quarta-feira, 6 de junho de 2012
Papel do papel (€) no papel de Presidente (só no papel)
Cadogo continua a proclamar a sua legitimidade perante instâncias internacionais, não se percebendo bem se a título de Primeiro-Ministro demissionário, se a de candidato (inconstitucional) a presidente, afirmando-se disposto a contratar uma equipa de advogados para processar os autores do «golpe». Talvez se possa servir da mesma equipa para se defender, a si e já agora ao Almirante Zamora Induta, dos processos de acusação relativamente ao assassinato do político e intelectual do PAIGC, o seu rival Helder Proença. Talvez facilitasse as coisas se optasse pela sua vocação de empresário de sucesso, voltando à Guiné-Bissau como simples cidadão para tratar dos seus negócios: contente-se em ser o homem mais rico da Guiné. Aliás, a promiscuidade entre as duas coisas, o seus negócios e o Estado, foi um dos factores que conduziram à actual situação...
A legitimidade que Cadogo reclama há muito que deixou de ser a dele ou de quaisquer títulos que pudesse deter. O que se proclama são os direitos de um povo à paz, ao não retrocesso, à escolha dos seus parceiros de cooperação; e hoje, miseravelmente, o direito à soberania. Acredite que, neste patamar, pode-se processar a CEDEAO.
ResponderEliminarAgora, na senda de que pareço estar informado, veja o site “Mantampa Forte”. E, ainda que repudie assassinatos, porque todos somos pela dignidade humana e adversos à impunidade reinante na Guiné-Bissau, permita aconselhar a não por a mão no lume pelo poeta.
Estou a matutar no desafio que me lançou, visto que parecemos estar em balizas opostas.
Midana
Sou obrigado a discordar: a história mundial (mas também a história recente guineense) mostra-nos que a soberania vem de dentro; não pode vir de fora, sem ficar refém de outrem; não há «almoços à borla».
ResponderEliminarDaí a opção de muitos guineenses, como Didinho, por exemplo (que o/a anónimo/a autor/a de Mantampa parece respeitar) que, mesmo sendo contra «golpes de estado», reconhecem o mal estar que prevalecia e a oportunidade para a sua resolução... na base de uma afirmação identitária nacional e não na de uma ocupação estrangeira. Não vale a pena chorar sobre o leite derramado.
Quanto aos assassinatos: não punha a mão no lume de forma alguma pelo «poeta», queimava-me. Por isso nem sequer referi o outro caso, Baciro, assassinado pouco antes. No último ano de Nino ambos conspiravam juntos... sombrios genocídios balantas, em pleno Conselho de Ministros.
Enquanto o Porta-Aviões americano viera para apoiar a corajosa Ministra da Justiça na questão da droga, nesse momento crucial (ter-se-ão mesmo chegado a oferecer para a evacuar de helicóptero, em meia-hora, nalguma eventualidade)...
Num desses dias, estava a tomar um whisky depois de jantar, no Alto Bandim, quando ouvi um avião comercial a sair do aeroporto... não sabendo de voos aquela hora devo ter manifestado estranheza e comentaram «lá vai mais um voo não autorizado»... também numa viagem ao Sul, na região de Quebo, numa dessas noites estreladas lindíssimas como só na Guiné onde não há poluição luminosa (as más línguas dizem que é falta de iluminação pública) assisti de longe à chegada de um voo «não comercial» a baixa altitude.
Não tenho portanto ilusões quanto às facilidades de que goza o tráfico. Mas isso também não me interessa especialmente: as próprias Nações Unidas são por vezes refúgio dos piores traficantes, ao mais alto nível. Além de que, com a crise mundial, ninguém está muito interessado em perseguir o dinheiro sujo, com a justificação de que esse, pelo menos, «ainda mexe».
Estive no Hotel Palace (ainda antes de este ser trocado por petróleo) para uma conferência de «reconciliação» e este fervilhava, por essa altura, de espiões estrangeiros (até alemães!), muito interessados em confirmar as suas suspeitas de envolvimento do Presidente no tráfico. Muita hipocrisia, mas o pior é que esse dinheiro de inconfessável proveniência, estava a corromper a Guiné e a virar os seus filhos uns contra os outros, como cacre na kalabasse.
Em Novembro de 2008 estava em Bissau na Pensão da Dona Berta a fumar um charuto na varanda do andar de cima (depois de piratear a rede wireless não protegida do Hotel Malaika, na altura, frequentado por venezuelanos), quando começaram os tiros. Ainda me lembro, apenas me ocorreu o cenário de um ataque contra Nino... Não o choraria.
Aconteceria três meses depois. Certas mortes, de alguma maneira, redimem outras.
P.S. Já a 7 de Maio de 1999 lamentara o gesto de Melcíades, quando este o salvara de uma merecida vingança. Concedeu-lhe dez anos de vida a mais. Ironicamente, seria o «sopro» da explosão que vitimou Tagma que acabaria com o bónus.