quarta-feira, 13 de maio de 2015

Revolução popular no Burundi

Aproveitando uma deslocação de Nkurunziza à Tanzânia, o General Godofredo Niyombare, proclamou esta manhã a destituição do Presidente do país. Ex-Chefe de Estado Maior das Forças Armadas e companheiro de partido de longa data de Nkurunziza, fora nomeado em Dezembro passado para a chefia do Serviço de Informações, mas acabou demitido em Março, por divergências com o Presidente.

A noite caiu em Bujumbura e, segundo os vários media que estão a reportar, o desfecho não é claro. O centro das atenções transferiu-se entretanto para o aeroporto, ocupado pela tropa. Se o Presidente conseguir aterrar, conseguirá eventualmente agarrar-se ao poder; mas ninguém sabe para que lado estão virados os militares que ocuparam o aeroporto, ou se Nkurunziza arriscará a viagem.

Tudo começou bem cedo, esta manhã. A grande originalidade deste dia foi decerto o importante papel desempenhado pelas mulheres, que tinham marcado uma jornada de luta contra a pretensão do Presidente de concorrer a um terceiro mandato, e pela reabertura da RPA, rádio contestatária fechada pelo regime. Ocuparam o centro de Bujumbura, tendo sido dispersas a canhão de água, reagrupando-se em seguida.

Mais tarde, o grosso dos manifestantes tentou fazer a junção com as mulheres, sendo impedidos pela polícia. Alguns elementos revoltosos do Exército, com um blindado, juntaram-se aos populares e enfrentaram a polícia, avançando muito lentamente com a multidão. A polícia entretanto desapareceu das ruas. As chefias militares reuniram-se para discutir a saída para a crise, sem que se perceba muito bem, para já, para que lado pende a situação.

Parece que o Presidente conseguiu assegurar a fidelidade de algumas unidades, mesmo se duvidosa: quando um repórter francês perguntou, há pouco, a um dos soldados de guarda ao Aeroporto (entretanto fechado e de luzes apagadas, tendo um avião belga sido desviado para Nairobi) de que lado estava, se do lado do povo se do lado do Presidente, este não soube responder... Aterrará para continuar a aterrorizar?

Se em termos militares as coisas estão confusas, já em termos de controlo dos meios de comunicação, as coisas parecem correr melhor para os revolucionários. A polémica RPA voltou a emitir, o que foi festejado com alegria por toda a população; enquanto, por outro lado, a REMA, pro-governamental, que tinha vindo a dar notícias enganosas sobre a revolução e a apelar a uma «guerra de catanas», foi silenciada.

A televisão, defendida por um contingente leal ao Presidente, continuou aparentemente com a sua programação, como se nada se passasse. A população festeja ruidosamente nas ruas a desgraça pública do Presidente e julga que o Golpe foi um sucesso. Os slogans dos manifestantes a que foi dado maior relevo no Twitter, foram, para as mulheres, «Pierre Nkurunziza para Haia»; já para os homens, foi destacada a consciência de que «Pela primeira vez o povo decide e é respeitado», ou «Somos hutus, somos tutsis, somos o Burundi!». 

O que levou o jornalista do Le Monde, Jean Pierre Remy, a exclamar, traduzindo o sentimento geral «O que se joga em Bujumbura é o futuro virtual de vários outros poderes africanos».





Créditos Twitter: Sonia Rolley @ RFI e Jean Pierre Remy @ Le Monde

3 comentários:

  1. Declarações contraditórias do Chefe de Estado Maior da facção das Forças Armadas leal ao Presidente: embora afirme que tomou o controlo de todos os pontos estratégicos, apela à rendição dos soldados amotinados. Talvez o nascer do sol dissipe as dúvidas, quanto ao sentido popular da revolta, que a transformará em revolução.

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  2. Chefe de Estado Maior desmentido pelos factos: apesar de garantir o «controlo de todos os pontos estratégicos», nem sequer foi capaz de garantir a segurança da Rádio onde leu a declaração. O amanhecer trouxe a intensificação dos combates, com o calibre das armas empregues a aumentar. Maior parte das rádios silenciosas. Os rebeldes parecem ter a iniciativa, com o assalto à Rádio-Televisão Nacional. Nkurunziza já perdeu a batalha, o povo está de alma e coração com os revoltosos. Ex-Presidente deixou a Tanzânia e seguiu para Kampala com o Presidente do Uganda: está assim a menos de uma hora de voo de Bujumbura...

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  3. A Rádio lealista através da qual o CEM anunciou o «falhanço» da revolta acaba de confirmar que a iniciativa pertence aos rebeldes e não aos lealistas. Os tiros que se ouviram durante a noite e que se estão a intensificar desde o amanhecer, são os revoltosos a tentarem limpar as bolsas de resistência favoráveis ao Presidente.

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