A «branca» sul-americana encontrou um novo destino do outro lado do Atlântico: Luanda. Não apenas como placa giratória do tráfico, mas como mercado de consumo.
O Club-K noticia hoje que a Procuradoria chamou os jornalistas do jornal «O Crime», cuja primeira edição, de Outubro do ano passado, revelava a extensão da implicação de altas figuras do regime no negócio (embora sem citar nomes), no sentido de denunciarem as suas fontes (ninguém explica ao Senhor Procurador que o maior Direito que assiste a um jornalista é o de proteger as suas fontes?)
Sentindo-se ofendido por a sua foto fazer manchete (as fotos apenas pretendiam chamar a atenção para os responsáveis, não implicando obviamente uma acusação, pelo menos directa), o Ministro do Interior enfiou a carapuça e terá accionado o processo, pretendendo envolver igualmente o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, com o objectivo de diluir a sua própria responsabilidade (o General Nunda poderá sempre, por sua vez, sentindo-se lesado, processar o Ministro do Interior, por abuso de identidade).
Mas façamos um breve resumo de como o regime angolano, graças às suas relações privilegiadas com Portugal e com o Brasil, se tornou, nos últimos três anos, no maior Narco-Estado africano, traficando (e consumindo) quantidades industriais de cocaína, numa triangulação cujas tímidas denúncias que vão corajosamente sendo feitas aqui e ali, de um e de outro lado do Atlântico, não passam da ponta do iceberg. O primeiro sinal veio com a prisão (a pretexto ridículo - e não relacionado, claro) do comandante provincial da Polícia de Luanda e mais duas dezenas dos seus homens, no início de 2012, o qual, embora mais tarde tenha optado por um prudente silêncio, colocou na altura a boca no trombone e denunciou que «a minha travessia do deserto e a dos meus homens começou quando desmantelámos os cartéis da droga no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro e no Porto comercial de Luanda» e insinuando ainda uma total má fé «foram pura e simplesmente retirados de cena, surgindo um órgão sem competência: (...) a introdução de outros órgãos no processo, que interferiram e desviaram o curso dos acontecimentos, prendendo inocentes e mantendo os criminosos fora do circuito e dos acontecimentos que se encontravam claramente inseridos no processo pendente».
Aparentemente, o comandante Quim Ribeiro meteu-se com gente graúda, continuando hoje a expiar o seu «crime» nas prisões do regime (enquanto, cúmulo da hipocrisia, o Ministro do Interior ainda há pouco tempo visitava Moscovo para uma Conferência Anti-Drogas)... No contexto de um interminável e completamente descabido processo ao encontro de profissionais com décadas de serviço, suas esposas dirigiram-se em princípios de Dezembro do ano passado à redacção do Club-K, acusando a PGR, em entrevista concedida no local, de forjar provas e de tentarem coagir os subordinados de Quim Ribeiro a prestarem falsas declarações contra o seu antigo superior (que estes terão dignamente declinado, por respeito), e pessoalmente o próprio Procurador de ter interesses empresariais no ramo! Ameaçando mesmo «Mas ainda que matem o meu marido, nós temos tudo bem guardado e se acontecer alguma coisa com ele os nomes irão parar até́ às instâncias internacionais de combate ao narcotráfico. Algumas destas pessoas não satisfeitas com o que já́ fizeram, continuam a perseguir‐nos. Mas estas pessoas que se lembrem do que aconteceu aos narcotraficantes da Guiné‐Bissau, onde foram mesmo lhes buscar para serem presos e julgados nos Estados Unidos da América.» A esposa de outro dos réus revelou, na mesma ocasião, em artigo publicado mais tarde, como a Procuradoria chamara o seu marido para lhe «fazer uma proposta suja de suborno»!
Mas não foi apenas o PGR a ser acusado. O agora muito «ofendido» Ministro do Interior, pela mesma altura deslocou-se pessoalmente ao estabelecimento prisional onde Quim Ribeiro se encontrava detido, numa clara tentativa de aliciamento. Falhados os seus intentos, ainda tentou instrumentalizar amigos chegados do visado (que o haviam abandonado com a sua queda em desgraça) para o mesmo fim, tendo o ex-Comandante recusado recebê-los, segundo reporta outro artigo do Club-K. Entretanto, o negócio continua de vento em popa, tal como o champanhe, não conhecendo os efeitos da crise. Ainda há pouco menos de três meses, o segundo Comandante da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, dava conta das suas preocupações em entrevista à Rádio Nacional (que eu difundi aqui) «Não digo só placa giratória, mas também, já um país de consumo, e há sinais graves de ostentação de riqueza proveniente de droga», reportando-se a pequenas apreensões (marginais, pois o grosso passa por outro lado), apontando o exemplo insignificante de um nigeriano, simples «mula», apanhado com 70 cápsulas... A questão enunciada pela mulher de Quim Ribeiro faz todo o sentido: isso é tapar o sol com a peneira, qualquer criança de rua o sabe, pois «desde que o meu marido foi preso, nunca mais se apreendeu droga no
aeroporto ou se apreendem são quantidades irrisórias. Será́ que deixaram
de meter droga em Angola ou agora essa entrada de droga está protegida
pela polícia?».
Zé Eduardo dos Santos = Ditador Nojento = Assassino = Corrupto = Narco-Traficante
http://www.dw.de/sociedade-civil-denuncia-intimida%C3%A7%C3%A3o-de-jornalistas-em-angola/a-18509202
ResponderEliminar