Um balão de oxigénio de 435 milhões de dólares foi injectado na economia angolana na semana de 9 a 13 de Fevereiro. Esse prémio à banca (pelo diferencial relativamente ao câmbio informal), parece ter sido rateado em função da absorção de títulos do Tesouro, no valor de 46 milhões. Para encontrar a cotação oficiosa actual do Kwanza, e admitindo que as autoridades monetárias vão insistir neste esquema semanal, recorra-se à fórmula:
[(Montante em dólares semanal + Montante colocado em TT) / Montante em dólares semanal] x Câmbio Oficial
Ou seja, a «cotação» deve ter em conta que os bancos estão a ser compelidos a comprar dívida que não querem (cujo valor actual é sensivelmente zero), para conseguirem aceder a dólares, dos quais precisam muito para satisfazer os seus clientes (pelos menos para honrar o compromisso que assumiram com aqueles que possuem contas em dólares). Fazendo a conta a um câmbio oficial de 105,3 por dólar, facilmente se chega à conclusão de que essa cotação subiu para 116,4 Kwanzas por dólar, depois de diluídos os inerentes custos «extraordinários».
O Banco de Angola pretende assim, para além de capitalizar a banca, dar a entender que o esquema vai continuar. Ou seja, que a moeda poderá deslizar, mas ao seu ritmo e sob o seu controlo. Claro que os «prémios» seguintes não serão tão vantajosos, como na «oferta de lançamento». Ao fazer depender da política (e boa vontade) dos bancos a disponibilidade de dólares, a liquidez do Kwanza face ao dólar fica reduzida e a sua integral convertibilidade amputada, deixando por isso uma boa margem de manobra ao mercado informal (para já, uma margem que pode ser grosseiramente estimada entre 20 a 30 Kwanzas por dólar, a adicionar ao câmbio oficioso, calculado pela anterior fórmula).
O mercado, como resposta a esta acção, pareceu dar mostras de um pequeno afrouxamento na fúria do furacão. Mas será sol de pouca dura, uma fugaz acalmia. Neste momento, a procura de dólares é, pura e simplesmente, «infinita». Dado o desfasamento entre o câmbio oficial e o informal, qualquer montante que seja colocado encontrará tomador. Para enfrentar o sorvedouro sem fundo de divisas (que os responsáveis já lamentam publicamente - o qual tem evidentemente pouco a ver com importações), o Banco de Angola, se insistir em manter este sistema, irá tornando cada vez mais pesada a componente de dívida em Kwanzas a absorver pela Banca, para aceder a cada vez menos dólares. Tal como para um jogador de poker, o bluff é, em questões monetárias, um recurso importante. O dado mais importante, neste momento (aliás, solicitado por Chivukuvuku no Conselho de Estado) é a situação real das reservas do país, para poder ter uma ideia de quanto tempo conseguirão as autoridades manter este «jogo».
No entanto, regra geral, a miopia não é doença que afecte os especuladores. Passada a primeira surpresa, a tendência estrutural prevalecerá rapidamente, anulando o desejado efeito.
Entretanto, governantes como a Ministra do Comércio, ou um conselheiro presidencial, em discursos bem pobrezinhos e inconsistentes, tentam ensinar o padre nosso ao cura, diabolizando o papel dos empresários, os quais evidentemente, em períodos de incerteza, deitam contas à vida. É pouco razoável, para não dizer ridículo, pretender que os actores tomem decisões económicas baseados em crenças ou opiniões impostas por conveniências alheias. A pressão social que assim colocam sobre esses agentes apenas agrava o clima de desconfiança pré-existente, retroalimentando o processo de depreciação da moeda.
Sem comentários:
Enviar um comentário