quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Proposta de «religação»

Um triunvirato de académicos, da área da «Ciência» da religião, na Universidade Lusófona, produziram um oportuno documento, para o Público. Não tanto pelo conteúdo propriamente dito, mas mais pelo sentido de oportunidade. Parabéns.

Qual a raiz etimológica de religião? Ora! Precisamente essa: religação. Neste contexto, é um pouco pretensioso falar em «ciência», talvez fosse mais adequado (logo, mais propriamente científico) reconhecer que se trata sobretudo de uma Arte.

Interessante que a proposta cai precisamente num momento em que o Doka lançou um apelo no mesmo sentido, dirigido à comunidade virtual guineense, com especial ênfase para os blogues com quem já manteve algumas disputas e desavenças.

Não podemos mudar o mundo, se primeiro não fizermos nós próprios um esforço para mudarmos. E o mundo está especialmente carente de modelos e de bons exemplos. Se o «piorzinho» do «mundo», a Guiné-Bissau, se endireitasse!...

Esse seria um grande pedido para 2014. Também eu me quero associar ao espírito da iniciativa, e lembro aqui uma grande verdade publicada pelo retornado (um bloguista «passivo», que não tem blog mas participa activamente com comentários).

Comentava este, em tom de mágoa, que a Guiné-Bissau poderia ser um magnífico balão de ensaio, para as Nações Unidas, uma experiência piloto, que ajudasse o mundo a perceber o quanto há a ganhar numa nova fórmula de desenvolvimento.

A democracia, nesse contexto, parece mais um empecilho que um calço, como reconhecem os autores do artigo, sugerindo outras fontes de legitimidade, filão aliás já explorado pelo Fórum dos Partidos, bem como pelo Porta-Voz do Comando.

Se, na «amostra» de mundo mais diversa, onde se multiplicam com facilidade as ocasiões de divergências e desentendimentos, ocorrer um «clique»... Não resisto, neste contexto, a «profetizar» que a Guiné-Bissau está destinada a grandes coisas.

Igualmente imbuído de espírito natalício, agradeço ao Progresso Nacional e Ditadura do Consenso - ver links à direita

Angola volta à carga

Novamente através do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, presidido por Angola, chega a intenção de reforçar (decerto com angolanos) a força da CEDEAO em Bissau; segundo o seu representante local, que, para além de porta-voz da UA, aparentemente também é porta-voz de Ramos-Horta (por sua vez porta-voz do Secretário Geral da ONU), este apoiaria essa intenção...

Obrigado Progresso Nacional >

Angola defende o «policiamento» africano do continente, tendo ainda, há poucos dias, o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, num resumo do ano de 2013, no Jornal de Angola, criticado a França pelas suas intervenções no Mali e na República Centro-Africana. «Angola continua a manter a sua vocação de factor de paz, estabilidade e desenvolvimento no continente». Um modelo, portanto.

Por outro lado, talvez estejam a abusar da paciência da CEDEAO, organização que não deverá estar muito interessada em desempenhar o papel de pau mandado. Os renovados e insistentes oferecimentos do regime angolano, com a mal escondida intenção de se (voltar a) imiscuir na política interna guineense (muito longe de casa!) já não são novidade, é mesmo uma tecla que está completamente gasta.

Depois de tanta pressão (e falta de respeito), o melhor a fazer será dissolver e repatriar a força da CEDEAO em Bissau (enviá-la por exemplo para o Sudão do Sul, para o Mali, ou para a República Centro-Africana, onde há guerra e estão a morrer muitas pessoas), que não tem outra serventia para além da de motivar propostas indecentes. Antes de meter a colher, é preciso ter propostas.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

tap, tap, tap

«Absolutamente inaceitável» é como o Ministério dos Negócios Estrangeiros português classifica o caso do encaminhamento dos 74 sírios no avião da TAP. Embora o pretexto da comunicação fosse a divulgação do relatório da comissão de inquérito guineense, nem uma palavra sobre as suas conclusões, insistindo mesmo na tese da «coerção» e não referindo o aval que teria vindo de Lisboa.

A expressão «absolutamente inaceitável» é claramente desadequada: utilizar-se-ia com propriedade se houvesse uma proposta ou um acto em curso; ora o caso foi pontual e está encerrado, o voo aterrou tranquilamente em Lisboa, a maior parte dos passageiros nem sequer se tendo apercebido do «desvio» à normalidade. O que é que Rui Machete não quer aceitar? O avião já lá vai...

Não quer aceitar a realidade, a situação política «de facto», vigente no país, como reconhece. Depois de ter sido desautorizado, vem uma vez mais fazer uma declaração extemporânea e abusiva para a própria transportadora, que em última análise é a responsável técnica pela análise acerca da «existência de condições de segurança no aeroporto de Bissau», sem interferências políticas.

No entanto, como sempre, no comunicado foge-lhe a boca para a verdade, reconhecendo que está em curso um processo de reavaliação do caso, na expectativa que sejam dadas garantias, através de elos de ligação entretanto estabelecidos com as autoridades de facto, no sentido de que não voltem a ocorrer situações similares, de forma a permitir «a retoma da rota» da TAP para Bissau.

Ver notícia.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Segurança interna

O Ministro do Interior terá invocado motivos de «segurança interna» para «ordenar» o embarque dos sírios, segundo noticia o Expresso baseado nos resultados do inquérito ao caso, publicado hoje; não sendo muito esclarecedor que o inquérito seja omisso quanto a isso.

A comissão de inquérito apurou igualmente não ter existido qualquer coacção física (e muito menos «armada») sobre a tripulação do avião ou sequer o chefe de escala; segundo a Lusa a ordem terá sido «visada» por um Director de Escalas da TAP, a partir de Lisboa.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Quem salva Kiir?

O porta-voz do governo sul sudanês admitiu a perda de Bor. (não, não é na Guiné-Bissau)

O Presidente insiste em tentativas de «diálogo», mas o seu rival, na resposta, limita-se a repetir incansavelmente: «Kiir para a rua, Kiir para a rua».

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Resposta a um anónimo

Um anónimo defendeu ser «deselegante embaraçar as potenciais candidaturas», mas não se percebe bem se defende que seja o Supremo Tribunal a fazê-lo... Ora é precisamente porque Kumba é livre de se candidatar, que teria imenso valor a sua atitude activa de abandono (honrando Mandela), desmascarando assim, com esse gesto, a «esperança quimérica» de Cadogo, de que fala.

Mais vale um lugar de Senador vitalício e o eterno respeito dos guineenses, que uma efémera cadeira de Presidente enlameada.

Ver Bambaram di Padida 

Paulo Gomes candidato a Primeiro-Ministro

O candidato Paulo Gomes parece andar com problemas de identidade quanto às suas futuras atribuições presidenciais, referindo-se ao «seu» Programa Nacional de Desenvolvimento, desdobrando-se em promessas eleitoralistas pouco consistentes, quando a procissão ainda vai no adro. Um pouco de contenção e atenção à realidade, só poderá melhorar a sua prestação. Ver Progresso Nacional >

Matchundadi

Felicitações ao irmão Filomeno Pina, pela bela e oportuna Carta Aberta ao irmão Kumba Yalá, apelando ao seu sentido de Estadista. Kumba Yalá teve o grande mérito, como presidente, de saber afirmar a sua identidade; pena que depois nem tudo tenha corrido pelo melhor...


É um sentido apelo a uma verdadeira matchundadi; a da inteligência e respeito. Por isso, no seu último artigo, o psicólogo falava igualmente de temperar esse sentimento masculino, assertivo e identitário, com o feminino, num fértil casamento com uma emergente mindjerdadi.

Trata-se agora de construir uma Nação, e a livre opção de Kumba seria sem dúvida um grande passo (uma bofetada de luva branca e barrete vermelho) no sentido de uma verdadeira reconciliação nacional! A da razão, como defendia ontem Adulai Indjai. Estamos juntos. Mantenhas di ermondadi.

Adulai é nome próprio, não uma invectiva golpista (mas desde já reconheço que me tornei um adulador de Indjai).

Portugal dá braço a torcer

De forma atabalhoada, o Governo português acaba de reconhecer as autoridades de facto na Guiné-Bissau, ao nomear, em Diário da República de hoje, o Coronel Armindo da Costa Caio, ao abrigo da figura de «elo de ligação», recorrendo a um Decreto-Lei de 1994 (139) consubstanciado em elementos das Forças Armadas ao serviço do Ministério da Administração Interna.

Entre as suas atribuições, «servir de elo de ligação entre as forças e serviços portugueses e os seus congéneres da República da Guiné-Bissau»; «colaborar com os serviços competentes da República da Guiné-Bissau»...

Este passo à frente, denotando a vontade de caminhar no sentido da normalização das relações diplomáticas com a Guiné-Bissau (se bem que lance uma certa confusão inter-ministerial, desautorizando, de alguma maneira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros), permite esperar que se deva a pressões da TAP, no sentido de semelhante normalização, repondo o destino Bissau na sua oferta.

Preocupação & Pedido

Julgo que as autoridades de Transição devem compreender o Presidente da Administração da TAP, colocado entre três fogos: o Governo Português; a confiança nas autoridades guineenses (que teve o mérito de manter «durante» o 12 de Abril do ano passado); e os accionistas (dos quais depende, claro, o seu bom nome como melhor gestor português - mesmo não o sendo de verdadeiro passaporte), preocupados com a multa milionária que poderão ter de pagar.

Antes de o irmão Fernando ter de inscrever nas contas da empresa uma provisão para o próximo exercício económico, julgo que o Governo da Guiné-Bissau deveria dar garantias à empresa (em termos comerciais, claro, e não diplomáticos), prontificando-se para tal eventualidade. Podem fazê-lo, aliviando assim a tensão entre a Guiné-Bissau e a TAP; não custa nada para já, será apenas preciso recrutar uma equipa de advogados guineenses à altura e está no papo.

Quanto ao novo destino da TAP, Bissau, um pouco de senso comum e um protocolo estrito daqui para a frente, aplanarão sem dificuldades as pequenas arestas que ainda possam subsistir. Como a empresa, não tendo razão para duvidar da boa-fé da proposta, tem conhecimento das dificuldades de tesouraria a que fazem face as actuais autoridades em Bissau, se os irmãos timorenses aceitassem servir de simples fiadores, poderia ajudar ao rápido desenlace.

PS Parabéns ao editor do blog Ditadura do Consenso, pela rábula da nova companhia aérea concorrente da TAP. Está com piada. «Rir é o melhor remédio».

Tradução livre II

A Rádio ONU veio confirmar a intenção já manifestada por António Patriota (ex-MNE brasileiro), de visitar a Guiné-Bissau no princípio do ano. Ver notícia.


No entanto, o nome da sua Comissão é claramente desadequado, mesmo se, na tradução para português (bastante livre) conseguiram disfarçar um pouco melhor: o tradutor está de parabéns, pois tem a noção disso, e fala da sigla (PBC), mas não diz o que quer dizer para não deixar o «rabo de fora».

O PB da Comissão vem de Peace Building; ora o building é uma acção positiva, estruturada, lançando alicerces onde não existe senão um terreno vazio. Mas na Guiné-Bissau não há guerra, para ser preciso «construir» a paz de raiz. Nation Building, ainda se percebia. People Empowering, ou qualquer outra coisa...

Mas voltando à referida Comissão das Nações Unidas: a tradução para português faz um downgrade do Building para Consolidação (da Paz). Consolidar, não podendo ser considerado sinónimo, continua a não se ajustar à realidade, mas tem no mínimo o mérito de ser claramente bem menos pretensioso.

(pelos vistos os tradutores são melhores que os políticos, na ONU).

Verdadeiros patriotas respeitam as pátrias dos outros, sem preconceitos, condições ou agendas. O senhor candidato a pedreiro tenha a liberdade e humildade suficiente para saber apreciar a hospitalidade da casa guineense antes de começar a fazer a massa.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Leão desgrenhado

Muitos interesses em jogo, com mais de 120 «diplomatas» americanos a serem intempestivamente repatriados. E mais uma guerra local de interesses globais. Para um país novo, violando um tabu fronteiriço continental com bem mais de 120 anos, não é um bom augúrio.

Balcanização africana? Fantasmas étnicos fomentados por interesses petrolíferos? O leão não vai ficar bem na fotografia, com essa Juba. Todos foram (hipocritamente?) colocar flores no túmulo de Mandela, mas não basta elogiá-lo: seria preciso respeitá-lo igualmente.

Esta ordem mundial só serve aos países desenvolvidos; o seu conforto é mantido à custa de guerras periféricas, fomentando modelos interesseiros de apropriação pessoal das lideranças, em vez de verdadeiros Estados de Direito, alicerçados no desenvolvimento.

Todos golpistas

Porém, não se pode dizer que os novos golpistas são piores ou melhores, mas pode-se, isso sim, esperar e desejar que não sejam derrubados para evitar que a história se repita, mais uma vez, graças a incapacidade de construir um verdadeiro estado de direito.

Publicado pelo Didinho, um magnífico artigo, de Adulai Indjai: «Golpistas em nome do Povo, pelo Povo e para o Povo». Nem sempre é fácil separar o trigo do joio. Há que ler e reler...

Está na altura de inverter a situação, cujo diagnóstico dos males está bem estabelecido, mas alterando o guião: «Estadistas em nome do Povo, pelo Povo e para o Povo». É a hora.

Golpista vem de golpe. Estadista vem de estado. Acabaram-se os golpes e os estados falhados. Agora ou nunca. Viva a verdadeira matchundadi e mindjerdadi da inteligência e da razão.

«Controlo total»

O Presidente do Sudão do Sul, encurralado no seu Palácio, três dias de confrontos e meio milhar de mortos depois de ter anunciado que controlava inteiramente a situação no terreno, tenta agora ganhar tempo, fazendo um apelo ao seu rival para encetar conversações...

O expansionismo angolano em África, sob o modelo de marketing da autocracia totalitária, pelos vistos não acerta uma, a estrela de José Eduardo dos Santos está definitivamente a perder o brilho. Já os franceses também perdem, não conseguindo o controlo Total.

AFP propaga mentiras

A agência noticiosa francesa AFP produziu um artigo datado de hoje, no qual se revela, no mínimo, pouco atenta, pois continua a insistir em boatos já inequivocamente desmentidos, ao mais alto nível, pela operadora aérea «vítima» dos factos: os refugiados sírios teriam sido, segundo a France Presse, embarcados «sous la menace de militaires armés de la Guinée-Bissau déployés à l'aéroport».

Pelos vistos, tal como a comunicação social portuguesa, também «emprenham pelos ouvidos». Já não é a primeira vez que tal acontece em pouco tempo: ainda no caso da Embaixada da Nigéria, o sentido da desinformação era o mesmo: pintar o quadro de tons mais negros ainda que a realidade... E desmentidos, para reposição da verdade dos factos, nem vê-los. Que falta de seriedade!

Tradução livre

A TAP tem um Aviso, no seu site oficial, acerca das ligações com Bissau. Disponível em duas línguas, português e inglês.

Em inglês, referem que a rota está «temporariamente suspensa». No entanto, a tradução para português do temporarily suspended resulta em «rota na qual a operação está suspensa, como é do conhecimento público». A própria TAP está ainda confundida... uma no cravo, outra na ferradura.


As linhas tradicionais de língua portuguesa fazem parte da identidade da TAP.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

TAP aumenta frota e anuncia novos destinos

Em duas declarações simultâneas, mas distintas, a TAP pronunciou-se sobre o caso de Bissau.

Aparentemente cedendo a pressões políticas, o presidente da companhia, Fernando Pinto, em declarações à Lusa, afirma que o voo para Bissau foi definitivamente cancelado, não admitindo, para já, qualquer alteração nessa decisão, acrescentando mesmo que, se a TAP voltar a voar para Bissau, esse será um «novo» destino (há que relativizar estas informações com outras, de ontem, nas quais a TAP anunciava o reforço da frota com seis novos aparelhos, bem como uma dezena de novos destinos em vários continentes);

Numa outra declaração, por parte de um «porta-voz», num tom mais comercial e comedido, a companhia mostra-se preocupada com a situação, declarando-se apostada em minimizar os inconvenientes dos passageiros (que se esperam passageiros). O facto é que há um fluxo respeitável de viajantes entre Lisboa e Bissau (mesmo que as autoridades dos dois países não mantenham relações diplomáticas), suficiente para alimentar uma linha lucrativa e que resulta obviamente anti-económica, se tiver de andar aos saltinhos.

Catarse

Mais um magnífico artigo de Filomeno Pina, a merecer profunda reflexão. Mas, antes disso, quero já reagir «a quente» e vou afirmando que é sobretudo o espírito da mensagem que veicula, o comprimento de onda em que vibra, que me interessa em primeiro lugar, neste momento.

Filomeno Pina inclui sempre subliminarmente, na minha opinião, categorias de análise da sua área profissional; já aqui o referi respeitosamente como o «psicólogo» da Nação. E uma leitura (e motivação) que me parece evidente neste seu texto é a ideia de ponto de não retorno.

Estas últimas provações, poderão ter o condão de induzir uma catarse colectiva: ao demonstrarem, sem sombras para dúvidas, que é necessário fazer algo, de forte e definitivo, sem complexos (e talvez com um pouco de utopia), que dignifique sem equívocos o país aos olhos de todos.

Em referência à vida do profeta Jesus, diria que a Guiné-Bissau está como o Mestre a caminho de Jerusalém, onde, depois de se defender de muitas e injustas acusações, ao sair do Templo, irrita-se, e começa à biqueirada às bancas dos vendilhões e trafulhas, expulsando-os.

Disponível no Nô Djemberém e site do Umaro. Ver links à direita.

Marfim

O Sudão do Sul não tem costa para desembarcar o «ouro» (nem branco nem preto). Mas o seu presidente tem guarda-costas. A estratégia é a mesma que a já ensaiada noutros lados: criar um abcesso de fixação, resistindo no palácio presidencial, continuando sempre a afirmar ter o controlo da situação (desde as primeiras horas). No entanto, não será bem assim, pois o tiroteio continua a fazer-se ouvir nas ruas desertas de Juba. Em caso de falência das tropas presidenciais, poderá tornar-se difícil evacuar eventuais mercenários que por lá se encontrem. As aventuras despropositadas, por vezes, têm o seu preço.

Pedido de desculpas «formal» a Portugal?

Acabo de saber pelo Saiba novidades, que se discute o impensável: será um cenário para o caso de Portugal restabelecer relações diplomáticas e apresentar primeiro igualmente uma desculpa «formal»?


É que não faz sentido discutir o que não tem sentido nenhum. A quem apresentariam esse «formulário» se não existem relações «formais» entre os dois países? Arriscam-se a não passar da portaria, sem cumprirem essas Necessidades. De quem a péssima ideia de submeter semelhante imbecilidade a discussão? 

Julgo que essa discussão está uma grande confusão, que o Governo e a ANP (o seu Presidente foi «deslocado») ainda estão um pouco a «Leste» do que está a acontecer no fórum do poder.

Mas, se o pedido não pode ser «formal», nada impede que o Ministro que se sinta responsável, volte a telefonar ao comandante do avião da TAP (uma vez que já tem o número), e lhe apresente pessoalmente um pedido «informal» de desculpas por o ter aterrorizado com o anterior telefonema (isto se ele atender, claro, pois pode ter ficado traumatizado).

Sindicatos pró-conspiração

Segundo notícia publicada pela Rádio Vaticano, os sindicatos recusaram-se a aceitar o pagamento de um mês de salário, fazendo chantagem política com a actual situação de tensão no país. A soldo de inconfessáveis interesses, pretendem passar para o exterior uma ideia de desordem e subversão, que de forma alguma traduzem o sentimento generalizado da população. Justificar-se-ia, neste contexto, uma violação da constituição, justificada para contrariar um mal maior: o lock out total, ameaçando os funcionários de perda do vínculo contratual, para recrutar depois apenas os mais capazes, com exame de admissão. Este é o canto do cisne do PAIGC, que ousa desafiar a existência do próprio Estado, que ajudou a criar; que é isto senão alta traição, instigada por actores políticos desclassificados, apostados na criação de um clima de instabilidade, do quanto pior, melhor?

Até quando a Guiné-Bissau estará refém de malfeitores mal disfarçando a sua natureza predatória e delapidatória? Até quando a Guiné-Bissau se julgará dependente de quem lhe quer impor, através de eleições desadequadas, uma insustentável pulverização da legitimidade, ainda para mais contaminada por espúrios candidatos proto-totalitários?

Efervescência

As atabalhoadas declarações do ridículo Ministro dos Negócios Estrangeiros português, com quem as autoridades de facto da Guiné-Bissau não mantêm relações diplomáticas, provocaram uma autêntica roda viva de reuniões em Bissau, pela sua despropositada agressividade e pela gravidade formal das acusações implícitas, que permitem informalmente suspeitar das piores das intenções, justificando-se o alvoroço, bem como a preparação de uma resposta institucional solidária à altura das graves insinuações produzidas.

O convite ao suicídio das Forças Armadas guineenses, diabolizadas e tornadas em bode expiatório de todos os males, é um perigoso precedente, cuja corda está a ser esticada até aos limites do bom senso, sem que se percebam muito bem os objectivos que presidem a essa atitude. Descartando a hipótese de simples e grosseira estupidez pessoal do ministro envolvido (que, de qualquer forma, decerto não seria de todo despropositada), Portugal não pode tomar posturas belicistas sem consultar a Assembleia da República.

Para além da inconsequência do seu ministro, este não é um simples cidadão: no desempenho do seu cargo, obrigou o estado português com comparações temerárias, em relação a um país com o qual não tem quaisquer relações diplomáticas que possa cortar (o que se sabe ser um primeiro passo para a guerra); nessa situação, este discurso só pode ter uma leitura, que é o fabrico, de todas as peças (tentando envolver outros actores internacionais como a UE), de um casus belli, de forma a ofender a soberania alheia.

Impõem-se as palavras irritadas e abusadas de Cícero, nas suas Catalinárias:

«Até quando, Machete, abusarás da nossa paciência?»

PS Um pequeno pormenor que talvez tenha passado despercebido à maior parte dos comentadores, mas que a visualização do vídeo esclarece: apareceram, na comunicação social, duas versões concorrentes das afirmações de Machete, no seguinte ponto:

«Foi um ato muito próximo dos atos de terrorismo, portanto, que
versão 1) não tem exatamente os mesmos objetivos»
versão 2) tem exactamente os mesmos objectivos»

A maior parte dos jornalistas ouviram a versão 2, porque o ministro «comeu», quero dizer, engasgou-se, com o «não».

Um pequeno inquérito de opinião. O que acha que aconteceu neste caso:

1) Lapsus linguae
2) Acto falhado
3) Fugiu-lhe a boca para a verdade
4) Gaguez congénita

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Gato escondido com o rabo de fora

Há muito que o governo português patenteia que está apostado em fomentar um clima propiciador de uma invasão estrangeira na Guiné-Bissau. Mas que esteja a aproveitar para isso um caso ocorrido com a sua própria transportadora aérea, prejudicando os seus nacionais bem como os naturais da Guiné-Bissau vivendo em Portugal, não tem pés nem cabeça. Se a conspiração vem de longe, está a assumir contornos de idiotice e fanfarronice inimagináveis, que em nada abonam a honra de Portugal. De mãos atadas, o imprestável Ministro dos Negócios Estrangeiros português já devia ter, há muito, seguido o exemplo do seu homólogo guineense: se, como o próprio diz, não tem relações com estas autoridades, que quer fazer? Quando é que, em vez de visar o pé, como tem feito, aponta directamente à cabeça?

A insidiosa campanha contra a Guiné-Bissau parece esconder outras intenções: a presença de Cadogo na Praia já por outra vez esteve relacionada com uma suspeita actividade de conspiração do mesmo tipo. Porque razão esta obsessiva insistência no desmantelamento das Forças Armadas guineenses? Que espera Portugal ganhar com a dissolução que preconiza para o Estado guineense? Talvez fosse melhor refazerem os cálculos: mesmo que, por absurdo, conseguissem derrotar as Forças Armadas guineenses, teriam de repartir o «bolo» com a comunidade internacional, na maior das confusões; mais do que impossível, seria uma vitória de Pirro; não chega o exemplo da Líbia, que agora propagaram à Síria? (com todos os lamentáveis «danos colaterais» que pudemos ver, dando aliás origem a este «casus belli»). Haja vergonha!

Acto de terrorismo

Segundo declarações, há pouco, de Rui Machete, o que se passou em Bissau é o equivalente a um atentado terrorista. Pena que os jornalistas engulam barbaridades destas e não peçam ao senhor ministro para esclarecer o que entende por isso. Pelos vistos, por milagre, conseguiram impedir a tempo que os 74 terroristas detonassem as suas cinturas de explosivos, no aeroporto de Lisboa. Decerto o senhor ministro tem provas concludentes do que afirma, talvez uns quilitos de explosivos (de fabrico comprovadamente guineense, claro) apreendidos na operação, que faria bem em mostrar à televisão.

Cada vez que abre a boca, senhor ministro, sai baboseira, e da grossa. Não bastavam as acusações de:

1) Tráfico de armas
2) Tráfico de drogas
3) Tráfico de orgãos humanos
4) Tráfico de refugiados
temos agora também
5) Terrorismo

A nova acusação é consubstanciada da seguinte forma:
«pagaram uma determinada quantia por cabeça a uma organização»
claro que pouco importa o pormenor de que essa organização tenha sido uma agência de viagens, as quais, normalmente, fazem precisamente isso, cobram uma certa quantia por cabeça para facilitar uma viagem

Portanto, já estamos a ver que é, salvo erro, o novo slogan de uma campanha de marketing com o objectivo de promover o destino Portugal no estrangeiro, especialmente vocacionado para o segmento geográfico do Médio-Oriente:

«FAÇA T(ERR)URISMO EM PORTUGAL»

P.S. Não sei o que me custa mais: um acto de terrorismo ou ter de gramar com um acto de estupidez deste calibre. Agora que as coisas se estavam a acalmar e a seguir a via da normalização, por parte da TAP, estas declarações inflamatórias soaram a perfeitamente gratuitas, lançando a suspeita de que estarão em curso pressões sobre a TAP para que a companhia mantenha o cancelamento dos voos para Bissau, por razões políticas. Isso sim, poderia ser legitimamente apelidado de terrorismo de Estado para com os seus próprios concidadãos, que toma como reféns.

Guarda Luandiana em Juba

Parece um nome mais adequado, preterindo «Pretoriana», pois Pretória é bem mais para Sul...


A noite de ontem foi marcada por intensas trocas de tiros, incluindo armas pesadas, em Juba, capital do Sudão do Sul, cujo presidente tem José Eduardo dos Santos por mentor e modelo do seu regime. Quando este, no fim de Julho, criou a actual situação, ao demitir o seu opositor do cargo de vice-presidente, não se esqueceu de mandar um pombo-correio a Luanda avisar pessoalmente JES (bem ao estilo do próprio). Os americanos aproveitaram para avisar logo que não era solução, que o vazio político poderia contribuir para a instabilidade no país. 

Hoje, o ex-vice-presidente e opositor, obviamente imediatamente acusado de ser o promotor de tentativa de golpe de estado, declarou que o Presidente «Quer instalar uma ditadura, não ouvindo ninguém».

O padrão está a tornar-se engraçado e recorrente: Angola exporta «guardas pretorianas» para se ingerir em assuntos internos de estados (mais ou menos) soberanos... Tal como com a MISSANG (felizmente, na Guiné-Bissau, ao contrário dos outros casos, não chegou a haver tiros), ninguém tenha a ousadia de colocar em causa o humanitarismo angolano, a sua vasta experiência em mediação de conflitos: que o diga o presidente em exercício da CEDEAO, Alassane Ouattara!