sexta-feira, 20 de abril de 2012

PAIGC muda de nome


Paulo Portas anda pelo mundo a implorar que o deixem meter o bedelho na Guiné. A política internacional faz-se de realismo, de pragmatismo, e não de ameaças que não podem ser cumpridas. Parece-me legítimo e actual manifestar curiosidade quanto à forma como pensa «conquistar» a Guiné-Bissau (já agora, também, como pensa mantê-la…). Está-se a ver o cenário idílico que vai na sua bucólica mente: os barcos portugueses desembarcam os angolanos, estes matam toda a gente que encontrarem pelo caminho, fazem a junção com a MISSANG, instalam-se em Bissau e vivem todos felizes para sempre.

A independência da Guiné-Bissau custou muito suor e lágrimas, se os angolanos são hoje independentes, devem-no essencialmente à luta do povo da Guiné-Bissau contra o colonizador. Ninguém vai deitar fora essa independência apenas porque, um dia, Paulo Portas o novo campeão da democracia no mundo, acordou mal disposto.

José Eduardo dos Santos continua a fazer charme, desta vez convidou Durão Barroso para o Planalto. Na Guiné, o único Planalto são as colinas de Boé, onde nasceu a única Independência uni-lateral africana, exactamente sete meses antes do 25 de Abril. E os angolanos vão dar-se boé da mal, se insistirem na desaforada afronta: estão dispostos a sacrificar a MISSANG? E o exército português estará mesmo disposto a cumprir ordens imbecis? Lamentável…

É que, da parte do Comando Militar, para além da humildade, dignidade e bom senso que tem caracterizado a sua actuação, não duvidem da sua determinação e capacidade para impedir a «internacionalização» da Guiné-Bissau: hoje poderia ser muito bonito, mas amanhã? Quem deseja ver o seu (pequeno) país invadido por uma mole dessas? Aliás, conforme já esclareceu o Comando Militar, através do seu porta-voz, foi precisamente esse o único objectivo do «Golpe»; estas movimentações vêm apenas confirmar a posteriori a veracidade das apreensões que o motivaram, ou seja que o ex-Primeiro-Ministro, depois das várias intrigas que promoveu, dos vários complots que dirigiu e assassinatos que comanditou, estava a orquestrar uma invasão estrangeira do seu próprio país contra a sua hierarquia castrense.

O PAIGC, pelos vistos, vai ter de mudar de nome, por contracção das siglas para PAGA (Partido Africano da Guiné e Angola). Tirem Independência do nome do Partido e depois então façam declarações irresponsáveis, pois ofenderam a memória independentista da Amílcar Cabral, quando, num claro gesto de desafio interno, ousaram apelar à invasão e agressão externas: é a dissolução de uma grandiosa ideia; no entanto, antes a dissolução do Partido, que a do País. O novo Presidente e ex-militante decerto poderá ajudar a esclarecer todas estas questões, calmamente, claro, no quadro de um retorno à normalidade civil e no contexto de inequívoca liberdade de imprensa, com a reabertura das rádios (gostaria de acrescentar: «e com a devolução ao Aly do material apreendido»).

Paulo Portas, perdeu todo o contacto com a realidade e encontra-se em plena espiral esquizofrénica: ameaça, tentando engrossar a voz de menina, a torto e a direito, tudo e todos; julga que as palmadinhas nas costas que pelo mundo fora lhe têm dado, «incentivando-o» a avançar, são outra coisa para além de hipocrisia… Dom Filipe II de Espanha fartou-se de dar dessas palmadinhas ao seu sobrinho D. Sebastião: «Queres levar a guerra para África? Vai, vai…». Ninguém, pura e simplesmente, o leva a sério (mas também ninguém lhe vai dizer isso). O facto indisfarçável é que não tem meios: os guineenses se for preciso, aguentam mais de um ano a comer apenas um pouco de arroz, mancarra e banana; já Portugal não tem orçamento que suporte um simples «bloqueio» do Porto de Bissau por mais de um mês.

Engraçado é o resultado de uma hipotética comparação da Guiné com Angola: se o que actualmente se passa na Guiné se passasse em Angola, já os portugueses que lá moram estavam todos em campos de concentração… Isto apenas para que se dê mais valor à presença lusa na Guiné e não seja um Ministro claramente doente que a desprestigie gratuitamente, pois tem pelo menos cinquenta anos a mais que a amizade com todos os outros PALOP, já dura desde Afonso o Africano, em meados do século XV! Os guineenses não são tão susceptíveis quanto os angolanos, mostrando que ultrapassaram (melhor, que nunca foram sujeitos) melhor os traumas do colonialismo; mas não lhes pisem os calos!

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