quinta-feira, 26 de outubro de 2023
Honte et infamie au Tchad
Basta ver as caras dos Generais da Junta na tomada de posse do novo Ministro da Defesa, para se perceber que a coisa não vai ficar por aqui. Num país altamente militarizado como o Chade, o ministério dos militares ocupado por um civil? O qual "por acaso" estava em Paris. Mais difícil de atribuir ao acaso é o facto de ser tio da envolvida no vídeo vazado nas redes sociais que conduziu à demissão do seu antecessor, filmado pela própria filha. As insinuações de rapto das raparigas, que surgiram nas horas seguintes à divulgação, eram obviamente falsas. Os chadianos já perceberam que a nomeação é o prémio da infâmia. As redes sociais, com destaque para o tiktok, enchem-se de declarações repudiando a farsa, entre as quais a de um deputado. Os chadianos estão de alma e coração com os seus irmãos nigerinos, malianos e burkinabés, no sentimento anti-francês. Decerto não agrada aos generais ter de disparar contra o seu povo, pelos bonitos olhos de Macron. O próprio conselho de ministros que Déby promoveu esta manhã na presidência não parece ter corrido muito bem, dando origem a mais uma demissão no Governo...
sexta-feira, 20 de outubro de 2023
French Army is outsourcing risks
Enquanto o discurso do General Ozanne se foca na data limite de 31 de Dezembro, o seu homólogo nigerino na Comissão Conjunta de Estados-Maior, frisa que só hoje, saíram 282 dos 1400 soldados franceses em retirada, do Níger para o Chade, e que brevemente metade do objectivo estará cumprido. Apesar de tudo ter corrido bem com a primeira coluna, havendo muito volume para fazer circular pelo mesmo caminho, o exército francês, "subcontratou" empresa civil de transporte, tratando o material como mobiliário numa simples mudança de casa. Chega-se ao cúmulo de invocar "transparência" para a passagem dos 2500 contentores. Estão muito preocupados com as aparências.
Patriotismo
A demissão do General Daoud Yaya Brahim é simples pro-forma, com pouco significado informal, para além do regime ter ficado coxo. As responsabilidades assumidas perante a Nação, bem patentes na forma determinada como falava (por exemplo negando o envolvimento do Chade na operação militar da CEDEAO contra o Níger), não se extinguem.
Apenas retira o tapete usurpatório que a Junta tinha estendido ao filho do papá, cujas circunstâncias mortais estão longe de clarificadas. É óbvio que a demissão, mesmo tendo sido aceite pelo Primeiro-Ministro fantoche, de nada vale, pois para tal carecia ser submetida à Junta Militar, à qual pertencem os supostamente publicamente humilhados.
O povo já decifrou o oportunismo subjacente à divulgação das encenações, estendendo-o à própria produção, entendendo tratar-se de armadilha para chantagem política. Em suma, a máquina está à espera de ordens de Vossa Excelência: não será um pseudo-escândalo, inventado de todas as peças, que vai travar o curso da História.
quarta-feira, 18 de outubro de 2023
Golpe e contra-golpe
O Ministro da Defesa do Chade, pertencente à Junta Militar que "legitimou" Déby filho, consciente do peso da opinião pública e da pressão para a desfrançafricanização, manifestou-se contra a entrada da coluna francesa que está a caminho, declarando que não tinham sido convidados. Ao mesmo tempo procedia ao lançamento do há muito esperado plano de reconciliação nacional, que visa o retorno ao país dos rebeldes acantonados no estrangeiro, anunciando dispor de cinco milhões de dólares da ONU e precisar de mais 27 milhões para o completar, estimando tratar-se de "processo caro e moroso que o Níger não pode suportar sozinho" (tentativa de extorsão a Macron?). Declarações que constituiriam mais uma terrível humilhação, mas que a máquina do Eliseu, tirando proveito do foco mediático em Gaza, conseguiu incrivelmente abafar, nomeadamente instruindo o Le Monde para dar esta notícia enrolando sem nexo factos antigos com recentes.
A reacção não se fez esperar. Macron chamou o seu homólogo de urgência. Sem qualquer aviso ou notícia, o obediente Déby despachou-se e a esta hora já está em Paris para negociações. Contudo, como ponto prévio, Macron exigiu a cabeça do atrevido Ministro da Defesa. Este acaba de apresentar a demissão, tal como outro colega, hoje na sequência da publicação de vídeos, armadilhados com jovens raparigas, que entretanto os serviços fizeram convenientemente desaparecer. Ou seja, o senhor presidente terá assumido ter-se tratado de um pronunciamento se não mesmo tentativa de golpe e decidiu queimar o alicerce securitário do seu regime. Ao general Daoud Yaya Brahim e futuro presidente do Chade, manifesta-se solidariedade, face a esta insidiosa tentativa de contra-golpe. Estando prevista a estadia em Paris para vários dias, isso dá tempo suficiente para a organização do contra-contra-golpe, a executar à chegada ao aeroporto do avião presidencial.
quarta-feira, 11 de outubro de 2023
Calvário
A retirada francesa a caminho do Chade prolonga-se pelo caminho mais longo, decerto passando por Maradi e Zinder, num percurso rodoviário encostado à fronteira da Nigéria, o qual expõe a coluna a manifestações espontâneas de hostilidade, por parte da população.
Outra questão importante é saber se alguma parte do material voador não deveria ser legitimamente apreendida, dada a decisão de retenção por Paris de dois helicópteros Gazelle de ataque ao solo, pertença do exército do Níger, em França para reparação.
sábado, 7 de outubro de 2023
Escoltados até à saída
Estados-Maior reunidos em Zinder para organizar a retirada das tropas francesas do Níger, que a Junta fez questão de filmar, para depois não se esquecerem. As caras e as mãos dizem tudo...
PS 7ze reconhece que errou no post citado, ao referir-se ao General Bruno Baratz. O actual comandante das forças francesas no Sahel é, desde início de Julho, o General Eric Ozanne, que já deve estar mais que arrependido de ter pedido o cargo: mal teve tempo de engraxar as botas, chega ao "teatro operacional" cai-lhe o Carmo e a Trindade em cima. A porta da rua é a serventia da casa. À Saint Cyr on n'enseigne pas Pétain? Putain!
sexta-feira, 6 de outubro de 2023
Declaração extemporânea
Os Estados Unidos fazem aparente marcha-atrás e classificam oficialmente a situação no Níger como "Golpe de Estado". A administração parece querer alimentar a ambiguidade, abrindo espaço para uma eventual intervenção franco-CEDEAO, mas colocando a sua base de Agadez em maus lençóis perante os nigerinos, os quais até aqui tinham poupado os americanos às manifestações de hostilidade.
quinta-feira, 5 de outubro de 2023
Canto do cisne na ordem da semana
Aquando do reconhecimento implícito das novas autoridades do Níger pelo Quay d'Orsay, durante a evacuação civil no imediato pós-golpe, o Estado-Maior apressou-se a declarar que a evacuação militar "não estava na ordem do dia". Associava-se assim à imbecil "emprise" política que a arrogância de Macron se dispunha a encetar. Na mais absoluta e absurda negação, relativo à perversa herança de uma FrançAfrique sem caminho, arrastou o exército francês para um injustificado stress e para a lama de uma desonrosa retirada. Usando a metáfora de Tinubu para a CEDEAO, o terrível bulldog lá ladrou, ladrou, sem reparar que todos viram como estava desdentado. Agora trata-se de engolir o sapo, dando o dito por não dito. O papel do Estado Maior não é envolver-se em política, ao custo da sua própria credibilidade: assim, terão de partilhar com o Eliseu os custos da vergonha. A retirada das forças militares não estava na ordem do dia, mas agora já está na ordem da semana. É um princípio. Também o reconhecimento das autoridades não é já simplesmente implícito, mas sim perfeitamente explícito, quando se referem à necessária "coordenação com os nigerinos". Só que estes não obedecem ao Palácio.
PS Obviamente que a Junta está pouco inclinada a "deixar manobrar livremente" as tropas, como se queixa o Estado-Maior, sem garantias de evacuação como um todo, no âmbito de um quadro concertado e não como decisão unilateral. Face às declarações insistentes de manutenção da ameaça militar de alguns países da CEDEAO, não é crível que a Junta tolere um reagrupamento em Niamey, sem a partida prévia daqueles militares que já lá estão, para lhes dar lugar. D'abord, Niamey, d'accord?