Faz hoje 30 anos que Thomas Sankara ascendeu ao poder no antigo Alto Volta, cuja designação viria a alterar para a actual, de Burkina Faso. Uma semana antes de morrer, conhecendo o seu destino, afirmaria que «podem matar o homem, mas não as ideias». Um belo exemplo que poderá servir de inspiração aos actuais dirigentes da Guiné-Bissau, como modelo de governação. Precursor dos direitos da mulher e da abolição da excisão, defensor da sustentabilidade económica e da autonomia alimentar («quem nos dá de comer dita a sua vontade»), desfez-se da frota de Mercedes de serviço do Estado, substituindo-os pelos carros mais baratos do mercado, o Renault 5, fixou-se um ordenado de pouco mais de $400, praticou uma política de industrialização ligeira no sector têxtil, lançou uma enorme campanha de plantação de árvores, para lutar contra a desertificação... O seu percurso merece estudo e admiração. A sua identificação política com o marxismo e o seu carácter irredutível, o seu discurso de independência face à França, antiga potência colonial (Miterrand seria humilhado numa deslocação ao país), conduziu à sua perda, da qual manifestou perfeita consciência: entrevistado pela televisão francesa pouco antes do seu assassinato, traído pelo seu melhor amigo e companheiro de armas (o ainda actual presidente do país), um Sankara cansado, mas como poeta dotado de grande carisma, oferece uma magnífica imagem alegórica: «Tenho um dilema. Sou como um ciclista, que pedala numa rampa inclinada, ladeada de precipícios por ambos os lados. Se deixo de pedalar, caio.» Esse é, para mim, o seu maior exemplo e a sua maior glória. A vontade inabalável. Como Cabral, os homens «perigosos» para o sistema, se, regra geral, acabam mortos à traição, são responsáveis por grandes saltos mentais.
Por falar em teimosia, hoje também se memora o dia fatal de Alcácer Quibir.
Há 16 minutos
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