quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

51 de Janeiro

A 29 de Janeiro de 1973, Titina jantou na base de Sara (onde andava entusiasmada a treinar as suas milicianas) com o Comandante Lúcio Soares e a esposa, Flora Gomes (que por lá andava a documentar as eleições para a ANP), o jornalista (e/ou espião) russo Oleg Ignatiev... estava de partida para assistir ao funeral de Amílcar. Estranhara quando recebera a "nomeação", pois primeiro falara-se na convocação de uma reunião para decidir quem iria a Conacri representar a Frente Norte. Ana Maria Soares Gomes, sua companheira de quarto, ofereceu-se para a acompanhar. Mas a meio do caminho, Titina dispensou-a, apesar dos seus protestos, invocando que já era tarde, obrigando-a a voltar para trás.


O historiador Leopoldo Amado interessou-se pelo caso, tendo descoberto no arquivo da PIDE em Lisboa (aberto aos investigadores antes dos 50 anos da praxe, ao contrário dos arquivos militares) uma referência (com base em relatório militar pois a PIDE em Bissau sob o General Spínola, era um caso muito particular). Apesar de confundido pela diferença de um dia no relato (31 em vez de 30), não restavam dúvidas de que se tratava do mesmo caso. Chegado a Bissau, decidiu solicitar uma entrevista a Dick Daring, o qual tinha apurado, junto de fontes bem informadas, ter estado na "fatídica" cambança, para o confrontar com o documento. Confirmou, insistindo na tese "oficial" da canoa.

A intersecção do bote ocorreu por volta das 17h, por uma primeira parelha de botes dos fuzileiros (motorizados, ao contrário do PAIGC). Tal como o ovo de Colombo, houve algo que escapou por muito tempo, não só ao Leopoldo, como a outras pessoas, tais como o próprio autor deste blog, que se interessaram pelo caso, que se perguntavam qual o interesse do PAIGC em mentir sobre a data do acontecimento. Ao senhor Dick Daring deveria ter sido perguntado se julgava possível estar em Conacri na manhã de dia 1 de Fevereiro, estando tão a Norte, tão tarde. Nem hoje seria possível (o Programa Maior rodoviário pós-independência não ajuda), quanto mais em tempo de guerra!

É muito duvidoso que Titina, que não estava muito convencida da utilidade de tal deslocação, estivesse de livre vontade nessa farsa! Também se pode enganar com a verdade: se calhar Titina morreu a 30, mas muito provavelmente quem a matou não foi a unidade fundada pelo Comandante Alpoím Calvão...


Foto inédita do bote de fabrico russo apreendido pelo DFE8, gentilmente cedida pela unidade.

PS Este blog voltou recentemente a admitir comentários.

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