A colocação no mercado de Bilhetes do Tesouro (para absorver liquidez e tentar controlar a voraz espiral inflaccionista), pelo Banco de Angola, a taxas de juro «oficiais», traduziu-se num fiasco: conforme se pode constatar em balanço hoje publicado, a adesão foi de menos de 0,9%, apesar de uma intensa campanha, conduzida recorrendo a canais sociais «informais». Transcreve-se parte de um desses «anúncios», o qual, nos dias que correm, com os angolanos a passarem dificuldades, chega a ser pornográfico:
«Caros amigos/a
Aqui vai uma dica que pode vos ajudar a
fazer dinheiro. Proteja-se contra o risco cambial, tendo em conta o
momento atual que a nossa economia vive. Depois não digam que o nosso
Kamba das Finanças não nos deu o toque, eu como financeiro que sou, faço
isso e não custa nada, tu também podes fazer o mesmo, são segredos de
como muitos de nós multiplicamos rapidamente as nossas poupanças sem nos
maçar ou nos metermos em negócios que muitas das vezes não dá certo e
acabamos de perder o dinheiro e a paciência! Queres ter um dinheiro
extra para acelerar o pagamento do teu credito habitacional? Queres
pagar a tua Universidade ou a do teu filho? Gostarias de ter um BMW ou
Range Rover (Tubarão)? Pois é meus amigos, como economista isso é o que
eu faço para ter mais kumbu! Ali vai a dica:
Meu amigo, invista agora em Títulos do Tesouro de Angola. Contacte o seu Banco ou o BNA.»
O problema é geral, não só de Angola e não se prende apenas com a dependência económica do petróleo, mas precisamente com outra grande dependência maior: a mentalidade estupidamente consumista, localmente cultivada pelo poder e suas «elites», na qual as pessoas se colocam ao serviço do dinheiro (em busca de símbolos de ostentação e sinais de poder). O dinheiro, em si, não é uma coisa má, servindo para facilitar as trocas e desenvolver a economia, mas deve ser encarado como estando ao serviço das pessoas, e não o contrário, pois nesse caso torna-se completamente alienante! Não matem a galinha! Para contextualizar este assunto, escrevi há bem pouco tempo um artigo aqui neste blog.
[Já um montante, de cerca de um sexto do valor dos BT, mas em Obrigações do Tesouro, foi inteiramente absorvido, permitindo suspeitar que a motivação do «diferencial» de procura (não se justificando por maior «obrigação» do Estado ou por taxas de juro mais atraentes, e implicando, para além disso, um prazo maior de imobilização) se poderá atribuir à distribuição pro rata de «senhas» para dólares ou a qualquer género de «facilidade» associada - de forma «casuística» e «conjuntural», claro, mas nada abonatória da transparência e equidade do sistema financeiro. Concluindo com um bom conselho: na aquisição de bilhetes, certifique-se que são de ida e volta, cuidado com os vendedores de banha da cobra, senão arrisca-se a ir para o buraco]
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