quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Recandidatura

Oportuna e inteligentemente, o presidente residente anuncia data de eleições e recandidatura, associando o acto a uma tomada de posição de bom senso

Perante o mais que previsível falhanço em tabelar o preço do pão, o governo não reconhece que errou, insistindo em manter medidas intervencionistas no mercado, atentatórias da liberdade de comércio e por isso retrógradas e obsoletas, do tempo do partido único e do comunismo como inspiração política. Alguém tinha de colocar o dedo na ferida e acabar com a brincadeira de mau gosto, que entretanto já fizeram perigosa e irresponsavelmente escalar para um discurso de ódio xenófobo contra os comerciantes. 

A leitura que estão a querer impor, de que os pontos nos iii do presidente é uma medida impopular, tem as pernas curtas. A escassez arrisca-se a ficar indelevelmente associada ao PAI. Toda a gente sabe onde conduz a política de intervenção estatal nas regras do mercado: à total ineficiência. O próprio PAIGC é, aliás, um caso de estudo nessa matéria, tendo conduzido o país à mais absoluta escassez e mesmo à hiperinflação. Repondo a liberdade de mercado, o presidente cumpriu apenas o seu papel de fiel da balança.

O Primeiro-Ministro fez definitivamente uma péssima escolha para foco do conflito institucional com a Presidência. Quanto mais depressa recuar, melhor.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Reacções às declarações de Macron

As declarações televisivas de Macron provocaram a euforia no Níger, sendo vividas como uma vitória nacional, mas sem ilusões: "vamos continuar a manifestar até à saída do último soldado francês". 

Já em Paris, foram vividas como nova humilhação, imputável à irresponsabilidade e paternalismo retrógrado do presidente; uma terrível confissão de impotência, depois de toda a fanfarronice; ou mesmo derrota e humilhação em toda a linha, após semanas de arrogante obstinação, que só serviram para amplificar o efeito da retirada.

domingo, 24 de setembro de 2023

Macron engole o sapo?

Em entrevista televisiva, o presidente francês assume a evacuação em horas do ex-embaixador indesejado no Niger, mas ainda ousa tentar retardar a saída dos stressados soldados para semanas e meses? Pelo contrário, senhor presidente. No lamentável estado a que chegou, não tem liberdade para quebrar as regras. Tem de enfiar o 🐸 pela goela abaixo: mas não é pelas coxas, é pela cabeça. O ilegal é que fica para último. Vossa insignificância não tem qualquer noção das prioridades!

Nomeação oficiosa

É com muita honra que 7ze, informalmente designado consultor da Junta Militar, aceita a medalha de Niamey. 

Não há pão para malucos


A escassez "instantânea" voltou a atacar, tal como já tinha acontecido com o arroz. O mercado não se rege por decreto. Cinquenta anos depois, queriam cinquenta francos de troco? A duzentos há muito pão. Mas hoje não.

sábado, 23 de setembro de 2023

Pérfido Guterres

Recusar passivamente o pedido para substituir o anterior representante enquanto a situação interna de um país alvo de golpe de estado ainda não foi clarificada, é uma inércia admissível por defeito, a qual pode naturalmente fazer-se prolongar por algum tempo, ao sabor das influências. 

Contudo, o infiel secretário-geral das Nações Unidas, tudo fez para activamente despachar o pedido intempestivo do presidente deposto para demissão do representante permanente do Níger (que o próprio havia nomeado), impedindo assim o país de participar na Assembleia Geral. 

Ora, segundo o protocolo para o efeito, a figura de pedido de demissão nem sequer existe, apenas a de substituição por novo representante. Parece portanto forçoso concluir que se trata de uma infame inovação à revelia dos procedimentos normais e em claro excesso de zelo

Portanto, o tosco alienado aos interesses franceses e à opção bélica não se coíbe de desrespeitar as regras da organização, abusando dos poderes que o cargo lhe atribui. Onde já se viu um presidente que já não o é há dois meses nomear novo representante... "permanente"?

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Macky rende-se

O presidente senegalês, desculpa-se perante Paris quanto à "traição", imputando-a a Tinubu e suas diligências "subterrâneas" junto da Junta Militar (cujo representante também está em Nova Iorque, recebido na ONU - mais um sinal de reconhecimento internacional). Rendendo-se às evidências, defende que sem a Nigéria, nada feito. 

Na base que deveria acolher o grosso da força invasora, os sinais são igualmente de desmobilização. Até Talon já percebeu que assim fica isolado e não seria de estranhar que apareça em Niamey para desfazer qualquer dúvida remanescente. Macron já só pode contar com Ouattara para manter as aparências; a CEDEAO morreu.

E agora, senhor presidente Macron? 

Incompetência

Seydou Diagne não deveria ser citado, pois não é digno sequer de nota: a sua absoluta incompetência profissional leva-o a aceitar um processo político sem pés nem cabeça. Se fosse um bom profissional, declinava e avisava o seu cliente quanto aos custos políticos mais que garantidos, claramente muito superiores aos parcos proveitos que poderia auferir com uma mais que improvável vitória. O culpado não é o coitado do advogado enganado para alinhavar estas incongruências, é obviamente o pretenso estadista ex-presidente Bazoum, acometido de absoluto delírio, tal como seu parceiro Macron, na farsa de mau gosto encenada em Niamey. 

Se o deposto percebesse alguma coisa de Excel, seria possível explicar-lhe por que razão este assinala alerta de erro às referências circulares. Se percebesse de política, perceberia que se está formalmente a contradizer. Se percebesse de diplomacia, perceberia que está a reconhecer as autoridades de facto. Se percebesse de senso comum, talvez lá fosse com a metáfora da pescadinha de rabo na boca. Nem sequer é preciso saber muito de Direito para perceber que, estando o Níger suspenso, será complicado vincular o país, sendo areia a mais para a rudimentar jurisprudência e legislação comunitária, pela imensidão de questões que levanta. 

Não é preciso ir muito longe para compreender que qualquer bom juiz burocrata do dito tribunal declinará rapidamente a batata quente, declarando-se incompetente, nem que seja a pretexto territorial, isto se o processo não for travado antes por inadmissibilidade patente. Enquanto se mantém uma ameaça de utilização de força militar, tal sobrepõe-se obviamente a qualquer outra diligência paralela. Atendendo a que essa meia franco-"CEDEAO" (da Costa do Marfim, Senegal e Bénim), só lhe reconhece autoridade a ele mesmo (contra a outra meia, do Burkina Faso, Mali e Níger), alguém explique ao imbecil que não se pode processar a si próprio. 

Por mais diligentes e voluntariosas que sejam as instâncias da obsoleta "comunidade", primeiro fracturada e depois estilhaçada, a iniciativa está obviamente condenada a ser ultrapassada pelos acontecimentos e remetida ao esquecimento, de onde nunca deveria ter saído. Condenar o Estado do Níger por violação dos Direitos Humanos, uma retenção domiciliária podendo conservar os meios de comunicação e receber visitas? Mais um motivo de chacota. Se o ridículo matasse, este caso já estaria resolvido. "En cas de décision favorable, l’État du Niger aura l’obligation juridique d’exécuter la décision". Mais l'État c'est pas vous, monsieur le "président"?

La grogne gagne les troupes

Ouest France, conotado com o centro-direita, é o diário mais vendido em França desde 1975. Contribuiu bastante para promover Macron, quando o infiltrado ainda se dava ao trabalho de fingir que era de esquerda (apesar de já afectar traição) ajudando-o a captar o voto de direita. É este jornal, a quem este tudo deve, que se decidiu a violar o "acordo de cavalheiros" (ou a lei da rolha do presidente com conversa fiada de "interesse nacional" e de confidencialidade militar, para abafar aquilo que se passa no Níger) levantando o véu sobre o contingente sitiado, traduzindo um nível de stress muito diferente daquele que pretende fazer constar o macarrónico discurso oficial. 

As autoridades nacionais fiscalizam a passagem entre componentes do perímetro? Ahahahah. Se calhar até espreitam, se forem mictar ao fosso anti-carro que andaram a cavar... Deveriam estar preocupados em escavar bunkers, ou acham que o ar condicionado que insuflam nas lonas vai fazer efeito de airbag, com umas tantas morteiradas? É com tropas desmoralizadas, acagaçadas e subnutridas, que vão salvar o ilegal que se refugiou na embaixada, do outro lado da cidade? E as guarnições de Ouallam e Ayorou, entregues à sua sorte? Ouallam está a cem quilómetros de Niamey em voo de andorinha, já Ayorou está a mais de duzentos, mas a apenas vinte da fronteira do Mali e sessenta da do Burkina.

Apesar de "estar por um fio", ainda não se encetaram sequer as hostilidades no terreno, mas o Níger já se tornou um inferno para os teimosos invasores.


PS A revista Jeune Afrique, que mais não tem feito que papaguear a voz do dono, agora replica títulos para os esvaziar. Será deontologicamente aceitável, no curto espaço de menos de 24h, que utilizem um título da concorrência, mantendo o substantivo significante apenas trocando verbo e sujeito por sinónimos, na mesma ordem e tempo? La grogne gagne les troupes (OF) > La grogne monte dans les casernes (JA). Trata-se obviamente de uma fake em jeito de retaliação mediática taco a taco de Macron, imputando-a ao inimigo burkinabé, ao mesmo tempo que encomenda bombardeamento do aeroporto de Timbuktu, para desmoralizar o inimigo maliano. Estamos em plena guerra da (des)informação.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Cabeça no cepo, bunda ao léu

Sob o falso pretexto do relançamento do projecto de carro de combate franco-alemão, o cornudo enrolou o seu homólogo alemão, para uma "rara conferência de imprensa conjunta", segundo reporta o Le Monde. Pelo meio, emprestam-se ao ministro da defesa Pistorius as declarações "Nos militaires sur place ne sont pas actuellement en danger", referindo-se aos cem militares germânicos que permanecem ao lado dos franceses no Níger. O exemplo de "reposicionamento" americano parece que não foi suficiente para o elucidar acerca dos riscos que espreitam esta tropa. Uma declaração política destas a seco, só pode, como é óbvio, significar o contrário. O godo com nome em latim está todo borrado e os referidos militares enfrentam perigo iminente por uma causa perdida, ainda para mais alheia. Valem o que valem, as garantias de segurança de Macron, cujo objectivo é óbvio: fingir que não está assim tão isolado na Europa quanto efectivamente está, relativamente a uma intervenção armada, fanfarronando com mais uma centena de voluntariosos reféns, para além dos já constituídos.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Remember Mogadiscio

"Estamos ali perto" referia o General Rica Couve. Será que olhou para o mapa? A proximidade é sempre uma noção relativa. Neste caso, a embaixada situa-se do lado precisamente oposto da cidade, em relação à base aérea 101, onde se encontram cercados um milhar de militares franceses. Ou seja, caso a Polícia nigerina se decida a cumprir as ordens recebidas para proceder à detenção do imigrante ilegal, terão de atravessar a cidade a toda a velocidade para proporcionar ao desgraçado a "segurança" que lhe garantiram. Não parece muito avisado utilizar os helis no perímetro apertado, atendendo à fartura de fogo em alerta nas redondezas. 

Em caso de início intempestivo das hostilidades por parte dos agressores, Paris pode esperar um assalto ao mais fraco dos seus enclaves, o que obrigará a que façam sair da sua base principal um número significativo de homens, cuja coluna terá de se estirar ao longo de um percurso de quilómetros, criando oportunidades para múltiplas emboscadas. Tentar usar a base aérea representa obviamente um risco demasiado grande para que algum aluno de Saint Cyr, mesmo sofrível, ouse assumi-lo. Os paras ganharam conhecimento do terreno, mas os aviões não podem voar baixo o suficiente para a largada, seria como uma sessão de tiro aos patos.

Descrédito absoluto

Ao mesmo tempo que Macron primava pela ausência na Assembleia Geral da ONU, a França mobilizava declarações formais de apoio da UE e dos EUA ao governo Bazoum, argumento que pretende invocar como pretexto para a intervenção militar unilateral em Niamey, desautorizando por completo a organização. 

Note-se, através da última informação, que Tinubu, também em NY para a AG, declarou ser "the one stopping the ECOWAS from deploying soldiers in Niger". De primeiro promotor a último detractor da agressão prevista, o presidente da Nigéria percorreu já um longo caminho, nestes cem dias iniciais do seu mandato.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

7ze, na ponta da informação francófoba

Emplastro, o meio de comunicação social mais bem informado a nível mundial, em plena época de caça ao pato Macron armado em falcão. 

Violenta revolta arrisca-se a tomar conta da capital francesa (a Bastilha tendo sido demolida, sugiro o Champ de Mars ou o quilómetro zero, vulgo a rotunda Estrela, a pretexto do rebaptismo do mamarracho que por lá campeia, como Arco da Derrota, assinalando o maior desastre do exército francês desde Junho de 1940) quando estourarem as fatídicas notícias de dezenas ou centenas de jovens militares mortos e a humilhação dos sobreviventes. O mês de Junho deste ano vai parecer uma brincadeira de férias, comparado com aquilo que o espera nas ruas de Paris, depois do massacre no Níger.

Em França muita gente se começa a aperceber do "beco sem saída" no qual Macron se deixou encurralar, falando em "barril de pólvora".

Motivo de chacota ontem em Niamey depois das suas idiotas declarações classificando o indesejado como refém, Macron fez tudo para censurar a cacha preparada pela cadeia televisiva Russia Today, incluindo entrevistas aos residentes, bloqueando-a em várias redes sociais, a pretexto de ser ofensiva contra "chefe de estado". O bebé mimado não suporta que digam a verdade, mas não hesita em obrigar a sua Agência de Notícias a inventar fakes, para criar diversões prestando efémera cobertura às humilhações resultantes das suas estapafúrdias decisões. Afinal, quem desinforma em África?

O Rei em Rabat, Macron

Por incrível que pareça, a atitude de Macron relativamente ao Níger, está a provocar uma aproximação anti-francesa entre o presidente argelino e o rei marroquino, países tradicionalmente adversários: para tentar furar o isolamento em que o seu chefe a colocou, a neoColonnalista esticou a corda, Sua Magestade não apreciou a descortesia, tratou-a como libertinagem da feiosa e colocou-os rapidamente aos dois no respectivo lugar. 

Ah, e o presidente também, Macron. 


PS Ainda propósito do título e em bónus, um genial jogo de palavras brasileiro : SOCORRAM-ME, SUBI NO ÔNIBUS EM MARROCOS

Na brasa

Quando há jornalistas reportando que os boatos de golpe de Estado "now" se basearam em rumores persistentes que circulavam ontem de manhã em Brazzaville, estas não devem ser classificadas como simples fakes: eventualmente numa subdivisão lineana do estilo "self-fulfilling prophecies", como obra de desejo colectivo.

O Le Point, que desde o início da crise nigerina se destacou pela sua linha editorial muito céptica relativamente ao papel de Macron, publica hoje uma crónica de Tierno Monénembo, intelectual guineense, lembrando o militar íntegro, cujo resgate da prisão deve ser o objectivo número 1 do futuro e já ineluctável golpe.

neoCOLONNAlisme

A MNE francesa, cúmplice do alienado, foi até à Assembleia Geral das Nações Unidas para martelar a estafada posição de negação, insistindo que o seu ex-representante, sem autorização de residência, vai ficar em Niamey "enquanto assim o desejarem", negando que o mesmo corra qualquer perigo, apesar de estar cercado e à mercê de uma operação policial, para execução da ordem de detenção em curso. 

Enquanto isso, o Kremlin convoca o embaixador francês em Moscovo sob pretexto fútil, para transmitir a Macron a extensão do protectorado ao Níger. A nova Federação dos 3 países golpistas está disposta a enfrentar a ameaça implícita que as palavras de Colonna comportam, contando com o apadrinhamento russo... significando que deveriam abandonar a displicência e começar a levar as coisas um pouco mais a sério.

Ao mesmo tempo, espicaçado pela opinião interna beninense, acusando o governo de ainda não ter tomado posição sobre denúncia da invasão prevista a partir do seu território e a rescisão unilateral dos acordos militares recentemente assinados, este calcanhar de Aquiles da francofonia apressa-se a protestar obediência canina ao dono, no mesmo registo de irredutibilidade, de retórica belicista e incendiária.

Não há fumo sem fogo

Para efeitos arqueológicos: ao princípio da tarde, propagava-se via redes sociais um suposto golpe de Estado no Congo "francês". Ainda antes de transpirar para notícias, por volta das 18h de Bissau, Thierry Moungalla, ministro de N'Guesso, publica na Plataforma X, o antigo twitter, um desmentido tranquilizante, classificando tais "notícias" como fakes. Pouco depois, tanto a CNN como a BBC reportam que as tentativas para confirmar o boato se revelaram infrutíferas. Contudo, a própria pressa em desmentir a simples fake, revela o mal estar de Sassou, que pouco tem dormido com medo de se tornar no próximo (até já partilhou a insónia com o presidente angolano). 

Mas há mais elementos a considerar: será pura coincidência ter sido anunciada, um dia antes, uma frente comum da oposição para contestar a legitimidade do Presidente, propondo uma transição de dois anos no fim da qual este seria excluído das eleições? É no mínimo curiosa, todavia, a ameaça quase explícita no discurso do porta-voz, quando defende que com essa bondosa proposta estão a estender a mão da paz ao presidente e que o melhor seria este aceitar, para evitar "soluções extremas". Num artigo que reporta tais declarações, o jornalista interrogava-se mesmo se não estariam a avisar N'Guesso quanto um eventual golpe... a nova fobia ameaça tornar-se auto-realizável.

PS Muita gente embarcou. Não há dúvida que a fruta está madura e pronta a ser colhida. A francofobia em brasa em Brazzaville! e ali mesmo à vista, em Kinshasa, no outro Congo, o mesmo se passa com a onufobia.

sábado, 16 de setembro de 2023

Rica couve

A título de comentador televisivo, o General Richoux (ver minuto 13) dá parte da arrogância militar do exército francês relativamente às suas "emprises" em solo nigerino. Então o senhor General assume confiança absoluta nas suas forças especiais, garantindo facilidades em território inimigo? Segundo as suas palavras, estão ali perto, abrem caminho à Rambo, são invulneráveis e é impossível que algo corra mal. O mais chocante nem sequer é este absoluto desprezo pelo adversário, o qual só de si já é facilmente passível de se converter em derrota. Transmite informação importante: confessa que contam com a operacionalidade do aeroporto para fins tácticos, evidenciando o perigo, aqui cedo enunciado, que representa a base aérea como eventual testa de ponte para um desembarque aero-transportado. O que o senhor General não atentou foi nos avisos de Putin, desaconselhando vivamente a agressão ao Níger depois da passagem dos emissários de Goïta, os quais após reportarem seguiram para Niamey, hoje confirmados pelo reaparecimento de Surovikin do purgatório Prigozhin, com escala em Alger a caminho do mesmo destino. O que só pode querer dizer que a Junta conseguiu finalmente que o paizinho enviasse o necessário para dissuadir qualquer tentativa no sentido de descolar ou aterrar na "sua" base aérea, senhor General. Nas cercanias, não será difícil aos sitiantes escolher o(s) local(is) adequado(s) para instalar o(s) equipamento(s), fechando o eixo pelas duas pontas. O senhor General deveria mas é dedicar-se à agricultura e ir plantar legumes, que estas coisas da guerra são complicadas demais para a sua desmesurada cagança. A tragédia anunciada parece avizinhar-se a passos largos.

Auto-refém

Macron faz-se refém a si próprio e ainda vem publicamente reclamar. Onde já se viu um refém recusar um convite para sair do cativeiro? Síndrome de Estocolmo? O "refém" ainda reclama da comida? Alguém poderia explicar ao bebé mimado e adolescente psicopatausurpador do Eliseu, que opções têm custos?

Macron continua a alimentar a grande fogueira de ridículo em que arde: é obrigado a explicar-se, depois de ofício tentando ostracizar os artistas dos 3 (Burkina, Mali e Níger), medida que caiu muito mal no meio cultural e lhe valeu o desprezo de Jean-Luc Mélenchon apodando-o muito justamente de grande inquisidor.

Enquanto a Air France mantém a sua suspensão de voos para os 3, esperava ansiosamente a reabertura do espaço aéreo nigerino, para evitar grandes desvios para outros destinos, aproveitando de imediato para o atravessar. Já Air Algérie e Royal Air Maroc apressaram-se também para suprir o vazio como oportunidade de negócio...

PS Uma vez mais, os mimos não são meus, mas sim de um reputado líder da oposição, François Asselineau. Uma pequena amostra de comentários em media e vídeos do YouTube permite rapidamente chegar à sólida conclusão de que a opinião pública francesa já se apercebeu da perigosa realidade e da doença mental em fase terminal do seu ainda presidente, havendo cada vez mais gente a propor, para resolução do "impasse" africano, a respectiva demissão. Nem os artistas, nem os nigerinos, deveriam pagar pelas decisões dos seus governos: mesmo que sejam todos ou quase todos favoráveis à Junta. Como retaliação a estas medidas persecutórias, num contexto de reciprocidade negativa, a Air France poderia ser visada por uma exclusão particular do espaço aéreo comercial. 

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

666

No fim de semana fui até à Baiana para trocar uns tantos euros que tinha. O desafio era provar que conseguiria uma taxa de câmbio acima da média oficial de 656 francos CFA por cada euro. Entre as funções do BCEAO, que possui imponentes agências em cada um dos 8 países da UMOA, figura a de garante dessa paridade fixa. São admissíveis e compreensíveis pequenas variações centradas nessa média e a banda de variação cambial na rua, de cerca de 30F, é tradicionalmente desfavorável ao franco CFA. Contudo, até há cerca de um mês, nunca essa banda havia furado os limites oficiais. Ora consegui trocar os meus euros a 666 francos cada um! Explicando por miúdos: se o BCEAO é suposto disponibilizar os euros a 656, pelo menos ao sistema bancário, como é possível que eu consiga 10F a mais, se o cambista também tem a sua margem? Para que haveria de mos comprar a mim, se os pudesse comprar mais baratos muito oficialmente? Outro elemento a considerar é que o "deslize" ocorreu no curso de uma única semana, tendo decorrido há já mais de um mês, mantendo-se essa "paridade" de rua inalterada até agora. No mínimo estranho. Uma explicação que parece plausível consiste no arranque de um movimento especulativo que o Banco de França terá sido obrigado a travar, suportando a nova paridade informal recorrendo às suas reservas. Por razões políticas, parece óbvio que não haverá desvalorização declarada até à resolução do "impasse" Níger. Mas e depois? Quo vadis, CFA?

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Traquée au piège, vaincue et evincée

Le Niger est le cercueil de la France en Afrique, ainsi que celui de la CEDEAO. L'acharnement belliqueux auquel on assiste de la part de l'incendiaire qui préside à Paris est une folie, comme l'annonçait déjà il y a un mois Renaud Girard, le plus célèbre journaliste de guerre au Figaro. Mais Macron n'est soucieux ni de l'opinion consacrée ni des conséquences, a perdu tout sens d'État et est tombé en plein délire, contaminant les quelques chefs d'État africains qui restent - encore mais pas pour longtemps - à la francophilie, lesquels l'on peut désormais compter par les doigts d'une seule main. C'est le tout pour rien.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Bater à porta errada

O quay d'Orsay reclama a libertação do cidadão francês Stéphane Jullien, preso há uns dias pela polícia. É normal. Contudo, como não reconhecem as autoridades de facto, presume-se que o destinatário seja o presidente Bazoum. A França está a cobrir-se de ridículo, no Níger. 

Quem o diz é o carismático líder da oposição Hama Amadou, até aqui no exílio precisamente em Paris, que decidiu voltar ao seu país ameaçado, como bom patriota, manifestando o seu apoio à Junta Militar e identificando claramente o problema: o macro-ego de Macron.

A linha editorial do Le Monde, a qual deu inicialmente alguma cobertura a Macron, inflectiu finalmente, perante as evidências, intitulando artigo, na sua edição em inglês: France must get out of Niger trap. O ainda presidente está cada vez mais isolado, tanto externa, como internamente.

PS Num caso normal, um cidadão estrangeiro como este, acusado do gravíssimo crime de alta traição, por tentar entregar uma pizza ao sem papéis, em violação flagrante das novas leis do país, as quais proíbem qualquer apoio ao sitiado, seria visitado na prisão pelo seu embaixador.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Chá de qualquer erva

Para os nervos, é do melhor. Talvez devam servir uma taça (claro que de cicuta seria mais eficaz, do ponto de vista dos interesses que este jurou defender) ao senhor presidente, no palácio do Eliseu, quando lhe anunciarem que a sociedade civil chadiana está a exigir a partida das forças francesas e a denunciar os acordos bilaterais, alinhando-se com os seus irmãos nigerinos, a pretexto do assassinato de um soldado nacional por um estrangeiro, mas para o qual existem versões desencontradas: numa versão defendem ter-se tratado de legítima defesa de um enfermeiro quando atacado pelo paciente, noutra há um segundo interveniente que age em defesa do primeiro. Parece óbvio que a pressa de Paris em exfiltrar do país o(s) envolvido(s) só veio contribuir para o agravamento da situação, como ofensa soberana por evasão, antes do esclarecimento dos factos, à jurisdição local. Lembre-se que o jovem herdeiro apadrinhado em Njamena, inicialmente dado por garantido por Paris contra o Níger, antecipou-se ao próprio Tinubu a roer a corda rota estendida, apercebendo-se imediatamente do perigo para o seu frágil poder, que pretende consolidar.

Terrorista suicida

O louco masoquista Macron, já demitido por Jean Luc Mélenchon (depois de assumir as suas fraquezas e frustrações) perdeu as estribeiras, em plena cimeira do G20, onde a sua agenda pessoal se limitava precisamente a um encontro com o presidente nigeriano Tinubu (para o convencer a, pelo menos, avalizar a agressão francesa ao Níger), ao ser confrontado com o comunicado oficial da Junta Militar, acusando-o de "manobras sub-reptícias e dilatórias" relativamente à expedita retirada que estava em cima da mesa (generosa oferta, diga-se de passagem, para limitar a desonra da França). 

O discurso cansado de Macron, é pior que K7 ou disco riscado: não reconhece as autoridades de facto. Mas que falta de originalidade e de memória: vamos lá reavivá-la e debelar a PP (puta do Parkinson). Já reconheceu, não uma, mas duas vezes: quando quis retirar os seus cidadãos; quando o general BB (Bruno Baratz) comandante "no Sahel" se encontrou com o CEMFA  General Moussa Barmou, com a intenção de evacuar guarnições francesas no interior, mais expostas a acção de envergadura. Voltamos à estaca zero, quer guerra por desaforo? Eliseu virou manicómio!

Após o mea culpa de BB em Maio, admitindo que antes tudo estava mal, chegando a falar em "desbarkanização" das forças francesas (terá acusado recepção do gozo do exército português?), pretendiam dar a impressão de terem aprendido a lição do Mali (onde, depois de terem feito m... também alimentaram um discurso "irredutível"). Mas afinal era tudo treta, agora viram o bico ao prego, deixando cair a máscara do discurso manso para vestir a pele do lobo. Só que este está desdentado (apenas para retomar Tinubu quando tentou renegar a sina de "toothless bulldog").

Internamente, o bronco va t'en guerre, até já foi acusado pelos meios eruditos de trair as regras de ouro da diplomacia de origem francesa, quando cometeu o impensável, recusando-se a evacuar o seu embaixador declarado persona non grata. Transpirou mesmo que tudo se trata de decisões unilaterais de Macron, sem consultar sequer os seus mais chegados, de quem se fez acompanhar na sua deslocação à Guiné-Bissau. Portanto, vejamos se percebemos bem: um desvairado impotente está a conduzir sozinho a França para um ineluctável matadouro sem que ninguém trave o maluco e o algeme?

Completamente isolado em termos europeus, contra sérios avisos aos quais deveria prestar a sua atenção, como aquele, bem precoce, de Itália ou um outro de uma jornalista francesa (aliás já anteriormente elogiada por este blog como profunda conhecedora da matéria em causa), está mais que visto que a França está refém de um alienado reincidente. La France fait pitié. Son arrogance mal déguisée, crystalisée à l'Elysée, va mal tourner très rapidement, suite à cet entêtement au négationnisme, typique d'une certaine masculinité toxique, abondante chez les ex-maris.

Imagine-se que o Império do Mali, tomando conhecimento da tomada da Bastilha e da revolução francesa, tinha tomado a decisão de enviar tropas para devolver o poder ao antigo monarca. Aliás, ao contrário do Níger, onde ninguém apoia Macron, estes sempre teriam os chouans e os vendéens a quem se juntar, para garantir uma aparência de legitimidade. Se Bazoum vier pois a ser degolado graças aos bons ofícios de Macron, depois não venham reclamar que se tratou de uma barbaridade, só porque o método empregue não pagou direitos de autor ao filantropo Monsieur de Guillotin.

O resultado mais que provável, para além do falhanço total, será a interrupção do efeito dominó em curso, suplantado por um efeito terramoto, ou melhor, bomba atómica, para retomar a expressão cataclísmica de "explosão primária" cunhada por Leslie Varennes, com a queda instantânea e simultânea dos ainda ditadores da CEDEAO fantoches da França, na Costa do Marfim, Senegal e Bénin. Dans l'ordre ou dans le désordre, comme au tiercé. C'est possible que Faure arrive à s'en tirer au Togo, tenant compte qu'il n'est pas aussi con que les autres pour se faire trapper à ce piège.

PS Não foi por acaso que escolhi o título para este artigo: foi por hoje ser dia 11 de Setembro. À excepção deste, os outros mimos com que brindo o abominável visado, no corpo do texto, são extraídos dos artigos de opinião franceses citados. 

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Entradas de leão, saídas de carneiro

Apesar de todos os silogimos que possam encontrar, Macron sai do Níger com o rabo entre as pernas. E o primeiro prémio vai para "as autoridades francesas procuram adaptar a sua presença na região em consequência do golpe de Estado. Na sequência do ocorrido, os responsáveis franceses encetaram discussões com os seus homólogos nigerinos para avaliar as possibilidades de um alívio dos movimentos dos recursos militares franceses". Homólogos? Em que ficamos? Reconhecimento?

É só a nível local, informa a AFP, citando o Ministério do Exército, não com a Junta, apressando-se a acrescentar. Até aqui, era o Porta-Voz do Estado-Maior que fazia esse papel, empurrando agora tal ónus para o governo, pois obviamente não gostam da palavra "retirada", a qual a AFP frisou não constar do discurso oficial. Se consultassem a cartilha descobririam que a metáfora certa é "reposicionamento estratégico". Fontes bem informadas do Le Monde garantem que vai começar por Ouallam e Ayorou.

domingo, 3 de setembro de 2023

Despertar doloroso

O desinteresse do protocolo presidencial, com convites em cima da hora (marcado para as 15h, ao meio-dia muitos ainda não tinham recebido o telefonema) permite suspeitar que a estranha e inesperada iniciativa de Macron, ao convidar os líderes da oposição para um jantar franco e recatado, logo após a conferência de embaixadores, era obviamente para tentar um consenso "nacional" sobre o Níger, caso a situação rebentasse. Aparentemente, a opinião pública francesa dá mostras de se manter relativamente alheia à situação, inconsciente dos perigos que espreitam. A imensa maioria daquilo que foi publicado pela imprensa, sobre a referida "sessão de trabalho", focou aquilo que se passou depois do jantar, debruçando-se sobre os últimos dois pontos, concernentes à situação interna, os quais não passavam obviamente de areia atirada para os olhos, transformando-se em pura manobra de diversão política. "A montanha pariu um rato", como se escreveu num artigo em inglês, traduz bem a impressão que sobrou de tal encontro.

O mais interessante, acaba por ser o episódio que transpirou: a irritada e gratuita reacção de Macron face à proposta de redução dos actuais dois mandatos de sete anos presidenciais para um único. Terá exclamado que a limitação a dois mandatos foi uma "funeste connerie" - aprovada por Sarkozy em 2008, a qual o impede de se poder candidatar às próximas presidenciais - acrescentando que, "quem não se pode recandidatar perde o poder desde o primeiro dia". O que terá levado Jean-Luc Mélechon a concluir que "Macron a craqué", que o seu "reinado" acabou, e que já estamos na era pós-Macron, sugerindo mesmo um referendo para antecipar o termo do seu mandato. Só depois da enorme manifestação popular de ontem, com dezenas de milhar de pessoas e reconhecidamente a maior desde o golpe, à porta da base aérea onde estão cercados os militares franceses, o líder da France Insoumise parece ter acordado para o beco sem saída no qual Macron colocou o seu país. A partir de agora, tudo pode dar para o torto...

sábado, 2 de setembro de 2023

Fugiu-lhe a boca para a verdade

O Porta-Voz do Estado-Maior francês decerto não mediu bem as suas palavras. Nas suas ameaças, utiliza a palavra "emprise" para definir os "enclaves" franceses em território nigerino. O dicionário Larousse faz autoridade sobre o assunto:


Todos os sentidos da palavra apresentados, incluindo os sinónimos, são altamente comprometedores, implicando: 

1. Ascendente intelectual ou moral de alguém; influência de alguma coisa sobre uma pessoa.
sinónimos: ascendente - império - influência 
2. Tomada de posse pela administração de propriedade privada imobiliária.
3. Incorporação no domínio público de superfície ocupada por uma estrada, via férrea - ou aeroporto - e suas dependências 
Psicanálise
4. Relação de domínio, de manipulação e de maus tratos, utilizando a violência psicológica 

Os militares limitam-se a traduzir o espírito das instruções recebidas, contudo revela uma terrível falta de tacto, é anti-diplomático e muito susceptível de irritar os pan-africanistas, acirrando ainda mais os ânimos contra a França de Macron.