quarta-feira, 9 de maio de 2012

O cerco de Zedugrado


José Eduardo dos Santos, homónimo de José Estaline. O cerco de Estalingrado constituiu o ponto de viragem da segunda guerra mundial. A uma escala mais pequena, o cerco da «bolsa» de Zedugrado faz dentro de dois dias um mês que dura já.
Sim, seria fácil matar a fome. Zut. Uma bala certeira. Depois disso, nunca mais ninguém tem fome.
Mas quem pode ter razão diante de um morto? Quem pode ralhar para um pobre corpo tombado, crivado de balas? O seu último adeus, grito que ninguém percebeu porque as balas zut! zut! … silvam alto e fosse o que fosse que ele queria dizer zut! zut! zut! não chegou a fazê-lo.
Perguntar-lhe-emos depois «Que estavas aqui a fazer numa terra estranha?» ou «Sabias o que estavas a defender, ao certo?»?
O Comando Militar tem usado da maior humanidade para com os militares angolanos que estão neste momento nesta posição desesperada por culpa dos seus políticos e diplomatas (mas pouco), os quais, depois de fazerem asneira, lhes prometeram resolver a situação num curto espaço de tempo. Passados todos os prazos, ninguém os poderá acusar de não terem cumprido o seu dever até ao limite do humanamente possível. É fácil sentirmo-nos solidários com estes soldados que apenas cumpriram ordens, como julgam ser o seu dever. Face às necessidades por que estavam a passar, o Comando Militar facilitou-lhes o abastecimento em pão.

Estou-me a lembrar do gesto desesperado de Hitler, enviando o bastão de Marechal a Von Paulus no último Junkers que aterrou em Estalingrado, pedindo-lhe para se sacrificar e aos quase um milhão de soldados por quem era responsável; quando Hitler soube da rendição, teve uma crise de fúria, vituperando Von Paulus, gritando que era uma desonra «caminhar ao lado dos seus soldados» e que deveria ter optado pelo suicídio, como bom prussiano. Foi quando Rommel se levantou, ousando desafiar o ditador (acabaria por pagar com a vida) e disse que achava muito mais digno «caminhar ao lado dos seus soldados», partilhar a sua sorte, do que um suicídio. Rommel estava habituado a desobedecer: fê-lo em Junho de 1940 na sua louca cavalgada para Paris, quando Hitler julgava que a brecha aberta na Linha Maginot era uma armadilha e transmitia ordens incessantes do QG, pela rádio, mandando parar e consolidar posições, Rommel pura e simplesmente sabotou o rádio e continuou (com o enorme sucesso que se sabe); ou quando, ao abandonar (com um peso no coração) os seus homens do Afrika Korps, ao receber ordens terminantes para fuzilar os oficiais ingleses, rasgou pelas próprias mãos a mensagem e deu ordens para serem libertados de imediato.
Quando as ordens são estúpidas… nenhum militar se deve sentir obrigado a obedecer. Coisa mais fácil de perceber para um guerrilheiro guineense do que para um soldado convencional, admitamos. Claro que a carreira do oficial que assumir o acto estará acabada (pelo menos enquanto durar a carreira de José Eduardo dos Santos), mas será de longe a melhor opção militar e humana.

P.S. Faz hoje 67 anos da queda de Berlim e da rendição incondicional da Alemanha nazi.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Factura da estupidez

O Expresso está a conduzir uma investigação para apurar o custo da «desinquietação» da Força de Reacção Rápida. Contas muito por baixo, e só até agora, será superior a
2 000 000 €
Dois Milhões de Euros

(custo, só de si, superior ao Orçamento de Boa Vontade, submetido a José Eduardo dos Santos neste mesmo blogue). Mas o título provisório é desadequado: «Golpe na Guiné» não; estupidez de Paulo Portas, isso sim!

Golpe na Guiné custa milhões de euros a Portugal

Discurso vão para orelhas moucas

Agora o Conselho de Segurança ouve tagarelas que fazem tabu do que os traz? Depois de um discurso muito bobo do eterno representante da UNOGBIS; segundo o PAIGC, que alçou a voz para impor sete condições ao Conselho, estão em curso as «maiores barbaridades» contra civis na Guiné. A que se refere? Ah, mataram o cão ao Primeiro-Ministro! Segundo o piroso Jaló, a CEDEAO está «objectivamente a legitimar um golpe de estado». Ainda bem que também reconhece, mas por favor, não tchore más que djá endjooa...

O chicote angolano foi-se um pouco abaixo, os estalidos soam a falso: embora o discurso continue desadequadamente high-profile, o tom e o ritmo da voz já não conseguem acompanhar, pois o próprio já não acredita... Lamentável performance. Um novo ditado: «Quem entra de chicote, sujeita-se à chacota.»


A vermelho, o perímetro do Palace Hotel, a amarelo o aeroporto.

A representante da CEDEAO deu conta, numa voz mais alegre que as anteriores, do essencial do que ficou acordado em Dakar, ou seja que «le deployement de la force devra être convenu avec les autorités militaires». Sim, bastarão dois generais de países da CEDEAO para acompanhar ao aeroporto estes turistas políticos que acidentalmente se encontram em território guineense, ninguém lhes vai fazer mal, desde que respeitem os anfitriões. Quanto ao adjectivo utilizado, «iminente» (mesmo que fosse para uma força com mais de 50 soldados), não acreditem muito; financiamento... (CPLP? UE? Angola?) mobilização (três a quatro semanas, segundo a própria organização), discussão das modalidades (ui...)... Mas também não será preciso tanto mais tempo assim, porque caem de maduros antes disso. As mangas amadurecem primeiro, mas não as comam já porque ainda estão um bocadinho verdes... incha barriga.

P.S. Faz hoje 13 anos que se resolveu o que tinha sido começado 11 meses antes.

Poilão de Brá II

Recomenda-se, para a nova bandeira ou o novo brasão, o símbolo que representa o Poilão de Brá. Quem não lembra a Rádio Voz da Junta Militar «Do Poilão não passarão!»? Como afirmação de resistência e de soberania, pois o Poilão, para além de imponente, tem as raízes profundas, mas quase aéreas...

A amarelo, o aeroporto. A vermelho, um quadrilátero mais ou menos regular com aproximadamente 200 por 200 metros.

Trapalhões & Cª no Conselho de Segurança

Depois de toda a trapalhada em que se meteram, talvez tenha chegado o momento do discurso apaziguador... É só puxarem as pontas, muita gente esclarecida, na CPLP, já constatou a simples realidade. Saúda-se a postura prudentemente mantida do outro lado do Atlântico; e agora, directamente de São Tomé e Príncipe:

http://www.telanon.info/suplemento/opiniao/2012/05/07/10334/cplp-e-as-trapalhadas-na-guine-bissau/

Para Paulo Portas, a demissão tornou-se inevitável. Terá de começar por responder às acusações de inépcia e irresponsabilidade perante uma Comissão Parlamentar.

Para José Eduardo dos Santos, é o fim da carreira. Embora pretendesse bater em longevidade Bongo & Kadafi, no livro dos recordes; 33 anos (Cristo não teve mais de vida) de poder já é, sem dúvida, uma marca invejável. Com o balde de água fria que levou por fora, vai arrefecer por dentro. Já não há terapia que lhe possa valer.

domingo, 6 de maio de 2012

Erro na escolha da localização

Um hotel com vista para o mar teria sido claramente uma melhor opção, para Paulo Portas poder brincar com o seu submarino. A vermelho, em pleno coração da «praça», a MISSANG. A amarelo o aeroporto.

Reconheçam o novo Governo legítimo a constituir na Guiné-Bissau, saiam do Palácio, atravessem a avenida e vão aí mesmo em frente, ao novo Palácio do Governo de Brá (ocupado pelos «golpistas», não em ordem a uma qualquer «simbólica» do poder mas por uma questão de posição de tiro), peçam vistos de saída às autoridades competentes, cinco minutos depois estão a apanhar o avião para Lisboa.

Baratas tontas

Paulinho SWAT já não sabe mais para onde se virar; um autêntico fiasco: ao contrário da CEDEAO, que colocou a palavra chave «MISSANG» no seu documento, já no documento da CPLP continua omisso (missing). Hom'isso não!

Cabo Verde, Cabo Amarelo, Cabo Azul... num dia assina pela CEDEAO, para logo no outro assinar, em nome da CPLP, outro documento contradizendo-se: e os interesses da Guiné-Bissau? A postura não é supostamente independente? Ou vão a reboque do reboque?

Que rica figura a CPLP vai apresentar ao Conselho de Segurança: não fiquem muito irritados se se rirem na vossa cara... O que é que querem mesmo? A proliferação de pontos é pouco esclarecedora e bastante confusa: pelos vistos, contentam-se com sanções de mobilidade internacional aos golpistas, que aliás os próprios visados nomeados afirmam compreender. Ok, tudo bem.

Vantagem no marcador

Cada vez mais isolado na cena mundial e sem opção militar actual, o presidente angolano já se apercebeu que se encontra num beco sem saída. A jogar fora de casa, está agora reduzido a duas opções simples: cash or body?

A primeira opção parece de longe a mais razoável, pois não é coisa que lhe faça assim tanta falta (pelo menos tanta como faz na Guiné). Avançam-se algumas hipóteses para propostas que poderiam ser encaradas como boa vontade da sua parte. A elaboração de um pequeno orçamento permitir-lhe-á constatar que se trata de um género de solução bastante em conta.

1) Já que a ideia era requalificar e redignificar as Forças Armadas guineenses, oferecer um par de fardas novas a todo o militar guineense.

2) Ceder às Forças Armadas guineenses todo o material de guerra que se encontra no seu território (a alternativa da sua devolução para ferro velho apresentaria um valor residual tendencialmente nulo)

3) Colocar um cargueiro com bens alimentares não perecíveis e medicamentos no porto de Bissau, para minimizar o impacto do pânico e carestia criado pelo alarmismo que despoletou

4) Conceder um empréstimo sem juros, para despesas urgentes de reconstituição da capacidade governativa na Guiné-Bissau

Como o objectivo de Angola é sair de cabeça levantada e como amigos da Guiné-Bissau, estará decerto disposta a fazer um pequeno esforço desinteressado nesse sentido, dando um sinal positivo de boa-vontade, pelo qual todos os guineenses anseiam.

sábado, 5 de maio de 2012

Legitimidade III

Depois da grande vitória política e diplomática que constituiu o reconhecimento pela CEDEAO da impossibilidade moral de uma «recondução» do ex-presidente, mesmo que ao abrigo de uma nova legitimidade, pois este estivera preso por quem iria chefiar; o mesmo princípio (ou precedente) se deverá aplicar à Constituição, espezinhada por Nino em 1998, que se manteve depois, desadequada... dando aso a todo o género de atropelos: está manchada de morte.

Segundo comunicado da Liga emitido hoje dia 5 de Maio: «Desde o conflito politico-militar de 7 de Junho de 1998 que o país reclama medidas consistentes, sustentáveis e adequadas (...) o problema guineense deve ser resolvido com base nos interesses nacionais objectivamente estruturados e não com base nos interesses geo-estratégicos sub-regionais ou continentais.» A legitimidade da antiga Constituição é igual à de Raimundo Pereira para CEMFA: ou seja, nula.

O Comando, logo nos primeiros dias, ancorou a sua legitimidade numa proposta de transição «técnica» afastando o «político» da praça pública. Conseguida uma solução «em branco», justifica-se, como afirmação de seriedade, a política da «tábua rasa». Dissolução dos vínculos do ex-PAIGC com o Estado, ao nível da própria bandeira; dissolução da Constituição; dissolução do Governo. Vários cenários para 12 meses de transição, mas o que parece perfilar-se e de longe o mais substancial

o de um chefe de estado militar, como responsável e garante da afirmação da soberania nacional e da estabilidade político-militar, reunindo as competências de Presidente e Primeiro-Ministro;

um governo colectivo consubstanciado num Fórum de Discussão / Decisão, conforme vários sinais substantivos de interacção com a sociedade civil dados pelo Porta-Voz do Comando

«A Guiné-Bissau precisa de um novo modelo de sociedade» afirmou hoje, dia 5 de Maio, o sociólogo guineense Ricardino Teixeira, autor do livro “Sociedade Civil e Democratização na Guiné-Bissau”.

http://www.asemana.publ.cv/spip.php?article75862&ak=1

Considera que a Guiné-Bissau precisa de um novo modelo social assente na valorização da manjundade, que define como «um grupo pedagógico, cultural e político, com capacidade de articular os diferentes grupos étnicos em torno de objectivos comuns. Este grupo deve constituir-se numa rede governável na diversidade e implicando a sociedade civil».

Tentando traduzir para português o termo em poucas palavras: convívio dos mais velhos e esclarecidos.

Com os créditos adquiridos e uma legitimidade «virgem», pede-se agora a Daba Na Walna que se empenhe na sua nova carreira, se dedique a formalizar juridicamente uma nova soberania no novo Estado da Guiné-Bissau. Uma tarefa essencial, para além do «design» da nova Constituição (os acertos já foram admitidos pela CEDEAO), será a elaboração de um inventário de recursos minerais e de estratégias ou projectos de rentabilização relacionados, prevendo mecanismos de controlo técnico independente por parte do Estado, bem como a integral transparência dos contratos (e das Contas do novo Estado), dando assim garantias de seriedade técnica e continuidade económica tanto a investidores como aos guineenses.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Força portuguesa sai


http://visao.sapo.pt/forca-portuguesa-sai-da-guine=f662564

Mesmo a corveta e a fragata que «faltam», sem logística, não está previsto que se atardem.

Hora di BYE, BYE.


Ditadura do Consenso recupera equipamento

Felizmente a imagem voltou ao Ditaduradoconsenso! Acabaram por entregar ao rapaz a máquina fotográfica. O computador, mesmo se aparentemente violado, pelos vistos, funciona. Ainda bem, pois o Aly parecia ter ficado um pouco desmoralizado e à beira de desistir. Poucos dias depois do dia da liberdade de imprensa (que mereceu um discurso inflamado do Embaixador dos Estados Unidos para a Guiné-Bissau e o Senegal), face às alegações sem fundamento de «perseguições» a jornalistas na Guiné-Bissau que circulam pela internet, esta parece ser a melhor resposta. Cai assim também pela base a acusação dos RSF Repórteres sem Fronteiras relativamente aos bloggers.

Pleonasmo ou retórica?

Andam para aí a escarnecer de uma afirmação de Daba, que cola «endógeno e interno».

Ora, em primeiro lugar, as duas palavras apresentam nuances e portanto complementam-se (endógeno, nasce de dentro, mas é livre; interno, tem a ver apenas com o que está lá dentro e assim se mantem);

Em segundo lugar, o seu discurso militante e parcial destina-se a convencer e a ser lembrado (permanecer na memória implica uma certa dose de repetição, é o que faz a publicidade, nunca vemos um anúncio uma só vez) e encontra-se estruturado com base numa retórica consistente.

Neste contexto, chamar analfabeto a Daba apenas demonstra a falta de Fair Play, o nervosismo e o comportamento primário de alguns actores. Uma coisa é dizer «subir para cima», ou «pareceu-me bem parecido».

Mas se eu disser «lamber com a língua»? Pois claro, havia de ser com quê? Mas a redundância redunda neste caso numa valorização do dito, num empolamento do efeito: ao acrescentar à descrição do acto, o respectivo instrumento, facilita-se a construção da imagem mental. Daba utilizou uma figura de estilo, de retórica hiperbólica. É um verdadeiro bólide: demolidor.

Talvez seja melhor esquecerem a língua portuguesa, pois ela é muito traiçoeira. Já a atitude, essa, parece mais de inveja, se não mesmo de desespero. Em vez de criticarem o que não percebem, aproveitem para aprender com o senhor Porta-Voz. Encosta-vos a um canto, dá-vos um chuto com a ponta do pé!

La pagaille à Dakar

A cimeira extraordinária da CEDEAO reunida esta noite em Dakar para tratar da questão da Bissau acabou por ser absorvida pela rápida e perigosa evolução da situação no Mali; o Comando Militar também não leva a mal que passem o «problema» da Guiné-Bissau para segundo plano. O presidente em exercício da organização lembrou, a propósito, que a principal vocação da Comunidade é «a construção de escolas» e não a arbitragem de conflitos políticos... Para bom entendedor, meia palavra basta.

Não gostou decerto da «marcação ao homem» que Paulo Portas e José Eduardo dos Santos lhe andavam a mover incluindo: «enviados especiais»; dos anúncios de auto-intitulados-ministros dos «negócios estrangeiros» fantoches, contrariando a organização (e com pretensões de falar em nome da ONU); das notícias orquestradas a partir de Luanda quanto ao peso dos franceses em África, escarnecendo a «FrançÁfrica»; e das afirmações tentando pressionar as decisões da organização por parte do presidente da CPLP. Banjul tinha sido de facto a última jogada dos partidários da guerra, com as tentativas ofensivas, mas falhadas de Jameh para destabilizar os intervenientes guineenses, ao recebê-los sempre em separado e apostando na intriga...

C'est la zizanie. E uma clara vitória do Comando, em especial do seu Porta-Voz. As leituras são óbvias: a transição foi legitimada pela CEDEAO, sem que esta conseguisse fingir sequer a aparência de um «retorno» à ordem, através da imposição do ex-Presidente. A força em espera, será mobilizada apenas para o Mali, onde há um conflito, mas ficará à espera de ser convidada para entrar. A organização passará a dar mais importância às questões do desenvolvimento económico e da integração regional. Lacónico.

Tal como Daba garantiu, não haverá qualquer intervenção de forças estrangeiras na Guiné-Bissau.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Alarmismo barato

Notícia original:

Segundo a Lusa, citando por fonte o Ministério da Defesa, Portugal estaria a avaliar a retirada da força naval, que inclui, para além dos dois vasos de guerra e navio de logística já conhecidos, uma outra fragata, a Bartolomeu Dias, cuja presença na área não tinha sido anunciada à comunicação social. De acordo com a TVI, José Pedro Aguiar-Branco recusa ter havido qualquer intenção de fazer segredo com a última fragata.

Mas o jornalista do Correio da Manhã não soube ler bem a notícia e anuncia na penúltima página da edição de hoje que «Ontem, partiu a terceira fragata», em lugar de destaque de «última hora»! Não foi ontem, foi há duas semanas; a notícia é de que vão voltar à base e não atacar; e não é a «terceira» fragata, mas a segunda, pois também lá anda uma corveta.

Guiné-Bissau: Fragata a caminho

 

A operação de resgate dos portugueses residentes na Guiné-Bissau poderá ocorrer a qualquer momento. Segundo a Rádio Renascença, são três os meios navais que integram a Força de Reacção Rápida. Ontem, partiu a terceira fragata, a ‘Bartolomeu Dias’.

Comentário mais votado (Natália)
"Nenhum cidadão residente na Guiné-Bissau, seja de nacionalidade portuguesa ou outra, precisa de ser evacuado! Bissau tem ligações aéreas semanais para o exterior, das quais 3 directamente para Lisboa!"


terça-feira, 1 de maio de 2012

Diligências continuadas


Pretória, África do Sul. Exemplo mundial de tolerância. Quando Nelson Mandela visitou o homem que o mandou prender, deu um sinal claro, com essa atitude: se ele próprio, que tinha razões de sobra para odiar, perdoara, ninguém se sentisse com «legitimidade» para vinganças.

O presidente de Cabo Verde, que pertence ao Grupo de Contacto da CEDEAO para a Guiné-Bissau, reuniu com responsáveis de Angola, Namíbia e África do Sul... As suas declarações foram mais prudentes que as do Primeiro-Ministro, ao reconhecer que a Guiné é um «caso complexo». Precisamente. Obrigado, Nelson.

Nesse contexto, o investigador cabo-verdiano Corsino Tolentino deveria ser levado a sério, quando põe em guarda o seu governo contra uma atitude demasiado marcada na questão da Guiné, aconselhando prudência e distanciamento relativamente à CEDEAO, que parece ter passado ao lado de uma grande oportunidade de afirmação regional e internacional, calmamente e sem violência, depois da vitória diplomática que obteve o seu «ultimato».

http://www.portugues.rfi.fr/africa/20120430-comando-militar-da-guine-bissau-nao-aceita-pressoes-da-cedeao

Após um bom augúrio inicial, e das provas de boa vontade dadas, foi de uma forma rígida e pretensiosa que esta organização tentou encostar à parede o Comando Militar, sem argumentos palpáveis, pois o que puseram no prato da balança, pior que muito pouco, é uma ofensa às forças armadas guineenses: então, com 500 a 600 homens (de várias nacionalidades), pensam invadir a Guiné? Fazem lembrar o «valente» Coronel senegalês que prometeu a Diouf tratar da «questão» em 24h... a sua caveira foi depois mostrada na televisão em mãos da Junta. E tiveram Nino para lhes garantir o desembarque...

Antigamente, enviavam-se forças de paz para zonas em guerra; agora, pelos vistos, falam em enviar forças de guerra para zonas em paz! O Comando Militar não podia dar o que não lhe pertence: a sua única legitimidade, para além da força, nesta situação, foi o ter-se oposto, com razão, à intenção de envio de forças estrangeiras. Em relação a esse ponto, pelo menos, os guineenses parecem estar de acordo, pois ninguém vê com bons olhos a presença de forças estrangeiras, mesmo se alguns defendem ser esse um mal menor.

Depois da Costa do Marfim, está mais que visto que a ingerência, através de missões de «cooperação» técnico-militar, nos assuntos internos de outros países, só pode prejudicar: é que qualquer visão exógena é forçosamente redutora. Nenhum soldado estrangeiro tem legitimidade para se imiscuir em questiúnculas internas de um país independente e soberano, sob risco de mal entendidos galopantes...

sábado, 28 de abril de 2012

Caçada ao elefante II


Não nos vamos precipitar a fazer leituras apressadas... Daba Na Walna é uma maravilha política, extremamente selecto na escolha das palavras. Na sequência da aceitação, logo no início do prazo dado, de todas as imposições da CEDEAO:

Foram ex-patriados o ex-Presidente interino e o ex-Primeiro-Ministro. Foi mesmo admitida a hipótese de poderem vir a ser nomeados respectivamente Presidente interino e Primeiro-Ministro do Governo de Transição (cuja duração foi acordado reduzir para um ano); sublinha-se que a legitimidade governativa lhes vem do Comando Militar e não de qualquer eleição ou situação anterior.

O novo Governo legítimo a constituir, com o apoio da CEDEAO e do Comando Militar, graças ao presente protocolo, ao consolidar as perspectivas de consolidação da paz, segurança e estabilidade governativa no país, permitirá decerto rentabilizar esta oportuna iniciativa diplomática e poupar maiores esforços no futuro à Comunidade, estando previsto, no âmbito da sua «Force en attente», mobilizar, nos respectivos países, no espaço de três a quatro semanas, uma força de 500 a 600 homens (dont le deployement devra être mis au point entre les signataires).

É uma grande vitória do legítimo presidente da Costa do Marfim, anfitrião da reunião de Abidjan, aliás conhecedor das questões geo-políticas em questão, depois de uma transição complicada ainda há relativamente pouco tempo no seu próprio país, com o seu rival a recusar-se a acatar os resultados eleitorais, contando mesmo para isso com o apoio de forças estrangeiras presentes no terreno.

Portugal «estuda» a retirada da sua Força. A ONU delegou na CEDEAO, portanto, face ao sucesso desta, qualquer iniciativa no Conselho de Segurança acerca da Guiné-Bissau perdeu oportunidade e será adiada para as calendas gregas. Os Estados Unidos, até aqui discretos entraram de cabeça para salvar Angola: declarações do Embaixador, a senhora Clinton endereçou um convite a Georges Chicoti para lhe fazer uma «visita de alto nível», com o objectivo (quase hilariante) de o desagravar das injustas acusações de que, na sua opinião, tem vindo a ser alvo no âmbito da questão da Guiné.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

i = 0 em geografia

António Rodrigues pretende fazer, num artigo recente, uma análise «profunda» da realidade guineense...

http://www.ionline.pt/opiniao/catch-22-golpe-militar-na-guine-bissau

Entretanto, apagaram a página... Felizmente o Aly fixou uma cópia:

http://ditaduradoconsenso.blogspot.pt/search?q=22+catch

mas a sua superficialidade jornalística deixa muito a desejar, pois, ao contrário do que presume quem o lê, a Guiné Equatorial, mal grado a sua proximidade onomástica, é encostada a Angola e não à Guiné-Bissau. A não ser que «região» seja África inteira! Olhe primeiro para o mapa, recolha informações e veja as notícias, antes de fazer «apostas» desinformadas e mal aconselhadas para o futuro.

Não deu parte da encomenda, pois trai-se uma segunda vez quando acrescenta o epíteto de «ditador» ao recente aliado de José Eduardo dos Santos. Vamos ter de lhe dividir o crédito (22 cachas) para um sétimo... Piiiiiiiiiiiiii

Crónica de um golpe anunciado

Daba Na Walna continua a somar pontos. Atenção aos seus discursos, que são muito prudentes: quaisquer palavras, retiradas do contexto, podem induzir em erro. Antes de dar especial relevo a qualquer das suas afirmações, os jornalistas deverão atentar bem nas frases pos e pre-cedentes. É claramente uma arte da nuance. E Angola, face à alta qualidade diplomática e jurídica da face visível do Comando Militar guineense? Há um novo contexto geopolítico em desenvolvimento... Não arranjam nada mais original do que acusar os militares guineenses de serem manobrados por Kumba Yalá, numa base tribal, na feitura deste golpe de estado? A troco de uma «grande soma em dinheiro» entregue em pleno Estado Maior?

http://www.zwelangola.com/politica/index-lr.php?id=8754

Estão desactualizados: Daba foi bastante claro quanto a isso, na entrevista dada por à RTP em Bissau, há uma semana, quando a jornalista lhe apresentou essa questão «Não andamos aqui às ordens de ninguém». A «inventona» é grosseira demais e foi desmentida, sem sombra para dúvidas, uma semana ainda antes de formulada.

Resumindo o conteúdo das acusações, mesmo sem nexo: corruptos, tribalistas... Traficantes de droga e agora, pela voz da América, parece querer juntar-se-lhe mais um espantalho, o «risco de terrorismo», numa associação (muito es)forçada ao fantasma da implementação forçada da Charia no Norte do Mali, país que aparentemente implodiu e constitui agora a principal preocupação da CEDEAO (por razões diferentes, pois na Guiné-Bissau tem sido conservada a ordem e soberania nacional).

http://www.voanews.com/portuguese/news/trafico-de-droga-na-guine-bissau-podera-ajudar-terrorismo.html

Ora, já que falamos na VOA, para documentação, atente-se nos precedentes da actual crise, para melhor informação, graças a um seu artigo de 28 de Dezembro do ano passado: numa conferência de imprensa, Victor Pereira, porta voz da oposição guineense acusou o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior de ter vendido "a alma" e recursos do país a Angola, afirmando que a presença de militares angolanos na Guiné-Bissau constituía uma "força de ocupação", considerando inadmissível que o primeiro-ministro tenha sido resgatado da sua residência por "forças de ocupação estrangeira" provenientes de Angola, fazendo uso de armas de fogo.

http://www.voanews.com/portuguese/news/12_28_2011_angolaaccusedofinereference_voanews-136318378.html

A hipocrisia recente (associada a uma memória convenientemente demasiado curta) no tratamento desta crise, na tentativa de submeter a Guiné, tem distorcido substancialmente os acontecimentos, regra geral subvertendo mesmo o seu próprio sentido, numa clara intenção de diabolização primária dos acontecimentos em Bissau, aparentemente orquestrada a partir de Luanda. O «presente de Natal» que Bissau teve no sapatinho pareceu antes uma moralização da situação, com a prisão do ex-Chefe de Estado Maior da Armada Bubo, recorrentemente apontado, tal como Nino, como conotado com o tráfico de droga. Recuando um dia e recorrendo à mesma fonte...

http://www.voanews.com/portuguese/news/12_27_2011_-136258333.html

Mas para refutar a interpretação de Guilherme Correia da Silva, ontem na VOA, em torno do espectro do terrorismo, veja-se a sua própria fonte, um livro do IISS, Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com o sugestivo título de «Drogas, insegurança, Estados falhados e os problemas da Proibição» e constatar-se-á que a sua apresentação do assunto é, no mínimo, bastante pessoal. O grande desafio, para os investigadores, parece ser o de fomentar uma outra concepção para o «inerradicável» cancro (por mexer com dinheiro) que constitui o tráfico de drogas, ousando mesmo sugerir novas abordagens mais permissivas (citando mesmo como bom exemplo o caso de Portugal), senão mesmo uma liberalização que resolveria o problema de vez, pela raiz.

http://www.iiss.org/publications/adelphi-papers/adelphis-2012/drugs-insecurity-and-failed-states-the-problems-of-prohibition/

quinta-feira, 26 de abril de 2012

GUINÉ CHIKOTIADA


Terapia de choque.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Declarações extemporâneas em Assembleia ordinária

José Eduardo dos Santos, que não pediu licença à «sua» Assembleia para enviar Blindados e Forças Especiais para assegurarem os seus interesses na Guiné, mas para «sair» já precisa de se legitimar perante a Assembleia (ordinária)? Mais valia acrescentar à lista de segredos e tabus a conservar. Mas se é para «sairem», para que é que a sua secretária de Estado das Relações Exteriores para a Cooperação, Exalgina (parece nome de medicamento; ah, deve ser terapia do mau hálito: _Não exale, Gina, tanta barbaridade, se tivesse um filho em Bissau não falaria assim...) acabou por declarar que a missão militar de Angola na Guiné-Bissau, MISSANG não será retirada enquanto não for restabelecida a «legalidade» constitucional neste país?

http://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=10857:missang-nao-sai-em-breve-da-guine-governo-angolano&catid=23:politica&Itemid=123

Ora se está extinta, segundo declararam, é incongruente assumir essa posição (e extremamente perigoso). O nível está a baixar: uma posição de força assumida por uma Secretária de Estado? Se se poderia compreender a escolha de uma mulher, numa perspectiva de pacificação, não se compreende é que vão descendo na hierarquia, para tratar de um assunto tão importante para o Presidente (não eleito); qualquer dia aparece o porteiro do Palácio a servir de pombo-correio. Mas estas afirmações não deixam de poder ser vistas como uma provocação. Refira-se que toda a oposição se absteve... Não saem? É que pode demorar um bocadinho a cumprir a condição que querem impor; estão a preparar-se para uma longa estadia na Guiné, pelos vistos...

Presume-se que seja essa mesma MISSANG, já enterrada mas agora ressuscitada, que vai aplicar a terapia proposta por Georges Chikoti (que chacota), ex-UNITA... para a Guiné. Aparentemente a ex-ex-MISSANG passou de novo a estado de prontidão, só espera os reforços da Comunidade Internacional para ir buscar pelas orelhas os chefes desta revolta militar tão veementemente condenada no cenário mundial; ou José Eduardo dos Santos descobriu algum supositório especial para a malvadez dos militares guineenses?

Quanto ao documento pelo qual a aliança Paulo Portas / José Eduardo dos Santos tanto anseiam na ONU, arriscam-se fortemente a que a sua formulação esteja claramente aquém do que esperam. É que o Conselho de Segurança, para além, claro, de Portugal e dos Estados Unidos (veja-se Nota Prévia da declaração da Presidência desse orgão: a declaração não obriga o Conselho) tem mais países... alguns dos quais, aliás, ultimamente muito susceptíveis (gato escaldado da água tem medo) no que toca a mandatos «em branco» ou a redacções demasiado vagas. Face às divagações sem nexo das diplomacias portuguesa e angolana, que têm empregue tesouros de retórica para esconder o osso que têm atravessado na garganta (comâ lobu co sê okessa comê um dia tork oss trabessal na gargante...), o mais provável mesmo é que o Conselho opte pelo bom senso a que se referia Daba, e se limitem à condenação vaga e improcedente da praxe, para não hipotecarem mais o já muito abalado crédito da ONU. Em diplomacia, nunca esperem ouvir um rotundo e terminante «NÃO»; hão-de sempre arranjar maneiras para vos «empatarem».

Talvez possamos dar uma ajudinha, na clarificação da situação: a questão gira em torno da dialéctica (redutível à teoria dos jogos, quanto à forma do emprego da força: passiva ou activa?), muito precocemente e bem apresentada (em nome do Exército português) por sua Excelência o Almirante na reforma Melo Gomes, herói da evacuação, debaixo de fogo senegalês, do Ponta de Sagres, em 1998, desmentindo assim imediata e categoricamente a arrogância belicista de Paulo Portas que transpareceu para os Telejornais que assustou tantos guineenses.

Se houvesse algum conflito local (o que há realmente, foi importado) talvez conseguissem uma força de manutenção de paz; se conseguissem encontrar uma «facção» para organizar em segurança um «comité de boas vindas», talvez fizesse sentido pedirem uma força de interposição; agora, inventarem uma figura que não existe: «força de reposição da ordem»? Parece-me exalar um odor demasiado «activo»; o Conselho não é muito dado a novidades, terão decerto de pedir um parecer a uma qualquer comissão jurídica, de qualquer forma isso arrisca-se a constituir um precedente perigoso, pelas múltiplas leituras que poderiam ser feitas no futuro no sentido de agredir outras soberanias; ou seja, têm muito pouco futuro no Direito Internacional, talvez devessem contratar Daba para vos dar umas explicações. Só a dor de cabeça que seria estudar e detalhar as condições e modalidades de um Mandato desse género...



MISSING MISSANG?

terça-feira, 24 de abril de 2012

Poesia com ALMA

Estão todos convidados para Santarém, no próximo dia 2 de Maio.

O 7ze vai declamar poesia portuguesa, sem microfone, no Bar Xantarim.

Camões, Bocage, Fernando Pessoa, e mais alguns, inseridos numa pequena retrospectiva da «ideia» de Portugal.


Lamentável coro de meninos

Estão a tornar-se cada vez mais patéticas as declarações do auto-denominado «governo legítimo da Guiné-Bissau»: a situação está a evoluir depressa, ainda há dois ou três dias ênfase e esperanças eram confiadamente depositadas no «povo»; agora é colocada na «fortaleza» da unanimidade da comunidade internacional, que, afirmam, «nenhuma força consegue vencer». Em princípio, há dez anos, talvez tivessem razão.

Mas a comunidade internacional tem-se prostituído demasiado: o veto de simples bom senso, pela Rússia e pela China, de uma resolução para a Síria, apenas vem demonstrar até que ponto a  ........  internacional na figura da ONU perdeu legitimidade para a resolução de conflitos locais, sobretudo quando meia dúzia de países desenvolvidos e ricos pretendem invocar uma suposta «unanimidade» (muitas vezes apenas ilusão de propaganda) para atropelarem a soberania de países que não se vergam à sua lei, sem quaisquer regras (nem resultados, diga-se em abono da verdade); quando se perceberá no mundo que a Paz e a concórdia não se constroem com base na hipocrisia, na primazia absoluta dos interesses económicos, mas antes no respeito das regras de não ingerência?

Portanto, nem será preciso responder-lhe, sr. ex-homólogo de Paulo Portas, pois já o fez na própria formulação da sua afirmação. Essa será a maior força da Guiné-Bissau, para a qual se poderá gabar de ter contribuído (pela negativa, claro): ter desafiado com sucesso o mundo inteiro: «_Nem que venham todos». Assim é que é falar: «Vamo-nos deixar de tretas?» A legitimidade do Comando Militar passou a provir, precisa e paradoxalmente, desse desafio à              internacional. A ONU morreu e não foi por culpa dos russos e dos chineses, a CPLP morreu e não foi por culpa dos guineenses. Que essas organizações descansem em Paz, e os guineenses viverão muitos anos também em Paz.

Quanto ao Comando Militar, não estaria na altura de promover a reintegração de todos os elementos das FA com valor político-militar e renovar um pacto de unidade, alargando a sua representatividade e legitimidade no seio das próprias FA, chamando aqueles que se afastaram para as tabancas, nomeando para a chefia um militar claramente não conotado com o apelidado «golpe»? É preciso avançar com um nome... Mas para depois ser respeitado, sobretudo na tropa. Talvez seja altura de deixar de actuar preventivamente, pois o perigo de genocídio balanta foi definitivamente (e literalmente) enterrado. Um sinal de abertura, mesmo mantendo a irredutibilidade das legítimas posições de fundo, seria bem vindo, pois a situação arrasta-se e vai começar o ano agrícola e todos se lembram da kansera, fomi e foronta provocados pela guerra. Como homenagem à mulher guineense, permitam-me que me inspire numa linda canção de José Carlos Schwarz:

Matchu, matchu garandi
Kombatenti di povo
Ma tugas ruma se kargu
pa e riba si tera
No ka djuntu na nada
ma e mas nos na tudu.

Com os devidos créditos a Moema Parente Augel num magnífico E-Livro (só clicar na capa para ler):
http://books.google.pt/books?id=TkP6NAsbQskC&hl=pt-PT

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Legitimidade II

Mais umas reflexões sucintas em termos de legitimidade: o ex-PAIGC não tem qualquer legitimidade para se opor, sem alternativas e praticando a política da avestruz da «cadeira vazia», à normalização da situação, situação essa criada pelo ex-Primeiro-Ministro e presidente desse antigo Partido. Em que deu a governação do ex-PAIGC, desde a Independência? Que desenvolvimento trouxeram para justificar a confiança que o povo em tempos depositou nesse Partido auto-dissolvido? Ao optarem por se auto-excluir do processo político oportunamente em curso apenas revelam a sua fraqueza: parecem crianças, que fazem uma birra porque lhes tiraram o brinquedo, ao ponto de retirarem a confiança política a um militante com uma opinião divergente e de bom senso, que poderia servir de ponte. Parecem infelizmente decididos a cortar todas as amarras com a realidade agarrados a um sonho extinto e a empregos miseráveis. Voltando ao tema: se me perguntassem como classificar o «democrático» reino do seu «campeão» Cadogo Jr, teria de optar por defini-lo como uma cleptocracia. A liberdade de opinião (não de manifestação) que hoje existe na Guiné não se compadeceria com a opacidade dos contratos de cedência do sub-solo (a granel) consentidos... Mas pronto, talvez fosse aceitável viver numa cleptocracia com aparências de democracia, se o brilhante condutor dos destinos da nação se contentasse em roubar metade e fizesse aproveitar os guineenses do resto do maná: mas não, entrega, sem a mínima perspectiva de controlo técnico, todo o sub-solo da Guiné a estrangeiros, sem dar minimamente conta do assunto? Resumidamente: 5% para Cadogo e 95% para os estrangeiros. Não se terá esquecido de alguém? É que surripiar alguns dos ovos de ouro, ainda vá, mas matar a galinha? Pelos vistos deixou-se seduzir pelo modelo angolano de distribuição de riqueza, na pessoa do «carismático» (o nível de hipocrisia induzido pelo dinheiro é tramado) líder José Eduardo dos Santos.

Não: os guineenses preferem reduzir a dose de arroz de pilão, a hipotecar todas as suas riquezas a troco de «democracia» que esses senhores dizem vir implementar pela força das armas. Na Guiné, a legitimidade estará sempre do lado da estabilidade. O que vemos, de um lado, são discursos inconsequentes; do outro seriedade e vontade de resolução endógena, sem violência, do grave problema político-militar com laivos de traição, herdado in extremis do anterior Governo. Fortes da confiança que os guineenses acabarão por depositar numa proposta séria e tecnicamente bem fundamentada de Governo, garantida por uma liderança militar forte e esclarecida, de forma a em pouco tempo dar provas aos investidores, para que possam investir em condições bem definidas de partilha dos rendimentos e das responsabilidades inerentes à exploração das muitas riquezas que todos sabem existirem na Guiné e que poderiam aliviar as necessidades dos seus filhos, as quais, desgraçadamente, não podem ser exploradas por falta de estabilidade. A tropa percebeu que tem de ser ela a garantir isso e está cada vez mais a mostrar uma face humana e confiável; se o conseguir a confiança dos investidores chegará depressa, não sendo sequer preciso apostar em Portugal ou Angola; temos muitos técnicos que sabem russo fluentemente, os chineses também são bastante sensíveis a conversações sobre matérias-primas e recursos energéticos. São também os ordenados da tropa que estão em causa, que nos garantem que o país trata com dignidade os seus militares, é todo um futuro que está em jogo. Revi várias vezes a entrevista do Daba e... não sei: inspira-me confiança, a forma como fala do futuro, parece-me um bom técnico político-militar.

Já alguém pensou que aquele que apontam como o problema do país (as FA) se possa constituir como solução, se legitimado pela nação? Os militares que escolham (e lhe jurem fidelidade) um dos muitos patriotas desinteressados, militares cultos e de bom senso que há na Guiné; não poderá, claro, ser da etnia maioritária na tropa (não é por Amílcar Cabral o ter desaconselhado, mas a mentalidade inerente à sociedade horizontal que deu à Guiné os melhores guerrilheiros do mundo, não se compadece com a chefia do estado). Até por aí vemos como pode ser falacioso falar de democracia em África: imagine-se um país onde há 2 etnias apenas; uma com 51%, outra com 49%; se o voto for exclusivamente étnico, a vencedora das eleições fica com o Estado, beneficia-se a si e prejudica a outra. Nesse sentido, seria muito mais equilibrado implementar uma «anti-democracia» e dar o poder aos minoritários, pois esses iriam de certeza ser mais equilibrados, conscientes da sua situação. Embora a grande diversidade étnica guineense seja a maior herança, é preciso estarmos atentos e não deixar que qualquer confusão nessa área se sobreponha aos interesses de desenvolvimento e de estabilidade, prevenir quaisquer intrigas como as que conduziram sucessivamente à morte ou prisão de vários Comandantes da extinta Junta Militar. Portanto, a Guiné, que já deu exemplos ao mundo, que tem os melhores guerrilheiros do mundo dispostos a defender a sua soberania, torna-se virtualmente inatacável, se todos estiverem convencidos e confiantes numa nova forma de resolver as coisas. Claro que nesse caso, ficaria a cargo dos novos orgãos de soberania definir uma transição (que não para uma «democracia») e qual o período mais adequado para uma estabilização sustentável e internacionalmente credível.

domingo, 22 de abril de 2012

A questão da legitimidade


Como os «intransigentes» defensores da tolerância ZERO reconhecem, cada vez mais pessoas na sociedade guineense começaram a perceber de que lado está o interesse pátrio, passando a apoiar a Junta Militar. A atitude de Pascoal Correia Alves, economista, cuja opinião o Aly acabou de publicar, insere-se nesse jogo de apaziguamento e de redução das clivagens que o PAIGC e os seus esbirros têm vindo a tentar agudizar. Engraçado é que todas as críticas se parecem centrar no 7 de Junho, diabolizado como origem remota da actual situação, recorrendo ao argumento que o sonho e a épica aventura que encarnou desiludiram depois toda a gente na prática. Ora porque não colocar a questão ao contrário e pensar que a Guiné, forte da sua experiência, saberá corrigir os erros do passado, arranjando meios mais equilibrados, bem como étnica e religiosamente representativos, do que uma democracia importada, sem correspondência com a realidade, e sobretudo propensa a ser apropriada por qualquer um? Pascoal pergunta-se (e com razão) que sentido faz este esticar da corda por parte do ex-PAIGC, esta sucessão de manifestos, esta tentativa de irritação do povo contra as forças armadas republicanas? Essa atitude, denuncia Pascoal, só poderá virar-se contra o povo, que é quem paga o preço; haja bom senso, pede… Uma coisa boa nisto tudo é decerto a reflexão política que este «golpe» já promoveu, claramente mais intensa que durante a última e inacabada campanha eleitoral; reflexão política cuja necessidade Pascoal também traduz bem no seu título: Vamos pensar a Guiné-Bissau.

A confiança ganha-se. É o que está cada vez mais a acontecer: cada vez mais gente confia na consistência deste Comando Militar, desprezando as tentativas de intoxicação promovidas pela velha nomenclatura caduca. Mas pensando a Guiné-Bissau, para fazer jus ao título de Pascoal, comece-se por louvar a atitude discreta e proactiva de Serifo, Presidente da ANP, que aí tem precisamente mantido acesa a chama da esperança no diálogo: primeiro nome apontado para Presidente pelo CNT, preferiu declinar e manter uma certa distância, o que manifestou a sua independência e lhe aumentou os créditos na bolsa de uma futura solução (e irritando o ex-PAIGC: um partido extinto não pode tomar deliberações e o acto de retirada da confiança política é ineficaz em democracia, pois os visados não são obrigados a abandonar os cargos para os quais foram indigitados; quem retirou a confiança política foi o povo, ao PAIGC). No entanto, no momento actual, a legitimidade passa pela situação de facto, ou seja pelo poder dos militares: há que chamar os bois pelo nome, para quê disfarçar e vir a ser acusado de hipocrisia? A transição pode perfeitamente ser assegurada por um Chefe de Estado militar, que ouviria para as questões de governação tanto o Comando Militar como o Conselho Nacional de Transição. No CNT, onde o Comando Militar também poderia estar representado, poder-se-ia ensaiar uma diversificação da sua representatividade, no sentido de incluir chefias religiosas, os mais velhos e respeitados, representantes de ONG a actuar no terreno, etc, para além dos já apontados partidos e organizações sindicais, sendo as suas sessões abertas à Imprensa, de forma a permitir que todos os guineenses acompanhassem os debates, num clima de saudável liberdade de expressão e de verdadeiro fórum de discussão dos problemas da Guiné-Bissau e não uma «bolsa» de emprego para desocupados e incompetentes. Faz lembrar Kikia Machu, o romance histórico de Filinto de Barros publicado pouco antes do 7 de Junho, pela boca de Joana, que mesmo emigrada respeita tradições: cumprindo o Choro de 'N Dingui, seu tio, recorda: «A ilusão da Independência durou muito pouco, esfumou-se nos discursos repetitivos dos novos senhores que tudo prometiam, mas nada de concreto acontecia. (...) no serviço reina a incompetência, os chefes percebem de tudo menos do assunto».

G3: um tiro no barco de três



No agressivo contexto da presença, nas imediações das águas territoriais guineenses, de barcos de guerra cujas intenções se desconhecem, torna-se urgente resolver o problema do enclave extra-territorial onde se encontra um contingente com cerca de duas centenas de estrangeiros armados. No velho Oeste, os Xerifes exigiam as armas aos forasteiros que entravam na cidade, para evitar problemas no Saloon, armas que eram depois restituídas à saída.

Com Angola e Portugal a tentarem apagar com gasolina o fogo que atearam, levaram às últimas uma situação já de si intolerável: não parece prematuro considerar o último dia de Abril, dia em que a ONU se pronuncia sobre a Guiné, como um dia adequado para proceder ao desejável desarmamento desse contingente (por uma questão de acautelar a disciplina, talvez devesse ser dada aos oficiais a opção de conservar as pistolas, as quais poderiam apenas utilizar, claro, no interior do perímetro do seu aquartelamento): para desanuviar o ambiente, talvez se pudessem emitir vistos de turismo, garantindo as Forças Armadas a segurança e tranquilidade dos visitantes, e mantendo os seus elementos a liberdade de circulação na capital; talvez até pudessem aproveitar para se associar às comemorações populares do 1º de Maio.

Convém, de qualquer forma, dar-se-lhes o prazo de uns dias para se irem habituando à terapia… na certeza, no entanto, de que deverão respeitar ao minuto o prazo que o Comando Militar decidir para salvaguardar os interesses da Guiné-Bissau e acautelar a calma, a ordem e a soberania nacionais. Aos soldados angolanos em Bissau, por favor, não façam nada de que se possam arrepender, pois os guineenses não têm nada contra vós, mas sim contra José Eduardo dos Santos, que, com um par de duques, parece disposto a fazer All In (e a ser depenado). Cooperem, entreguem as armas e nada vos acontecerá: José Eduardo dos Santos que resolva as alhadas em que se envolve.

Qualquer outra atitude seria despropositada e o vosso sacrifício essencialmente inútil: recomenda-se nesse caso que todos façam um curso rápido de primeiros socorros, com especial ênfase em como fazer garrotes. De resto, para se entreterem, vejam as revistas portuguesas de Dezembro, pois trazem uns artigos interessantes e elucidativos sobre o cinquentenário da queda de Goa às mãos da União Indiana, facto que acabaria por dar o sinal de partida para o arranque da Guerra Colonial em Angola: Salazar, como agora José Eduardo dos Santos, pediu nessa ocasião aos seus soldados o sacrifício máximo… gratuitamente, assim, por arrogância e autismo político? Leiam o que acabou por acontecer… à excepção da lancha Vega e do seu comandante, cujo sacrifício consciente consistiu no ritual de regar com o melhor sangue pátrio o fim de um Império, os soldados preferiram a rendição a uma morte estúpida, inútil e inglória. Tendo em conta a situação, em nada desprestigiaram o exército ou a nação, só Salazar saiu chamuscado…

Por outro lado, José Eduardo dos Santos, o militarista, se calhar tem razão: para a sua mente perversa e mesquinha, talvez seja melhor que morram (tal como pretendia Salazar no seu autismo), em primeiro lugar para desaparecerem as provas da sua própria humilhação, em segundo lugar porque um exército humilhado tem meios para resolver o problema… E aqui temos o magnífico exemplo da Guiné: esta quarta-feira comemora-se o o 25 de Abril; ora o MFA (Movimento das Forças Armadas) nasceu da humilhação que constituiu a retirada de Guiledge e da consciência de a guerra ali estar perdida (ao contrário do que acontecia em Angola): a imensa maioria dos seus capitães vinha de Bissau. E que teriam achado os portugueses se a Quinta Esquadra americana, que largara da barra do Tejo poucas horas antes, tivesse feito meia volta e voltado atrás para «Repor a ordem constitucional» e «Devolver o poder às autoridades legítimas»? Opor-se-iam à ingerência estrangeira com todas as suas forças!

Quanto ao alienado que está convencido que é Ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau (há lá um no Júlio de Matos em Lisboa que julga que é Napoleão), este tem-se multiplicado em declarações imbecis, da qual a mais flagrante é a condenação do 7 de Junho. Borganha! Bu ossa nomi suma lubu. Como é possível que desafie assim o sentir de todo o povo, à época? É o mesmo que diz falar em nome do povo? O mesmo que, num gesto de total irresponsabilidade, pede à população para desobedecer às autoridades militares? Desmascara-se sozinho! Com «representantes» deste calibre, lamenta-se a triste figura a que está reduzido o ex-PAIGC, agora PAGA (o José Eduardo dos Santos); Amílcar Cabral deve estar aos saltos na tumba. Uma vez mais, tal como aliás em 1998, perderam o comboio da história. A infeliz pretensão de representar alguma coisa para além da sua miserável e anti-patriótica incompetência está condenada à chacota. Relembra tristemente a situação de Salazar no fim da sua vida, depois de cair da cadeira, fazendo para a televisão, no Hospital, discursos patéticos e sem nexo, julgando que ainda era Presidente do Conselho. Pois sim. Não se devem contradizer os malucos. O povo guineense saberá distinguir de que lado estão os verdadeiros patriotas.

Felicita-se a atitude da TAP e a sua aposta na normalidade vigente em Bissau. Recomenda-se a Portugal que se iniba de enviar «espiões» no voo previsto para Segunda, pois as chegadas serão filtradas, em Bissau o ritmo é outro e o ambiente é de cortar à faca. Também mandá-los agora, seria a mesma coisa que colocar-lhes crachás ao peito: ninguém quer ir para Bissau para além dos jornalistas… E já agora, permitam-me lembrar-vos que Paulo Portas foi o veículo da publicitação das vossas moradas e telefones pessoais (que raio de espiões, com os dados pessoais publicados nos jornais), numa fuga de informação (de dentro do próprio Governo, ou já não se lembra?) para castigar a atitude «política» de apoio a Nino Vieira, encarnada por certos sectores. Uma vez mais, e sempre, a Guiné. Volta di mundu i rabu di pumba. Parafraseando um ditado guineense, para não estar sempre a falar crioulo «Quem tem rabo de palha não brinca com tição» (até Paulo Portas começou a aprender crioulo para ir falar à ONU; que reconhecimento da identidade guineense! Crioulo na ONU pela boca do tuga. Só por isso mais ficamos devendo ao Comando Militar, por esta saudável dose de orgulho nacional! Nem Amílcar Cabral faria melhor! Em Angola Paulo Portas já não faz isso, lá tem de ser tudo muito mais formal, não é, Senhor diplomata? Respondo-lhe em português que sim, portugueses e guineenses estão juntos na luta por um mundo melhor, mas não será de certeza pela sua mão e agora em crioulo: Nô djunta mon!)