Na minha opinião, é ainda prematuro, na falta de esclarecimentos por parte da Polícia Judiciária relativamente ao teor processual invocado para a detenção do irmão Doka nas suas instalações, pretender acusar o Governo de nepotismo, colocando em causa a autonomia e o rigor institucional, ainda recentemente elogiados pela Ministra da Justiça, por ocasião do acto solene comemorando o trigésimo segundo aniversário da PJ.
É que aquilo que pode ter começado por ser um boato, está a tomar proporções alarmantes. É estranho que não tenha ocorrido a ninguém que a detenção em causa possa estar relacionada com a investigação da fuga de informação do Estado, envolvendo correspondência entre o Supremo e o Ministério da Justiça, recentemente publicada no seu blog pessoal.
Em relação ao irmão Doka, julgo que, mesmo que tenha cometido ultimamente alguns excessos, no legítimo exercício da sua liberdade de expressão [como julgar que podia desafiar impunemente as autoridades, ou que podia contribuir para o descrédito de uma instituição como a PJ (talvez seja uma chamada de atenção para o facto de que difamar injustamente pessoas colectivas pode ser mais grave do que injuriar pessoas singulares), sugerindo ser esta um pau mandado do executivo à revelia do seu enquadramento legal], não cometeu qualquer crime que justifique a sua retenção para além das 24h já decorridas. Acabo, aliás, enquanto escrevo, de ler com agrado que a PJ fez o seu trabalho e entregou o caso ao Ministério Público. Pelos vistos, brevemente se fará luz sobre o caso.
Queria pedir ao irmão Doka que encare com serenidade e humildade o destino que escolheu, eventualmente reconhecendo os seus erros. Mas que evite quaisquer comparações com Angola, inteiramente despropositadas. Se, em Angola, Doka fizesse 1% do que fez em Bissau, já teria sido transformado, há muito, em patê pa jacarés. Já agora recomenda-se ao seu alter-ego, DokaN (não sei se é o 2, o 3, ou o 4), que, em solidariedade com o (habeas) corpo, faça uns tempos de silêncio. Caso não aceite a sugestão, por favor, corrija pelo menos o francês: por uma questão de objectividade, até à libertação do Doka, prefira o «il est Charlie» ao je suis.
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