A União Europeia propõe-se enviar observadores para um país cujas autoridades não reconhece? A senhora Catherine Ashton, que ainda há pouco tempo se apressou a denegrir a Guiné-Bissau, a reboque do Governo português, no caso do avião da TAP, deveria ser um pouco mais elegante, na forma como apresenta as suas propostas de voyeuse.
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A alta representante da União Europeia para a política externa mal consegue disfarçar que a UE não tem uma política externa; muito menos para África. Os franceses, herdeiros da FrançAfrique, andam à nora e a apanhar bonés, com Hollande, mas já acusaram a «apatia» da Europa quanto às ameaças à segurança global neste continente. Mas como tratá-las?
Depois do Mali, os franceses intervieram na República Centro Africana, e parecem querer conservar algum protagonismo no continente. Mas, tal como Mitterrand, que rapidamente voltou aos velhos métodos da maçonaria, parece que o «etablishment» tenta a todo o custo empurrar Hollande pelo mesmo caminho. Gendarme? Algo tem de mudar na Europa.
Se não fosse a cegueira dos políticos e do «etablishment» português, já teria havido uma cimeira europeia exclusivamente dedicada à definição de uma política comum sustentável com este continente: em vez de entregar todo o «ouro» à França, Portugal tem um importante papel estratégico, neste campo, a desempenhar, num novo e original modelo.
Tal como sugeria o malogrado herói burkinabê (a quem chamavam o Che africano): em vez da malícia da «ajuda ao desenvolvimento», entre outros vícios, sujeita a obscuros interesses e perniciosamente fomentadora da dependência, porque não criar um sistema de pontos, onde os menos corruptos e mais amigos do povo seriam recompensados?
Porque não, de boa fé, em igualdade e fraternidade, ajudar os africanos a conduzirem o seu desenvolvimento sustentável em bases saudáveis e não mais na cupidez e na ganância? Considerem as relações Primavera Árabe, Sudões, Mali, Centro Africana. Se não fizerem algo consistente, é toda essa banda que ficará de costa a costa a ferro e fogo.
Isto num cenário que querem à força empurrar para o choque entre religiões, depois da paranóia securitária e segregacionista dos Estados Unidos pós 11 de Setembro. O perigo da intolerância e das identidades assassinas, neste mundo sem regras, cresce exponencialmente, como tem triste e insistentemente avisado Amin Maalouf, nos seus conhecidos best-sellers.
Há uma percepção simplista ocidental, em relação ao Islão, como um bloco único, mas isso está longe de ser verdade. Os anglo-saxões, ostracizando um Irão avançado, pervertendo equilíbrios, encobrindo uma Arábia Saudita feudal, beneficiaram a intolerância e o radicalismo primário de uma ortodoxia básica e literalista do Islão, com lamentáveis resultados.
À senhora Catherine Ashton, questiona-se porque se mostra tão preocupada com as eleições na Guiné-Bissau, se, por exemplo, com Angola, que é um país bem maior, nem sequer reclamou de não ter sido convidada como «observadora» para as últimas eleições? Onde estão os manuais de normalização de procedimentos, tão caros à anquilosada burocracia europeia?
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