domingo, 26 de abril de 2015

Carta aberta a Sua Santidade

Lamento profundamente ser forçado a dirigir-me a Vossa Santidade nas presentes circunstâncias, esperando que esta minha missiva o encontre bem.

Venho por este meio, como cristão católico apostólico romano, partilhar a minha indignação com as declarações proferidas pelo ArceBispo do Lubango, Gabriel Mbilingi, considerando-as indignas da dignidade que ocupa e para cuja gravidade chamo humildemente a atenção de Vossa Santidade.

Essas afirmações configuram um verdadeiro auto-da-fé: nada de bom se pode esperar de quem começa por «Quando a religião é falsificada...»... nem vale a pena continuar.

Questionado sobre o extremismo islâmico que tem estado a ser protagonizado por organizações como o Boko Haram, o mesmo arcebispo respondeu que é o cristianismo no seu todo que está a ser atacado

Poderia considerar legítimo, conhecendo como cristãos e cristãs estão todos os dias a ser mortos e mortas, incluindo crianças, apenas em razão da pertença à Nossa Comunidade dos Crentes, que Vossa Santidade, na tradição de Vossos antecessores, lançasse um apelo à Guerra Santa, em aliança com o verdadeiro Islão, contra as aberrações e derivas dessas novas ameaças globais, comprovada e assumidamente totalitárias.

No entanto, não posso de forma alguma aceitar que um servidor da Igreja nesta posição, se revele uma pessoa mal formada e pretenda maliciosamente explorar os medos e receios das pessoas, colaborando com um regime que mantém a sociedade numa intolerável violência, pois isso é violar claramente os ensinamentos de grandes Padres da Igreja, cingindo-me a lembrar São Tomás de Aquino.

«Trazem mal estar, acabam por empobrecer muito mais o continente, aumentam o número de refugiados, deslocados e pobres, aumentam o fosso entre ricos e pobres e isso tudo vindo de uma religião que deveria contribuir para a paz e desenvolvimento». Uma religião? Os muçulmanos são todos iguais? Este é o discurso do ódio, cuja finalidade desumanamente utilitária é encobrir a ignomínia e a vergonha de um abominável genocídio, sobre o qual não se ouviu uma palavra da Igreja. Espero sinceramente que este não tenha sido promovido em nome da fé, com o beneplácito (ou sequer um nihil obstat) da minha igreja.

Atendendo à gravidade do caso, espero viva e pronta reacção de Vossa Santidade. É com humildade, mas igualmente com firmeza, que exponho a Vossa Santidade meu convicto propósito de apostatar, caso não obtenha satisfação suficiente. Como católico, por mais 72 horas pelo menos, tenho de me orgulhar da comunidade a que pertenço(ci), por baptismo e outros sacramentos. Findo esse prazo, visitarei o senhor Padre Borges, a quem pedirei para formalizar o acto.

Despeço-me de Sua Santidade recomendando-me à Vossa benevolência

1 comentário:

  1. A questão parece legítima, nestas circunstâncias: se Jesus Cristo voltasse, seria reconhecido? Ou perseguido?

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