Permito-me fazer eco do artigo publicado pelo irmão Doka, que, no discurso proferido pelo Primeiro-Ministro na Assembleia Geral das Nações Unidas, chamou a atenção para a afirmação:
«saudamos os esforços de todos os actores políticos nacionais e dos parceiros externos no sentido de produzir o consenso necessário a favor da continuidade de uma força internacional de estabilização após o período do presente mandato» [da ECOMIB]
traduzindo: um importante «doador» condiciona a disponibilização de uma «gorda» fatia de financiamento a um remake, a um dejà vu, ou seja, ao envio de tropas «activas» (para proteger manu militari os investimentos que também pensa realizar?).
Esta é uma nova figura na ONU. Uma inovação sem precedentes. Não só um país requer a criação de uma força de «estabilização» (na ausência de qualquer instabilidade civil há mais de cinco anos) para um país em paz (com tantos problemas pelo mundo fora a necessitar de intervenção urgente), como, para além disso, já tem (ao contrário das missões da ONU que penam para encontrar voluntários...) contingente dedicado, prévia e voluntariosamente formado. Aparentemente, pelo tom e pelo contexto, Domingos Simões Pereira, sabendo que nunca haverá condições para tal farsa ser aprovada nessa Assembleia, apresenta o assunto como «facto consumado», quase tratando-se de «mera formalidade», o «beneplácito» tácito pedido às Nações Unidas, pois o assunto está a ser tratado de forma bilateral (ou deveríamos dizer «trilateral»?), nas costas da CEDEAO. Só falta escolher o nome da missão. A falta de originalidade deverá conduzir à adopção da designação de uma anterior missão, fazendo eco da desforra pretendida, MISSANG II.
Sugerimos ECOMISSANG pois fica assim mais ou menos proporcional - três letras em dez - a composição 700 elementos da ECOMIB - isto se forem todos mantidos - e 1800 da MISSANG - com sete letras... Não é que MISSANG 7 não ficasse bem também, pois os efectivos são sete vezes maiores que os da missão 1.
Estas tropas não servem para absolutamente nada a não ser para ilustrar o mérito do «neo-colonialismo» angolano, o qual infelizmente parece ter-se tornado numa obsessão do Presidente desse país. A presença simultânea de tropas de várias organizações é uma potencial fonte de atritos de efeito pernicioso, arriscando-se fortemente a afectar a estabilidade que dizem vir proteger. Quanto ao efeito sobre a soberania nacional, ou a ofensa à capacidade e competência das próprias Forças Armadas, nem me vou pronunciar, para não me repetir. Sim, que tudo isto não é novidade nenhuma, a agenda sempre foi bastante clara, transpirada por Chicotes e Machetes...
Em termos práticos, isto é uma traição ao Pacto de Transição. Transitou-se para onde, se querem fazer as coisas voltar para trás? Estará o Primeiro-Ministro esquecido que foi nesse contexto político que foi eleito? Ou acredita que recebeu o poder, não do povo, mas de José Eduardo dos Santos e de Cadogo?
Não é apenas traição ao Pacto de Transição, é mais grave e simples, é traição tout court, conspirar para a invasão do país por tropas estrangeiras.
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