sábado, 26 de maio de 2012

Reuniões «frutuosas»

O mesmo adjectivo foi usado, em Lisboa e em Bissau, para descrever os trabalhos de reuniões em torno da situação na Guiné-Bissau. Manga di fruta. Ou seja, bué em angolano.

Em Bissau, concretizou-se a reunião entre CEDEAO e CPLP, sob os auspícios da ONU, os tais «novos canais»; no entanto, não foi autorizada qualquer entrevista dos participantes, tendo apenas sido referido o aspecto «frutuoso» das conversações. Parece um silogismo adequado para descrever um encontro com surdos (mas não mudos: são donos do mundo e não mudam uma vírgula).

Em Lisboa, uma iniciativa organizada pela eurodeputada socialista Ana Gomes no Centro Jean Monnet juntou eurodeputados e os 4 da vida airada (numa representação de luxo de ex- tudos: Presidente, Primeiro-Ministro, Ministro dos Negócios Estrangeiros e Embaixador) os quais de Belém ao Rato não se cansam de marcar presença. No final Carlos Gomes Júnior declarou aos jornalistas que "Esta reunião foi bastante frutuosa para demonstrar que o povo guineense está a exigir o retorno do governo saído das urnas".

Note-se a incongruência de exigir o «retorno do Governo saído»: podiam também pedir ao contrário, a saída do Governo entrado, que ia dar ao mesmo... Parece pouco adequado estarem a decorrer conversações em Bissau e conferências paralelas «contraditórias» em Lisboa. Já quanto ao ex-Primeiro-Ministro, não se compreende em que se baseia para a sua afirmação quanto às «exigências do povo»: pubis ka burro.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Remake II

O porta-voz dos insurrectos, Daaba na Walna (sim, há imensas versões do nome) acusou Carlos Gomes Junior de...

«abuso de poder, infidelidade aos princípios, uso indevido das instituições militares, violação da constituição, perseguições e atentados contra a integridade física de oficiais da classe castrense, entre outros, motivos da insurreição levada a cabo na Guiné Bissau».

Estão todos a pensar que isto é de Abril de 2012: pois enganam-se.

É sim uma «mentira» de 1 de Abril (mas de 2010)!

Como começou esse dia? Com uma «assembleia» de altas patentes em Amura, para o confronto directo entre CEMFA (Zamora) e seu Vice (Injai), na sequência do mal-estar que se vinha vivendo desde Janeiro, quando Zamora chamara Injai a São Vicente para o acusar de cumplicidade no retorno de Bubo da Gâmbia onde se encontrava refugiado; a coisa acabou a murro, com a grande maioria dos oficiais a darem razão a Injai, tendo sido imediatamente desarmados e presos Zamora e Samba, o chefe da sua sinistra secreta, o qual aparentemente urdira toda a intriga, nela acabando por enredar o seu próprio chefe. Injai estava a ser vítima de uma «inventona» («crioulo» guineense derivado de intentona) que teria tentado prevenir no dia anterior telefonando aos mais altos responsáveis da Nação, Presidente, Primeiro-Ministro e Procurador-Geral, que se negaram a ouvi-lo. Toda a cena depois, que a comunicação social apanhou, foi feita «a ferver», assumindo a forma de uma «explicação» não agendada com o Primeiro-Ministro, na qual não houve outro estrago senão um par de óculos de um ministro. 

Apertado, Samba terá chegado a deixar cair um nome relacionado com a Embaixada de Angola... Mais recentemente, quando foi morto (curiosamente na véspera de ser ouvido em Tribunal), como o Aly constatou, a surpresa da tropa foi total (I Samba!), até porque se tinham responsabilizado pelo desenrolar tranquilo do processo eleitoral, conforme justificação do «eterno» porta-voz. Quem poderia Samba denunciar? A quem aproveita o crime? Terá sido a gota de água que fez transbordar o copo da classe castrense? Se Zamora foi mais vítima da sua ingenuidade do que propriamente cúmplice, o seu testemunho será importante (o mais importante talvez nem seja o assassinato de Nino): deverá talvez, neste momento, evitar Lisboa, para manter a sua imparcialidade perante Bissau.

Neste contexto, o recente comunicado do dia 23, da Liga Guineense dos Direitos Humanos, para além de suspeito, contradiz-se na forma: como podem pedir, no ponto 2, a libertação de Bubo invocando a Amnistia a aprovar pela ANP ao abrigo do Acordo Político, se esta se refere, na letra, exclusivamente ao dia 12 de Abril deste ano? Se invocam o texto, se pretendem um alargamento do seu âmbito, estão a reconhecê-lo. Mas não: logo no ponto seguinte denunciam o Acordo Político, para no ponto 4, apelar à rejeição da Amnistia. Em que ficamos? Tristes encenações, a juntar-se ao coro de protestos internacionais visando a situação no país ao tempo do governo de Carlos Gomes Junior...

Fernando Gomes, o ex-Ministro do Interior, faz curiosamente lembrar um seu homónimo ex-Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos. O primeiro, na sequência de mais uma «inventona» ou «intentona», conforme se queira - ou der mais jeito (na Guiné os dois termos acabam sempre por se assimilar na confusão) - do último Natal, negociou a rendição de Iaia Dabó (irmão do falecido antigo ministro do Interior e deputado Baciro Dabó - outro sinistro personagem e narco-barão), o qual foi abatido a tiro a sangue frio no interior do carro em que pensava entregar-se (depois de negociações envolvendo vários personagens) por elementos da Polícia de Intervenção Rápida (força formada em Angola, que já chegara no tempo de Nino, para o «proteger»), facto também noticiado pela Ditadura do Consenso. Gomes consta da lista de elementos do ex-Governo proibidos pelo Comando de deixar a Guiné-Bissau.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Doka Internacional versão Serifo

A mosca tem estado relativamente em descanso, muito poucos contactos locais (ao invés de 1998), quase tudo com origem na internet e no coração.

Mas hoje, justificava-se uma violação do protocolo.

O Presidente da República lembrou o nome do Pai (morto) do Doka; quase um elogio ao Filho (vivo).

Com o pai elogiou a seriedade e a força. Com o filho, a opinião actual e o «poder ser»...

Não partilho da opinião de certas pessoas, que se recusam a especular o passado, em conversas sobre História, puxando dos lugares comuns:

«Se cá nevasse, fazia-se cá ski» ou «Se a minha avó tivesse tomates era o meu avô»...

Como pode o futuro ser um imenso campo de possibilidades em aberto, se, por outro lado, nos recusamos liminarmente a discutir o que «poderia ter sido», afunilando o passado à vulgar e miserável realidade que foi?

Ler a história...

http://dokainternacional.blogspot.pt/2011/03/paigc-depois-de-35-anos-do-seu_09.html

Ouvir Ke ki mininu na tchora
de José Carlos Schwarz    ke ki mininu na tchora

Portas impinge Bissau (também) em Estrasburgo


http://www.dw.de/dw/article/0,,15968891,00.html

Lamentável performance, uma vez mais, do (des)«Governo» português, esta quarta-feira na questão da Guiné-Bissau, desta vez no Parlamento Europeu. Paulo Rangel, eurodeputado do PSD e Diogo Feio do CDS, os lacaios de serviço, chatearam-se sozinhos porque ninguém os leva a sério: tiveram de se dirigir a uma Comissária propositadamente ausente, e constatava-se um forte tom de agastamento bem perceptível nos poucos euro-deputados presentes no hemiciclo quase vazio... bom exercício de «democracia».

O cão feioso EMI (his master voice)... para pior ainda, que horror, o homem nem falar sabe, cada vez que tenta levantar a voz, engasga-se a cada duas palavras! Olhe que parece um comunista, a berrar pelos «direitos»! Estado frágil? Deveria estar a referir-se ao seu próprio país... Quem quiser que veja a triste amostra de um minuto em video:

http://videos.sapo.pt/d4sMRMYNmYVoGEwGbaZH

Qualquer dia ninguém pode ver os portugueses: «Fujam, lá vêm os chatos com a mesma conversa»...

P.S. Quem tenta salvar a face (arranjar outros canais, deslocar-se a Bissau) não alimenta este género de diversões de mau gosto.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Jair Jaló : Que Deus ajude o povo da Guiné pensar para Bem!

Jair:

Não te conheço, mas tenho por justo fazer-te um grande elogio. Um jovem sem complexos que escreve português como o sente (independentemente de um ou outro erro: continua a «errar» assim)...

Que o teu desejo seja exalçado. Deus não dorme.

http://www.didinho.org/vamos_participar_na_busca_de_solucao.htm

Portas do Cavalo II

Paulo Portas está tão curto de argumentos, que já só os apresenta um a um: neste momento, o único que tem em cima da mesa, é a acusação de na Guiné-Bissau estarmos perante um golpe de estado pelo controlo do tráfico de droga. Está enganado (ou então está a querer enganar-nos). Como toda a gente sabe, Nino estava envolvido até ao tutano e nunca ninguém se lembrou de o acusar, quanto mais de pedir a sua deposição. Foi substituído por Carlos Gomes Junior no cargo de Barão Senior: quem não se lembra de Zamora, quando foi «espremido», o ter acusado de ordenar pessoalmente uma «desapreensão»? E Paulo Portas, como Ministro de Portugal, a porta de muito desse cavalo, deveria ter mais cuidado com as suas afirmações, pois o nível de hipocrisia está a alcançar níveis estrato-esféricos: talvez faça melhor, antes de falar, em inspeccionar os porões das traineiras que se dedicam à «pesca» nas águas da Guiné; já agora, podiam pagar as licenças... Sem ofensa para os comerciantes da especiosa mercadoria, vítimas da hipocrisia mundial, pois apenas aproveitam as oportunidades que a satisfação das necessidades desse mercado proporcionam. Aliás, uma solução desejável, segundo as conclusões do IISS, num estudo recente já aqui referido, seria a liberalização desse comércio: a luta ideal e eficaz contra o tráfico é a sua conversão em comércio legal, sob apertado controlo fiscal e sanitário.

Foto infeliz II

Depois de muito procurar, finalmente encontrei o Wally! Estava bem disfarçado na paisagem, desta vez. Só se via o contraste do fato, preto e branco. Deposto pelo Comando e decapitado pela escolha de um belíssimo fundo... «desadequadamente» feito ainda a Guiné não tinha sido «descoberta» pelos tugas (os primeiros dos macacos brancos sem pelo a chegarem ao continente)...

Hollande dá continuidade a política africana de Sarkozy

O papel da Missão Licorne na Costa do Marfim, não foi questionado, tal como as grandes questões de fundo, que não passarão pelo Parlamento, devendo manter-se como prerrogativa presidencial.

http://koaci.com/articles-75089

domingo, 20 de maio de 2012

Nova constituição

No site do Didinho foi publicado em primeira mão o texto do novo acordo político que deverá reger o retorno à normalidade democrática, assinado e promulgado pelo Comando Militar na última Sexta-Feira, configurando a integral entrega do poder aos civis, consagrando suas principais reivindicações, entre as quais se destacam preocupações de:

Garantir a autonomia e independência da Justiça e da Comissão Nacional de Eleições.

Garantir o combate à corrupção e ao tráfico de drogas.

Garantir o restabelecimento da confiança nas Instituições do Estado, a nível interno e externo.

Garantir a qualidade técnica dos envolvidos em questões de governação.

Garantir a transparência das Contas do Estado, promovendo auditorias independentes ao anterior Governo e ao próprio Governo de Transição (uma vez findo o seu Mandato).

Garantir uma Amnistia (prova de humildade da tropa, que reconhece assim que teve de optar entre dois males - enveredando pelo menor) a favor dos promotores da clarificação da situação política e elementos do Comando (mas porque não alargá-la, em prol da reconciliação e do apuramento da verdade, a todos os implicados em crimes políticos dos últimos anos? mesmo o principal beneficiado sendo Cadogo, de outra forma são feridas que nunca sararão e só podem trazer mais desentendimentos e complicações; perdoar, aliás, facilitará o seu esclarecimento - até porque muitos culpados, tal como as suas vítimas, estão mortos - e este é o momento ideal para uma pacificação «forçada»; vamos acabar com violência e ressentimentos? violência só pode atrair mais violência).

Do documento final constam 25 assinaturas: destas, a maioria (simples, presuma-se, ou seja uma dúzia mais uma), poderá exonerar o referido Primeiro-Ministro (ouvido o Comando Militar, claro, num entendimento alargado do Artigo 4º). 

Na ANP, talvez se devesse consagrar a sessão permanente. Os deputados que forem caindo, ao abrigo do regimento, deveriam ser substituídos por uma lista a elaborar, de figuras notáveis da sociedade civil, a começar talvez pelo Bispo de Bissau, que tem demonstrado caridade e disponibilidade para se envolver numa solução partilhada e realmente participada, bem como outras autoridades religiosas, civis respeitados, representantes de ONGs no terreno, etc.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Portas do cavalo na ONU

Depois de todas as asneiras que fez no processo recente da Guiné-Bissau, já não há saídas airosas para Paulo Portas, já não há sorte que lhe possa valer. O projecto de resolução, que pretendia estabelecer uma «força de reposição» da ordem, rapidamente se viu retrogradado a um humilde pedido de sanções contra os golpistas; mas mesmo conceder isso já parece demais perante tão mísera performance... porque não deixa de incomodar as pessoas? Uma Comissão terá de analisar o pedido. O projecto é obviamente remetido para as calendas gregas. E Paulo Portas recebe ainda a suprema humilhação de ser retro-condenado: há fortes «reticências» na organização quanto à insistente tentativa de impor a designação de «Governo legítimo» aplicada a cidadãos no exterior (cuja libertação, aliás, devem à CEDEAO e àqueles em quem tanto condenam a violação dos Direitos Humanos...), sem qualquer ligação com a realidade. Veja-se o jornal da ONU:

http://whatsinblue.org/2012/05/negotiations-on-a-guinea-bissau-sanctions-resolution.php#

O Togo acusou Portugal de deturpar o texto submetido, relativamente ao acordado... Agora Paulo Portas até já faz batota? Conhece a história de Pedro e do Lobo? Também o Expresso noticiará amanhã como o Conselho de Segurança deixou cair a exigência de «reposição» do «governo legítimo»...

Talvez seja altura de pensar como os portugueses do outro lado do Atlântico, ou seja, em colocar pelo menos um ovinho noutro cesto... é que o cestinho de Paulo Portas já ab...arrota, temo que alguns se tenham partido (suspeito mesmo, pelo cheiro, que alguns já estão a apodrecer...)

Brasil desmarca-se da CPLP e reconhece Comando

Ontem, num claro gesto de boa vontade, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil referiu-se à disponibilidade do Brasil para participar numa missão internacional conjunta de observadores da União Africana com a ONU, para a Guiné-Bissau, frisando insistentemente «que o Brasil não apoia uma intervenção militar na Guiné-Bissau, mas sim o envio de observadores» ou «que a posição do Brasil é a de defesa do diálogo». Defende ainda que qualquer acção deverá ser «acordada com as autoridades guineenses», estendendo a Lisboa e Luanda uma pequena ponte para o diálogo, dando um sinal para a saída do isolamento e beco sem saída a que estas diplomacias se votaram, ao defenderem intransigentemente um impossível retorno ao passado. Come back to the future!

Diplomático ultimato

Ouattara fez ontem um ultimato a José Eduardo dos Santos através do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, que enviou a Luanda: consonantemente, este não estará em posição de o recusar; a MISSANG terá de começar a sair já este fim-de-semana de Bissau. Esta ordem de despejo é uma prova de força instantânea para a CEDEAO e um sinal claro para o Mali: a organização não está para contemporizar com o apodrecimento das situações e pretende demonstrar a sua capacidade operacional conjunta e prontidão.

http://www.gbissau.com/?p=843

Garante-lhe «pessoalmente» uma saída ordeira, com a segurança garantida pelas forças da CEDEAO. Uma evacuação de POWs não teria melhor protocolo!

Falta apenas delimitar a missão da CEDEAO a esse ponto único, urgente, e a despachar rapidamente, para depois dispensar essas forças tornadas desnecessárias por uma transição de sucesso e evitar à organização regional incorrer em mais custos por causa da Guiné-Bissau; para retribuir o apoio agora prestado ao processo político guineense talvez seja mesmo possível, no âmbito do novo governo, disponibilizar um contingente para outras operações regionais de manutenção de paz.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Esquadra Burkinabé em Cumeré

O Comando Militar acabou de anunciar a chegada de um contingente de umas dezenas de polícias vindos do antigo Alto-Volta, que ficarão instalados no quartel de Cumeré, do lado oposto do aeroporto (a amarelo).

http://noticias.pt.msn.com/Saude/article.aspx?cp-documentid=250018085

No artigo, um belo instantâneo, com Daba Na Walna em primeiro plano meio desfocado, para focar os soldados um pouco mais atrás. A bonomia e descontracção reinam, em contraste com a crispação diplomática em torno da questão.

Crispação facial

Mais do mesmo, pelo mesmo mono. Pela enésima vez, Paulo Portas bateu na mesma tecla, ao receber o ex-Primeiro Ministro da Guiné-Bissau, esta manhã, em Lisboa. Retorno incondicional ao estatuto de Estado anterior a 12 de Abril. Está-se a tornar repetitivo, homem. Chato mesmo. Há um mais de um mês que «exige» sempre a mesma coisa, e cada vez mais a vê-la por um canudo. E não se cansa? E não acrescenta nada de novo? Nadinha mesmo? Népia? Bom, enfim. Mas porque prejudica ainda mais a sua arruinada carreira fazendo caretas? Qualquer pessoa, mesmo que não saiba português, topa logo como anda ressabiado só de lhe olhar para esses trejeitos. Sorria para a foto: olhó passarinho! Tão congestionado, parece que engoliu um sapo... Ou está com qualquer coisa atravessada? Necessidades?

Certos analistas internacionais começam a desconfiar dos reais interesses de Paulo Portas nesta questão. Para nos cingirmos a uma fonte utilizemos Radio France Internationale:

«Reste à comprendre pourquoi l'Angola et le Portugal tiennent autant à jouer un rôle en Guinée-Bissau. Certains évoquent des intérêts économiques et notamment des accords secrets passés avec l'ancien Premier ministre à propos de l'exploitation pétrolière.»
http://www.rfi.fr/afrique/20120509-guinee-bissau-grandes-manoeuvres-diplomatiques-poursuivent

Quanto à força anunciadamente a enviar pela CEDEAO, constituída quase exclusivamente por soldados nigerianos, reconhece-se o parecer negativo da imensa maioria das pessoas em Bissau:

«À Bissau, l’arrivée de la force de CEDEAO est sur toutes les langues, dans les lieux de travail, dans les quartiers et les coins de rue: Les gens pensent que cette force ne résoudra pas le problème : "En termes de stabilité, je pense que cette force ne saura pas résoudre le problème. Ce sera pire ! La Missang était ici, cela n’a rien changé. Au contraire, elle crée une crise, une polémique. Je crois que ce sera la même chose avec cette force".»
http://www.rfi.fr/afrique/20120516-guinee-bissau-cedeao-missang-abidjan

Sim, para que serviria essa força? Supostamente para proteger as instituições, fazer a protecção a VIPs & last but not the least, «substituir a MISSANG».

A MISSANG precisa de sair apenas, não de ser substituída. Angola está a começar a cansar todos os diplomatas que lidam com a questão: o burkinabê Kadré Ouédraogo mostrou-se agastado com o antagonismo de Angola e da CPLP relativamente à boa vontade da CEDEAO, sugerindo mesmo à VoA que se trata de clara ingratidão: depois de acumularem erros e hipocrisias em torno da «democracia», omitindo o verdadeiro problema, que surgiu quando a «CEDEAO ficou a saber da extrema tensão existente entre as tropas da Guiné-Bissau e as forças angolanas presentes no seu território», tendo-se prontificado a «ajudar a evacuar» essa força. 

Quanto à protecção das instituições e VIPs, não será necessário, pois o Comando Militar já deu provas da sua capacidade para a manutenção da ordem interna (a menos que estejam a pensar como Portugal e Angola, em instituições «democráticas» do passado, nesse caso o melhor seria irem directamente para Lisboa).

Dia D (ezoito)

Afinal não chega amanhã qualquer força estrangeira a Bissau. A CEDEAO ponderou e julgou que uma composição dessa força baseada apenas em soldados da Nigeria poderia ter problemas de comunicação com a população local... Dada a preocupante situação no Norte do Mali, os Ministros da CEDEAO vão reunir de novo depois de amanhã, Sábado, em Abidjan, para reavaliarem a situação, ali e em Bissau.

A Nigeria lamenta, mas confessa que também não seria possível cumprir o prazo inicialmente estipulado, dia 18, por dificuldades de logística: o responsável adianta mesmo que a única possibilidade seria o envio dos soldados desarmados, o material a (não) utilizar seguiria depois... segundo o Ministro da Defesa nigeriano na PANA: ''We don't want a situation where the soldiers will arrive ahead of the necessary equipment.''


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Encenações frustradas II

Desta vez em Lisboa:

http://www.socialaicos.com/index.php/media/videos/pesquisar/595-ana-rita-caneira-monteiro/video/10600-guineenses-em-manifestacao-de-apoio-ao-primeiro-ministro-deposto-da-guine-bissau?groupid=0

Meus caros adeptos do ex-PAIGC e alguns curiosos que se vêem neste vídeo: uma dúzia de pessoas não é uma manifestação, sobretudo nesse sítio, à hora de ponta! Todos os dias a essa hora, para além de alguns camones para a Ginginha, costumam estar nesse sítio mais guineenses que esses que se vêem «em directo» na imagem. É a pequena Bissau, sempre tolerante; de outra forma, a enorme, discreta, paciente e silenciosa maioria teria inibido essa manifestação pouco representativa do sentir autenticamente guineense.

Pontualidade britânica

E mal estar na sala. Bem sentadinhos e congestionados nos seus fatos e gravatas (e as mãos? todos com o mesmo tique entrevadinho) cinco minutos depois da hora de chegada ao Palácio de Belém (segundo o relógio de cuco), segundo o protocolo. Fazia calor em Lisboa...

O banco do meio ficou grande demais... será para assinalar a ausência de alguém? Infelizmente Daba não pode viajar... mas o lugar de honra, no centro das atenções, ficou reservado para ele.

Nas declarações para os telejornais, mantém-se a irredutibilidade do discurso... agora publicitados com renovado vigor pelos media portugueses. Tanto os Estados Unidos como a China já apelaram ao diálogo, criando um novo cenário político. O ex-PAIGC continua a esticar a corda, com consequências imprevisíveis, recorrendo à cobertura de Paulo Portas, numa inconsiderada aposta do «tudo ou nada» já apenas destinada a salvar a própria face. Chega de hipocrisia!

PS Com os devidos créditos ao repórter fotográfico da Presidência, através da respectiva página oficial. Cenas dos próximos capítulos, amanhã, nas Necessidades.

Testemunho impressionante

Sobre os crimes de Nino.

http://dokainternacional.blogspot.pt/2012/05/eu-alice-schacht-esposa-viuva-de-otto.html

Aguiar-Branco lava as mãos e chuta para Portas

A ida ao Parlamento de Aguiar Branco para justificar a Missão Manatim, que afinal se saldou em quase seis milhões de euros, foi realizada à porta fechada e acabou com um discurso contemporizador do P.S. que, no entanto, não quis deixar de lembrar que será necessária a presença de Paulo Portas para esclarecer os aspectos diplomáticos e a sua opinião quanto ao evoluir da situação. Segundo a Lusa:

Sublinhando que "os golpistas ainda controlam a situação", Marcos Perestrello disse que "o ministro da Defesa entendeu ainda não prestar nenhum esclarecimento, talvez porque sejam questões que essencialmente o ministro dos Negócios Estrangeiros tenha que esclarecer".

O P.S. afirma ainda que é constrangedora a falta de perspectivas do Governo português quanto a um evoluir claramente desfavorável da situação. Enquanto isso, a farsa que se prepara no Palácio de Belém, com a recepção «oficial» de exilados políticos a título de chefes de «estado», não poderá melhorar muito essa confrangedora situação. Julgo que haverá reportagem fotográfica da encenação para logo ao fim da tarde.

Afim de minimizar os estragos do indesejável ostracismo a que parecem querer votar a Guiné, talvez seja melhor não alinharem de cabeça perdida no plano de Guerra Civil que se prepara a partir de Lisboa. Os guineenses na Diáspora deverão evitar escutar ou sequer conviver com este género de parias e agitadores, com planos de governarem a partir do «exílio»... Quanto a Portugal, só tem a perder e nada a ganhar. Um erro de avaliação inicial de um Ministro mal informado (ou bem comprado) está-se a transformar, por via da sua teimosia e autismo, não apenas num sorvedouro de dinheiros públicos, como num desastre diplomático, que só não é também militar porque a tropa já percebeu quem é Paulo Portas e o Ministro da Defesa deixou bem claro que não está prevista qualquer outra operação!

terça-feira, 15 de maio de 2012

Bu ta sai da pilon, bu cai na balai?

O Aly Silva tem razão: seria ridículo para os intervenientes neste Golpe de Estado que a emenda fosse pior que o soneto! Está provado que, no actual contexto, as tropas estrangeiras são O problema. E ninguém quer mais problemas na Guiné; problema, problema, e bem mais grave, é no Mali, e para já a CEDEAO retraiu-se na reunião de ontem, Segunda-Feira, em Abuja, afinal já não envia tropas… Ao contrário do que alguns parecem querer fazer constar no seio da organização, de a Guiné configurar um caso «mais simples» que o Mali, isso não é decerto verdade visto pelo prisma da eficácia militar. E nada justifica uma mesma bitola no tratamento das duas situações, que apresentam características muito diferentes.
Podem mobilizar forças «para a Guiné», isso ficou acordado. Mas estão a esticar-se, pela voz da Nigéria (quererão mostrar ao académico angolano que os acusou de medricas que não têm medo dos militares guineenses?) quanto ao enviá-las, pois não há esse compromisso (na última reunião com a CEDEAO ficou acordado que teria de ser o novo Presidente a solicitar essa intervenção); até podem enviá-las, mas sem material de guerra (o Comando deveria talvez formalizar a regra em comunicado estilo «Embargo» à importação de armas, um ano de interdito sem excepções), venham armados da sua boa vontade (talvez uns ramos de flores), para confirmarem com os seus olhos que as Forças Armadas da Guiné-Bissau dão bem conta do recado, em termos da defesa da soberania e do território nacionais, e que não alienam nem delegam as suas responsabilidades.
As últimas iniciativas da CEDEAO colocaram sobretudo a nu uma grande salganhada e uma miríade de interesses divergentes, não apenas entre países francófonos e anglófonos, cenário ainda complexificado por várias tramas regionais e mesmo continentais. Ouattara foi recebido em Paris por Sarkozy, a título privado, por duas vezes no último mês; na última dessas visitas o presidente cessante recebeu o seu convidado à porta, violando o estrito protocolo do Eliseu; mas agora, como irá reagir a nova Paris de François Hollande?
 La France ne change pas du jour au lendemain à cause d’un homme. L’interêt de la France est clair et au dessus de ce genre de contingences: il y a que maintenir l’effort d’affirmation autour des voies du developpement economique et de l’integration regionale en dépit du caractère militariste et interventioniste dont quelques états (les plus egarés de la situation, d’ailleurs) veulent impregner la CEDEAO: un état de guerre ou même seulement de tension prolongée en Guinée-Bissau, n’interèsse personne; en ce moment la mise la plus rusée semble être sur la capacité des autorités militaires actuellement en place non seulement pour la conservation de l’unité de l’armée et de l’ordre public (tel étant le cas jusqu’à present), mais aussi le maintien de l’orgueil national, sans quoi la dissolution de l’état pourrait se reveler bien plus dangereuse, tel le mal qu’atteint le Mali. La maintien de l’integrité de l’armée nationale est de loin la solution la plus economique; autrement, ce serait comme sauter du chaudron pour tomber sur le feu… Plus que devant une menace, l’alliance France-Afrique est nettement devant une opportunité à ne pas gaspiller, de stabilization de la sous-région et d’élargissement de ses horizons. Ce n’est pas le moment de perdre prise sur les evenements et d’accepter de pactuer avec la pretension d’hegemonie et de mainmise du Nigeria dans le processus (à quels risques?), en violation de l’esprit des conversations maintenues: celà ne pourra qu’amener le Commandement Militaire à l’egarement vis à vis de la table de negociations, jetant par terre tous les efforts conduits avec succès par la bienveillance de Monsieur le Président de la Côte d’Ivoire et président en exercice de la CEDEAO. À titre d’organisation pacifique, la CEDEAO pourrait proposer l’evacuation de MISSANG assistée par une délegation de personalités africaines de prestige, presidée par Nelson Mandela, par exemple, ou même, à la limite, par des joueurs de football appartenant aux selections africaines les plus connues. Originalité, s’il vous plait… pourrait on oublier les armes?
Depois de o Comando ter dissuadido a indesejada presença de Angola e de Portugal, nem que ao abrigo da ONU; a CEDEAO precisaria de bem mais do que os 3500 homens (de que supostamente dispõe para o conjunto das situações, Guiné e Mali, números ultimamente muito inflaccionados - para pressionar o Comando?) para iniciar qualquer acção ofensiva com hipóteses de sucesso (mesmo que obviamente demorada e com alto risco de baixas substanciais); o Comando nunca permitirá, sob risco de perder o seu único trunfo e consequentemente a sua base de legitimidade interna, que tropas estrangeiras penetrem em território nacional, vindo assim agravar substancialmente o problema já existente, o qual deu origem à própria constituição e acção deste Comando. Se for preciso, recorrerá ao argumento dissuasivo, que já desmoralizou todos os outros candidatos: «Serão tratados como inimigos».
Em conversações bilaterais, não faltarão, a prazo, estados para reconhecer a justeza e a boa fundamentação das asserções do Comando, cuja inalienável legitimidade reside cada vez mais (se é que alguma vez teve outra base) na «resistência ao invasor» (qualquer que ele seja). Os Estados Unidos, numa surpreendente jogada de antecipação, quiseram tomar a dianteira do pragmatismo, fora do âmbito regional, e reconheceram, através de discreta nota oficiosa emanada da Embaixada para a Guiné-Bissau e Senegal, o novo poder em Bissau, enfraquecendo grandemente a posição não só da própria CEDEAO (mensagem clara dos Estados Unidos: essa organização passa a ser claramente dispensável para o Comando), como as do ex-PAIGC, de Angola e de Portugal. Também na ONU, a rotina do reconhecimento «informal» já tomou conta do aparelho administrativo, no que toca à Guiné-Bissau...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Encenações frustradas

Numa triste encenação, pouco mais de uma dúzia de guineenses, erguendo cartazes impressos, standartizados e muito pouco «espontâneos», participaram (por obrigação, decerto) numa nano-manif em Paris, no sábado dia 12.

Ver foto

A expectativa dos organizadores saiu claramente gorada com a sua fraca capacidade de mobilização. Por mais que se esforce no seu «internacionalismo» o ex-PAIGC já não consegue mobilizar ninguém, para além de funcionários de embaixada. Boa amostra para evitarem qualquer «demonstração de força» desse calibre em Portugal, pois cairiam no ridículo pela mísera adesão que conseguiriam entre a Diáspora guineense: les gens ne sont pas dupes.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Adivinha do Didinho

Quem foi o jornalista que pediu 3 milhões de francos CFA para promover a candidatura de Serifo Nhamadjo na blogosfera e, perante o Não, resolveu apoiar a campanha do candidato do Governo?

Espero que Didinho não se esteja a referir ao Aly, pois tenho-o em alta consideração como jornalista sério e corajoso.

Mas também espero que o Ditadura do Consenso, para não hipotecar os seus altos créditos e não se sujeitar à sujeira de tais suspeitas, possa rever em breve a sua linha editorial, pois algumas das suas últimas tomadas de posição pecam, na minha opinião, por demasiado parciais e emocionais para um jornalista (isso tolera-se apenas num blogue partizan como este e não no Ditaturadoconsenso de quem todos esperam imparcialidade, notícias objectivas, cobertura na hora, boas fotos, como sempre nos habituou).

Julgo mesmo que se terá excedido nas suas expectativas em relação ao poder do seu blog (e somos os primeiros a reconhecer o seu corajoso e mesmo ferozmente independente trabalho) e no desejo de passar uma ideia de unanimidade no seio dos guineenses, no âmbito da blogosfera, não obstante o seu modo de sentir pessoal seja contrariado por todos os outros bloguers (de entre os mais relevantes e ultimamente interventivos) de intelectuais guineenses como www.didinho.org ; www.gbissau.com ; dokainternacional.blogspot.com ; djemberem-samuel.blogspot.pt perdoem-me se esqueci alguém.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Bofetada de luva branca


Daba dá bofetada de luva branca em Paulo Portas e no Chefe de Estado Maior das Forças Armadas de Portugal:
1) À retirada da força portuguesa, respondeu que não sabia, só sabia que tinham ido para resgatar portugueses, mas que sempre lhe tinha parecido que isso não se justificava por causa da abertura das fronteiras aéreas (quem quer ir aos trambolhos? de barco? isso era há meio século… para quê, se pode apanhar confortavelmente o voo da TAP?), além de que, claro, se os portugueses não querem voltar para Portugal, não podem obrigá-los a sair… eheh
2) À ridícula justificação apresentada para a impo(t)nente missão Manatim, de ter contribuído para a dissuasão de uma violência de maiores proporções, respondeu que os militares guineenses estiveram debaixo de fogo na casa do Primeiro-Ministro e que nunca dispararam. Ainda não correu uma única gota de sangue (humano, pronto) desde há um mês. Maiores proporções que nada? Sabe quanto é zero multiplicado por qualquer número? Lá na Academia não se aplicou muito em Matemática, está-se a ver. Limite-se a cumprir bem o seu dever; se acha que é um herói e merece uma medalha (por uns dias de férias à pesca nos trópicos), faça um requerimento a quem de direito, mas poupe-nos às suas lucubrações infelizes, que pouco vêm ajudar ao apaziguamento da situação, e podem prejudicar a imagem de Portugal,  podendo ser vistas como inseridas na campanha de mistificação em torno da «democracia» promovida por José Eduardo dos Santos (com que moral?) em conluio com Paulo Portas, um par cujas motivações dariam decerto uma boa reportagem independente no Expresso. Senhor CEMFA.pt: deploráveis são as suas afirmações; convir-lhe-ia mais estar calado e fazer-se esquecer. Foi de facto um bom exercício militar de mobilização intempestiva, conseguiu demonstrar a prontidão que se requer de uma força criada para isso; mas já que se recusa a entrar no campo financeiro, que não é da sua competência, não enverede também por distribuir avulso opiniões políticas pessoais, pouco fundamentadas e avalizadas, pois já chega a irritante incompetência de quem o mandou para lá. Dissuasão? Não seja ridículo. Se não tivessem acudido tão prontamente nem o canário do Sr. Ex-Primeiro Ministro teria escapado! Um banho de sangue...

O Chefe de Estado Maior da Marinha angolano está agora junto dos seus congéneres da CPLP: numa reunião «menor» no Brasil, hoje dia 8 de Maio, abordado pelos jornalistas, falou na esperança depositada na CEDEAO para resgate da MISSANG. Pelos vistos o tema deixou de ser tabu: o Senhor Almirante referiu-se humildemente ao desejo de Angola de obter segurança para a retirada da força. O discurso parece estar a mudar, no bom sentido.

O cerco de Zedugrado


José Eduardo dos Santos, homónimo de José Estaline. O cerco de Estalingrado constituiu o ponto de viragem da segunda guerra mundial. A uma escala mais pequena, o cerco da «bolsa» de Zedugrado faz dentro de dois dias um mês que dura já.
Sim, seria fácil matar a fome. Zut. Uma bala certeira. Depois disso, nunca mais ninguém tem fome.
Mas quem pode ter razão diante de um morto? Quem pode ralhar para um pobre corpo tombado, crivado de balas? O seu último adeus, grito que ninguém percebeu porque as balas zut! zut! … silvam alto e fosse o que fosse que ele queria dizer zut! zut! zut! não chegou a fazê-lo.
Perguntar-lhe-emos depois «Que estavas aqui a fazer numa terra estranha?» ou «Sabias o que estavas a defender, ao certo?»?
O Comando Militar tem usado da maior humanidade para com os militares angolanos que estão neste momento nesta posição desesperada por culpa dos seus políticos e diplomatas (mas pouco), os quais, depois de fazerem asneira, lhes prometeram resolver a situação num curto espaço de tempo. Passados todos os prazos, ninguém os poderá acusar de não terem cumprido o seu dever até ao limite do humanamente possível. É fácil sentirmo-nos solidários com estes soldados que apenas cumpriram ordens, como julgam ser o seu dever. Face às necessidades por que estavam a passar, o Comando Militar facilitou-lhes o abastecimento em pão.

Estou-me a lembrar do gesto desesperado de Hitler, enviando o bastão de Marechal a Von Paulus no último Junkers que aterrou em Estalingrado, pedindo-lhe para se sacrificar e aos quase um milhão de soldados por quem era responsável; quando Hitler soube da rendição, teve uma crise de fúria, vituperando Von Paulus, gritando que era uma desonra «caminhar ao lado dos seus soldados» e que deveria ter optado pelo suicídio, como bom prussiano. Foi quando Rommel se levantou, ousando desafiar o ditador (acabaria por pagar com a vida) e disse que achava muito mais digno «caminhar ao lado dos seus soldados», partilhar a sua sorte, do que um suicídio. Rommel estava habituado a desobedecer: fê-lo em Junho de 1940 na sua louca cavalgada para Paris, quando Hitler julgava que a brecha aberta na Linha Maginot era uma armadilha e transmitia ordens incessantes do QG, pela rádio, mandando parar e consolidar posições, Rommel pura e simplesmente sabotou o rádio e continuou (com o enorme sucesso que se sabe); ou quando, ao abandonar (com um peso no coração) os seus homens do Afrika Korps, ao receber ordens terminantes para fuzilar os oficiais ingleses, rasgou pelas próprias mãos a mensagem e deu ordens para serem libertados de imediato.
Quando as ordens são estúpidas… nenhum militar se deve sentir obrigado a obedecer. Coisa mais fácil de perceber para um guerrilheiro guineense do que para um soldado convencional, admitamos. Claro que a carreira do oficial que assumir o acto estará acabada (pelo menos enquanto durar a carreira de José Eduardo dos Santos), mas será de longe a melhor opção militar e humana.

P.S. Faz hoje 67 anos da queda de Berlim e da rendição incondicional da Alemanha nazi.