Depois de enfiar o barrete do Expresso, a SONANGOL publica um frágil comunicado, mais confirmando que desmentindo a situação de falência.
Atabalhoadamente redigido, foge-lhe a boca para a verdade quando, tratando de solvabilidade, onde queria dizer «superior a 62%», diz «inferior a 63%». Efectivamente! Acertou! Muito inferior. Não basta saber fazer aproximações às unidades, tem de estudar a forma como o diz. Estas gaffes imperdoáveis não escapam aos analistas financeiros internacionais. Compelido a desempenhar o papel de papagaio de José Eduardo dos Santos, o administrador mete os pés pelas mãos: a sua especialidade são os petróleos, não a contra-informação. Assim se podem compreender este género de actos falhados: os gestores estão baralhados.
«Os sinais são animadores»... precisamente na semana em que o rebentamento da bolha chinesa roubou $10 à cotação do petróleo? Ok. Fica-se a conhecer o calibre do bicho, até onde está disposto a ir o Pinóquio. JES esconde assim que está a abusar da paciência dos seus subcontratados, para tentar arranjar divisas frescas. Já enrolado numa espiral de dívida e empenhamentos, tenta cobrir a careca vendendo petróleo abaixo do preço de custo. Ou seja, produzir 11,8% (fazendo muitos esforços na comparação) mais petróleo é mau, quando se opera abaixo do preço de custo. Quanto mais se produz, mais dinheiro se perde. Quanto à referência sibilina ao OGE, com a afirmação espampanante de que o «preço médio de exportação realizado pela Sonangol está 35% acima do preço de referência de programação para o ano de 2015» tem a ver com a farsa que representaram os pressupostos estúpidos já aqui denunciados dessa rectificação [de que uma quebra de 50% no preço do petróleo se traduziria numa quebra semelhante nas Receitas do Estado (como se não devessem ser considerados custos de produção)]: a fixação por baixo da fasquia dos $40 conseguiu assim passar por uma medida de prudência na altura e produzir hoje afirmações idiotas como esta.
O «jornal português» que revela «insuficiente análise e conhecimento» reagiu pouco depois, com um artigo. No entanto, permitam-me que ajude à festa, que os senhores jornalistas são um pouco acríticos para o meu gosto, quando lhes dão palha a comer. Para quem queira puxar simplesmente de um lápis, as contas são simples: em 2013 produzia-se menos petróleo, mas os lucros cifraram-se em cerca de 3 mil milhões de dólares. A conjuntura apenas começou a mudar em Setembro do ano passado, e só a partir de 11/11 o petróleo baixou dos $75. Embora o impacto se reduza a menos de dois meses, foi o suficiente para provocar o descalabro dos lucros da empresa, que perderam 77% em 2014, para pouco mais de 700 milhões de dólares. Ora (mesmo após 9 meses de conjuntura favorável) se dois meses abaixo dos $75 deram origem a uma quebra de lucros de 2,3 mil milhões, imagine-se o que está a acontecer nas contas deste ano. Rapidamente se chega à conclusão que a Sonangol já está falida: cada dia que passa aumenta a sua imensa e estúpida bolha deficitária e ineficiente, que quando estourar vai doer em muitas carteiras estrangeiras.
Talvez os stakeholders devam tirar ilacções do caso: não se deve apostar em cultivar a arrogância e a estupidez.
Sem comentários:
Enviar um comentário