Alguém me escreveu a dizer que o «câmbio informal está errado, porque toda a gente sabe que é de 280 Kwanzas por dólar na rua» [tenho mantido na barra lateral direita essa informação]. Aliás, o Jornal de Angola, muito oficialmente o reconheceu ao divulgar a «nova taxa de câmbio» de 1750 / 1950 pela nota de 100 dólares namibianos (o dólar americano vale 15 dólares namibianos, basta fazer as contas, por isso o portal dos bancos de Angola «corrigiu» o título do JA, quando fez o copy/paste, o burro do José Ribeiro não se apercebeu da perigosidade da informação, até porque não é novidade nenhuma, já estava tudo aqui há quase três semanas e não tinham publicado - aliás o dito acordo foi um nado morto, um mês depois de ter entrado em vigor foi cancelado, de facto, como se pode constatar neste artigo, ainda no mês de Julho).
A notícia é que as autoridades monetárias namibianas se aperceberam do logro em que caíram, depois de os montantes previstos pelo acordo serem unilateralmente ultrapassados (sem compensação de um incremento de compras em sentido inverso) e começarem a abarrotar kwanzas «mortos». O ajustamento tem a ver com outra novidade que é o enquadramento monetário «por cima». Ou seja, o governo angolano «congelou» o câmbio oficial em 135 kwanzas por dólar mas por outro lado, está a comprar todo o Kwanza de rua a 280 (mais um pequeno spread microscópico), fixando assim o valor líquido actual. Ora porque é que eu digo que, seu eu tivesse um dólar, só o venderia por 320 Kwanzas, mesmo sabendo que supostamente posso comprar mais por 280? Porque isso pode mudar de um momento para o outro. E se eu tiver o azar de, quando o for vender, entretanto, o preço tiver descarrilado? Preciso de um prémio de risco, que tem a ver com a corrida contra o tempo, que não favorece o kwanza (um por sete até que é pouco, mas pronto). Apenas por essa razão não há propriamente spread de rua. A «instrução de compra» parece ser ilimitada. O governo «seca» a sua própria moeda em saldos (com mais de 50% de desconto), ou seja desvalorizando os salários nominais que paga (ou fica a dever) em «dólares» (convertidos ao câmbio oficial) aos «cooperantes» estrangeiros. No entanto, há sinais de que se está a limitar artificialmente a disponibilidade dos próprios kwanzas, para evitar o rompimento dessas frágeis estruturas: ver notícia «Kwanza escasseia no interior»; sabendo que se trata da província do Kwanza Norte, tal deu mesmo aso a um jocoso pleonasmo em comentário: «Kwal Kwanza Kwal Ké! : Se o Kwanza Norte está sem Kwanza, já não é mais Kwanza Norte. Agora é só província do Norte, porque já não tem Kwanza. Ou também pode ser chamada Kwanza Desnorteado ou Norte desKwanzado.» O fluxo só será liberalizado depois de o «câmbio informal» dar um novo salto depreciativo...
O problema é que há assim kwanzas de primeira, que compram dólares a 135 (talvez tenham sido esses os usados pela UNITEL para a promoção do seu show de «Natal» de mau gosto) e kwanzas de segunda, a mais do dobro (e não se sabe bem até quando). No entanto, o kwanza de primeira e o de segunda, quase fazem esquecer, nesse «amplexo» financeiro, nesse garfo de valores, o kwanza de terceira, o real, cujo valor é tendencialmente nulo e expressa a expectativa quanto à capacidade de sobrevivência do regime. As novas autoridades de transição terão todo o interesse em constituir uma Comissão de Acompanhamento da Dívida Externa, para verificar a consistência económica da sua aplicação, responsabilizando os financiadores e eventualmente declarando grande parte odiosa e caduca. Quanto aos angolanos e à taxa de câmbio, teriam todo o interesse em que fosse só uma: a real, resultante do funcionamento do mercado, que se ajustasse em sede própria segundo as conhecidas leis da procura e da oferta. Este sistema monetário bastardo, do faz de conta, apenas contribui para mais corrupção, amiguismo, para além de estar condenado à espiral cada vez mais alucinante de uma opaca hiper-inflacção.
Há 1 hora
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