quarta-feira, 8 de maio de 2013

Pronunciamento da Diáspora

Londres acolherá nos próximos dias 24 a 26 de Maio, o I Encontro da Diáspora Guineense, um grande evento promovido pela pessoa colectiva «Elo(s) de Gerações - Texas80», associação sem fins lucrativos regida pelo Direito português e registada no passado dia 18 de Abril, no RNPC de Benfica, em Lisboa. Trata-se de um grupo informal com cerca de um quarto de século, cujo nome Texas deriva de um organização de jovens do mesmo bairro de Bissau (cada bairro e «geração» tinha o seu, com a sua «identidade»), que vieram para Lisboa para o Ensino Superior nos anos 80, e que mantiveram a sua organização para levar a cabo eventos culturais e desportivos, como a Noite Lisboeta, na qual se matavam saudades da Guiné, eventos de grande qualidade organizativa, sempre com muita adesão e visibilidade na comunicação social, desde a rádio à televisão, ficando conhecido como «o» grupo de referência juvenil associado à Guiné-Bissau.

O encontro, concebido para ser uma grande festa, pretende juntar cerca de 600 pessoas, «di manga di parti di mundu fora». Com uma organização «profissional», para além da página própria, está também no Facebook e a divulgação inclui uma entrevista de Armando Faria à revista Guineenses & Americanos, disponibilizada no YouTube de Inussa Mané, dividida em Introdução mais 4 partes. Não percam. A organização reconhece que se vivem momentos conturbados no país, por isso afirma não só a sua neutralidade relativamente à situação política, como a sua independência, relativamente a governos, países, organizações ou financiadores. Mas que geração é esta que anela a estabelecer um elo? Estas são as flores da luta de Cabral, meninos que nasceram antes do 24 de Setembro, que foram à escola no merecido entusiasmo da vitória e da independência, que continuaram os seus estudos superiores em Portugal, e depois seguiram cada qual o seu caminho, poucos voltando para a Guiné, alguns ficando por Lisboa, muitos outros usando Portugal como trampolim para outros países mais promissores. Terá sido, porventura, como lamenta, na entrevista, Inussa Mané a Armandinho, a última geração feliz de meninos... «bô gerasson disfruta di bons tempus di Guiné-Bissau...» Cabral vive e sinto-lhe a felicidade nos olhares sinceros e entusiasmados do entrevistado.

A diferença, entre a emigração portuguesa e a guineense, está nos niveis de formação: enquanto os portugueses que emigraram para a Europa a partir do fim dos anos 50 eram na sua quase totalidade mão-de-obra não qualificada e estavam destinados a engrossar as fileiras do lumpen-proletariado, já a emigração guineense dos anos 80 é uma «força» de elite. Forjada a «consciência» de classe, este é o momento oportuno para «passar à luta», para o seu envolvimento. Uma geração que assume as suas responsabilidades! Quantas falharam? Hoje, são empresários de sucesso, técnicos reconhecidos, com o seu lugar na vida, uma diáspora qualificada que finalmente, parece ter acordado! Armando Faria lembra que há muito que falavam e acalentavam a ideia: «Um dia, nô na tenta junta». Viva a hora! Um pequeno parênteses para um curto pormenor na referida entrevista: Armando diz que tentou uma aproximação à Confederação da Diáspora e não conseguiu: terá sido porque essa Confederação é essencialmente de base étnica, representando apenas manjacos e fulas? Uns por tradição de emigração, outros porque a isso foram compelidos em 1974-75... Ora evidentemente que Elos - Texas80, para além de ser uma organização tolerante e independente, é também essencialmente e verdadeiramente nacional; julgo que a abordagem escolhida não foi a mais adequada em relação à referida Confederação: o Armando não deveria ter tentado entrar para lá, mas tê-los convidado a entrar para cá, a con - con - federarem-se.

O impacto vai ser muito grande, não duvidem. Precisamente por ser não «político». E haverá que tirar o máximo proveito: lembro o acordo entre a União Europeia e União Africana, assinado em Novembro de 2006, prevendo o apoio à migração circular e ao retorno temporário das elites qualificadas, no sentido do desenvolvimento dos respectivos países de origem. Estou curioso para ler os discursos dos oradores, com Filomeno Pina à cabeça, mas especialmente ansioso pelo último dia, esperando que possam haver conclusões (e sua divulgação). Espero igualmente que arranjem alguma forma expedita de permitir a todos os guineenses (estou a pensar sobretudo nos guineenses na Guiné - não é um pleonasmo, é só para os distinguir da Diáspora) interagirem de alguma forma com os oradores e os trabalhos através da internet, arranjando uma pequena equipa de voluntários, jornalistas ou relações públicas, que vão colocando tudo ao minuto, videos instantaneamente colocados no Youtube, e coberturas rádio em «quase» directo (ficheiro de boa qualidade) para Bissau. Talvez isso permita evitar alguns mal-entendidos. Festa é festa.

Unidade nacional à escala global!

Parabéns e desejos das maiores felicidades.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Secretário-Geral da ONU entreabre a porta

Ainda antes de a Guiné-Bissau subir à ordem do dia no Conselho de Segurança, Ban Ki-Moon, através de um comunicado bastante cauteloso, vem abrir de certa forma a porta a um período de transição mais alargado (passando dos 6 meses propostos na ANP para um ano), reconhecendo a delicadeza da situação em curso.

Partindo dos princípios enunciados, com jeitinho e diplomacia, não será decerto difícil, ao novo MNE, defender um período razoável (equivalente, no mínimo, a uma legislatura), para garantir, como defende o Secretário-Geral, uma transição segura e consistente, mobilizadora das forças vivas da nação, num projecto de estabilidade sustentável, alicerçadas numa verdadeira fidelidade das Forças Armadas (não a pessoas, mas ao futuro do seu país), com o apoio popular.

No mesmo comunicado, dispensa subtilmente Ramos Horta, salvaguardando a face do Prémio Nobel.

Sua Excelência, o Secretário-Geral, está de parabéns pela perspicácia, prudência e oportunidade. Finalmente, uma luz ao fundo do túnel?!

Vontade popular

Manga di quadro di PAIGC suma di PRS dado oportunidadi pa manda. Resultado? I es ku no na odja!

Um breve resumo do contributo de opinião no PN de Mariama Djassi, quanto a um Governo de base alargada:

«Nenhum partido tem um projecto de sociedade que abranja todos os guineenses na sua diversidade e essa é a principal explicação da forte taxa de abstenção nas últimas eleições.»

«Remodelação governamental deve incluir pessoas politicamente neutras.» (o Ely queria decerto dizer «deve excluir políticos» da praça)

«Tensões quando se muda um CEMFA, porque não existe poder político.»

«Cada Deputado olha só para o seus bolsos.» (qual a raiz? vem de...)

«Governo de Unidade Nacional com 10 membros.» (no máximo e peca por excesso)

«Novo contrato social.»

Recuando um pouco, vou resumidamente aproveitar mais alguns contributos, extraídos igualmente do PN, no âmbito do desafio Futuro Dirige gentes. 

«O estado deve ser governado não pelo mais rico, pelo mais ambicioso, forte ou astuto, e sim, pelo mais bem preparado politicamente. Muitos se sentem aptos a fazer política sem entender que se trata de uma arte especial e destinada a poucos. A estratégia, a magistratura e a oratória são inerentes à ciência política, que tem como tarefa unir, cultivar a prudência e a moderação contra a exacerbação e manter o enérgico contra o duvidoso.»

Opinião de Ely Araújo.

Ficou-nos também bem estampada a angustiada questão de César Jandim, formado em economia e desempregado, do Bairro de Cuntum:

«Na nossa amada e martirizada Guiné quem pode ter autoridade suficiente para se impor na cena nacional e acabar com toda essa confusão? Quem?»

Esta parece-nos ser a questão central à qual a vontade popular espera resposta. Após tantos golpes de estado, já está na altura de a Guiné tirar algum proveito da actual situação.

Gato escondido com rabo de fora

Apenas para apontar algumas contradições na petação:

No princípio:

 “Não sou político nem tenho ambições de o ser. Sou um técnico”

No fim:

“Os militares elegeram um governo de transição que tem governado o país sob suas ordens, até à data presente. Isso não só gerou uma onda de indignação por todo o território nacional dividindo profundamente os guineenses, como o país sofreu um bloqueio internacional. Sem ajudas e sem dinheiro, os militares e este governo, têm recorrido a tudo o que é ilegal em benefício próprio, sendo o estado considerado um narco-estado”