Estive ontem no lançamento do livro de Luís Vicente, editado pelas edições Corubal.
Numa apresentação de sucesso, bastante informal e interactiva, durante a qual o autor teve um momento de verdadeira emoção, foi o discurso de Miguel de Barros, activista cívico, que mais me entusiasmou (e que motivou, de longe, a mais duradoura e efusiva ovação).
Começando por afirmar o carácter independente e não lucrativo da editora, frisou que o lançamento traduz uma dupla intenção: dar relevo à reflexão e ao papel da Diáspora (aproveitando a oportunidade para lembrar a sua responsabilidade); e lançar o debate político, sendo este o primeiro número de uma colecção de estudos e debates, em torno da boa governança.
O Miguel falou do descalabro da educação... da responsabilidade da geração «de ouro»; subentenda-se, o perigo de dissolução da nacionalidade pela miserável condição educativa: o sistema não consegue produzir alunos ao nível do 12º ano, sendo a média nos exames portugueses equivalentes de cerca de 0,5%. Não é muito mau, é assustador!
[Lembro-me das minhas conversas com o Pepito (também lembrado com saudade pelo Miguel), para quem essa «pedagogia» era o cerne da actuação. Lembro-me como se lamentava e como sentia como um murro na barriga, cada vez que os seus amigos diplomatas se queixavam que não conseguiam recrutar uma simples secretária...]
Quando confrontado com a questão do jornalista da RTP/RDP Jorge Gonçalves, que moderava a sessão, se terão sido 40 anos perdidos, lembrou o sistema de hortas escolares (eu lembro-me, em miúdo, de uma visita a Bafatá, na qual participei do entusiasmo associado a essas iniciativas) como exemplo de muitas coisas boas que se perderam pelo caminho.
Da conversa informal que se seguiu, parece ter-se desprendido o sentimento de que nunca poderemos falar de 40 anos desperdiçados. Talvez de tempo perdido. Mas que ficam os calos... A experiência negativa, como povo, não poderá ser convertida numa oportunidade, num desafio?
Miguel de Barros, confrontado com a afirmação, por parte do moderador, de um especial agravamento da situação nos dois anos que se seguiram ao 12 de Abril, reformulou a questão, dando a entender que houve uma transição de sucesso que criou uma janela de oportunidade.
No entanto, estará ela a ser aproveitada? Não merecerá o martirizado povo da Guiné-Bissau, o respeito dos seus políticos? Pessoas como Miguel de Barros ou Abdulai Sila (citado pelo Miguel, e de quem li recentemente uma magnífica poesia em prosa, com um oportuno aviso à navegação), não deveriam ser consultores do Primeiro-Ministro?
[Pagam-se 10 000 euros (segundo declaração de interesses do próprio) ao Presidente da ANP, que é um analfabeto funcional (só domina a linguagem básica da cartilha sovietizante do PAIGC dos «inimigos»), mais uma centena de outros de igual calibre na mesma casa... qual a produtividade, em termos de debate?]
Já nem falo do caso do autor, o Luís Vicente, o qual, como ficou patente na Sala de Audições da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é muito querido no concelho de Rio Maior. Talvez por isso mesmo, o próprio Luís pudesse dar o exemplo, desdobrando-se entre Bissau e Rio Maior, em «part-times» eficientes, envolvendo-se na aplicação das suas ideias e princípios de boa governação... A mão na lama.
Pelos vistos, a política de exclusão dos melhores continua... a esperança prometida mais uma vez traída?
Neste contexto, aproveito para considerar que me parece legítima a irritação do editor do Ditadura do Consenso, face à má qualidade do recentemente formado «Gabinete» de comunicação de Domingos Simões Pereira.
P.S. Tive uma pequena intervenção na qual considerei que a horta escolar seria um bom exemplo a adoptar pelas escolas, por exemplo em Portugal. Talvez servisse para formar as mentalidades para a actividade produtiva e o espírito empresarial, reduzindo o número de «doutores e engenheiros» desempregados de longa duração, porque não encontram (nem nunca entrarão, porque não servem para nada) emprego na respectiva «área de competências».
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