quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Lançar o debate

Estive ontem no lançamento do livro de Luís Vicente, editado pelas edições Corubal.

Numa apresentação de sucesso, bastante informal e interactiva, durante a qual o autor teve um momento de verdadeira emoção, foi o discurso de Miguel de Barros, activista cívico, que mais me entusiasmou (e que motivou, de longe, a mais duradoura e efusiva ovação).

Começando por afirmar o carácter independente e não lucrativo da editora, frisou que o lançamento traduz uma dupla intenção: dar relevo à reflexão e ao papel da Diáspora (aproveitando a oportunidade para lembrar a sua responsabilidade); e lançar o debate político, sendo este o primeiro número de uma colecção de estudos e debates, em torno da boa governança.

O Miguel falou do descalabro da educação... da responsabilidade da geração «de ouro»; subentenda-se, o perigo de dissolução da nacionalidade pela miserável condição educativa: o sistema não consegue produzir alunos ao nível do 12º ano, sendo a média nos exames portugueses equivalentes de cerca de 0,5%. Não é muito mau, é assustador!

[Lembro-me das minhas conversas com o Pepito (também lembrado com saudade pelo Miguel), para quem essa «pedagogia» era o cerne da actuação. Lembro-me como se lamentava e como sentia como um murro na barriga, cada vez que os seus amigos diplomatas se queixavam que não conseguiam recrutar uma simples secretária...]

Quando confrontado com a questão do jornalista da RTP/RDP Jorge Gonçalves, que moderava a sessão, se terão sido 40 anos perdidos, lembrou o sistema de hortas escolares (eu lembro-me, em miúdo, de uma visita a Bafatá, na qual participei do entusiasmo associado a essas iniciativas) como exemplo de muitas coisas boas que se perderam pelo caminho.

Da conversa informal que se seguiu, parece ter-se desprendido o sentimento de que nunca poderemos falar de 40 anos desperdiçados. Talvez de tempo perdido. Mas que ficam os calos... A experiência negativa, como povo, não poderá ser convertida numa oportunidade, num desafio?

Miguel de Barros, confrontado com a afirmação, por parte do moderador, de um especial agravamento da situação nos dois anos que se seguiram ao 12 de Abril, reformulou a questão, dando a entender que houve uma transição de sucesso que criou uma janela de oportunidade.

No entanto, estará ela a ser aproveitada? Não merecerá o martirizado povo da Guiné-Bissau, o respeito dos seus políticos? Pessoas como Miguel de Barros ou Abdulai Sila (citado pelo Miguel, e de quem li recentemente uma magnífica poesia em prosa, com um oportuno aviso à navegação), não deveriam ser consultores do Primeiro-Ministro?

[Pagam-se 10 000 euros (segundo declaração de interesses do próprio) ao Presidente da ANP, que é um analfabeto funcional (só domina a linguagem básica da cartilha sovietizante do PAIGC dos «inimigos»), mais uma centena de outros de igual calibre na mesma casa... qual a produtividade, em termos de debate?]

Já nem falo do caso do autor, o Luís Vicente, o qual, como ficou patente na Sala de Audições da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é muito querido no concelho de Rio Maior. Talvez por isso mesmo, o próprio Luís pudesse dar o exemplo, desdobrando-se entre Bissau e Rio Maior, em «part-times» eficientes, envolvendo-se na aplicação das suas ideias e princípios de boa governação... A mão na lama.

Pelos vistos, a política de exclusão dos melhores continua... a esperança prometida mais uma vez traída?

Neste contexto, aproveito para considerar que me parece legítima a irritação do editor do Ditadura do Consenso, face à má qualidade do recentemente formado «Gabinete» de comunicação de Domingos Simões Pereira.

P.S. Tive uma pequena intervenção na qual considerei que a horta escolar seria um bom exemplo a adoptar pelas escolas, por exemplo em Portugal. Talvez servisse para formar as mentalidades para a actividade produtiva e o espírito empresarial, reduzindo o número de «doutores e engenheiros» desempregados de longa duração, porque não encontram (nem nunca entrarão, porque não servem para nada) emprego na respectiva «área de competências».

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Mea Culpa

Confesso que o artigo que publiquei, condenando vivamente a Igreja Católica angolana, não se justifica, ao presumir a unidade da Igreja em torno do discurso desadequado de alguns dos seus membros, sendo muitas as vozes discordantes que se elevam no seu seio. Aqui fica o pedido de desculpas pela abordagem precipitada e desastrada, bem como a rectificação. A este propósito, ler artigo sobre a contra-ofensiva «cívica» do regime, fertilizando «movimentos espontâneos».

Reputação imputada aos deputados

Francisco Seixas da Costa fala da reputação (dos deputados e dos órgãos de soberania em geral), da percepção externa da falência sistémica de um país, há muito anunciada. Esperemos que a purga continue, para ver se o país acorda do pesadelo. Como diz o senhor Embaixador: por um lado, ainda bem... antecipando um benéfico efeito catárquico. Ter-se-à Sua Excelência convertido ao sebastianismo? Em boa hora...


Como esconder três prostitutas num título?

Diga-se que, na Guiné-Bissau, a reputação imputada aos deputados também já viveu melhores dias.

domingo, 23 de novembro de 2014

Aniversário Rádio Rispito

Amanhã, a partir das 17h30, na Rádio Rispito, vou estar on-line para comemorar o aniversário, com o irmão Samba Bari. Não falhe. Participe!

Ver nexo à direita >

O Senhor não estava

Este meu blog, para além da sua «identidade corporativa», também serve, esporadicamente, de desabafo. Embora pouco dado a exercícios de personalidade, é isso que vou fazer. Partilhar a minha frustração.


O meu filho pediu-me para vir passar o fim-de-semana a Peniche, para ver o mar. Cá estávamos. Ele foi almoçar com uns amigos e eu pensei em aproveitar o tempo de relaxe para um pequeno momento espiritual (que incluía rezar pela vida dos angolanos de mente livre, que estão na vanguarda do seu povo e hoje se manifestam nas ruas de Luanda...), um plano que se apresentava de fácil execução, uma vez que hoje é Domingo.

Depois de deparar com várias igrejas fechadas, um senhor simpático que passeava um cãozinho, lá me disse que estava cá o Arcebispo de Lisboa, para assinalar a restituição ao culto da Igreja de São Pedro, a principal cá da terra. Suspirei de alívio e lá me dirigi para o centro, contente com a ideia de que, passada a hora da missa, evitaria «grandes confusões» (poderia esclarecer que sou católico praticante, embora não às horas convenientemente estipuladas). Qual o meu espanto (subi toda a escadaria e ainda tentei empurrar a porta) quando deparei com a igreja fechada e mais gente igualmente espantada. Eram então cerca de 13h20.

Então o Senhor Arcebispo ata as chaves de São Pedro à cintura e vai encher o bandulho? Não se critica que satisfaça as suas necessidades terrenas, mas que usurpe a Casa do Senhor... podiam ir todos almoçar e deixar a Igreja aberta, nada se passaria nem ninguém daria sequer por isso. Ou já não é essa a morada do Senhor, mas a vossa?

Algo vai mal na Igreja católica. Já agora, a propósito, aproveito para dar destaque às recentes acusações da forma vergonhosa como se comportam os seus sacerdotes em Angola, dando cobertura a todo o género de desmandos do Regime. Onde está a doutrina social da Igreja? Ao longo de dois mil anos, já tiveram mais que tempo para aprender que quanto mais tempo se recalca, maior é a explosão. O próprio exemplo do seu Profeta deveria ser uma imagem mais que suficientemente inspiradora.

Gabinete de Imprensa

O Primeiro-Ministro guineense, após uma série de críticas, quando à sua ausência de política de comunicação, parece ter envidado esforços nesse sentido. Eis o último parágrafo da última obra do recém-criado Gabinete de Propaganda, ou melhor, de hipocrisia, que inclui uma foto com o Secretário-Geral das Nações Unidas.

«O Primeiro-Ministro e o Presidente da ANP elucidaram o Secretário-Geral das Nações Unidas sobre a situação do funcionamento e de boas relações institucionais da República da Guiné-Bissau»

Uma semana lavam em público a roupa suja, na seguinte juntam-se para colaborarem num acto de traição à pátria?

Os titulares dos três mais importantes cargos soberanos demonstram assim que não estão interessados em governar para o país, em arregaçar as mangas e colocar as mãos na massa, mas apenas em conseguir
o chorudo cheque que José Eduardo dos Santos prometeu para comprar a Guiné-Bissau, para regalarem os seus miseráveis apetites privados. Pior que uma agenda exógena, deixaram cair as máscaras e arvoram agora uma agenda anti-nacional.

As Nações Unidas, que dão mostras de colaborar na farsa, deveriam ser avisadas que não parece nada boa ideia a transferência de 1800 angolanos para a MINUSCA: num país com fortes problemas de intolerância religiosa como tem mostrado ser a República Centro-Africana, os soldados de Angola (país que tem perseguido o Islão e arrasado mesquitas) arriscam-se a ser tomados por parciais. É querer apagar o fogo com petróleo...

Quanto aos 1800 que também querem enviar para Bissau, podem começar já a treinar os 1800 que os hão de substituir (não se esqueçam depois de notificar as mães dos primeiros).

sábado, 22 de novembro de 2014

Estado de desgraça

Obrigado, irmão do Bambaram di Padida, num artigo sobre a «queda» de DSP.

Uriel: um ano de saudade do pai


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Opinião jovem

Resposta à altura, à deputada da UNITA, por parte de Sedrick de Carvalho, em artigo de opinião no Club-K.

Dois patinhos

22/11 apresenta-se já como uma data histórica para Angola.

22/11 = 2

Tinha um grande amigo que gostava de decifrar símbolos e estudar números, que tratava o 22 pela engraçada expressão de «dois patinhos em contra-mão» (uma vez que nadam para a esquerda).

Além disso, no Montijo, já para se prevenirem do «azar» do 11, fazem do número um tabu. Quem disser «onze» arrisca-se a ser tratado de cornudo. Tradição local, em terras de touros, associando um par de cornos ao enunciador. No Montijo conta-se: «...oito, nove, dez, dezmaisum, doze...»

Para ser mais claro, os dois patinhos são:

2é2é / 1sa1as

Zantos e Zamakuva

Retomando o Luaty Beirão:

Ti'Zé, arreda o pé!
T'Isaías, perdes o pé!

Neste momento, parece haver uma única forma de conter a fúria popular: o Presidente e o chefe da oposição darem as mãos e juntarem-se aos jovens angolanos, numa manifestação pacífica que marque um novo pacto de regime, um governo inclusivo e partilhado, com base no mérito.

Segundo muitas opiniões, expressas em fóruns e comentários, se querem ter alguma coisa a dizer no futuro de Angola, é obrigatório darem o corpo ao manifesto; não venham depois tentar confiscar a sofrida vitória do vasto movimento revolucionário desencadeado, à imagem do Burkina Faso.

A «convocatória» dos professores, cujo único objectivo é conduzir à proibição ilegal da manifestação e não dar origem a uma verdadeira «contra-manifestação», é um feitiço que pode virar-se contra o feiticeiro. É que os professores, tomando o recente exemplo dos colegas chadianos, que a 11/11 se juntaram aos jovens nas ruas, podem tomar uma atitude pedagógica...

Subtil manipulação

O embaixador angolano apresentou na terça-feira as suas credenciais a Obama, à porta fechada, como se pode ler na agenda do Presidente dos Estados Unidos para esse dia. Clique na imagem para ampliar


A Angop apresenta, deste evento, a sua versão em inglês, como um grande elogio a Angola e a José Eduardo dos Santos, tentando pintar a coisa de «notícia» local (repare-se que começa por «Washington DC»), da qual os jornalistas teriam feito «copy/paste». No entanto, nem o Presidente norte-americano publicou nenhum comunicado ou discurso na página oficial da Presidência, nem nenhuma das agências noticiosas acreditadas na Casa Branca o fizeram (nem há qualquer traço desse texto «original», a essa hora, na internet), permitindo presumir que o referido artigo é da responsabilidade da memória selectiva do Embaixador (a própria etiqueta «diplomacy» o confirma).

Baseados nesse artigo da Agência Noticiosa oficial, o Jornal de Angola vai mais longe, na sua versão em português, de pura mistificação para consumo interno. A fotografia do embaixador com Obama, obra do fotógrafo oficial da Casa Branca Lawrence Jackson, que retrata o acontecimento no «original», é substituído por uma foto da AFP (Agência Noticiosa francesa), que nada tem a ver com o momento e apenas se destina a camuflar que o referido artigo foi «oportunamente» forjado no seio do regime, como «obra» de propaganda.

O irmão Samuel do No Djemberém, viu a sua boa fé abusada nesta esparrela e ao propagar esse texto, comete inadvertidamente o erro de o atribuir à «AFP» (conforme manifesta intenção dos manipuladores). O caso não deixa de ser um interessante case study em termos de perversão dos Direitos de Autor.

Adivinha II

Como espera o Primeiro-Ministro guineense «marcar pontos» nas Nações Unidas?

Dica: procurar o maior parágrafo, entre aqueles enumerados com «bolinha».

Obrigado, PN

Este «produto» representa sem dúvida uma aquisição infeliz, dado que o prazo de validade do fabricante expira este fim-de-semana.

Comentários para amanhã

Deixo apenas os títulos e respectivas ligações, para reflexão...

Voice of America - Luanda com "alta temperatura" neste sábado

O artigo do Club-K, Sobre a manifestação convocada pelos movimentos de cidadãos em Angola, assinado Albano Pedro, que serviu de fonte à citação do anterior artigo

Idem, apelo do Bloco Democrático ao Presidente da República, para que não permita que se instale uma tragédia nacional este fim-de-semana

Adivinha

Para quem é o recado?

GUINÉ-BISSAU: BRASIL «NÃO CONDICIONA» A SUA COOPERAÇÃO COM OS OUTROS PAÍSES


Obrigado, irmão Bambaram di Padida

Uma pista, para ajudar a esclarecer o assunto.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Os 3R's

Uma homenagem, no actual contexto, ao professor universitário e jornalista

Domingos da Cruz,
que cunhou a expressão dos três éRRes, em termos de Direito:

1) o direito à RAIVA perante o mal
2) o direito à REVOLTA quando este persiste
3) o direito à REVOLUÇÃO quando o mesmo se eterniza

Perseguido pelo regime desde 2008, pela publicação de vários livros (proibidos mas muito apetecidos) contestando a situação, viria a ser despedido das suas funções docentes, bem como processado pela Procuradoria Geral, por «incitação à desobediência colectiva e à violência». Várias vezes adiado, o caso foi finalmente a julgamento há cerca de um ano... Pouco antes da leitura da sentença, Domingos gozava o prato...

Questionado pela DW (faço alguns extractos) sobre o fundamento legal da acusação:

«_Sem lei não há crime. Não faz sentido absolutamente nenhum tal acusação, na medida em que o crime de incitação à desobediência colectiva e à violência não existe no ordenamento jurídico angolano.

DW África: Mas então o que é que vai fazer ao tribunal?

_Como deve calcular, vou ao tribunal para responder a "nada", do ponto de vista metafísico, porque efectivamente não existe crime nenhum. Para além disso, a tal lei foi revogada sendo substituída por uma outra que é a Lei dos Crimes Contra a Segurança do Estado. Surpreende-me o facto de, mesmo que tenha cometido algum excesso, investido dessa "autoridade" de jornalista e cidadão, uma opinião se transformou em crime.

DW África: Entende que o regime do Presidente Eduardo dos Santos teme uma espécie de Primavera Árabe em Angola?


_Mas muitas vezes as pessoas querem apoiar em espírito e alma e, contudo, não podem fazer muita coisa porque estamos sob escuta, nos telemóveis, nos "emails", na rede social Facebook. Tudo isso leva a que as pessoas se retraiam muito na manifestação das suas posições.

DW África: Acobardando-se?

_Claro, mas respeitamos essas pessoas porque esta é a realidade que vivemos em Angola

DW África: Face ao que acaba de dizer, pode concluir-se que os jornalistas praticam auto-censura, em termos de produção de ideias e de pensamento?

_Com certeza, absolutamente. Isto é um efeito sobre o qual, inclusive, muitos jornalistas em debates ou em diálogos mais ou menos privados dizem, por exemplo: ”sobre isso, eu queria pronunciar-me mas não posso fazê-lo". Trata-se de um exercício de terror, encontramo-nos num ambiente de catástrofe, do ponto de vista das liberdades para o exercício do jornalismo.

DW África:  Nos últimos tempos, tem sido exercida uma grande pressão sobre ativistas e jornalistas em Angola. As manifestação de jovens contra o o governo angolano são frequentes e normalmente reprimidas. Será que o regime de Luanda teme alguma situação de difícil controlo?


_De acordo com a nova conjuntura, do ponto de vista geopolítico internacional, parece-me que o regime entende que a qualquer altura pode despoletar uma situação complicada. Tem-se dito que Angola é uma espécie de barril de pólvora e falta-nos só identificar onde está o fósforo para que tal barril possa eclodir.
»

Numa entrevista à Por dentro de África:

«Pelo que sei sobre este grupo de delinquentes sob a capa de governantes, temem todo tipo de ideias autênticas. São absolutamente alérgicos ao pensamento, à cultura, à ciência, à racionalidade, à crítica, à deliberação pública, ao esclarecimento. Para mim, enquanto tal grupo detiver o poder, Angola continuará um país atrasado, de idiotas, sem bens sociais mínimos para viver, alto índice de corrupção, um país que envergonha os seus filhos que se pautam por uma vida ética! (serão estes a minoria?)

Angola é quase um romance ficcional no plano político, jurídico e noutras esferas. A acusação que pesa sobre mim baseia-se numa lei revogada em 2010: só num regime autoritário tal idiotice pode suceder. Aprofunda-se uma imagem caricatural do regime, tanto interna quanto externamente… Quando o ridículo chega a este ponto máximo é sinal que tal protagonista terá uma tragédia catastrofista. Talvez seja o fim dessa era que se aproxima!»


O juiz mandou finalmente arquivar o processo, face à inconsistência legal das acusações.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Exército forma Governo

No Burkina Faso, o Tenente-Coronel Zida, indigitado pelo Exército para conduzir a transição e que havia assumido a chefia do estado, depois da deposição de Compaore, foi o escolhido para o cargo de Primeiro-Ministro: Kafando, que sucedeu a Zida no posto e é o novo Presidente, anunciou hoje a escolha (que muitos antecipavam).

A França está a desenvolver esforços diplomáticos para conseguir que a União Europeia e os Estados Unidos condenem a opção antes das respectivas tomadas de posse, marcadas para depois de amanhã, argumentando com a tese de «Golpe de Estado». No entanto, podem tirar o cavalinho da chuva, basta lerem com atenção as declarações de Zida, que já desfez esse equívoco, à intenção da União Africana: «O que se passou no Burkina Faso foi um levantamento popular, não um Golpe de Estado».

A má vontade dos franceses em relação a Zida (depois de a AFP dar o tom, transparece nas primeiras reacções do Le Monde e Jeune Afrique) é, para já, um bom sinal: há a possibilidade de estarmos perante um homem íntegro, dificilmente manipulável, o que evidentemente não agrada a Paris.

FrançAfrique voa em socorro de Déby

A imprensa francesa assinalou, como novidade absoluta, no mais de meio século que já dura a V República, a «usurpação» de funções presidenciais pelo Primeiro-Ministro. É que a função de «Chefe» da tropa tem tradicionalmente (tal como a política externa, aliás) sido «coutada» do Presidente. Será a fraqueza de Hollande que motiva este gesto? Ou a urgência de evitar uma derrocada fatal na zona, o propagar da onda de choque do Burkina? A França perante a encruzilhada de todos os perigos? Já se fala em aumentar o dispositivo da operação «Dunas», enquanto os militares no terreno «s'embourbent»...

Em mais de meio ano de função é apenas a segunda vez que o Primeiro-Ministro Valls sai em visita oficial para fora da Europa. E desta vez, nada estava previsto, é claramente uma situação de urgência! Tratará o Manel de se impingir à Conferência de Chefes de Estado da CEEAC? A visita a instalações militares francesas no Tchad parece mais um recado para o Exército tchadiano, para que não deixe cair Déby... O papel da França está cada vez mais difícil, arriscando de «s'enliser» em profundidade no deserto, numa inglória e ingrata campanha contra o Islão, que só servirá para atiçar mais ódios na comunidade muçulmana residente na metrópole... e, perniciosamente, apresentar como resultados precisamente o contrário dos esperados, ou seja, um aumento do risco de atentados terroristas (porventura endógenos).

terça-feira, 18 de novembro de 2014

UNITA recusa papel

A UNITA, em comunicado emitido há pouco, respondendo às acusações do Ministério do Interior, recusa vestir a carapuça de bode expiatório para as «crises de identidade» do MPLA (que dá manifestos sinais de desnorte):

«A UNITA nada tem a ver com os problemas internos do MPLA e repudia veementemente a tentativa deste Partido-Estado de atirar areia para os olhos das pessoas, ao procurar atribuir à UNITA as causas das suas profundas contradições e crises de identidade.»


(...)
O único desafio agora é o de ideias e aquele que não tiver capacidade para exibir a força de seus argumentos, perde e não deverá fazer recurso aos argumentos da força, porque a Constituição não permite e a Democracia não se revê neles.»

Sintomático: Jornal de Angola ataca Portugal

Uma vez mais o diário do regime critica Portugal, por ter acolhido a recente visita de Samakuva a Lisboa, a qual teria sido o início de uma conspiração...


Nem me vou debruçar sobre o choradinho do costume, quero apenas realçar um pormenor em particular:

“Os portugueses têm que decidir de uma vez por todas se querem ou não os angolanos como parceiros” e que se Portugal “quer desenvolver a cooperação com Angola, não pode haver perseguição a cidadãos angolanos".

Porque o texto poderia ser devolvido à procedência:

Os angolanos têm de decidir de uma vez por todas que, se Angola quer desenvolver a cooperação com a Guiné-Bissau, não pode haver perseguição a cidadãos guineenses.

É um abuso falar genericamente de «angolanos»... (quando se referem apenas àqueles que investem em Portugal: essa é uma ínfima fracção dos angolanos), para apelar ao sentido nacionalista, numa reacção contra Portugal (com as ameaças da praxe), para servir de cortina de fumo. É preciso desassociar os angolanos, por um lado; do regime e dos seus beneficiados, por outro, os quais são uma amostra não representativa do todo...

É que a perseguição, de que falam, aos «cidadãos» angolanos, traduz-se simplesmente nas notícias (não passando, na maior parte das vezes, de verdades consideradas inconvenientes) e, pelos vistos (não, estes não são os «gold»), não os incomoda minimamente.

Já a perseguição que fazem aos cidadãos guineenses em Angola é na própria pele, sem respeito pela vida humana.

Na vida, há limites para tudo, até para a hipocrisia! 

Continuam as manifestações de jovens no Chade

Apesar do bloqueio informativo a que o país está sujeito, os activistas conseguiram fazer chegar imagens ao exterior e soube-se que a repressão do regime continua a fazer vítimas entre os jovens manifestantes: numa marcha realizada ontem em Boctchoro, foram disparadas balas reais para dispersar a multidão, fazendo um morto e dois feridos, a acrescentar ao balanço das mortes ocorridas na última semana.

Entretanto, a mão cheia de manifestantes, todos muito jovens, abatidos no passado dia 11, passaram a ser considerados mártires, com muita gente criticando o regime por ter impedido a divulgação dos seus nomes. O cúmulo da arbitrariedade, querer privar as pessoas da sua identidade, «apagar o ficheiro», quando acabaram generosamente de dar a vida por uma causa que consideravam nobre.

O Presidente tenta manter todas as aparências de normalidade, tendo recebido a comissão preparatória da XVI conferência de Chefes de Estado da CEEAC (Comunidade Económica dos Estados da África Central), homóloga da CEDEAO, organização sub-regional delimitada, a Norte, pelo Chade, e, a Sul, por Angola, da qual Déby é o actual Presidente em exercício. Durante a próxima semana, deverão (?) chegar a N'Djamena não só os Chefes de Estado dos dez países membros (incluindo dois pertencentes à CPLP, São Tomé e Príncipe e Angola) mas igualmente muitos jornalistas para cobrir o evento... Como conseguirão estes fazer o seu trabalho sem ligações ao exterior e sem internet? por sinais de fumo, como na pré-história? Estarão criadas as condições de segurança para a presença dos Chefes de Estado desses países? A acompanhar...

Entretanto, rumores relacionados com a abertura do processo aos antigos colaboradores do ex-Presidente Hissène Habré, referem que Macky Sall, com o oportuno apoio do embaixador itinerante americano Rapp, prepara uma «armadilha» ao Presidente do Chade, durante a presença prevista deste para participar na cimeira da francofonia que terá lugar em Dakar nos dois últimos dias deste mês, prendendo-o para o entregar ao Tribunal competente, para ser igualmente julgado por crimes de guerra. Terá mesmo sido afirmado que, se aquele não se prestar a deslocar-se a Dakar, seria emitido um mandato de captura em sua intenção...

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Estão reunidas as condições para uma revolta de larga escala em Angola

Quem o disse à Lusa foi AguaLusa, escritor angolano e homónimo do Presidente do país (ambos são José Eduardo), a propósito do lançamento, na próxima quinta-feira, do seu mais recente livro, «A vida no céu».

Ficam alguns extractos do artigo, para abrir o apetite:

«O pior de tudo é a falta de inteligência [do regime]. A mim, o que me assusta mais, sempre, é a estupidez. A estupidez é aquilo que me aterroriza mais. E quando a estupidez tem poder, isso então é particularmente assustador", considera.

Na sequência da "falta de inteligência", vêm "a corrupção, a maldade". Mesmo "a violência é uma desistência da inteligência", vinca. Angola "é uma falsa potência", uma "ilusão", sustenta. (...) "Angola, infelizmente, tem ainda um caminho muito longo a percorrer no sentido do desenvolvimento básico. A esmagadora maioria dos angolanos sobrevive com quase nada, um dólar por dia", recorda Agualusa.

"Está tudo por fazer", resume.
»

Não deixe de visitar a página oficial do escritor :

Testemunho lacónico

A opinião de uma jovem angolana, relativamente aos sinais de desespero do regime, bem patentes no recente comunicado do Ministério do Interior (no qual se descortina uma súbita «vizinhança» de Angola com o Burkina Faso):

Eu, tal como milhões de mais novos, também partilho da constatação de milhares de mais velhos, expressa recentemente em Lisboa por um mais velho, o Presidente da UNITA, Dr. Isaias Samakuva, nas seguintes palavras: “os mais velhos dizem que Angola precisa de uma nova independência”. A afirmação deste facto, que não foi contestado pelos mais velhos do MPLA, provocou a histeria de alguns integrantes da guarda pretoriana do regime. E sem qualquer racionalidade. Incapazes de argumentar o contrário, optaram por subverter o Direito e recorrer a ameaças pidescas e outras verborreias, tão só porque contra factos não há argumentos.

Repúdio de Umaro Djau, sobre a situação dos guineenses em Angola

Hoje, não vou falar dos guineenses que já perderam a vida em Angola (imigrantes comuns), e outros desaparecidos (entre eles jornalistas), mas concentrar-me-ei no presente e no futuro. Quanto ao futuro, até poderia ser diferente, mas, o presente é deveras preocupante.

E falando do presente, hoje recebi esta mensagem triste de um concidadão residente em Luanda (Angola) e não podia deixar de partilhar convosco, cito: “…há muitos cidadãos guineenses (em Angola) que estão presos, estes não são libertados e nem repatriados, até parece que não há nenhum representante diplomático que pode resolver esta situação…”.

Na minha opinião, as autoridades da Guiné-Bissau devem proceder de imediato para ajudar a colmatar a precariedade, os abusos, as torturas, as prisões, os roubos e todas outras formas de violações dos direitos dos nossos concidadãos em Angola.

Reconheço o facto de muitos deles estarem a viver numa situação de ilegalidade, mas ser ilegal em termos de imigração não justifica as mortes, as prisões, as pilhagens e tantos outros relatos que diariamente nos chegam de Luanda.

Perante a ineficiência da nossa representação diplomática naquele país lusófono, desafio o Secretário de Estado das Comunidades, Idelfrides Gomes Fernandes, para se deslocar a Luanda (como fez recentemente a Portugal) para se inteirar da situação da nossa representação diplomática, tal como da situação dos nossos imigrantes.

Ao fazê-lo, estaria o Sr. Secretário de Estado a prestar um nobre serviço público e humanitário não só em prol das nossas comunidades na diáspora, mas, também, em benefício da Nação guineense e em defesa dos nossos superiores interesses.

Chegou a hora de partilharmos a dor e o sofrimento deles, mas, também, ajudar-lhes sobretudo a encontrar melhores soluções para as suas situações que, directa ou indirectamente, não são alheias à Guiné-Bissau.

Para as autoridades da Guiné-Bissau diria o seguinte: A LIDERANÇA, UMA BOA LIDERANÇA, É SABER TOMAR MEDIDAS IMPORTANTES E DECISIVAS EM MOMENTOS DIFÍCEIS. E assim exige a situação dos nossos imigrantes em Angola.

E para as autoridades de Angola diria o seguinte: se a lusofonia e os laços históricos e de irmandade não bastassem, peço então que cumpram com as suas obrigações, tratando como seres humanos os imigrantes que se encontrem em Angola como gostariam que os seus filhos fossem tratados noutros países, tendo em conta as relações políticas, económicas e comerciais entre os dois países.

Bem hajam

Mais uma macacada noticiosa

Dos primatas nas notícias, confundindo a EuroAtlantic com a TAP, que não escapou ao irmão do Bambaram di Padida.

Amnistia Internacional condena Angola

«O Governo do Presidente José Eduardo dos Santos tem de parar imediatamente com as mortes extrajudiciais, os desaparecimentos forçados, as detenções arbitrárias e a tortura daqueles que se opõem ao regime de 35 anos às mãos das forças de segurança do país», insta a Amnistia Internacional no novo relatório que documenta a situação de direitos humanos em Angola desde 2011 até ao presente.

«A mudança é irreversível e não depende nem das eleições, nem dos regimes fraudulentos que deles emanam. A juventude despertou e não mais estará disposta a calar-se, por mais que nos batam, que nos fraturem cabeças, que nos metam cocaína na bagagem, que nos raptem, que nos assassinem. A democracia está a ser imposta por nós, sociedade civil, e os governos irão ter de se vergar às vozes dissonantes porque só com outro 27 de Maio (o genocídio perpretado pelo MPLA em 1977 que aniquilou duas gerações de intelectuais angolanos) poderão ter um reinado tranquilo.» Luaty Beirão [rapper angolano, com estatura de estadista, que foi alvo, há cerca de dois anos, de uma miserável cabala do regime para o incriminar em Portugal, colocando-lhe droga na bagagem que transportava para Lisboa]

O rap é a melhor arma. Estamos à espera dos próximos sucessos via YouTube, que caiam no ouvido!

Eis o exemplo amador de um jovem tchadiano, com uma pequena canção artesanal que publicou ontem, cuja falta de qualidade não lhe tira o mérito experimental, em que faz um paralelo entre a (falta de) corrente «eléctrica» e o «ânimo» de um país. O refrão é «Onde estás tu, corrente, onde estás tu?» O mesmo Mustafá, tem outro interessante artigo, com cerca de um mês, que se revelou premonitório, à luz dos últimos acontecimentos, no qual defende a utilização das redes sociais.