A CPLP (Comunidade dos Países de Língua Profética) prepara-se, aparentemente, para ignorar as barbaridades cometidas por José Eduardo dos Santos. Quando as pessoas não têm o mínimo de condições de vida que as riquezas do país poderiam proporcionar, devido aos vícios sobejamente conhecidos, e, para além disso, são mantidas num estado de indigna submissão e humilhação perante o poder, pior que a escravatura (que pelo menos era «legalmente» assumida), as fileiras dos profetas engrossam naturalmente.
«Os líderes messiânicos não são psicopatas megalómanos, mas místicos
ou ascetas frequentes na tradição judaico-cristã, dotados de qualificações intelectuais acima da média de seus liderados; no mínimo, homens informados, com vivência em ambientes sociais diversificados e profundos conhecedores da cultura religiosa tradicional» (NEGRÃO, 2005)
Recomendo ainda vivamente a leitura do pequeno artigo de Isaac Júnior e Luciana Pereira, do qual faço um pequeno extracto, tendo em conta que as suas conclusões, se bem que referentes à zona da Baía e Nordeste Brasileiro, podem perfeitamente ser transpostas para a actualidade angolana:
«O desejo permanente de sobreviver e sobretudo perpetuar a fé, o sofrimento muitas vezes enxergado como penitência, onde a única saída seria a crença no milagroso, com ritos e rezas. Portanto, o sebastianismo português e nordestino teve a força de vigorar em sistemas devastados, seja por ideologias ou por falta de perspectivas de vida, em que também imperava a religiosidade, e tinha como foco a possibilidade de um horizonte de deslumbre, porém, verdadeiramente real para os seus adeptos.
Como se pode perceber, em torno dos movimentos sebastianistas não podemos deixar de destacar a imaginação e o sonho idealizado, que permeia o sentimento humano. Podemos identificar em todos os movimentos citados que todos tinham em comum o tratar-se de sociedades camponesas, coletividades marginalizadas, marcadas pelo abandono político, religioso e social em que viviam. As aspirações de um povo que vê os seus valores sendo destruídos por instituições sem eficácia, acabam por esvaziar a esperança no presente e no futuro»
Quando foram os Censos, tinham achado que estavam perante uma abordagem abusiva e recusaram-se a responder... as «autoridades» foram lá, tentaram comprar o chefe oferecendo-lhe um carro e muitas mordomias (esta gente só funciona em função do dinheiro). Um impressionante número de mortos enterrados a catterpillar numa história mal contada... mas bastante reveladora da falta de expectativas e total dissolução mental da actual hierarquia angolana. A verdadeira questão sobre a qual José Eduardo dos Santos deveria reflectir, é a razão pela qual um discurso simples, de respeito pela dignidade humana, estava a atrair massas cada vez maiores, se este não lhes dava «nada» (fossem kwanzas ou dólares, subentenda-se).
Tudo isto apresentado como defesa da fé católica. No entanto, mesmo considerando o perigo que representava para a autoridade aquele que se intitulava «Rei dos Judeus», nem Pôncio Pilatos recorreu a métodos tão expeditos como os agora utilizados pelo regime angolano! Matar toda a gente, incluindo crianças! e a tortura até à morte de alguém, apenas porque pensa diferente? Enquanto isso, a voz do dono exige «profundas reflexões sobre o exercício ilegal da liberdade de culto» alertando para a «potencialidade de grupos religiosos ilegais praticarem
actos contra a vida humana, devendo tomar-se medidas céleres para que
preventivamente se evitem acções contrárias às leis». Tudo fica portanto justificado, à posteriori, por se tratar de profilaxia preventiva (passe o pleonasmo). Tal como os activistas de Cabinda, que foram preventivamente presos antes mesmo de praticarem o «crime».
Canudos, Pedra Bonita, Caála. E bico caálado!
É proibido sonhar.
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