«Estou convencido que teremos de resolver este problema de forma pacífica. E era bom que fosse com a colaboração do próprio Presidente dos Santos. (...) É preciso acabar com o caso de prisioneiros políticos e humilhados em Cabinda; acabar com os casos “Rafael Marques”; acabar com os casos “Kalupeteka”, só passíveis de ter lugar, onde o medo de perder o poder e o aproveitamento político não lembram nem ao diabo». Palavras publicadas ontem na sua página da internet, após quase um trimestre de silêncio. Sub-entenda-se: é que se não vai a bem, vai a mal!
Há três meses, em entrevista à Folha 8 de 31 de Janeiro, Marcolino Moco defendia que «está à vista de todos que o MPLA está refém do Presidente; o meu problema não é o próximo Presidente ser filho do Presidente (já há e houve muitos) mas a questão do regime (fortes risos), a não ser que ele volte atrás, está à vista que ninguém o vai contrariar. Agora, o que está fora de caso (risos) é, realmente, até onde o Presidente Santos chegou e quer chegar para teimosamente segurar o poder pessoal, até para além da vida, dentro de um Estado proclamado democrático. (...) A situação do BESA devia fazer pensar os que acham que morremos de inveja por não exercermos o poder e por isso criticamos ou como dizem “cospe no prato onde comeu”. É particularmente grave que um Banco Nacional cubra o crédito mal parado a particulares, nas volumosas somas anunciadas, por ordem de um chefe de governo intocável. E, na mesma altura, ou logo a seguir, não há divisas no país. Se vierem coisas piores do que isso, então adeus... Na verdade é o Presidente que, hoje, se tornou refém de si próprio. (...) A única solução para um governo imediatista é a arte de encontrar “bodes expiatórios” e “desculpas do mau pagador”, o que nas circunstâncias nem é difícil, num país onde se reprime e até se mata quem reclame. (...) Acredito que um dia o bom senso despertará as consciências dos homens da elite política da minha geração, a tempo que futuras gerações não resolvam isso de forma inesperada. Os sinais não andam muito longe e isso não se resolve com eleições sucessivamente armadilhadas, para a UA, a ONU e UE verem.»
Entretanto, afastado da política, Moco tem acedido ao pedido de vários partidos da oposição, participando em vários eventos, constituindo-se de certa forma, como uma autoridade transversal. Nesse contexto, são especialmente significativas as suas declarações de que «a única organização que está a tentar actuar com o que a
situação exige são os chamados jovens revolucionários que têm levado a
cabo manifestações em Luanda de forma pacifica.
Isto porque, segundo disse, esse movimento está a colocar a questão
politica fundamental em Angola no centro das atenções, nomeadamente o
facto do regime não permitir manifestações pacíficas, não dar
explicações sobre pessoas desaparecidas, não permitir a liberdade de
imprensa e não encontrar quem possa substituir o chefe de estado no
poder há 34 anos. Disse ainda que a oposição, particularmente a
UNITA deveria tentar enquadrar a resistência dos chamados Jovens
Revolucionários encontrando uma plataforma de entendimentos com outros
partidos políticos e todos os outros sectores da sociedade até mesmo
dentro do MPLA.» É natural que, não tendo a sua dignidade à venda, sinta uma grande empatia pelos revu.
Quando lhe perguntaram qual era o vício do regime que considerava mais grave, respondeu em entrevista, sem pestanejar: «O culto de personalidade. Há pessoas que pensam que o Presidente
da República é insubstituível e que, no seio do partido, não há ninguém
que possa liderar o país. Quando o chefe de Estado diz alguma coisa,
todos aceitam e não se pode discutir ou contrariar. (...)
Encontraram uma forma de eternizar uma pessoa no poder. Nunca tive a
ambição de chegar ao poder. Mas, no futuro, posso ter.» Admita, senhor Presidente, que há gente bem mais competente. Não se faça de mouco.
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