira Liberdade, a verdadeira Paz e finalmente os almejados Progresso e Felicidade dos seus respectivos Povos. E aqui creio que não pairam dúvidas!»

Apraz-me igualmente citar o humilde e construtivo apelo à crítica, com a qual me identifico plenamente e que corresponde ao «protocolo» que tenho defendido quanto aos comentários no meu blog:

«De igual modo aproveito para afirmar que me sentirei, em todas e quaisquer circunstâncias, beneficiado com qualquer opinião contrária ainda que seja firmemente discordante, desde que sustentada por válidos e credíveis argumentos. Porém, sempre vou dizendo que por mais válidos e credíveis que sejam os argumentos, as vozes discordantes terão de saber respeitar a ética e deverão dar provas de transparente decoro.»

O João Galvão Borges, decidindo-se a fazer um blog e a empenhar-se com a sua análise na actual conjuntura, viria decerto trazer uma nova e original visão, um imenso valor acrescentado em termos de reflexividade, contribuindo assim para aumentar as probabilidades de um desenlace feliz para o projecto de estruturação em curso.

Mas entrando no assunto propriamente dito: o autor deste artigo, no curso da sua brilhante análise das desequilibradas relações entre a Guiné-Bissau e Cabo Verde, cita, como precedente para a deposição de Luís Cabral, um

«relatório apresentado nessa ocasião pelo então Secretário Geral do PAIGC Aristides Pereira, tomava a forma de uma peremptória e verdadeira condenação a todas as formas de desvios à linha de A. Cabral. E a resolução final alertava os militantes e quadros do Partido contra todos os desvios ideológicos e particularmente contra os que resultavam da passividade e da falta de rigor ideológico tais como a irresponsabilidade, a tolerância aos erros, a negligência no trabalho, o pragmatismo excessivo que não tome em conta os elementos políticos do problema a solucionar, a atitude tecnocrata e a burocracia erigida em forma de governação, a improvisação como método de trabalho, a tendência a se esquivar às orientações e ao controlo do Partido, o favoritismo (amiguismo), o nepotismo, a ostentação e a ambição pessoal.»

Este fragmento lembrou-me algumas das «mise en garde» de Cabral, que, premonitoriamente, já tinha avisado para esses perigos. Fui portanto à procura delas. Embora um pouco atrasado, aqui fica portanto o meu contributo para a reflexão, sobre esta data.

Nas palavras de ordem e directivas do Partido encontrei: «Devemos combater o oportunismo, a tolerância diante dos erros, as desculpas sem fundamento, as amizades e a camaradagem com base em interesses pessoais».

No panfleto «História da Guiné-Bissau e Ilhas de Cabo Verde», maioritariamente escrito e revisto por Cabral, pouco antes de morrer:

«O homem está em condições de produzir em alguns minutos e com pouco esforço o que outrora exigia o trabalho de milhares durante meses (...) Sob a dominação imperialista, o desenvolvimento da produção, conseguido graças ao progresso da ciência e da técnica, tem por objectivo assegurar os mais altos lucros, ao mesmo tempo que se conservam ao mais baixo nível possível os salários, o poder de compra dos trabalhadores. O sistema económico vê-se assim encerrado numa contradição insolúvel. Enquanto milhões morrem de fome, destroem-se em massa produtos alimentares, não porque as massas não tenham necessidade deles, mas porque não têm com que pagá-los. (...)
Nos países onde se adquiriu a independência política, mas em que esta foi confiscada em proveito de minorias exploradoras locais, estas, para consolidarem e manterem os seus privilégios, não demoraram a entender-se com o imperialismo e a manter ou restabelecer a sua dominação: é o que se chama neo-colonialismo. A libertação nacional não poderá significar a transferência de poder dos colonos para uma minoria exploradora nacional, cujo papel não pode ser outro senão o de lacaio do imperialismo.»

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Comemorações do 24 de Setembro

Pareceu-me altamente relevante o artigo de João Galvão Borges publicado (e comentado) pelo Didinho, nesta importante data.

Gostaria de realçar este excerto em particular:

«Quando se preconiza como solução à já citada crise, a intervenção de uma força estrangeira a coberto de uma ou de diferentes siglas como: Nações Unidas (ONU), OUA, CEDEAO, CPLP ou outra, sinto-me na quase obrigação de manifestar a minha firme oposição ao recurso dessa força estrangeira como pretensa solução para a crise existente. Não dispondo de uma "bola de cristal" para prever as consequências dessa preconizada intervenção, penso entretanto que ela seria mais um problema do que propriamente a solução.

Guardam-se registos da firme reacção do Povo Guineense à ocupação estrangeira. Do conhecido "Desastre de Bolol" em 1879 em Djarfungo no norte do país, em que os felupes infligiram o que se considera a mais pesada derrota sofrida pelo ocupante português, passando pela luta armada de libertação nacional e chegando-se à recente e veemente resposta dada aos estrangeiros (desta vez africanos) no igualmente recente conflito de 7 de Junho de 1998. Estes exemplos muito significativos, não podem ser negligenciados no equacionamento do problema e convidam, seguramente, a uma séria reflexão antes da tomada de posição sobre a possível intervenção de uma força estrangeira como solução do problema.»

Prenda de aniversário

Incrível! Os Estados Unidos dão os parabéns à Guiné-Bissau e oferecem-se para ajudar!

Alvíssaras para os irmãos intelectuais balantas na diáspora.

ligação à direita >

De manhã, na ANP

O CEMFA cumprindo com tranquilidade o seu papel institucional no protocolo das comemorações dos quarenta anos da Independência, presidido por Sua Excelência o Presidente da República, contradizendo assim certos rumores...

Para a página da Presidência, ligação «fresca» à direita >

PS Felicidades a Sua Excelência o Presidente da República, para o seu discurso perante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Possa Vossa inteligência agenciar um discurso inspirado, decididamente virado para o futuro, que marque o início de uma profunda mudança em prol da dignidade e identidade nacional perante o mundo, a alicerçar com sentido patriótico, numa nova cultura e mentalidade política, feita de responsabilidade e transparência.

O selo da derrota

O facto de os correios estarem fechados (não me refiro ao facto de ser feriado), não impede a saída deste selo comemorativo. O auto-intitulado «governo legítimo» não se faz representar, ao mais alto nível, nas comemorações dos quarenta anos da independência, conforme prometido? Terá adiado para as calendas gregas, como aconteceu com o congresso do PAIGC?

Está a custar imenso, ao tubarão azul, engolir o último sapo, na ONU (debate-se com «petições» inócuas às quais já ninguém liga). É a consagração definitiva do fim da farsa do governo «no exílio». Até Sua Excelência, o embaixador na ONU, está a tentar virar a casaca para o lado certo, não deixando margens para dúvidas, quanto ao vencedor (como mais vale tarde do que nunca, talvez mereça uma segunda oportunidade, porque, se é um pouco lambe botas, até percebe do ofício e além disso, quem melhor para desfazer o que foi feito do que quem ajudou a fazê-lo?).

Tal como Maomé se constituiu como o «selo dos profetas», encerrando o ciclo da profecia, também a derrota de Cadogo é agora final e irremissível. Todas as tentativas de «terra queimada», de forçar a «dissolução» do Estado (que esperava recuperar como lacaio) lhe saíram (felizmente) frustradas. Naufragou-lhe o seu «momento». Plagiando o Doka, tornou-se indesejável, no leito nupcial.

Neves acusa Pires de usurpador

O Primeiro-Ministro de Cabo Verde acusou, via comunicação social, o ex-Presidente de se ter abusivamente imiscuído na actual política diplomática do país, pedindo-lhe educadamente para não se meter onde não é chamado. Foi-lhe dado algum mandato? Alguém solicitou os seus oferecimentos?

Uma página foi virada com o caso dos dois polícias. Para produzir as graves acusações que fez, neste contexto (ainda para mais, face ao mérito apaziguador de algumas iniciativas da sociedade civil, sobretudo na diáspora), o ex-Comandante do PAIGC deveria ter frisado que falava a título pessoal, não pretendendo envolver, de forma alguma, a posição do legítimo Governo.

Ou estará a tentar decalcar o modelo de Cadogo, numa grande promiscuidade entre pessoa e (ex) função?

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Greve dos Correios

Os funcionários dos Correios têm todo o direito à greve: não são meses de atraso, são muitos anos de salários em atraso, quase cinco!

No entanto, uma vez que a situação não é nova (dura, de forma intermitente, desde 2007) e pode dar azo a aproveitamentos «políticos» desadequados e perturbadores para a percepção interna e externa de uma desejável estabilidade pré-eleitoral, talvez fosse melhor apresentarem um mapa da última meia dúzia de anos, assinalando os meses que receberam e aqueles que não receberam, para melhor compreensão.

É que a propaganda sindical é um pouco incoerente. Senão façamos as contas: meia dúzia de anos, com uma dúzia de meses por cada, são 72 meses; dos quais, segundo informações veiculadas 52 estão em atraso. Mas como se distribuem? Talvez se der muito trabalho apresentar um mapa, pode ser feito de forma simplificada, numa simples tabela de 2x2, dividindo os pagos ou não, por antes de 12 de Abril do ano passado e depois dessa data.

Em média receberam aproximadamente 2 salários em cada 7 «devidos», nestes últimos seis anos. Mantendo esse ritmo (ou seja, não considerando as dificuldades acrescidas da instabilidade vivida devido ao ignóbil boicote promovido pela CPLP contra a Guiné-Bissau), deveriam já ter recebido quatro (4) salários, desde que entrou em funções a figura do Governo de Transição.

Esclarecida a verdade, os arautos do «Não Estado» poderão então explanar a sua maledicência, em pleno conhecimento de causa, para imputar todos os males do mundo ao actual Governo de conjuntura, elevando aos píncaros o «milagre económico» do anterior... a quem se ficaram a dever «magníficas campanhas de caju», como se o caju (ou a sua cotação) também fosse contra os golpes de Estado!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Cadogo e a Maçonaria portuguesa

Lembrado pelo Doka, estive a ler as últimas do blog de José Paulo Fafe, que já citei aqui neste blog por mais de uma vez. Reparei num outro artigo, da semana passada, no qual denuncia os contactos de Cadogo com a Maçonaria portuguesa...


Enfim. Mas quem dá ainda crédito a essa instituição decadente (cheia de ignorantes manientos e corruptos, e dedicada ao tráfico de influências) ou a esse usurpador destronado (que continua a oferecer negócios em nome da Guiné-Bissau)?

O «venerando» pronunciará uma «oração de sapiência»... Santa paciência! Presunção e água benta, cada um toma a que quer...

terça-feira, 17 de setembro de 2013

PAIGC AFROnta CV

Corsino Tolentino será o orador de serviço em Colóquio alusivo à fundação do Partido, já na próxima quinta-feira, na cidade da Praia.

Depois das suas tomadas de posição sobre as relações com a Guiné e tendo-se confirmado os seus piores receios, a sua alocução prepara-se decerto para deixar o PAICV e os seus actuais dirigentes de rastos ou, no mínimo, com as orelhas a arder. PAIGC foronta CV... Estamos curiosíssimos com a sua comunicação, pedimos desde já ao Progresso Nacional que acautele a publicação imediata da respectiva acta.

Vivam os verdadeiros patriotas cabo-verdeanos! Vivam os laços saudáveis que unem as duas nações!

Mea Culpa

Reparei na notícia publicada no Nô Djemberém, sobre os últimos desenvolvimentos na crise da Síria.

Finalmente um Presidente dos EUA dá um passo no sentido de um mundo mais equilibrado, reconhecendo que «não podem querer resolver a guerra civil de outro país pela força, particularmente depois de dez anos de guerra no Iraque e no Afeganistão»

Esta parece-me uma declaração de extraordinária importância e real alcance, reconhecendo que os Estados Unidos devem deixar de tudo querer sujeitar à sua visão e interesses.

A notícia imediatamente anterior está muito bem relacionada, desmistificando, por dentro, o que já todos suspeitavam (que as «provas» da utilização de armas químicas pelo regime eram forjadas), também é bastante esclarecedora, ficando associada (pela negativa) aos velhos métodos de forjar guerras, agora, esperemos que definitivamente, enterrados!

Obrigado, Samuel!

Umaru entrevista Daba

Daba na Walna concedeu ao GBissau.com uma entrevista exclusiva, que pode ser ouvida na GumbeRadio. Será uma entrevista política? Não, apenas legítima defesa, pois as Forças Armadas foram acusadas de instrumento de «tirania e delinquência».

Tudo está desorganizado na Guiné-Bissau. Estranho é que queiram fazer das Forças Armadas, último reduto da soberania, o bode expiatório para todos os males do país.

Os políticos não têm qualquer visão política (para além do seu interesse pessoal). Quando os políticos andam a brincar, «os militares acabam por assumir o poder.»

«Infelizmente (ou felizmente [para alguns]) não é [ainda] o caso na Guiné-Bissau.»

Mas «o sistema está mal! e deve ser reconstruído.»

Talvez esteja na altura de acabar com a DELINQUÊNCIA dos políticos no passado; e já que querem imputar às Forças Armadas a fama de TIRANIA, retire-se-lhe o proveito, em benefício do futuro da Guiné-Bissau (se o dão por facto consumado, esgotam o potencial de condenação e não poderão mais condenar, quando e se de facto estas ditarem uma nova ordem).

CPLP dividida

Manteve-se a dúvida, até à última hora, quanto à presença da delegação da Guiné-Bissau no encontro de Chefes de Polícias da CPLP. Face aos incansáveis esforços de Timor-Leste, na pessoa de Longuinhos Monteiro, contando com a simpatia do Brasil e de São Tomé, país anfitrião, a diplomacia portuguesa, numa cobarde atitude persecutória, para evitar assumir frontalmente a sua posição, optou por recusar a emissão de vistos à delegação guineense, para uma simples escala em Lisboa. Acrescente-se que nenhum dos elementos dessa delegação consta de qualquer lista de interdição publicada ou subscrita por Portugal.

«Embaixada» de Portugal em Bissau? Não tinha sido despromovida a simples representação de negócios? Perante esta pouca vergonha, talvez o senhor Presidente da República deva convidar, agora que já dispõe de instalações condignas para o receber, o «Embaixador», representante de negócios, ou seja lá o que for, para lhe dar um valente puxão de orelhas: ficaria assim acreditado. Pelos vistos, Rui Marionete e a política externa de Portugal, continuam estáticos e agrilhoados às inqualificáveis instruções de um Paulo Portas ressabiado.

Ver notícia

Terão os responsáveis portugueses a noção da gravidade da situação e dos altos custos políticos da sua birra gratuita? De estarem a contribuir para a dissolução da CPLP?

domingo, 15 de setembro de 2013

Nitro Alves

José Eduardo dos Santos, que insiste na sua raivosa campanha contra meia dúzia de adolescentes (em crescimento), acabou de receber um sério aviso. De uma mãe.


Depois do folhetim Luaty Beirão e Emiliano Katumbela, as autoridades inauguram agora uma nova frente de luta. A idade da acusação política vai baixando.

Dos 22 de Katumbela para os 17 anos de Nito Alves. O regime está a atingir um nível preocupante de paranóia. Luaty, Emiliano, Nito Alvos a abater? A Nitro é explosiva...

E com as mães não se brinca: o aviso, «se algo de mal acontecer ao meu filho, torno-me revolucionária» tem toda a legitimidade. A paciência tem limites.

Adjarama, irmão Doka.

Orgulho de ser guineense!

Bravo! ao Tomé Delgado Pinto pelo magnífico e oportuno artigo de opinião.


Efectivamente, esse velho fantasma tribal da «balantização» (lembrar um artigo de Didinho de 2004 ou um outro que publiquei aqui há cerca de um ano) volta hoje não só a servir os propósitos desestabilizadores da nacionalidade e verdadeira identidade guineense, como é agitado perante a comunidade internacional (chega-se a usar o terrível sinónimo de rwandização) numa (vã) tentativa para impor uma presença militar estrangeira «contra» as Forças Armadas, garantes da soberania nacional.

Obrigado, irmãos balantas na diáspora.

Nuno Rogeiro entrevista Cadogo

Cadogo continua a revelar a sua confusão identitária e inconsistência temporal:

Fala sempre no plural, como Júlio César, utilizando o «nós», mesmo nos assuntos mais desadequados, como a luta de libertação (não fazendo parte desse «nós», deveria usar o «vós»).

Acerca das acusações da DEA a António Injai, disse que está à espera que os americanos entreguem as provas ao «governo» (entenda-se o seu, claro, o legítimo, embora seja candidato presidencial).

Mal conseguindo disfarçar o gozo, Nuno Rogeiro desejou-lhe, para terminar, boa viagem de retorno a Bissau e longa vida...

sábado, 14 de setembro de 2013

Outro PP!

O ex-Comandante Pedro Pires sente-se indesejado na Guiné?

Ainda há pouco tempo vinha com falinhas mansas, oferecendo-se para «mediador». Esta semana, com uma entrevista ao Expresso, opta por um dos lados de um conflito que se propunha mediar? Poderá aferir-se, por esta atitude, a sua boa fé (e imparcialidade para árbitro).

Que é feito do pote de mel? Não se caçam moscas com vinagre. O lobo despiu a pele de cordeiro? Que pretende com esta entrevista? Atirar mais achas para a fogueira? Como lembrou o Didinho, quantos mais entraves colocarem à normalização da situação, mais tempo durará a transição.

Ah, e está a estragar o trabalho tranquilizador da Associação de Amizade entre os dois povos.

PIRE-Se.

Já o jornalista que assina a entrevista, José Pedro Castanheira, enxerta também, no final da entrevista, a sua opinião e preconceito: em que é que se baseia para afirmar que «Os EUA estão mesmo decididos a capturar o atual Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, general António Injai»? Entrevistou o Obama? Ou foi o ex-Comandante que lhe segredou?

E, já agora, confundiu 7 de Junho de 1998 com «Maio de 1999»; e Ansumane Mané não só «tentou depor o Presidente da República, Nino Vieira», como o depôs mesmo... Ele é que depois voltou (mesmo a pedi-las). Enfim, não há nada mais irritante que candidatos a jornalistas a quererem parecer entendidos, debitando postas de pescada, sem fazerem o trabalho de casa como deve ser.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Esperança poética

Já ontem, ao ler o Dautarin da Costa, tinha ficado fortemente emocionado.

Mas hoje, a leitura de dois artigos de Branca Clara das Neves, publicados pelo Didinho, fez rebentar os diques de contenção, e chorei de emoção.

Nestes momentos conturbados, os melhores filhos e filhas, amigos e amigas da Guiné-Bissau, elevam a nota de esperança!

Oportuna, a visão interna de uma máscara de tubarão, para assustar os candidatos à iniciação! Está-se a ver para quem é o «barrete»... do tubarão azul.

Canto Suspenso

Três vezes atrás

Adjarama pela poesia, 3 x Branca, preto, preto, preto.

Parabéns ao Progresso Nacional!

Parabéns ao Progresso Nacional pelo meio milhão de visualizações! E também pela grande reportagem sobre os fosfatos de Farim. Farim quer dizer governador em guineense (lembrança toponímica de uma organização política de tempos pré-coloniais)… mas parece-me evidente que os fosfatos representam um caso típico de má governação em África.

No Ministério e Direcção Geral envolvidos, não têm conhecimento do caso? Muito estranho…. Então quem emitiu os documentos que o Progresso Nacional desencantou? Serão falsificações? Onde param os vinte milhões de euros que a empresa afirma ter gasto em 2009? Terão alguma coisa a ver com o carácter draconiano e predatório da concessão?

Não se consegue discernir quais as vantagens para o país de um projecto associado a custos (e riscos) ambientais elevados, sem quaisquer contrapartidas para o Estado. Tal como com a bauxite de Boé, parece que as empresas promotoras não estavam a negociar com a Guiné-Bissau, como Estado, mas tão só com Cadogo, a título pessoal, o «proprietário».

Por isso o preço das acções da GB Minerals está tão deprimido, reflectindo as probabilidades, antecipadas pelos accionistas, de Cadogo voltar ao poder (um décimo do valor nominal!). Consideram pois que a «aposta» (de manutenção no poder do seu «campeão») está perdida, tal como, aliás, a «entrada» ou «sinal» que deram para o negócio…

De certa forma, é «bem feito». Está na altura de os candidatos à exploração dos recursos do continente começarem a respeitar os africanos, como povo (e a mãe terra que pisam): devem respeitar as instituições (por frágeis que sejam) e regras claras de transparência (como nos seus países), deixando de especular com a corrupção dos seus líderes.

Talvez essa, como defende o Progresso Nacional, seja a melhor forma de lidar com os elevados «riscos políticos», que são o seu maior calcanhar de Aquiles. Um negócio que se paga em dois anos de exploração? Sem contra-partidas (pelo menos, públicas) para o Estado receptor, dono do sub-solo? Tudo feito na maior discrição e quase em segredo?

Baseado em notícias recentes, publicadas pelos irmãos intelectuais balantas e pelo Samuel Vieira no Nô Djemberém, gostaria de apresentar dois casos de mineração do ouro na África ocidental (que tem um longo historial, tendo feito a riqueza dos impérios que por aqui gravitaram): um bom e um mau exemplo, dos quais se podem retirar valiosos ensinamentos.

Primeiro, o mau exemplo: o encerramento compulsivo de uma mina no Ghana, de capitais chineses, depois da ocorrência de uma catástrofe ambiental. A apetência pelo lucro fácil e a ganância, desrespeitando normas básicas de segurança e descartando preocupações ambientais, não são sustentáveis a longo prazo, pela sua inevitável falibilidade.

O bom exemplo vem do Senegal, onde uma importante fatia da actual receita fiscal do Estado provém da exploração desse mineral por uma empresa canadiana, a qual, para além disso, faz questão de invocar responsabilidade ambiental e social, promovendo projectos de desenvolvimento em várias áreas, desde a educação, saúde, agricultura, economia.


Este caso deve constituir-se como um aviso sério ao capital especulativo candidato à exploração dos recursos africanos: só têm a ganhar em abandonar preconceitos «selvagens» ferozmente neo-colonialistas; em fazer as populações beneficiar de uma (pequena) parte do imenso valor que pode ser sustentavelmente criado num clima de confiança mútua.