Londres acolherá nos próximos dias 24 a 26 de Maio, o I Encontro da Diáspora Guineense, um grande evento promovido pela pessoa colectiva «Elo(s) de Gerações - Texas80», associação sem fins lucrativos regida pelo Direito português e registada no passado dia 18 de Abril, no RNPC de Benfica, em Lisboa. Trata-se de um grupo informal com cerca de um quarto de século, cujo nome Texas deriva de um organização de jovens do mesmo bairro de Bissau (cada bairro e «geração» tinha o seu, com a sua «identidade»), que vieram para Lisboa para o Ensino Superior nos anos 80, e que mantiveram a sua organização para levar a cabo eventos culturais e desportivos, como a Noite Lisboeta, na qual se matavam saudades da Guiné, eventos de grande qualidade organizativa, sempre com muita adesão e visibilidade na comunicação social, desde a rádio à televisão, ficando conhecido como «o» grupo de referência juvenil associado à Guiné-Bissau.
O encontro, concebido para ser uma grande festa, pretende juntar cerca de 600 pessoas, «di manga di parti di mundu fora». Com uma organização «profissional», para além da página própria, está também no Facebook e a divulgação inclui uma entrevista de Armando Faria à revista Guineenses & Americanos, disponibilizada no YouTube de Inussa Mané, dividida em Introdução mais 4 partes. Não percam. A organização reconhece que se vivem momentos conturbados no país, por isso afirma não só a sua neutralidade relativamente à situação política, como a sua independência, relativamente a governos, países, organizações ou financiadores. Mas que geração é esta que anela a estabelecer um elo? Estas são as flores da luta de Cabral, meninos que nasceram antes do 24 de Setembro, que foram à escola no merecido entusiasmo da vitória e da independência, que continuaram os seus estudos superiores em Portugal, e depois seguiram cada qual o seu caminho, poucos voltando para a Guiné, alguns ficando por Lisboa, muitos outros usando Portugal como trampolim para outros países mais promissores. Terá sido, porventura, como lamenta, na entrevista, Inussa Mané a Armandinho, a última geração feliz de meninos... «bô gerasson disfruta di bons tempus di Guiné-Bissau...» Cabral vive e sinto-lhe a felicidade nos olhares sinceros e entusiasmados do entrevistado.
A diferença, entre a emigração portuguesa e a guineense, está nos niveis
de formação: enquanto os portugueses que emigraram para a Europa a
partir do fim dos anos 50 eram na sua quase totalidade mão-de-obra não
qualificada e estavam destinados a engrossar as fileiras do
lumpen-proletariado, já a emigração guineense dos anos 80 é uma «força» de elite. Forjada a «consciência» de classe, este é o momento oportuno para «passar à luta», para o seu envolvimento. Uma geração que assume as suas responsabilidades! Quantas falharam? Hoje, são empresários de sucesso, técnicos reconhecidos, com o seu lugar na vida, uma diáspora qualificada que finalmente, parece ter acordado! Armando Faria lembra que há muito que falavam e acalentavam a ideia: «Um dia, nô na tenta junta». Viva a hora! Um pequeno parênteses para um curto pormenor na referida entrevista: Armando diz que tentou uma aproximação à Confederação da Diáspora e não conseguiu: terá sido porque essa Confederação é essencialmente de base étnica, representando apenas manjacos e fulas? Uns por tradição de emigração, outros porque a isso foram compelidos em 1974-75... Ora evidentemente que Elos - Texas80, para além de ser uma organização tolerante e independente, é também essencialmente e verdadeiramente nacional; julgo que a abordagem escolhida não foi a mais adequada em relação à referida Confederação: o Armando não deveria ter tentado entrar para lá, mas tê-los convidado a entrar para cá, a con - con - federarem-se.
O impacto vai ser muito grande, não duvidem. Precisamente por ser não «político». E haverá que tirar o máximo proveito: lembro o acordo entre a União Europeia e União Africana, assinado em Novembro de 2006, prevendo o apoio à migração circular e ao retorno temporário das elites qualificadas, no sentido do desenvolvimento dos respectivos países de origem. Estou curioso para ler os discursos dos oradores, com Filomeno Pina à cabeça, mas especialmente ansioso pelo último dia, esperando que possam haver conclusões (e sua divulgação). Espero igualmente que arranjem alguma forma expedita de permitir a todos os guineenses (estou a pensar sobretudo nos guineenses na Guiné - não é um pleonasmo, é só para os distinguir da Diáspora) interagirem de alguma forma com os oradores e os trabalhos através da internet, arranjando uma pequena equipa de voluntários, jornalistas ou relações públicas, que vão colocando tudo ao minuto, videos instantaneamente colocados no Youtube, e coberturas rádio em «quase» directo (ficheiro de boa qualidade) para Bissau. Talvez isso permita evitar alguns mal-entendidos. Festa é festa.
Unidade nacional à escala global!
Parabéns e desejos das maiores felicidades.
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