O Papa fez hoje um veemente apelo à Comunidade Internacional para que se interesse pela grave situação na República Centro Africana, secundando assim a boa vontade da França, que parece incapaz de lhe por cobro. Mais do que acudir aos fogos que, no actual contexto de sub-desenvolvimento agudo e crónico, não deixarão de continuar a ocorrer, é necessário um novo modelo de cooperação entre os continentes vizinhos, que permita travar essa humilhação e dar uma nota de esperança num futuro melhor.
Os europeus, velhos, ricos e cada vez menos, precisam dos africanos, jovens, pobres e cada vez mais; ao Norte o saber fazer, ao Sul os recursos. A complementaridade pode ser explorada em conjunto, alicerçada no respeito e no mútuo interesse. A República Centro Africana, é, a este propósito, um caso paradigmático dos vícios do «por e dispor» francês no Continente. Lembre-se o envolvimento duvidoso de Giscard d'Estaing, ao ponto de participar numa palhaçada «napoleónica», para logo depois depor Bokassa.
Se, até um certo ponto, a França foi responsável por uma certa estabilidade africana pós-independências (a que convinha aos seus interesses, sobretudo minerais), a que custo de traições, de prepotência neo-colonial e de servilismo africano? Esperemos que não venha a ser necessário pagar esse preço, sob a forma actual de uma espiral de violência avassaladora. A União Europeia não pode fazer ouvidos de mercador: ignorar a questão será muito pior... O espectro de Lampedusa deveria ser suficientemente esclarecedor.
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