sábado, 8 de fevereiro de 2025

Escurecimento

Esclarecimento, não é. O anexo à resolução da ANP é um atabalhoado enlatado PAIGC de má qualidade. Pelos vistos, o presidente do órgão continua a julgar que este é uma simples extensão dos seus desejos. Não esclarece, pelo contrário, amplifica a contradição. A solução, de considerar o ano "móvel", para combater a expressão "do ano correspondente", é simplesmente patética. A imposição de tal contra-entendimento, irrelevante para o status quo, é um atestado de incompetência à própria ANP, instrumentalizada sem discussão, para cumprimento da agenda política de DSP, demitindo-se das suas funções de representação. É ridículo que a Comissão Permanente, erradamente convocada na forma regimental de Mesa, tente afirmar o seu poder legislativo através de instrumento desadequado, a resolução, quando só uma Lei votada pelo Plenário teria essa força. Mas para coisas mais importantes, claro. O líder do PAIGC esvaziou por inteiro a ANP das funções soberanas que lhe são cometidas pelo artigo 2º da Constituição, reduzindo-a a caixa de ressonância da propaganda ressabiada dos novos combatentes da liberdade da Pátria. É caso para dizer "Pior a emenda que o soneto".

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Revelação

José Manuel Correia Pinto, na página 505 dos Anais do CMN, aponta "Constou com grande insistência em Bissau, e isso posso testemunhar pessoalmente, que Alpoim Calvão entrou na Guiné, por Bissau, entre o Natal de 1972 e a passagem do ano, e que se deslocou a Pirada, tendo-se perdido o seu rasto a partir daí, tanto mais que não haveria registos do seu regresso a Lisboa por Bissalanca."


Atendendo ao reconhecimento pelo próprio de ter "inferido" das ordens trocadas o objectivo de “capturar e eventualmente assassinar Amílcar Cabral” na operação Mar Verde, nota-se que confunde propositadamente o objectivo Sekou Touré com o de Amílcar Cabral; a própria forma da expressão e ordem de apresentação, diz tudo àcerca das intenções desde cedo alimentadas pelo autor.

As ordens de Spínola distinguiam Sekou Touré, para matar, de Amílcar, para capturar VIVO. No desaguisado que se seguiu no Estado Maior, com o General a acusar o Comandante de ter concebido o ataque político como um golpe de mão, essa razão pode também ter pesado: Amílcar Cabral para nada servia morto ao General Spínola. A abordagem não fôra a melhor.

Segundo o Director da PIDE, o assassinato teria sido uma "bavure", estando previsto "apenas" capturá-lo. Ora se havia alguém que não alimentava ilusões, era o próprio Alpoim, ao profetizar, antes da passagem do ano, que "Com um pouco de sorte, em finais de Janeiro (Amílcar) estará morto". Na sua biografia autorizada, não é feita referência a essa passagem clandestina por Bissau.

Já agora, Alpoim foi a Pirada visitar Mário Soares, cuja filha estava em Londres em apoio à missão de intoxicar Sekou Touré com as negociações Amílcar / Senghor / Spínola. Em Setembro de 1974, quando deveria ser o homem mais odiado (promotor da operação Mar Verde), entra no Palácio Presidencial para resgatar do fuzilamento esse agente duplo, debaixo das barbas de Luís Cabral.

Quando o General Spínola apertou com Fragoso Allas, depois da morte de Cabral (com quem estaria quando recebeu a notícia, tendo exclamado "Agora é que estamos tramados"), para lhe arranjar um contacto com a nova direcção do PAIGC, este fez-se rogado e acabou por declinar Nino, a quem todos os caminhos íam dar. Alpoim viria a tornar-se grande amigo de Nino e da Guiné-Bissau.

Estaria Spínola ao corrente das movimentações de Alpoim e dos desenvolvimentos da operação Dragão Marinho? Se foi reprimido pelo General no Estado-Maior, Alpoim ganhou o respeito de Monsieur Françafrique, Jacques Foccart, para quem a recusa de Sekou Touré a de Gaulle ainda doía. Daí a cooperação internacional da DGS, com Barbieri Cardoso a seguir para Paris.

Curiosamente, esta pista viria, por associação de ideias e de procedimentos ao assassinato do General Humberto Delgado, a intoxicar Bruno Crimi, no seu segundo artigo sobre a morte de Cabral, dois anos depois do primeiro, saído pouco mais de uma semana após o assassinato, dando origem a uma tese especulativa que prejudica claramente o trabalho jornalístico.

Alpoim movimentava-se com extremo à vontade, tinha cobertura no seio da Marinha, viajando sob disfarce de Capelão da Armada. Todo o sistema de informações militares tinha a sua marca. Por essa altura, era um Quase-Deus para os Serviços Secretos franceses, por isso não teria qualquer dificuldade em atravessar a fronteira e apanhar o avião do lado de lá, para França.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Mais África que toda a África

Segundo o Capitão-de-Mar-e-Guerra Mário Alvarenga Rua, na página 288 dos Anais do Clube Militar Naval recentemente publicados (e que são um verdadeiro documento histórico), esta era uma descrição popular da Guiné, no Portugal dos finais dos anos 60. 


Num exclusivo 7ze, com o patrocínio da SensiData, sociedade de estatística de direito guineense, apresenta-se graficamente a glória da epopeia de Cabral, traduzida em números, com dados oficiais das Forças Armadas portuguesas quanto aos seus efectivos (metropolitanos e africanos) comparativamente aos dois outros teatros operacionais de Angola e Moçambique, relacionando-os com a sua área geográfica e população, esta reportada aos Censos de 1960. 


Os Anais do Clube Militar Naval, sob a coordenação do Capitão-de-Mar-e-Guerra Alcindo Ferreira da Silva, Comandante do DFE8 (Guiné, 1971-73), para além da relevância da Marinha para o 25 de Abril e para o PREC, vêm confirmar abundantemente a tese de que os portugueses devem a sua revolução ao impacto de Amílcar.

PS Nenhumas Forças Armadas apreciam perder a guerra. O General Spínola foi de férias e não voltou...

Vaca gorda

Agora que a ANP parece ter acordado, bem tardiamente, para a vida, assumindo publicamente a imaterialização do espaço e a legitimidade da reunião virtual (decerto em Regulamento a aprovar), para além de evitar partes gagas como "os (membros) da Comissão Permanente", o Presidente da Mesa deve ser consistente e respeitar o disposto no Regimento, cujo artigo invocado se encontra articulado em ordem à Mesa e não à Comissão Permanente (a qual está fora do prazo de validade, tanto tempo passado a evitar convocá-la para não reconhecer a dissolução e para além disso faz lembrar o precedente de usurpação Cassamá, que entretanto fez escola junto de titulares de órgãos colegiais), conforme dá a entender a Convocatória apressadamente publicitada. Por uma questão de coerência e legitimidade, assumida a possibilidade de reunião virtual e ser esta extensível ao Plenário, realmente soberano como órgão colegial, deveria igualmente respeitar procedimentos e prazos estabelecidos no mesmo Regimento para a sua convocação. A dissolução não era inexistente? O carácter público e a retransmissão em directo já estão devidamente acautelados na legislação. Contudo, a proposta de ordem do dia, a qual parece pouco ambiciosa ou mesmo irrelevante, atendendo às funções de órgão legislativo e fiscalizador, talvez possa vir a ser alterada pela Comissão Permanente ou mesmo pelo Plenário, que é soberano.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Preterição desculpante

Houve preterição de formalidades essenciais na investidura do Presidente da República? Onde está o auto assinado pelos dois? O Supremo descolegializado está a tomar conhecimento? Não deveria deduzir algo? Anular o mandato a posteriori, é pura e simplemente surreal. Se não havia mandato, o que é que o actual titular do mandato andou a fazer, do dia 27 de Fevereiro ao dia 3 de Setembro de 2020? A fundamentação passou a ser uma colectânea de palpites esparsos, com terríveis saltos no escuro. Num excesso de zelo perfeitamente injustificável perante a legitimidade formal da marcação das eleições para fins de Outubro a fins de Novembro, consagrada pelo ponto 2 do artigo 3º da Lei Eleitoral e abençoada a anteriori por constitucionalista português (altamente volátil, mas enfim), estranha-se a iniciativa para tal desnecessário esclarecimento ou aclaração, que expuseram o subscritor, na veste de Tribunal Constitucional, à prática, condenada pelo ordenamento jurídico guineense, de actos inúteis. Mas pior que a inutilidade e a articulação ambígua (nº 2 de que artigo da CRGB? do 2º de certeza que não é) é a cominação "legal" sobre um órgão de soberania, neste caso, ameaça à Presidência da República, colocando-se num plano de superioridade institucional, atitude perfeitamente injustificada e ilegítima (pelo menos na ausência de legítimo Plenário).

"Cargo que deve exercer até à tomada de posse do novo Presidente eleito, nos termos do Nº 2, in fine, a fortiori, da Constituição da República, sob cominação legal (...)"

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Questão de subsistência

Se o deputado remanesce à própria dissolução (seja esta existente ou não), ao abrigo do ponto 2 do artigo 94.º da Constituição (ainda supostamente em pé, apesar da violação colectiva), com respaldo no ponto 1 do artigo 7.º do Regimento da ANP, o qual, em vez de fixar a duração do mandato dos deputados (a Constituição não o fixa explicitamente tal como é feito para presidente em cinco anos, mas fá-lo implicitamente no artigo 79.º pela fixação da duração da legislatura em quatro anos), prefere estendê-la explicitamente à primeira reunião da nova legislatura, princípio extensível à Mesa pelo artigo 35.º; ou seja, trata-se de um princípio implícito, comum a organizações, associações, sindicatos, cuja expressão mais simples é: "os titulares mantêm-se nos cargos até à tomada de posse dos seus sucessores". Contudo, eis que reentra em cena o titular do órgão supremo legislativo e fiscalizador, armado com o seu vaccuumficador, para contra-aterrorizar o verdadeiro detentor da soberania. Alguém me disse que as munições estão chochas e as tropas desmoralizadas, mas se calhar não é verdade.

Sede Vacante

Em caso de vacatura no Vaticano, a sede fica vacante até à reunião do Plenário com capacidade eleitoral. Apesar do mutismo a que a ANP se remeteu, tanto Plenário como Comissão Permanente, o titular remanescente do órgão em vias de extinção, vem pessoal e pouco institucionalmente colocar-se à disposição da nação que já lhe disse que não... ainda para mais quem criou o problema e não o soube resolver? decerto esqueceu que, na boa tradição guineense, lembrada por Serifo Nhamadjo, o "presidente" de transição (sim, pois trata-se de um golpe) não tem capacidade eleitoral passiva para as presidenciais seguintes: terá de ficar pouco activamente a ver passar as caravanas; o que é pouco consistente com todo o seu percurso anterior. O lema parece ter passado a ser "se não os podes vencer, faz pior do que eles"! 


PS O diagnóstico mantém-se: excesso de água benta.

A vaca turra

Os turras tinham uma bela manada de vacas na bolanha. Todas gordas e bem nutridas. Todas? Bem... nem todas. Havia uma pobre, coitada, enfezada e subnutrida, quase esquelética. Certo dia, o chefe dos turras decidiu-se a dedicar uma vaca em sacrifício às suas aspirações políticas. Contudo, oferecer a pior vaca é pior ofensa que roubar uma vaca. Tanta vaca, pouca vaca. Muita parra... 

domingo, 2 de fevereiro de 2025

30 de Fevereiro (+ ou - 10%)

Há uns meses, quando o PAIGC esboçou a intenção de vir a usar o dia 27 de Fevereiro como abcesso de fixação (esquecendo com demasiada facilidade a palhaçada que montaram a 29 desse ano bissexto), este blog dedicou-se à arqueologia legislativa. Ler aqui I e II 


Conscientes da fragilidade e inconsistência da tese, introduzem agora o artigo 186º, que remete para a ANP dúvidas e casos omissos. Está implícito no ordenamento jurídico o princípio "in dubio pro reo": entre duas leis, a mais favorável. Na dúvida, não é prá ANP, é pró réu.

O trunfo na manga rabo na boca articulação residual, como dispositivo golpista com base em lei ordinária, surge associado à auto-proclamação, num déjà vu Cassamá, mas assenta infelizmente numa premissa chocha. Com tanta matéria, vão logo escolher a ponta errada...

O principal responsável pelo deslize que conduziu à actual situação está com um problema de foco: concentra-se no acessório, distraindo-se do essencial. Para os meros observadores, não tomar a nuvem por Juno pode configurar conselho prudente e bem informado.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

51 de Janeiro

A 29 de Janeiro de 1973, Titina jantou na base de Sara (onde andava entusiasmada a treinar as suas milicianas) com o Comandante Lúcio Soares e a esposa, Flora Gomes (que por lá andava a documentar as eleições para a ANP), o jornalista (e/ou espião) russo Oleg Ignatiev... estava de partida para assistir ao funeral de Amílcar. Estranhara quando recebera a "nomeação", pois primeiro falara-se na convocação de uma reunião para decidir quem iria a Conacri representar a Frente Norte. Ana Maria Gomes Soares, sua companheira de quarto, ofereceu-se para a acompanhar. Mas a meio do caminho, Titina dispensou-a, apesar dos seus protestos, invocando que já era tarde, obrigando-a a voltar para trás.


O historiador Leopoldo Amado interessou-se pelo caso, tendo descoberto no arquivo da PIDE em Lisboa (aberto aos investigadores antes dos 50 anos da praxe, ao contrário dos arquivos militares) uma referência (com base em relatório militar pois a PIDE em Bissau sob o General Spínola, era um caso muito particular). Apesar de confundido pela diferença de um dia no relato (31 em vez de 30), não restavam dúvidas de que se tratava do mesmo caso. Chegado a Bissau, decidiu solicitar uma entrevista a Dick Daring, o qual tinha apurado, junto de fontes bem informadas, ter estado na "fatídica" cambança, para o confrontar com o documento. O qual confirmou, insistindo na tese "oficial" da canoa.

A intersecção do bote ocorreu por volta das 17h, por uma primeira parelha de botes dos fuzileiros (motorizados, ao contrário do PAIGC). Tal como o ovo de Colombo, houve algo que escapou por muito tempo, não só ao Leopoldo, como a outras pessoas, tais como o próprio autor deste blog, que se interessaram pelo caso, que se perguntavam qual o interesse do PAIGC pós-Cabral em mentir sobre a data do acontecimento. Ao senhor Dick Daring deveria ter sido perguntado se julgava possível estar em Conacri na manhã de dia 1 de Fevereiro, estando tão a Norte, tão tarde. Nem hoje seria possível (o Programa Maior rodoviário pós-independência não ajuda), quanto mais em tempo de guerra!

É muito duvidoso que Titina, que não estava muito convencida da utilidade de tal deslocação, estivesse de livre vontade nessa farsa! Também se pode enganar com a verdade: se calhar Titina morreu a 30, mas muito provavelmente quem a matou não foi a unidade fundada pelo Comandante Alpoím Calvão...


Foto inédita do bote de fabrico russo apreendido pelo DFE8, gentilmente cedida pela unidade.

PS Este blog voltou recentemente a admitir comentários.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

50 de Janeiro

Vinte de Janeiro mais trinta de Janeiro fazem parte da mesma purga, com mão do PAIGC e dedo tuga. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Estalou o verniz

Macron, que no 80º aniversário do desembarque na costa setentrional francesa provocara Sonko contrariando a política francesa seguida até aí e reconhecendo Casamança, perdeu a cabeça perante a resposta de Sonko aos seus abusos paternalistas e ofendeu em bloco todos os senegaleses (e demais africanos, por extensão), deixando cair as máscaras e mostrando a sua verdadeira face. É o refluxo generalizado! Até o burkinabé, ao comando da zona onde os franceses antigamente íam apanhar marfim, está assustado e foi a correr à mátria pedir desculpa.


PS Talvez seja bom, por uma questão de prudência, converter pelo menos uma parte dos haveres XOF em USD... 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Parabéns a'O Democrata

O Democrata está de parabéns pelas suas opções históricas, no sentido de garantir a sua independência de terceiros, por mais generosos que sejam, como a Google. Há uma década houve uma grande discussão, na blogoesfera, sobre o papel dos blogues e sites. Até aí, só o mano Didinho pagava um site para garantir acesso a tal liberdade.

 
O Democrata evoluiu, tratou do assunto, e muito bem: mesmo se durante algum tempo não percebiam ainda bem como parametrizar o próprio "feed", compatibilizando-o com o blogspot.com (de longe a plataforma mais utilizada, apesar de a principal concorrente, a worldpress.com, a ter precedido), aprenderam rapidamente... 

Por essa altura, a blogoesfera guineense esteve na ponta da conectividade, que ainda hoje se mantém em muitos blogs, com referências cruzadas e troca de ligações automaticamente actualizadas, como acontece, por exemplo, entre este blog e o bambaram di padida: essa é uma forte marca identitária da comunidade bloguista guineense.

Aliás, não admira, pois esta comunidade é herdeira da primeira guerra de propaganda à escala mundial travada na internet, quando 99% das pessoas ainda nem sequer sabiam o que era isso de internet. A guerra de 7 de Junho travou-se em fórum de discussão (muitas vezes sobretudo koba mal) PALOP, chamado Portugal Net.

Devido aos conteúdos e troca de galhardetes altamente violentos, o administrador, depois de múltiplos e desesperados avisos, descontinuou o serviço para a Guiné-Bissau, que representava 99% do tráfego do seu site.  Elementos próximos da Junta Militar rapidamente se conseguiram organizar para replicar serviço alternativo.

Ao contrário dos blogues, que agora sofrem às mãos da Orange, tendo as suas visualizações caído para cerca de um terço (a Orange parece representar aproximadamente o dobro dos acessos internet da MTN) da rotina ex-ante, O Democrata continua on-line, merecendo o seu estatuto de principal órgão nacional de imprensa escrita.

BLOGSTOP

A operadora ORANGE, fornecedora de acesso internet na Guiné-Bissau, está com um problema "técnico" selectivo, filtrando o domínio da Google dedicado aos blogues. Apenas o que acaba em blogspot.com. Tudo o resto funciona normalmente... (claro que mudando de localização se resolve o problema, mas a maior parte das pessoas não está para esse trabalho).


7ze considera os seus direitos humanos (e constitucionais) violados, a título de produtor e consumidor de informação por esse canal. A outra operadora, MTN, não tem esse problema. Passadas três semanas sem sinal de correcção das perturbações, 7ze considera-se no direito a ser indemnizado, pela perda de dois terços dos acessos ao seu blog e do acesso a outros blogues. 

(fazem fé o histórico de acessos no PC para o consumo / as estatísticas do Blogger para a produção)

A Google deveria igualmente pronunciar-se, já que o caso pode abrir um perigoso precedente em relação aos seus próprios termos de utilização, princípios e espírito do Blogger. Será legítimo um prestador de serviço contratualizado descontinuar conteúdos por conveniências de serviço ou considerações comerciais? Em último caso, os tribunais decidirão.
Lá porque o dono das laranjeiras vê uma laranja podre, é estúpido deitar todo o pomar abaixo! 


Os 35 anos do CCF


Os 35 anos do Centro Cultural Francês serão comemorados a 5 de Novembro do ano que se avizinha.


A RFI está de parabéns por ajudar a desmistificar a fake (abertura do CCF há 20 anos) a qual pelos vistos enganou muito boa gente, ao ser propagada pela Embaixada de França em Bissau na sua página oficial e perfil no Facebook: note-se a pureza e integridade das siglas em termos do domínio internet; deveriam aplicar igual cuidado com a qualidade da comunicação.

Contudo, aponta-se aos jornalistas a imprecisão que consiste em afirmar "Este centro abriu portas pela primeira vez em 1990, mas foi alvo de um ataque armado durante a guerra civil na Guiné-Bissau entre junho de 1998 e maio de 1999." Não foi durante (ENTRE 7 E 7), foi no fim (A 7). Não foi um ataque pontual ou aleatório, como pode parecer com essa redacção.

25 anos passaram já desde esse 7 de Maio. Se esta memória selectiva perdurar na Embaixada de França, para a reavivar, encurtando para metade os 50 anos da vergonha, talvez se possam facultar à RFI fotos comprometedoras de franceses a sairem do local em trajes algo indecentes, para militares; ou lembrar os apelos pungentes de Anne-Marie Gazeau na AFP, por essa hora.

Neste contexto, para vergonha do representante das Necessidades neste PALOP, reaviva-se, através de memória da RTP, o antigo Centro Cultural Português. Bastará roubar menos de um minuto à respectiva agenda de tráfico de vistos, para ver a partir de 17'33''. Um pouco de cultura, sentido de responsabilidade e de discrição, decerto não lhe ficariam mal.

domingo, 10 de novembro de 2024

Elogio do radicalismo

Cabral, que em diversas ocasiões alertou para a falta de ideologia, nomeadamente de muitos movimentos e líderes africanos do seu tempo, antecipou esse déficit (ou mesmo falência) à escala global, criticando amorfos, indecisos, indiferentes… Uma autêntica política deve colher o melhor de cada extremo; não há que procurar virtude pelo meio. Este olhar parece hoje de paz, num mundo cada vez mais intolerante e fisgado em identidades assassinas. Cabral fazia a ponte com todos, chineses, russos, cubanos, jugoslavos, suecos, italianos. Cabral era guineense, cabo-verdiano, angolano, moçambicano, católico e profundamente português.

"Não, isso não, isso é extremismo ao contrário. O que eu disse primeiro chama-se desvio para a esquerda e o que eu disse agora é desvio para a direita. Isso não quer dizer que o meio é melhor. Há muita gente que julga que o que está no meio é que é bom, mas não é verdade: a coisa boa está em saber juntar dum lado e doutro para andar em frente. Juntar dum lado e doutro, procurar o caminho justo, numa terra, não é ficar no meio, no meio não se pode fazer nada."

Há que lutar contra essa ideia, que nos tentam impingir, de que ser radical é mau. 


Não diz o português que o mal é para cortar pela raiz? Para erradicar o mal e evitar que se enraíze, há que arrancar a raiz! Ora aí está! A raiz etimológica do termo radical é raiz. É uma boa metáfora: abaixo os preconceitos. Até podem, se assim o entenderem, discriminar entre bom e mau radicalismo, mas conserve-se a polissemia e evite-se açambarcar o sentido ao conceito, enclausurando a realidade. À luz destas palavras, Cabral pode ser considerado, ou duplamente radical, ou percursor de uma síntese virtuosa na demanda por novos centros e centralidades. Não chegou a fazer-se o choro de Cabral, para encobrir a responsabilidade dos camaradas.

Meio século perdido, Cabral lanta di tchon i na pidi iu iagu.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Direitos de Autor

Apesar do muito escândalo provocado pela flagrante e continuada usurpação do plenário de órgão colegial pela sua presidência, parece oportuno lembrar que tal está longe de ser um precedente, devendo os direitos ser pagos a Cassamá, ao serviço do PAIGC. A única inovação prende-se com o aspecto formal: apesar da hipocrisia, Ciprias pelo menos conhecia o regimento e cuidava minimamente das aparências; já o novo candidato, talvez deva registar nova patente, extensão para incluir a arbitrariedade dos trâmites processuais não regulamentares.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

A perniciosa dimensão simbólica da persistência no sub-desenvolvimento

Ou o ciclo vicioso das narrativas pós-coloniais, identitariamente estigmatizantes e tendentes a retroalimentar a dependência.

The Self-Deception Trap, de Carlos Lopes, em conversa com Divine Fuh, na escola Nelson Mandela, da Universidade do Cabo.


quarta-feira, 25 de setembro de 2024

CRIMInoso



A preguiçosa RFI, à falta de novo material para assinalar o centenário do nascimento de Cabral, republica em formato "podcast" trabalho feito para o cinquentenário da sua morte, há um ano e meio.


A abordagem jornalística é fakeciosa e denota uma insustentável superficialidade da investigação do par de jornalistas luso-francês: apesar de citarem Oramas, pelos vistos não o leram na totalidade...


Misturam factos posteriores ao assassinato de Cabral, em conexão com os serviços secretos franceses, para reciclarem petas do envolvimento da PIDE/DGS, ou até de Marcelino da Mata.


Ora o artigo do mesmo autor, publicado uma semana depois do assassinato, está claramente melhor, para o que se sabia à época, do que aquele que escolheram para peça-chave, dois anos depois!


A tese é a da participação dos mesmos personagens envolvidos no assassinato de Humberto Delgado e da sua secretária, em Vilanueva del Fresno, sete anos antes. Só desinformação!


Marcelino da Mata estaria à espera com num barco de guerra português? Brincadeira! As lanchas do PAIGC foram trazidas de volta por duas lanchas da Marinha de Sekou Touré? Mentira!


(basta ler o embaixador Oramas, para ficar a saber como foi uma unidade da Marinha soviética que procedeu ao aprisionamento das lanchas da Marinha do PAIGC comandadas por Cani)


O Bruno Crimi fizera turismo político em terras africanas, contudo em 1973 ainda achava que era um jornalista. Em 1975, era já um "jornalista de intervenção", um autêntico activista.


PS Uma vez que acham por bem confirmar le mensonge de Bruno Crimi sur l'assassinat d'Amilcar Cabral, cujo "relato, que a RFI pôde confirmar tendo acesso a novas fontes" o qual "diz ter conseguido ter acesso, depois da Revolução dos Cravos de Abril de 1974, a documentos guardados zelosamente nos arquivos da PIDE-DGS, na rua António Maria Cardoso, na capital", seria bom que avançassem, sob pena de serem legitimamente apodados de mentirosos, com pelo menos uma pequena amostra desses "soi disant" documentos, já que todos os investigadores que se debruçaram sobre o tal arquivo nada encontraram nesse sentido. 

domingo, 22 de setembro de 2024

Cartaz III


Estreou em Bissau, o filme de Sofia da Palma Rodrigues, “Por ti, Portugal, eu juro”, o qual se debruça sobre o caso dos Comandos africanos, soldados que combateram nas fileiras do exército português durante a guerra do Ultramar. A Sofia e a sua equipa estão de parabéns por terem ousado violar o tabu e abordar esse tema fracturante, de ambos os lados da antiga trincheira. Entretanto, meio século passou sobre os acontecimentos, os arquivos militares foram desclassificados… Desde 2017, a Sofia recolheu testemunhos que se perderiam para sempre de outra forma: entre os sete protagonistas escolhidos para apresentar (o projecto tem bastante mais material recolhido), apenas três continuam em vida. Pena é que tenha sido o Centro Cultural francês a acolher a iniciativa, indício conclusivo da atitude comprometida do Estado português nesta questão. 


A verdade liberta. Se o making of, só por si, já evidencia o efeito catárquico a título individual (um dos protagonistas assume ser a primeira vez que aceita falar, longo silêncio, lágrimas), o impacto colectivo, memorando a tragédia e o sofrimento destes homens para a história, é já um resultado maior. Um pouco como aconteceu com Joaquim Furtado, cuja série sobre a guerra colonial enterrou definitivamente esse manto de silêncio com que envergonhadamente se acolheram aqueles que, do lado português, foram obrigados a combater numa guerra que muitos consideravam injusta. O blog Tabanca Grande, no qual desde 2005 se recolhem testemunhos de ex-combatentes, é outro exemplo. 


A Sofia conseguiu fazer-se ouvidos e penetrar a fundo no trauma, nas várias estratégias de sobrevivência face à perseguição implacável de que foram vítimas, à dor de ver os camaradas caírem uns após os outros, ao sentimento de abandono por parte de Portugal. Sobressai uma narrativa de compulsividade no recrutamento, a qual se equipara à obrigatoriedade do serviço militar para os jovens portugueses. De ambos os lados, irmanados por não terem ido à guerra por sua vontade, mas por força das circunstâncias. 


A Sofia admitiu, todavia, uma excepção. Um tabu remanescente, perante a violação assumida? A polémica que se seguiu ao falecimento de Marcelino da Mata, durante o COVID, veio demonstrar que, se o tabu da guerra colonial está definitivamente enterrado na sociedade portuguesa, o tema continua fracturante. Podem compreender-se as razões da Sofia, para não perder o foco na humanidade da tragédia e evitar que esse pendão canibalizasse o fio à meada. Contudo, e por isso mesmo, esta atitude pode ser sintomática de uma negação primordial, ou seja, da dignidade do juramento “ideológico” de Marcelino da Mata por Portugal. Há precedentes históricos, como Honório Barreto, para além de devidamente representado no seu filme. 


A Sofia, que trabalha no projecto Divergente, discrimina entre jornalista e activista, considerando-se na primeira categoria. Obviamente que este é sempre um equilíbrio difícil; acrescente-se que nem sempre foi assim, lá vai o tempo em que ser jornalista de intervenção estava na moda. A esse título, a Sofia deverá refrear afirmações como “a africanização da guerra foi criminosa”. No contexto em que foi proferida, e em especial em relação ao General Spínola, pode mesmo induzir em erro: basta consultar o quadro de efectivos não metropolitanos para constatar que o número de recrutados localmente não subiu significativamente com a chegada de Spínola em 1968, nunca ultrapassando um quarto dos efectivos totais. A africanização da guerra já existia e nunca atingiu a dimensão que um espectador desinformado pode entender por essa afirmação.



O convidado para se sentar ao lado da Sofia durante o debate que se seguiu à sessão de cinema, utilizou igualmente a palavra criminoso, referindo-se ao General Spínola, um militar honrado e respeitado. Esforçou-se por tentar branquear o papel do PAIGC no massacre destes homens, lembrando que os pós-guerra trazem sempre uma caça às bruxas, fornecendo para exemplo as mulheres francesas colaboracionistas durante a ocupação nazi, a quem foi rapado o cabelo, com a “libertação”. A negação parece um péssimo sintoma, atendendo aos objectivos da iniciativa. Portugal reconheceu a independência da Guiné há cinquenta anos: a guerra deveria ter acabado, mas parece haver quem continue a alimentar ódios não só básicos, como verdadeiramente criminosos, nem que por omissão, tentando justificar o injustificável: não se arrependem e voltariam a fazer o mesmo? Obsoleto! Parece que os complexos que assassinaram Cabral continuam vivos!


Guerra é guerra. Se houve um teatro onde a guerra foi mais “humana”, foi na Guiné, com o General Spínola: por exemplo, acaba com a PIDE em Bissau, chegou a querer prender o seu Director, declarando que preferia não ter informações a que estas fossem extraídas por métodos desumanos. Criminosos foram aqueles que mataram Cabral, os mesmos que, já em tempo de paz, enganaram os comandos, primeiro para os desarmar, para depois mais facilmente os martirizar. 


Obrigado, Sofia, foi comovente constatar como conseguiu devolver a identidade a estes homens. Talvez não seja o reconhecimento que pretendiam, mas é algo, já. E muito importante.

domingo, 15 de setembro de 2024

Recomendação aos viajantes

A notícia que dá por certa a chegada de autoridades estrangeiras para o controle de mercadoria apreendida no aeroporto certamente não passa de boato (ou fake, para quem prefira anglicismos), pois não é do conhecimento público qualquer convite oficial nesse sentido. No improvável e impensável caso de tal voluntarismo e intempestividade unilateral encontrarem algum tipo de suporte na realidade e apesar de o Almir Bubo estar engaiolado, recomenda-se aos destacados e esforçados agentes para preferirem andar de chinelos (ou eventualmente descalços, se preferirem um contacto mais íntimo com a terra), em vez de pisarem o chão com botas de marca. Já agora: no direito local, de inspiração portuguesa, a armadilha não é punível. 


PS Pelo atrás exposto se infere igualmente que devem ao Senhor Almirante uma indemnização pelo seu sequestro, prisão e julgamento ilegal.

sábado, 14 de setembro de 2024

Nós, eu e o presi da ANP

Somos todos uma única pessoa.


Difunda-se amplamente

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Cartaz II

 


Ao contrário dos outros membros de expressão portuguesa da CPLP, em que o momento da independência é um só, coincindindo obviamente com o reconhecimento por Portugal, a Guiné é um caso à parte, pois estava diante na luta. A auto-proclamação só encontra paralelo com o caso do Grito do Ipiranga, independência do Brasil (as independências sul-americanas precederam em cento e cinquenta anos as africanas). Faz todo o sentido comemorar o último acto do cumprimento cabal do Programa Mínimo.

PS Claro que o próprio caso brasileiro não passa de um mal-entendido, uma vez que a auto-proclamação não é contra ninguém, para além do próprio Dom Pedro, o qual sendo Imperador de Portugal e do Brasil, optou por apenas uma parte do todo: um tiro na perna, vá.

domingo, 1 de setembro de 2024

Cartaz

Exposição inaugurada pelo Primeiro-Ministro, pode ser visitada até final de Setembro.

domingo, 25 de agosto de 2024

Solidariedade inter-partidária

De Timor chega um grande exemplo de como, acima das rivalidades históricas e partidárias, deve estar a justiça e a solidariedade. Perante aquilo que lhe pareceu um injustificado ataque pessoal como resposta a uma posição política, o actual Primeiro-Ministro saiu em defesa do ex-Primeiro-Ministro. Apesar de circunscrito a questões externas, é claramente um bom sinal: possa a Guiné-Bissau servir, nem que como contra-exemplo, para a construção de consensos em torno do interesse nacional, opondo-se à extrema volatilidade e sectarismo de certo tipo de políticos. Construam-se pontes em vez de muros. 


Vivam os Comandantes Mari Alkatiri e Xanana Gusmão! 

PS Não ficaria mal, ao premiado Nobel por procuração, associar-se à manifestação.