Rafael Marques enfrenta o regime despótico de José Eduardo dos Santos, num desafio titânico. À SIC, afirmou que «todos sabemos qual é o papel do Governo português sobre Angola: É de total harmonia com os interesses corruptos e autoritários deste regime».
Em primeiro lugar gostaria de lembrar, a propósito, a ilegalidade do próprio julgamento, uma vez que os mesmos acusadores já se tinham sujeitado a outro foro, sendo um elementar princípio da Justiça que ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo crime. Claro que as regras do jogo não interessam para nada: em Angola, o espírito do legislador é descartável por qualquer conveniência bem colocada.
[imagine-se alguém acusado de assassinato e ilibado, voltando a ser acusado de homicídio... o seu calvário nunca mais acabaria, enquanto houvessem sinónimos. Os próprios Mandamentos teriam de passar a mais de 100, pois seria preciso acrescentar ao «Não matarás», «Não praticarás o homícidio», «Não cometas assassinatos», etc; o regime vai ainda mais longe, com novos conceitos de Direito, fundindo duas palavras!]
Prendem-se activistas pacíficos forjando inventonas, coartam-se todos os dias Direitos constitucionais básicos como o de Manifestação (até de simples reivindações estudantis - aliás imediatamente satisfeitas - de tal forma é o medo dos ventos do Burkina)... Tal como afirma Rafael no seu livro, mais do que um simples documentário, o estudo dos Diamantes de Sangue é uma amostra representativa do Regime.
Este julgamento é uma verdadeira farsa, mas a grande vantagem de Rafael Marques é que tem razão e está preparado para cumprir o seu destino, sujeitando-se à consciência do Juiz. A sua dignidade, coragem e determinação poderão levá-lo à prisão. Talvez, para aproveitar o tempo privado de liberdade, possa começar a escrever o próximo título: «Petróleo de sangue», dedicado à «província» de Cabinda.
Mas, se for preso, não será por muito tempo. Rapidamente o
responsável político, segundo a Constituição angolana, o irá substituir,
precisamente na mesma cela. Rafael Marques poderia trocar de lugar com José Eduardo dos Santos: sentar-se-ia o ditador no banco dos réus e o activista no cadeirão presidencial. Justiça seria reposta e Angola ficaria decerto a ganhar com uma nova partida, em bases saudáveis.
Libertem o Tempo!
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