«O principal problema da governança» no continente, segundo Carlos Lopes, «é gerir a diversidade, o respeito pelas minorias e pelas mulheres. É um problema sério que explica muitos dos conflitos em África. A falta de integração das minorias conduz à corrupção, serve regimes patrimoniais de apropriação, pela classe dirigente, dos meios do Estado em benefício próprio.»
Faltaria acrescentar que os países ocidentais, embora apregoem formalmente a democracia, aplaudem e dão palmadinhas nas costas a esses regimes, que, em troca, oferecem uma necessária (mas ilusória) estabilidade, para a prossecução dos seus negócios de carácter predatório, regra geral primários. Pouco antes de morrer, Cabral antecipou e denunciou estas derivas neo-colonialistas.
O discurso de Carlos Lopes, endereçado ao tecido empresarial espanhol, insiste num ponto importante: o principal problema «mental», em relação a um «retorno» dos empresários europeus a África, que oferece imensas oportunidades de negócio consistentes e sustentáveis, tem a ver com a percepção errada destes, fomentada por lugares comuns mediáticos equivocados.
A oportunidade propriamente dita é esta décalage, este lag, entre o potencial de crescimento por explorar, (suportado num influxo de divisas proveniente da exploração de recursos naturais, sobretudo minerais) e o seu liminar desaproveitamento. África tem de (re)começar a ser «vendida», com operações de marketing e de charme, como aos nossos bisavós, com o encanto de «virgem».
Serão os próprios empresários, que se queiram estabelecer, fortes do seu contributo de saber fazer, conhecimento e experiência, que deverão criar o seu próprio estatuto, defendê-lo e valorizá-lo, integrando-se (desta vez, sem a «cobertura» administrativa colonial) no tecido económico local, contribuindo para o seu crescimento consentâneo, retroalimentando e potenciando o todo.
Terão também de estar atentos aos escolhos, excluir, sem excepções e por uma importantíssima questão de princípio, deixarem-se envolver em sistemas de corrupção, ou de «partilha» de benefícios. A sua transparência e seriedade, mantendo-se acima de qualquer suspeita, serão decerto os seus melhores cartões de visita, garantia de investimento e mesmo, seguro de vida.
Obrigado, Carlos Lopes e Progresso Nacional (artigo do El Pais)
"Cabral antecipou e denunciou estas derivas neo-colonialistas".
ResponderEliminarÉ caso para dizer que até qualquer caboverdeano e qualquer Comando Africano de Spínola antecipavam todas as "derivas" neo-coloniais.
Mas Carlos Lopes analiza bem, dispensava era fazer como todos fazem, lembrar Cabral.
É que corre-se o risco de as pessoas só se lembrarem do pai da Pátria, associando o nome de Cabral aos maus momentos africanos e guineenses, especialmente.
Embora Carlos Lopes também goste de lembrar Cabral, neste caso, esse foi um ponto que eu acrescentei ao conto, não está no texto do prestigiado guineense.
ResponderEliminaro caso do crocodilo era tão simples que o 7ze não foi capaz de desmistificar. e a questão impõe-se: que existem crocodilos na Guiné, já é sabido, quem são e aonde estão?
ResponderEliminarResponderei a filosófica questão, brevemente num lugar comum. Atente-se
Andam muitos crocodilos e jacarés por aí a mostrar os dentes.
ResponderEliminarRespondendo então:
Os crocodilos têm uma bela, reluzente e eficaz dentadura.
Ficamos então atentamente à espera desse lugar comum que nos satisfaça a curiosidade.
Croc