Acabei de ler (obrigado Progresso Nacional) duas notícias interessantes saídas na Jeune Afrique, no âmbito da XXI Cimeira da UA, que começa já amanhã.
Uma entrevista concedida por Nkosazana Dlamini-Zuma, presidente da UA, na qual estima que o grande desafio para África, uma vez liberta do colonialismo, é libertar-se da dependência. «Nenhum país deve ter, por base do seu desenvolvimento, a ajuda externa. (...) É uma questão de mentalidades.» Único país de África, para além da Argélia (o caso da Etiópia é especial), que me parece poder ser considerado como vencedor de uma guerra colonial / de libertação, está agora na hora de a Guiné se libertar das grilhetas da dependência (dissimulando ingerências interesseiras).
No mesmo tom, Carlos Lopes convida os africanos a criar a sua própria visão do (e lugar no) mundo. África deve romper com as percepções negativas em proveniência do exterior, «dissipar os mitos e a incompreensão», de forma a captar investimentos sérios e sustentáveis, e já não apenas draconianos e delapidatórios dos seus recursos. Acrescentaríamos que essa foi a última preocupação publicamente manifestada por Amílcar Cabral, numa conferência em Conacri, pouco tempo antes de morrer. Insurgia-se contra a continuação da exploração colonial por outros meios, mais sofisticados e pesados de consequências. E aproveitava para lembrar que a libertação tem de ser mental: «o arroz só coze dentro da panela».
«A hora é de aurora, estamos perante um renascimento africano» exclamou-se Carlos Lopes, «não sem lirismo» acrescentaria o cepticismo do jornalista. «África tem de assumir o controlo da sua narrativa e das suas relações internacionais». Já tinha desconfiado num artigo anterior, mas agora começo seriamente a pensar que parte destes felizes pensamentos, mesmo que classificados pelos outros de utópicos, se referem a uma secreta esperança que alimenta em relação ao seu país natal. A Guiné, que deu um exemplo final, autónomo e independente, na I Guerra de Libertação, estaria em condições de liderar a II?
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