No PAIGC não se enxergam. Submetidos a um legítimo e justificado processo histórico (que só peca, aliás, por tardio, e que deverá culminar em breve, convertendo-os em sem abrigo), continuam prenhes de uma "legitimidade" histórica que tentaram plasmar como ad eternum no corpus da Nação, mas que de facto perderam um ano depois da proclamação unilateral da independência, com o correspondente reconhecimento desta por Portugal (para disfarçar esse espinho, deturparam o nome ao Partido, chamando-lhe partido africanista DA independência, e não PARA A): cumprida a sua missão como Partido, pela própria lógica de Cabral, este deveria suicidar-se, para agilizar o momento. Foi precisamente por querer atrasar o desenlace militar, mantendo os strella nas caixas e preferindo a via diplomática, que Amílcar morreu. Quando aquilo com que sonhara e para o qual trabalhara estava à beira de se tornar realidade, como justificar esta atitude "empata-f..." de Amílcar? Por mais que uma vez falou sobre esses seus receios: "Não pensem que vão todos mandar em Bissau: o carpinteiro será carpinteiro, etc..." (infelizmente o visado não gostou da boca e desmentiu-o, tornando-se presidente). Cabral, em pleno apogeu da sua carreira e perante eminentes sucessos, terá tido alguma premonição, nesse fim de ano de 1972, que as coisas poderiam correr mal? Papel ingrato, esse, de usar do travão numa dinâmica lançada pelo próprio... Se teve essa premonição, os seus receios eram justificados. Pior, aconteceu aquilo que temia, o seu pior pesadelo. O partido tornou-se instrumento de opressão, em vez de libertação. Roubaram meio-século à Nação. Partido obsoleto, ostentando na designação um facto passado e inaceitável referência a um país estrangeiro soberano. É urgente uma revisão constitucional (assunto definitivamente encerrado?) que extirpe esses resíduos de Partido Único que insistiram anacronicamente em manter na abertura ao pluralismo.
Mas isto tudo a propósito de
convocatória para uma Conferência de Imprensa, na qual, numa arrogância sem limites e violando todas as regras de comunicação e mesmo de simples boa educação, não se anuncia o assunto nem o motivo, mas apenas os conferencistas. Dos 5 W obrigatórios, esqueceram-se de 2? Where? When? Who?
What? Why? Julgam-se realmente muito importantes, os iminentes sem-abrigo!
PS A conferência de imprensa foi patética. Que são o PAI da democracia, os criadores da Nação! Assassinos e usurpadores de Cabral, isso sim. Uma fraude de meio século. Tão escandalizados que se mostraram, aqui d'el Rei!, perseguição política, e tal, esqueceram-se do precedente de Cabo Verde, que têm no nome do próprio Partido, onde o MpD, alternando no poder, deu a escolher ao PAI local entre duas alternativas: ou mudavam a bandeira ou era a bandeira do país que seria mudada; o PAICV escolheu conservar a sua bandeira; o país mudou a sua.
PPS Vitimizando de perseguição política, dizem que os querem impedir de concorrer às eleições, mas a providência em causa apenas pretende, legitimamente, em abono da igualdade de oportunidades entre Partidos, impedir que continuem descaradamente a abusar dos símbolos nacionais. Encarem as coisas pelo lado positivo, é uma oportunidade para os jovens designers do partido. Já beneficiaram tempo demais dessa associação de imagem, tal como, aliás, do imóvel na zona nobre da capital, cujo salão nobre é grande demais para a militância, a qual está actualmente reduzida aos próprios candidatos.
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