domingo, 15 de fevereiro de 2015

Sol sem peneiras

O Sol, semanário de referência por terras angolanas, destapa na sua última edição, o «buraco negro» monetário que (embora de forma não tão «misteriosa» como sugeriram há dias no mesmo jornal) induziu a inflacção galopante da última semana, sob o esclarecedor título «Produtos importados estão a desaparecer das prateleiras».

Os supermercados de Luanda estão já a ficar vazios de produtos alimentares importados e as prateleiras não são repostas. Os importadores dão indicações de que os stocks estão a acabar. Também nos mercados informais, os preços dos produtos estão a subir em flecha, chegando a registar aumentos de 100% (ou mais, nalguns exemplos apresentados, nada que não se soubesse já, aliás, ridicularizando as previsões de 7 a 9% de inflacção anual divulgadas por ocasião da aprovação do OGE rectificativo, a semana passada... qual a credibilidade de um governo cujas estimativas para o ano inteiro são ultrapassadas - mais de 10 vezes mais - em apenas uma semana?).

Todos os actores económicos parecem estar empenhados em antecipar, livrando-se dos seus activos tóxicos (kwanzas) em troca de qualquer produto (cujos juros são claramente superiores aos do Banco de Angola - seria, aliás, interessante, saber como está a correr a colocação de Títulos do Tesouro, esboçada há uns dias... as pessoas não são burras! é que nem a 1000%!), que (ainda) exista no mercado a preço mais ou menos «antigo» ou «oficial».

Pelo andar da carruagem, a economia formal irá parar, por falta de «combustível». As autoridades monetárias perderam o controlo da situação, ao deixarem o «gap» formal/informal avolumar-se para mais do dobro e permitirem ao «sistema» embalar. Será agora muito difícil desacelerar: qualquer tentativa de travagem poderá bloquear as rodas e surtir o efeito contrário.

Tal como em qualquer doença, o diagnóstico precoce é uma das melhores armas. Adiar a ida ao médico, deixando apodrecer a ferida, pode revelar-se fatal. Para a crónica de uma falência anunciada, basta ler o que foi sendo publicado neste blog ao longo das duas últimas semanas. Quem souber prestar atenção, conseguirá ouvir o crescente clamor das trompas fúnebres, entoando o requiem pelo regime, que se desmorona como um baralho de cartas. Isso mesmo traduziu Orlando Castro, na Folha 8, com um esclarecedor «Até um dia» (destes), despedindo-se do «camarada» Presidente.

4 comentários:

  1. É pena se Angola não sobreviver a todas as asneiras "petroleiras" nestes poucos anos de paz tribalista.

    Orlando Castro pode ter muita razão, e tem de facto muita, em tudo o que diz, mas para tudo o que se passa em África neste momento, parece que Angola e em geral aquele cone africano, ainda é o que se tem aguentado melhor.

    Pelo menos Angola não andou como a Nigéria a poluir os rios de petróleo.

    Foi pena a mania das grandezas que fizeram de Luanda um monstro de futuros "muceques" na vertical "quimbos fechados", quando quimbos fechados apenas havia no meu tempo no sul, e era por causa do leão e da onça.

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  2. Angola sobreviverá. O ditador é que não. Esperemos que isso se passe sem grandes confusões e que o novo poder evite os erros do passado; aproveitando algumas virtualidades do «modelo», preservando ciosamente o interface humano com Portugal.

    Só que, já sem esse perverso apartheid invertido configurado pelos condomínios fechados, de que fala, tão pouco merecedor da alma universalista portuguesa. Isso é bom para inglês, alemão ou holandês...

    Angola não poluiu os rios porque 99% do petróleo vem do mar. Há quem reclame que o cuidado tem sido pouco, na selagem dos poços abandonados, com os inevitáveis riscos ambientais de derrames e fugas. Só que, como é no mar, o efeito nota-se menos do que onshore, compo na Nigéria...

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  3. Não entendi bem essa da "alma universalista portuguesa".

    Ao que me lembro do meu tempo de colonialista, não colonizador, que eu tinha pouco jeito e vontade e capacidade nenhumas, a minha alma não alinhava com o apartheid.

    Tanto que para brancos e pretos, não havia 2 WC, era só um para todos.

    Era no mato (a traz da bissapa).

    Só espero que nunca naquela terra apareça um caruncho a que chamam bokoharam.

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  4. Uma característica dessa «alma» de que falava é precisamente essa: não alinhar em apartheids...

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