terça-feira, 16 de junho de 2015

Não cortar a árvore pela raiz

O Gabinete do Primeiro-Ministro, de forma um tanto ou quanto obtusa e narcisista, propõe um exercício de confiança à sociedade, sugerindo a imagem de uma árvore. A raiz dessa árvore, segundo o método exposto, seria a confiança entre as instituições de soberania; o tronco a confiança na Justiça e Segurança (polícia e forças armadas); os galhos seriam os meios de comunicação social, o poder tradicional e as crenças culturais, que alimentariam a confiança das folhas, neste caso, os cidadãos e as cidadãs.

A imagem parece aliciante, no entanto, não se percebe muito bem o estilo paternalista e autista do discurso. Qual a intenção do Senhor Primeiro-Ministro com esta iniciativa de «governança»? Se fizermos uma abordagem botton-up (a árvore cresce de baixo para cima, portanto corresponde àquilo que entendemos por top-down), poderemos perceber facilmente que aquilo que encrava, neste momento, na Guiné-Bissau, é a «confiança entre as instutuições de soberania», sem a qual a árvore não pode «funcionar».

Ora essa parte é da responsabilidade solidária do Senhor Primeiro, juntamente com os Presidentes da República e da Assembleia. Pretenderá o senhor Primeiro-Ministro maquilhar a realidade, que está aos olhos de toda a gente? Esconder que perdeu completamente a autoridade e não tem vocação para governar? Como pode alguém confiar num Estado que expropria madeira e areia, sem qualquer enquadramento legal, deixando apodrecer a situação, envolvendo países estrangeiros?

Ou cujas providências cautelares não são cumpridas? Onde, apesar de ameaças de auditorias, nada foi feito para apurar as contas que eram legitimamente exigidas numa Câmara de Comércio, permitindo uma tomada de posse ilegítima? Como falar depois levianamente de impunidade, se é o próprio a incentivá-la? Reunir um Conselho de Ministros com um Secretário de Estado em prisão preventiva? Com outro Secretário de Estado que «negoceia» com mafiosos, candidatos a «Companhias Aéreas» de bandeira?

Vossa Excelência deveria mudar de espelho, pois aquele que tem usado está decerto viciado, revelando a sua incomparável beleza mas ocultando lamentavelmente as suas imperfeições. Do «triunvirato» que as eleições legaram ao país, o maior responsável nominal é Vossa Excelência, que escolheu (erradamente) o cargo e os candidatos aos dois outros. Considerando-se o melhor (a falta de humildade talvez não lhe permita reconhecer-se como «o menos mau»), deverá fazer o esforço de aguentar.

Ou seja, não permitir que, depois de fazerem o seu enterro, o PAIGC volte às disputas intestinas e sem futuro. Não será decerto fingindo que nada se passa que atingirá esse objectivo. Para colocar um fim a este status quo da indecisão e da incerteza, que em muito está a prejudicar o país, é necessário que retome as rédeas do Partido, do Governo e do Estado. Quanto à legitimidade dos dois outros órgãos de soberania, neste contexto, é pura e simplesmente nula, em caso de queda de Vossa Excelência.

Um pouco de consistência, por favor.

1 comentário:

  1. Bom dia ou boa tarde 7ze.
    Pouca sorte que o país vem vivendo de tempo para cá é algo lamentável. Infelizmente desta vez é até vergonhoso pela confiança depositado no PM e ao partido, num prazo "Record" fazer o mesmo ou pior que os anteriores.
    Só tenho que agradecer pelo artigo, excelente sacada.

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