Como sou apaixonado por balística talvez seja suspeito.
Mas acho estranho que um homem como Osvaldo, esteja sub-aproveitado em Cabo Verde. Mesmo considerando a sua responsabilidade política (no verdadeiro sentido do termo, que não se resume a conotações «democráticas»), como combatente da liberdade das pátrias (é relevante que não use o singular), o facto é que existe uma manifesta dissonância.
Uma pesquisa utilizando o seu nome completo, retorna essencialmente (a 90%) fotos da entrega dos prisioneiros portugueses à Cruz Vermelha (numa delegação de duas mulheres e um homem - isto há mais de quatro décadas - sendo uma delas Titina Silá), o seu livro autobiográfico (precoce) «Nos tempos da minha infância», o facto de ter sido Ministro da Economia... e pouco mais.
Estive fisicamente na sua presença (em público e depois num pequeno particular). Se é capaz de hipocrisia (por exemplo quando afirmou que Coutinho Lima estava cercado e não tinha alternativas), não deixa de ser um homens de causas. Para além do grande respeito e amor que indubitavelmente sentia por Amílcar Cabral (o que o prejudicou, claro, pelo resto da sua carreira), é um verdadeiro patriota (no singular).
Ainda nos últimos dias, estivemos em campos opostos (o Senhor Comandante que me perdoe pela familiaridade recém-adquirida, não a utilizaria se não tivesse ficado agradavelmente surpreendido), quando vem defender a entrada da Guiné Equatorial na CPLP (diga-se em abono da verdade, no único sentido possível, o futuro) quando eu, pela minha parte, escrevi um artigo condenando-o.
Talvez tenha sido a presença do Julião, mas (e há coisas que não podem passar através das simples palavras escritas, é preciso ouvir - e estar a ver - quem as diz) fiquei com a nítida sensação de que o Senhor Comandante sabe algo sobre a morte de Cabral, que não só não é do domínio público, como lhe pesa e gostaria de partilhar, no espírito da queda dos tabus da mesa redonda de quinta.
Quando morreu Nino, publiquei uma notícia (que hoje considero parva) aqui neste blog provocatório. Eram uma data de coisas juntas. Um elogio ao Aly, como bom jornalista (tal como os bons avançados, no futebol), no sítio certo, no momento certo. Mas fartei-me de pensar nesse tipo de apresentação (choque), sobretudo porque, infelizmente, foi Mário Soares que deu o mote (e não gosto dele).
Claro que o meu maior problema foi que alguém julgasse que, uma vez na vida, concordava (ou, pelo menos estava em sintonia) com esse medíocre e responsável maior (a quem, para além - e mais que - dos afilhados, imputo grandes responsabilidades pela actual situação de Portugal); mas não consegui escamotear a minha alegria (não, não é apenas falta de tristeza) pela morte de Nino, que já esperava.
Apenas lamento que Manel Mina não tenha feito o mesmo grau de esforço que fez para salvar Nino (fiquei mesmo irritado com ele nesse dia 7 - não pela cartilha revolucionária herdada da vila de Ekaterine, porque sou estritamente franciscano e respeitador da vida - mas pelo lado prático, pela verdadeira «razão de estado» que legitima um mal menor para evitar um maior) para salvar um homem que respeitava ainda mais.
Mas os tempos eram outros, talvez não fosse mesmo possível. Mas quando se trata da razão, da verdade, julgo que estas se devem sobrepor a outros considerandos, mesmo com os riscos associados. Lembre-se o destino do Comodoro Lamine Sanhá, mais que herói da verticalidade, um mártir que talvez só não seja reconhecido porque o seu islamismo é inconveniente e inoportuno para a maior parte dos actores.
Todo este desabafo, apenas para lembrar as declarações públicas de Osvaldo, por essa altura, quando lhe pediram para se pronunciar sobre a ausência de qualquer chefe de estado no funeral de Nino Vieira: «Teve a sorte que mereceu. Era um homem sinistro». Na ideia do senhor Comandante, o komandante Kabi terá tido alguma coisa a ver com o assassinato de Amílcar Cabral?
A minha opinião sobre isso, já a dei, numa pequena biografia que publiquei aqui, por isso estou à vontade. Mas, da minha humilde pena, é considerada pura especulação (ou até loucura). Já de alguém que pressentiu o atentado... passadas quatro décadas e toda a amargura e recalcamento que daí possam advir, teria outro valor. A história talvez mereça que aclare esses momentos sombrios...
Perdoem a ingenuidade - e se souberem mais do que eu, chamem-me a atenção - mas julgo: que é óbvio que o carácter utópico de Cabral estava a «prejudicar» a ofensiva que veio a ter o seu nome, mas também que essa «deriva» emocional (talvez motivada pelo íntimo desejo de não humilhar Portugal) não parece suficiente para que a sua morte tenha sido decidida a leste.
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