sábado, 30 de janeiro de 2016
Fiasco total
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
Presidente recusa-se a reconhecer farsa
O Presidente da República, ao manifestar em comunicado a sua «estranheza» perante os actos ilegais, nulos e inexistentes, praticados esta manhã nas instalações da ANP, vem assim tirar o tapete ao PAIGC, cujos chefes pensam que são os únicos espertos e julgam que poderiam condicionar a Presidência e manipular a situação política, evitando largar o poder, como ditam as regras do jogo democrático. Esta é apenas mais uma das diversões a que já nos habituaram, em especial no último meio ano.
O não reconhecimento explícito do Presidente desta farsa encomendada por DSP, acompanhado, para além do mais, de nota de desagrado, vem esclarecer a situação em tempo útil, e reduzir a pó a campanha de desinformação que estava já em curso, colocando em relevo a certeza de que o Presidente se pronunciará pela queda do Governo. O único efeito da palhaçada será o Presidente descartar a preocupação de equilíbrio, radicalizando a sua posição e reconhecendo a legítima ANP liderada por Nambeia.
Depois de múltiplos sinais de ofensa ao Presidente nos últimos tempos, Domingos Simões Pereira acaba de esticar a corda na sede do partido, falando em «vitória contra a infâmia e a bandidagem».
A cada Partido a sua ANP
O PAIGC, ao insistir na farsa da multiplicação das ANPs, entra assim no jogo do PRS, forçando o Presidente da República a intervir. Esta ANP, minoritária e ilegal, não tem qualquer legitimidade, resultando de uma cabala envolvendo um despacho relâmpago de um juiz, corrompido por vícios insanáveis, em instância incompetente (como pode um juiz desconhecido de um Tribunal Regional pretender ditar ordens a Deputados da Nação eleitos para a ANP, de onde emana a soberania?).
O «empossamento» dos novos deputados foi feito com base em bocas da assistência, depois de a segunda secretária se ter esquecido da lista nominal das substituições (e de o antigo «presidente» Cipriano Cassamá, impedido e faltoso, não ter arriscado a presença, sendo substituído por um Vice).
É a «legalidade» a todo o custo, que o PAIGC tenta impor pela força, com uma votação de rajada (depois de meses à espera de forjar o momento) sem debate nem contraditório. Isto é tudo menos política multi-partidária: o PAIGC continua a acreditar que é o Estado.
Os actos praticados no local devem ser considerados nulos e inexistentes. O «Plenário» não podia reunir por falta de quórum. Efectivamente, se os deputados ainda não tinham sido empossados, não podiam contar para esse quórum inicial que permite começar com os trabalhos!
É apenas mais uma das múltiplas ilegalidades que ferem o processo. Mas isso parece não incomodar o PAIGC e a sua Direcção, apostada numa fuga para a frente (pena que se encontre perante um beco sem saída). Esse Partido continua a conceber apenas ditadores, no seu seio, sem qualquer preocupação com o estado ou com a realidade do País.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Quem paga ao MCCI?
Ao tal «Movimento», não basta a boa vontade e adesão popular às suas propostas, pelos vistos propõem um cartaz de luxo para o dia 30. Seria bom que o Movimento esclarecesse se os músicos que servem de isco estarão presentes como simples manifestantes, por partilharem dos seus «ideais», ou se, pelo contrário, está previsto receberem cachet, a título de artistas. Se recebem, quem paga?
Estranho fenómeno
Ajuntamento de jagudis, nos telhados da sede do PAIGC, desde o dia 20 de Janeiro. Ver notícia.
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
A última palhaçada de Cassamá
Numa armadilha e numa traição elementar a qualquer espírito negocial, Cipriano Cassamá conseguiu atrair um dos 15 deputados a sua casa, para emitir uma Nota de Imprensa afirmando-se como Presidente de uma ANP (que já caiu), avançando, para além do mais, que teriam ido «pedir desculpa».
A promiscuidade entre a esfera pública e privada tornou-se galopante, para quem se reclama titular de um órgão de soberania. Convida alguém a título pessoal para o visitar em casa, e publica uma nota de imprensa institucional.
Comunicado de Imprensa, nota máxima de hipocrisia, fingindo desmentir a mentira que tinha avançado, mas apenas para reforçar a ideia de a iniciativa ter partido dos 15, ao contrário daquilo que se passou.
Esta é apenas mais uma das incontáveis artimanhas e cabalas que este resíduo, mesmo depois de demitido, ainda consegue despoletar. Aparentemente, o seu arsenal de demagogia é inesgotável.
A Nota, em si, comporta ainda uma dupla negação. Como poderia algum dos 15 visitar Cassamá como Presidente da ANP, se haviam votado a sua destituição? Que sentido faria Cipriano receber institucionalmente alguém como deputado, a título de Presidente, se assinara a sua expulsão precisamente nessa qualidade?
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
O último pum
Exibindo evidências de uma má digestão da sua queda, Domingos Simões Pereira lança o PUN, bem como mais uma série de farsantes reclamando-se representantes da sociedade civil, quando a verdade é que os seus apelos à mobilização, para inglês ver, na linha nô bai luta, caem no saco roto de uma população cansada. É o último suspiro, o canto do cisne, o fim da linha. As tentativas de endurecer o discurso, de lançar a confusão, de envolver as Forças Armadas, só demonstram ainda mais claramente a dimensão da sua derrota, apesar de todo o peso jogado na balança, das fortes doses de arrogância e demagogia empregues. As iniciativas tácticas vão-se tornando cada vez mais patéticas...
No comunicado do auto-intitulado FCPDD, há um suposto crime que chama a atenção em especial: o do «exercício dos Direitos políticos». É um lapso revelador. Já suspeitávamos que eram contra o exercício desses Direitos! Mas transformá-los em crime? Não estarão a ir longe demais? Pretendem copiar o modelo angolano? Mas não é o único problema de redacção: que pensar de «a promoção do diálogo e o estabelecimento de compromissos que favoreçam a estabilidade interna, NÃO são uma alternativa ao cumprimento escrupuloso das leis da República»?
MurMúrio
O Secretário-Executivo da CPLP, tem por costume passar atestados de menoridade à Guiné-Bissau, como mostrou em tempos o jornalista Nuno Ribeiro do Público, em entrevista: para Angola, fala baixinho; para a Guiné-Bissau, fala grosso. Ora a Guiné-Bissau está em pleno exercício de alternância, coisa que infelizmente o povo angolano não conhece (por enquanto).
Vem agora anunciar uma visita de mediação. Como é possível alguém oferecer-se para árbitro começando por uma declaração de tomada de partido? «Esperança em que o programa do executivo guineense seja aprovado no Parlamento ainda esta semana»? Como assim? Já não há executivo guineense, ninguém o informou que o Governo foi censurado? Que se constituiu uma nova maioria, precisamente no Parlamento?
Além disso, o futuro da Guiné-Bissau, não se resolve em Luanda, como ficou bem patente na retirada da MISSANG, para não serem comidos vivos. O substituto de Domingos Simões Pereira não é bem vindo, com este género de discurso, fazendo tábua rasa da política interna. Um árbitro que veste a camisola de uma das equipas?
djá stá lá
Há um facto político que o PAIGC não consegue refutar. A tomada da Assembleia. Foram adiando até Quinta-Feira tomar «conhecimento», com uma censura implícita nos meios de comunicação social, apostando no grandioso evento que deveria ser a data em que assassinaram Cabral.
Mas não conseguiram continuar a esconder dos olhos do mundo a situação política. Seria tapar o sol com a peneira. Mesmo se a visão continua deturpada, a favor do PAIGC, noticiaram finalmente o caso. A ponto de se atribuir ao PRS+15 a curiosa designação de «maioria dissidente». Ora, como pode uma maioria ser «dissidente»?
De facto, estamos perante uma minoria autista que se nega a reconhecer as regras do jogo democrático, agarrando-se ao poder. Um partido comandado por um verdadeiro empata-f... que anda há meio ano a adiar qualquer solução para o País!
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
Máquina de desinformação
«A denúncia [devidamente anonimizada como «Serviços da ANP»] é do Director dos serviços Administrativo e Financeiro da ANP, Baifaz António Correia, afirmando ser o único possuidor das chaves das portas que dão acesso ao Salão plenária e, recebeu informação que a porta foi violada por Baciro Djá.» Será que o senhor Baifaz teve o cuidado, no dia 18, de verificar que a porta tinha ficado bem fechada, quando o seu ex-chefe abandonou o Salão?
Para esclarecimento, lembrar minutos 2 a 7 do Telejornal desse dia!
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
DSP enfia o barrete
Depois de Domingos Simões Pereira admitir que o PAIGC perdeu o poder, apelando, em último recurso, para a violência, talvez seja tempo de a LUSA e a RTP deixarem de fazer vista grossa e transmitirem a notícia da queda do Governo Carlos Correia, no passado dia 18, deixando de falar de «actual executivo» e outras barbaridades jornalísticas do mesmo calibre, que atentam contra a verdade dos factos e a inteligência dos leitores. A ladainha chega ao cúmulo de incluir um choradinho do Ministério do Interior, que muita falta fez, nestas circunstâncias. O PAIGC, enquanto acusa anónimos de Golpe de Estado e fala em tentativa de tomar o poder pela força, anuncia ao mesmo tempo publicamente um assalto ao Parlamento para amanhã. No entanto, como o PAIGC morreu e não possui já qualquer expressão política, serão mais os contra-manifestantes do próprio Partido, em apoio aos 15.
RIP
Depois de no passado dia 18 de Janeiro, num Plenário histórico, o cenário político guineense se ter radicalmente alterado, o PAIGC continua a tentar orquestrar uma «percepção» política desactualizada (como tentar vender um produto fora do prazo de validade). Chegam a queixar-se de lhes estarem a fazer o mesmo que eles fizeram! Ora, voltou-se o feitiço, contra o feiticeiro.
Numa ensurdecedora conspiração do silêncio, julgam que calando as rádios, controlando as televisões, tentando manipular as mentes, não serão desmascarados? Não, hão de sê-lo de forma ainda mais evidente, cairão com ainda mais estrépito. De nada serve a desprestigiante utilização da memória de Cabral ou as hipócritas diversões étnicas. Não poderão evitar o contraditório para sempre...
Foi hoje a enterrar o PAIGC, antes de perfazer 60 anos. Morreu depois de lhe terem assassinado o PAI, há exactamente 43.
Os pretensos herdeiros (e putativos assassinos), em plena necrofagia, debatiam-se sobre os seus restos mortais.
sábado, 16 de janeiro de 2016
Pseudo faz pirraça
Em Bissau, o pseudo-Primeiro-Ministro, acompanhado da pseudo-Ministra da Justiça, faz de conta que «a vida continua», para utilizar as suas próprias palavras. Patético e paupérrimo, como resposta política, à emergência de um novo cenário.
Golpe de Estado palaciano
Apesar de todos os avisos contra a sucessão de pequenos golpes que vão desvirtuando a Constituição, Domingos Simões Pereira ousa avançar para o confronto directo, afrontando não só a ala rebelde do PAIGC, como o maior Partido da oposição. A deliberação da Comissão Permanente da ANP é ilegítima e ilegal, como várias pessoas já deixaram perfeitamente claro, incluindo Fernando Casimiro. As purgas fazem-se intramuros, a ANP não é uma repartição do PAIGC. DSP queixa-se que não o deixaram governar (ele, que não foi nominalmente eleito) e conspira maquiavelicamente (passe o pleonasmo) para fazer o mesmo aos outros/as (esses sim, nominalmente eleitos/as). Uma fuga para a frente que inevitavelmente lhe custará os últimos resquícios de credibilidade (ler opinião, no Rispito).
Uma deliberação não «declara», delibera. É uma opinião, não uma ordem, com força de decreto. A argumentação é ridícula, pois «perder uma condição [nem que fossem todas] de elegibilidade» não pode afectar alguém que já está em funções, pois elegibilidade é a capacidade para ser eleito, e isso, eles e elas, já o foram. Além disso, segundo o PRS, a CP não apenas foi ilegalmente convocada (isto depois de se impor à Assembleia um adiamento ilegal, depois de se ter tentado confundir as pessoas com cabalas) como não dispõe sequer dessa competência. Estamos portanto, para todos os efeitos, tecnicamente perante um Golpe de Estado, contra uma maioria que estava na forja, por um Partido usurpador, chefiado por um sub-produto do mesmo.
Este (des)governo (do PAIGC) atingiu nível semelhante de farsa aos seis meses que Cadogo aguentou o seu «Governo no exílio». Engraçado, como dizia alguém, é que quem agora apoia estes Golpes a «céu aberto» são as mesmas «donzelas ofendidas» do 12 de Abril (um pronunciamento patriótico, para quem não se lembre), com a única diferença de agora já não terem os militares para bodes expiatórios... como irão enganar o povo, desta vez? DSP, para além de ter falhado, revelou falta de maturidade, segundo Manel Saturnino (que pediu desculpa por ter contribuído para a sua ascensão). Pior: entrou em crise de negação: está agora claramente apostado no confronto, tomando o país como refém do seu desmesurado narcisismo.
Já não se trata de nomes: é um padrão, uma doença do Partido, cuja primeira manifestação foi o assassinato de Amílcar Cabral. Tentar impor a forma ao conteúdo pode ser perigoso, sobretudo quando este não colabora.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
Presunção e água benta...
Adivinha quem disse:
«Muitas pessoas mobilizaram todos os seus recursos para estancar o progresso do país só porque eu estava na liderança do governo».
Decerto só pode ser um «perfil»:
1) Caído em desgraça.
2) Violentamente acometido de paranóia fulminante, já que os outros não arranjam nada melhor para fazer do que, claro, persegui-lo
(e com todos os seus recursos, arriscando cair na mendicidade).
3) Que tem sempre razão (como é óbvio) contra muitos, nunca lhe ocorrendo que a sua personalidade perturbada poderá ter algo a ver com o caso.
4) Ressabiado, já que apesar da sua liderança (ou melhor, chefia, já que o verdadeiro líder tem outro perfil) do governo já ter sido há muitos meses, não deixa de remoer a coisa.
5) E presume, sem embaraço, que, com a sua pessoa ao leme, o progresso do país seria um fluxo imparável e ininterrupto.
Tantas sentenças gratuitas e quanta vaidade absurda e deslocada, numa simples frase!
sábado, 9 de janeiro de 2016
PAIGC deve ser declarado associação criminosa
A única ocupação de Eduardo Costa Dias, ou a casca oca (se é que alguma vez conteve alguma coisa) da sociologia do ISCTE, é passar atestados de bom comportamento a Cabo Verde e de ignomínia à Guiné-Bissau, tudo feito do alto da cátedra.
«A situação em Cabo Verde é única, absolutamente distinta da vivida na
Guiné-Bissau, onde o partido no poder, e as suas diferentes fações, está
refém do crime organizado. Em Cabo Verde temos uma democracia
estabilizada, onde a alternância tem sido a norma.»
As recentes entrevistas do Público não lhe mereceram a mais breve alusão, representando precisamente o pior, em termos de preconceitos, daquilo que ali foi tratado. Grassa impunemente a mediocridade na universidade, transbordando da sanita para o Diário de Notícias.
No entanto, aquilo que se pode concluir das suas declarações é da mais alta importância: é preciso condenar o PAIGC como associação criminosa de subversão política, retirando-lhe mais possibilidades de continuar a prejudicar o povo guineense.
«Acreditando todavia serem eles os mais espertos da Praça junto com seus comparsas na confraria de malfeitores»: extraído da peça do escritor e ensaísta Jorge Otinta, em jeito de crónica, «pautei-me por estórias para escrever a história nacional quotidiana», que acaba de ser publicada n'O Democrata.
PS Julgo que Janira deveria devolver o d' do André Álvares ou emigrar para Almada ou para a Alemanha.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Conhecido novo Primeiro-Ministro do Burkina
O novo Primeiro-Ministro, nomeado pelo Presidente recém eleito, é um verdadeiro desconhecido, a ponto de a imprensa não dispor da sua foto até ao momento, e nas redes sociais haver quem se tenha equivocado e publicado a foto de um ministro senegalês! Embora a escolha seja pouco original, em África, onde é frequente a opção por economistas trabalhando para organizações financeiras internacionais (neste caso, o BCEAO), que possam orientar o biberão dos fundos externos. Mesmo perante a ostensiva preocupação do Presidente em acalmar os receios (históricos, diga-se) de Paris, as primeiras reacções são positivas: o próprio facto de não ser conhecido parece jogar a seu favor, neste momento, dada a percepção de que a velha classe política está completamente fora de moda: «nous sommes fatigués avec les gens que nous connaissons», confessa um popular, respondendo a uma equipa do Aujourd'8 au Faso, despachada para o terreno para sondar a opinião do povo. Mais que o nomeado, a quem se deseja boa sorte no cargo, é reveladora esta carga de esperança que o povo nele projecta, sem o conhecer! Esperemos que esteja à altura da incumbência e não traia o espírito da revolução, nem a lembrança de Sankara.
Também a Guiné-Bissau teve um grande líder africano assassinado pelos seus, e está farta da «classe política» que a este sucedeu.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
O vómito e o juízo final
O editorial publicado hoje no Jornal de Angola é preocupante. Não apenas pela baixeza do ataque aos explicitamente visados, Nicolau Santos e Pinto Balsemão, mas sobretudo pela ameaça latente sobre os portugueses em geral, que são tratados como «ratos», porque ameaçam abandonar o navio Angola (que se está a afundar) antes do capitão José Eduardo dos Santos (a quem o Nicolau chamou de «Rei-Sol» o que terá motivado a retaliação). O que deixa adivinhar que o regime se prepara para, depois dos taxistas, transformar os portugueses em bodes expiatórios da presente crise, atirando-os à fúria popular para a desviar do seu justo objecto. Enquanto isso, o JA utiliza descaradamente todos os artifícios de propaganda à disposição, na forma de calcular os aumentos de preço. Por exemplo o Gasóleo subiu (é bom lembrar que há um ano custava 40 kwanzas, ou seja mais que triplicou) de 90 para 135 kwanzas e as contas são simples: subiu 45 kwanzas, que é metade do preço original, um aumento de 50%. Assim é publicado em qualquer jornal do mundo; já o JA faz as contas de outra maneira. Subiu 45 kwanzas, mas, comparando isso com o novo preço, o aumento é de apenas 33,3%. Nem a aldrabar são bons! A ideia é «boa», mas tem uma base de matemática que não pode ser usada por imbecis. São três nonos (ou um terço) e não quatro nonos (44,4%), como publicaram! Que bobos! (parece haver instruções para minimizar, «dissimular» por todos os meios o presente descalabro, que está à vista de toda a gente, por exemplo, há grande confusão nas operadoras móveis, todas tentando cumprir as instruções, recorrendo a variada e original hipocrisia, desde aumentar o custo das «unidades» de comunicação a manter o preço do carregamento, para o cliente verificar depois que corresponde a apenas metade do tempo).
Tapar o sol com a peneira, varrer para debaixo do tapete, funcionou enquanto ainda haviam expectativas positivas. Vale a pena ler um artigo de hoje, em co-autoria, sobre a crise chinesa, onde os analistas concluem: «A
maior ameaça para todo e qualquer regime político é a frustração de
expectativas optimistas. Se as massas não anteciparem a desaceleração, o
regime político passará a enfrentar um potencial risco de revolução.» O que se aplica, obviamente, com ainda maior propriedade, à mono-economia angolana. Sobre a situação actual (pós aumentos de 1 de Janeiro) leia-se também este artigo que fala em precipício.
Rafael Marques de Morais alerta, em conferência, que é tempo de começar a pensar num Governo de Transição.
Cancro terminal
Apesar de certas divergências históricas pontuais em relação ao autor, não resisto a partilhar o artigo de Jorge Herbert publicado pelos Intelectuais Balantas.
«A solução não passa por tecer alianças com o Presidente da ANP, tentar confundir os deputados com votações de moção de confiança versus programa do governo, ou provocar uma purga dentro do próprio partido! Chegou a hora do PAIGC entregar o poder, passar para a oposição e tentar fazer primeiro o trabalho de casa.»
É
necessário um pacto de regime de boa fé, um projecto e uma liderança, para uma verdadeira revolução de mentalidades.
Com tanto matchu do PAIGC e do PRS, talvez fosse inteligente bater a
outra porta...
A sociedade é
um organismo, e todos os órgãos são mutuamente dependentes: se o
coração está mal, todo o corpo sofre... imagine-se que os pulmões
decidiam que não queriam trabalhar com o estômago e faziam greve?! A
«política» guineense resume-se à luta por um lugar parasitário no
pseudo-Estado. Em biologia, tal como em política, há três grandes
categorias: os actores independentes, que tratam consistentemente da sua
vidinha, os comensais, que comem à mesa, mas não prejudicam a situação,
e a pior espécie, que é essa, o verdadeiro parasita, que não só se
banqueteia com a vianda, como destrói o maná que o alimenta, como na
analogia do ganancioso que mata a galinha dos ovos de ouro. A política foi inteiramente desvirtuada, e o conceito do bem comum (e, claro, do simples bom senso) completamente corrompido.
Inundados pela sua própria
mediocridade, o PAIGC continua o mesmo bando de complexados e assassinos de Cabral, disposto a canibalizar a sua grandiosa herança, dedicando-se a desaproveitar conscientemente em proveito próprio recursos e força anímica da nação. É um pouco como acrescentar ao ditado: «em terra de cegos,
quem tem um olho é rei» o corolário de «e quem tem dois, o melhor é
furar um». Um verdadeiro desperdício. Até quando?
Não resisto igualmente a citar o jovem Dautarin da Costa em opinião há pouco publicada pela Conexão Lusófona:
«Afinal o que é Cabral? É uma estátua que observa pacientemente as chegadas e partidas do aeroporto Osvaldo Vieira? É uma imagem icónica, um Deus revolucionário cuja ostentação é sexy? Se assim for, então temos mesmo de “sair” de Cabral – pois seria a confirmação de um esvaziamento irreversível de uma das maiores figuras políticas do século XX. Para mim, Cabral representa um sonho pragmático de mudança, uma proposta política de “pensarmos pelas nossas próprias cabeças e de andarmos com os nossos próprios pés”, na construção do progresso, da dignidade colectiva e da partilha de visões de futuro para a concertação de um humanismo renovado. Nós não podemos “sair” de Cabral, simplesmente porque não chegamos a “entrar” verdadeiramente em Cabral. Somos hoje um país colonizado por uma cultura política especializada na busca de uma suposta caridade internacional e na reprodução endémica do subdesenvolvimento.»
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
Poesia no Centro Cultural Português
A poesia nasceu desses traços interpretados quer pela compreensão da natureza em si, quer pela compreensão do sentimento do homem enquanto ser intelectual que também interpreta os sentimentos naturais da floresta, dos animais do mar e de tudo que o rodeia em palavras, escritas ou faladas. O homem em si é poesia, é o elemento essencial da existência do mundo. Portanto, o mundo seria um vazio sem a poesia e sem a literatura. Nela encontra-se o sabor da vida e o seu verdadeiro destino, nela encontra-se o amor e as (in)felicidades que se procuram. A literatura em mim, é alma da comunicação em todos os seus sentidos, em todos os seus aspectos: natural ou artístico.
Agradeço a todos e todas que quiserem estar presentes, em especial a minha família; que haja poesia, cultura, justiça e paz social.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Salto de 20
Conforme previra aqui há duas semanas atrás, o dinheiro só apareceu no MultiCaixa depois do kwanza depreciado: o dólar, à cotação oficial, sofreu um aumento de 20 kwanzas, passando a ficção a afixar 155 kwanzas por dólar (depois de ter «mantido» os 135 por algum tempo, um primeiro solavanco de 15%, só por si, o dobro da taxa de juro anual oferecida pelos Títulos do Tesouro). O câmbio informal deverá sofrer um «ajustamento» mais que proporcional, entre 40 a 50 kwanzas a mais, para cerca de 325 por dólar (no melhor dos casos, e apenas se continuar a haver «mata-borrão» - compra de kwanzas com dólares - o que está longe de ser garantido). O que implica uma forte tensão inflaccionista por antecipação, pelo menos nos produtos importados. A isto se junta uma inflacção de combustíveis da ordem dos 50%, que é a prenda de ano novo do zécutivo para os angolanos. Sabendo da forte influência do preço dos combustíveis para a formação dos preços e o seu importante contributo na estrutura da despesa das famílias (carro, táxi, gerador, água a domicílio), os efeitos conjugados deste descalabro, potenciarão o descontrolo do câmbio informal, desmascarando a farsa monetária de José Eduardo dos Santos.
Daqui a poucas horas, o preço do táxi duplicará (de 100 para 200 kwanzas), naquilo que será o primeiro braço de ferro de 2016. A Associação de Taxistas, face ao congelamento oficial dos preços, avançará com a medida colectiva. Ainda antes destes aumentos, defendiam que o preço deveria ser de 150. Tornou-se agora uma questão de sobrevivência económica e não podem sequer já aceitar os 150. A «Lei» dos preços controlados era muito «bonita» em tempos das vacas gordas, quando havia convertibilidade. A autoridade do Estado rebentará na rua, se o Governo cair na asneira de tentar reprimir os taxistas, face à sua legítima tomada de posição. O efeito dominó destas medidas vai inevitavelmente revelar-se demolidor a curto prazo. De qualquer forma, o preço de 200 Kwanzas para o táxi, já estará desactualizado em Fevereiro...
Aparentemente, as autoridades monetárias angolanas esqueceram-se de alterar a maka que alimenta a farsa do câmbio oficial no Forex, que começou o dia a afixar transacções aos antigos 135! (consultei dois conversores, o xe e o oanda). Só numa moeda «morta» isso pode acontecer, pois de outra forma, imensos especuladores do Forex se aproveitariam e teriam dado um imenso rombo, em poucas horas, no Banco Central! Gato escondido com o rabo de fora.
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
O cangalheiro do PAIGC
A RFI intitula «PAIGC em guerra aberta» uma entrevista a Aristides Ocante da Silva, porta-voz dos contestatários que exigem a demissão imediata do Presidente do Partido, a quem acusam de nepotismo, enriquecimento ilícito e divisionismo, para além de responsável directo pela actual crise política. «Está a conduzir o Partido para uma situação caótica, em que a própria sobrevivência do Partido poderá estar em causa».
Foram as próprias bases do Partido que entenderam que Domingos Simões Pereira representa um «perigo enorme». «Há que parar e repensar o Partido. DSP deve demitir-se para que o Partido se reencontre». Aristides Ocante da Silva antecipa ainda um grave desaire no próximo pleito eleitoral, se o PAIGC continuar a ser gerido como propriedade privada do seu Presidente, a quem acusa igualmente de utilizar fundos de proveniência duvidosa para aliciamento e compra de consciências, a um nível nunca antes visto.
Mais incisivo ainda, neste contexto, se revela o editorial d'«O Democrata», que, num tom apocalíptico intitula o actual cenário como «Colapso Final». «O descomando, a falência da liderança visionária devido à anarquia
vigente, o gritante défice de edifício institucional, levarão sem sombra
de dúvida o PAIGC rumo ao colapso final» ou «o PAIGC está “doente” e refém de um sistema caduco, ultrapassado e
contaminador. Nenhuma reforma, seja qual for a visão que tiver na base, terá sucesso com este partido onde reinam bajulação, intrigas, arte
de mentir, incompetência. É hora de todos os guineenses, independentemente da cor partidária,
pertença étnica ou religiosa, terem a coragem de responsabilizar este
“gerador” de anarquia, de clientelismo, nepotismo e manipulação, pelo
pesadelo que tem vindo a impor ao mártir povo guineense através de
manipulação e corrupção de palavras.»
«A autodestruição será a única via da reforma». Lacónico. O que nasce torto jamais se endireita.
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
Futuro?
Qualquer solução implicará o PAIGC? Qual PAIGC? O passado não basta, para aferir o que o PAIGC tem a oferecer? Intermináveis lutas intestinas pelo poder de um Estado parasitário? Domingos Simões Pereira não possui aparentemente qualquer sentido do ridículo (nem de política, não percebendo que este não passa de um discurso da frustração, assinalando nova derrota), no que é acompanhado por Cipriano Cassamá, parecendo ambos apostados em promover a má imagem de um pais sem rei nem roque, nas mãos de autocratas irresponsáveis. A inevitabilidade de novas eleições é um facto adquirido. A actual distribuição da Assembleia perdeu toda a correspondência com qualquer legitimidade.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
Prémio de Risco
Alguém me escreveu a dizer que o «câmbio informal está errado, porque toda a gente sabe que é de 280 Kwanzas por dólar na rua» [tenho mantido na barra lateral direita essa informação]. Aliás, o Jornal de Angola, muito oficialmente o reconheceu ao divulgar a «nova taxa de câmbio» de 1750 / 1950 pela nota de 100 dólares namibianos (o dólar americano vale 15 dólares namibianos, basta fazer as contas, por isso o portal dos bancos de Angola «corrigiu» o título do JA, quando fez o copy/paste, o burro do José Ribeiro não se apercebeu da perigosidade da informação, até porque não é novidade nenhuma, já estava tudo aqui há quase três semanas e não tinham publicado - aliás o dito acordo foi um nado morto, um mês depois de ter entrado em vigor foi cancelado, de facto, como se pode constatar neste artigo, ainda no mês de Julho).
A notícia é que as autoridades monetárias namibianas se aperceberam do logro em que caíram, depois de os montantes previstos pelo acordo serem unilateralmente ultrapassados (sem compensação de um incremento de compras em sentido inverso) e começarem a abarrotar kwanzas «mortos». O ajustamento tem a ver com outra novidade que é o enquadramento monetário «por cima». Ou seja, o governo angolano «congelou» o câmbio oficial em 135 kwanzas por dólar mas por outro lado, está a comprar todo o Kwanza de rua a 280 (mais um pequeno spread microscópico), fixando assim o valor líquido actual. Ora porque é que eu digo que, seu eu tivesse um dólar, só o venderia por 320 Kwanzas, mesmo sabendo que supostamente posso comprar mais por 280? Porque isso pode mudar de um momento para o outro. E se eu tiver o azar de, quando o for vender, entretanto, o preço tiver descarrilado? Preciso de um prémio de risco, que tem a ver com a corrida contra o tempo, que não favorece o kwanza (um por sete até que é pouco, mas pronto). Apenas por essa razão não há propriamente spread de rua. A «instrução de compra» parece ser ilimitada. O governo «seca» a sua própria moeda em saldos (com mais de 50% de desconto), ou seja desvalorizando os salários nominais que paga (ou fica a dever) em «dólares» (convertidos ao câmbio oficial) aos «cooperantes» estrangeiros. No entanto, há sinais de que se está a limitar artificialmente a disponibilidade dos próprios kwanzas, para evitar o rompimento dessas frágeis estruturas: ver notícia «Kwanza escasseia no interior»; sabendo que se trata da província do Kwanza Norte, tal deu mesmo aso a um jocoso pleonasmo em comentário: «Kwal Kwanza Kwal Ké! : Se o Kwanza Norte está sem Kwanza, já não é mais Kwanza Norte. Agora é só província do Norte, porque já não tem Kwanza. Ou também pode ser chamada Kwanza Desnorteado ou Norte desKwanzado.» O fluxo só será liberalizado depois de o «câmbio informal» dar um novo salto depreciativo...
O problema é que há assim kwanzas de primeira, que compram dólares a 135 (talvez tenham sido esses os usados pela UNITEL para a promoção do seu show de «Natal» de mau gosto) e kwanzas de segunda, a mais do dobro (e não se sabe bem até quando). No entanto, o kwanza de primeira e o de segunda, quase fazem esquecer, nesse «amplexo» financeiro, nesse garfo de valores, o kwanza de terceira, o real, cujo valor é tendencialmente nulo e expressa a expectativa quanto à capacidade de sobrevivência do regime. As novas autoridades de transição terão todo o interesse em constituir uma Comissão de Acompanhamento da Dívida Externa, para verificar a consistência económica da sua aplicação, responsabilizando os financiadores e eventualmente declarando grande parte odiosa e caduca. Quanto aos angolanos e à taxa de câmbio, teriam todo o interesse em que fosse só uma: a real, resultante do funcionamento do mercado, que se ajustasse em sede própria segundo as conhecidas leis da procura e da oferta. Este sistema monetário bastardo, do faz de conta, apenas contribui para mais corrupção, amiguismo, para além de estar condenado à espiral cada vez mais alucinante de uma opaca hiper-inflacção.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
(A)cultur@ção
Parece ter passado mais ou menos despercebida a segunda grande reportagem (ou veja em vídeo) do Público (em cinco, a próxima, a publicar no mês que vem, será dedicada a Cabo Verde), patrocinada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (pertencente à família que controla a Jerónimo Martins), dedicada ao racismo no contexto colonial português. A edição deste mês foi dedicada à Guiné-Bissau, depois de a anterior ter sido consagrada a Angola (incluindo uma reportagem a Luaty Beirão, antes da sua prisão). Julgo que é um excelente pretexto para uma discussão em profundidade, que permita uma verdadeira reconciliação de Portugal com a sua memória e os povos em questão, revelando como a (a)culturação não funcionou apenas num sentido.
Para responder à questão do racismo nos PALOP, a equipa fez em média uma vintena de entrevistas por país, dando destaque a intelectuais e activistas. Na Guiné-Bissau, foram entrevistados, entre outros/as, Abdulai Sila, Leopoldo Amado, e o jovem Dautarin da Costa. Polémico, mas assertivo, Leopoldo Amado defende que a colonização portuguesa só começou em 1936, contrariando lugares demasiado comuns como o mito recorrente dos «500 anos de colonização». Para além das profundas diferenças entre as várias colónias, Portugal
teve um colonialismo tardio, com uma duração inferior a um século: não se pode chamar soberania ao
tráfico efectuado em fortalezas, quando esta não ia
além do alcance de um tiro de canhão. Só por pressão da Alemanha recém unificada e pretendendo
ao império ultramarino, Portugal foi obrigado a ocupar o sertão, cujas
campanhas de «pacificação» se estenderam pelo princípio do Século XX.
Os coitados dos alemães (ou
sortudos, talvez por não terem tido propriamente mercados coloniais
protegidos, estão onde estão...), que chegaram atrasados, depois da sua
unificação, só começaram a sua experiência no fim do século XIX, depois
das conclusões do Congresso de Viena, na qual o Direito Internacional
deixou de reconhecer como legitimidade para a soberania o simples facto
de ter sido o primeiro a chegar (os portugueses), para passar a
basear-se na ocupação de
facto.
Portugal perderia, em pleno século XX, a oportunidade de se
distanciar e distinguir do modelo colonial europeu que nunca fora o seu. Salazar reinventou o Império, baseado numa visão paternalista,
cujo «particularismo» escondia mal um profundo racismo, bem patente nas
políticas de aculturação e «assimilação» levadas a cabo. A abordagem,
que Adriano Moreira ainda tentou mitigar apostando numa intelectualidade
africana, acabaria inevitavelmente mal, prolongando-se por uma guerra
colonial ingrata, de mais de uma dúzia de anos, culminando na queda do
regime e numa brusca e desastrosa «descolonização».
A Casa dos Estudantes do Império, aquele que estava desenhado para ser um clube da elite colonial indígena (esse era o plano ultramarino de Adriano Moreira como Ministro, durante algum tempo apoiado por Salazar: formar uma elite de quadros que pudesse vir a assumir os destinos das suas nações, mantendo os vínculos históricos que as uniam a Portugal), acabou por se tornar numa incubadora de líderes revolucionários. Desde
muito cedo que o sistema colonial usou, na sua narrativa, a imagem do
preto (por exemplo em bilhetes-postais ou na Exposição do Mundo
Português de 1940), mas este era desprovido de voz (não nos referimos
apenas a limitações tecnológicas, como no cinema), eventualmente,
associado ao som do batuque, e apresentado como dócil figurante. Os
movimentos de libertação denunciavam a «coisificação» de que o indígena
era alvo e conduziram uma guerrilha militar que não souberam transformar
em luta política, de transformação, de dignificação, de empoderamento
do homem e da mulher africana. Esse parece ser o tema central do escritor angolano Agualusa, ou, em relação a Moçambique, o que levou Cabaço a concluir que
«as políticas socialistas não foram capazes de romper radicalmente com a
“sociedade colonial” nem tampouco consolidar a tal “identidade
nacional”». Do lado de cá, a descolonização mental implica lutar contra o
preconceito que alimentamos contra a nossa própria História, cheia de
pequenas histórias.
Na opinião de Nelvina Barreto, «Portugal tem uma visão superficial e fragmentada da sua história colonial e é necessário perceber que teve políticas, intervenções e vivências diferentes nas suas diferentes colónias. A tendência é para se pensar que foi igual porque se fica na superfície. A colonização portuguesa não foi igual em todas as suas colónias. É isto que é necessário que Portugal esteja disposto a compreender melhor.» Não sei se a Nelvina é descendente de Honório Barreto, mas este merecia lembrança, neste contexto. Tal como Cabral, nascido de mãe guineense e pai caboverdeano, mas um século antes deste. Em colónias de franceses ou ingleses, seria impensável uma carreira como a sua; pura e simplesmente impossível um negro (para usar a terminologia do artigo) aceder ao cargo máximo da administração colonial, o de Governador da província (nomeado pelo Marquês Sá da Bandeira, que aboliu a escravatura). Envolveu-se em polémicas com políticos da Metrópole, a quem chegou a dar lições de patriotismo; funcionou como exemplo e expoente de uma certa «igualdade» de oportunidades e de respeito pelo mérito, devido independentemente da raça. Foi nomeado comendador da Ordem de Cristo, alta distinção honorífica.
Já no século XVI e XVII, não esquecer as poderosas Filhas do Chão, as quais impuseram a sua condição feminina e mestiça, e que viajantes franceses comentam com admiração por serem respeitadas em Lisboa. Uma delas está enterrada na Capela Mor da Igreja da Misericórdia de Santarém, que fundou com os lucros do comércio de Cacheu, conforme consta da respectiva lápide. Igualmente fundadora do Convento de São Francisco da Cidade Velha, o que a teria levado a fazer-se enterrar em Santarém, em lugar de destaque? Simples afirmação de poder anti-racista e anti-sexista? Ou algo mais? Ouso responder à polémica questão: sim, o «colonialismo» português foi diferente. Em primeiro lugar porque foi original. E poderia ter sido outra coisa. Bem sei que é um lugar comum que não se discute a história. Mas porque não havemos de discutir o passado? Se o futuro oferece um grande leque de opções em aberto, porque razão nos deveríamos contentar com explicações simplistas, sabendo que a história é forjada pelas conveniências dos «vencedores»?
É impossível, embora se tenha igualmente tornado num lugar comum, reduzir o colonialismo a «um» conceito. Há tantos quantos os países colonizadores, e entre estes, Portugal apresenta uma identidade bem marcada, com um contacto bastante mais antigo, tendo acompanhado o movimento quase por arrasto europeu. Os anos mais recentes (e frescos na memória, «raptados» pelo Estado Novo) não devem fazer esquecer toda uma história mais antiga, no qual as províncias tiveram diferentes percursos «mentais». Por isso a expressão «500 anos de colonialismo» (aliás, passam já 570, para a actual Guiné-Bissau) se revela tão irritante. Por pretender compactar, de forma consensual, uma história que não é redutível a etiquetas. O pior é que essa expressão é reflexo da cultura pronta a consumir, e não corresponde minimamente à realidade.
Se a política de assimilação do Estado Novo pode legitimamente ser acusada de humilhante e degradante para a cultura local, a historiografia colonial esquecia-se que no século XVIII, os Capitães Mores se queixavam de Luanda para Lisboa da «indecência» que era as brancas adoptarem os costumes locais e esquecerem até a língua portuguesa! De que são testemunho em 1765: «muito indecente que as famílias nobres e brancas conservem nas suas casas e na criação dos seus filhos uma total ignorância da referida língua [portuguesa], privando-os na sua educação do aproveitamento que podião conduzir-lhes a lição dos bons livros, para haverem substituída com a lingua ambunda, só necessária no sertão», ou, duas décadas mais tarde, demonstrando a continuidade do domínio do kimbundo, o ouvidor geral de Angola declarou que «entre as coisas que me parecem abuso nesta cidade e conquista é o idioma geral da língua ambunda, devendo ser a portuguesa, e sabe-la mulatos e pretos, que de ordinário nem a entendem [...] As mulheres são educadas pelas negras, sem prendas, nem religião, que lhe transmitem o seu idioma, costume e sentimentos, e assim ficam muitas sem falarem nem entenderem o português».
O Presidente angolano, reconhecia há pouco tempo que o primeiro século de contacto havia sido de tolerância e benéfico para ambas as partes. Quando Dom João II assumiu os Descobrimentos, novas orientações foram dadas, no sentido de se proibirem os «filhamentos» (raptos de escravos), cujos maus resultados se conheciam pelos relatos do Cronista régio Azurara. A troca de embaixadores com o reino do Congo, o envio de dois príncipes para estudarem em Portugal (um deles passou por Coimbra e chegou a Cardeal em Roma), mostra que muitas ideias preconcebidas sobre racismo não têm fundamento. Um belo exemplo do século XVI é o luso-guineense André Álvares d'Almada, que omite a sua origem africana (que justifica o profundo conhecimento das coisas locais) e chega a adoptar um discurso racista adaptado aos destinatários, com o nobre objectivo de lutar contra a prática da escravatura e pelo respeito cultural.
Nem devemos pretender padronizar demais as narrativas oficiais, que foram marcando (mas também sendo condicionadas) as épocas e os momentos, emprestando-lhes um cunho hegemónico que não tiveram, pois sempre existiram vozes discordantes, cujo bom senso se fazia ouvir, muitas vezes a contra-corrente. Um inquérito racista cujo objectivo consistia essencialmente em provar que os «pretos» tinham a idade mental das crianças, desenvolvido para o Congresso Nacional de Antropologia Colonial de 1934, desenvolvido junto de missionários, oficiais do exército, médicos, funcionários e outras profissões, no qual se inquiriam várias qualidades como aptidão para o trabalho, impulsividade, moralidade, sugestibilidade, auto-controle, capacidade de decisão, previdência, tenacidade, inteligência global e educabilidade, obteve apenas 27 respostas... deveras interessante é que alguns dos inquiridos defenderam que os brancos metropolitanos eram inferiores aos chinas e aos pretos da Guiné!
Como defende Leopoldo Amado, na já referida reportagem, é esquecer que «os portugueses, eles próprios, assimilavam valores
africanos. Os colonos que se deixavam levar pela cultura africana e
viviam com os africanos eram considerados ‘cafre’, o termo para
classificar as pessoas que se tinham degenerado, e eram considerados do
ponto de vista religioso como almas perdidas porque se submetiam à forma
de estar do africano — aliás, criou-se o termo ‘cafrealização’.» Eram os lançados, ou tangomaus, que a Coroa desde cedo perseguiu (em 1517 Dom Manuel ordena a morte dos comerciantes portugueses nos rios da Guiné) por violarem o seu Monopólio, vendendo a quem desse mais (barcos estrangeiros) e tornando-se contrabandistas. Assumiam os costumes locais, misturavam-se e reproduziam-se. Outro bom exemplo foi Pero da Covilhã, o erudito espião ao serviço de Dom João Segundo, que face às notícias da morte do seu príncipe e Senhor, se deixou ficar pela Etiópia, como conselheiro real, criando numerosa descendência de vários casamentos. Ou outro homem de mão de Dom João Segundo, Afonso de Albuquerque (da Ordem de Santiago, como D. João II, e seu capitão da guarda), o artífice do Império asiático, que incentivava os seus soldados a criarem raízes, casassem com indianas e constituíssem família, criando assim focos, pontes de contacto entre os povos.
Hoje, quarta-feira, dia 16 de Dezembro de 2015, volvidos 500 anos sobre o seu passamento deste mundo. dedico esta reflexão ao Grande Capitão e Vice-Rei Dom Afonso de Albuquerque, que Deus tenha em Sua santa Glória. Nada melhor que um estrangeiro, o italiano Corsali, que com ele conviveu pouco antes de morrer e imprimiu em Florença, no ano de 1516, as seguintes palavras que lhe são dedicadas: «Capitano passato, huomo à tempi nostri prudentissimo et audace et in ogni impresa vittorioso».
Há uma questão identitária implícita muito importante, nesta reportagem, que até aqui era de certa forma tabu, até pelos traumas da Guerra Colonial. No entanto, feita a catarse (o melhor exemplo e mais conseguido exemplo é o blog de Luís Graça), é preciso avançar na ideia. O que é ser português?
Veio-me à lembrança uma visita que efectuei a Olivença, há mais de um quarto de século. Depois de ter passado pelas ruas e lamentado os brasões lisos de quinas picadas a escopro, estava a admirar a bela torre de Dom João II (que era o principal motivo da minha visita) quando fui abordado por um habitante de Olivença que me perguntou se sabia quem tinha mandado alçar a torre (ora essa! andava eu a estudar arquitectura militar, então não haveria de saber...). Um sorriso do tamanho do mundo iluminou-lhe o olhar, e disse-me então que gostava de estar por ali para dizer aos visitantes quem tinha sido Dom João II! Perguntei-lhe se era de Olivença, disse-me que sim e que apesar do BI espanhol, a família sempre se considerara, ao longo das gerações, como portuguesa. Ser português não é uma questão de Bilhete de Identidade. Decerto há melhores portugueses entre os habitantes de Malaca que o inquilino de Belém, que deixou passar várias efemérides de 2015 sem uma palavra de recordação...
PS Um dos 100 homens mais influentes do mundo este ano, segundo a Time, tem Fernandes por nome de família. Também a Índia teve um Ministro da Defesa com esse nome...