Chegou-me aos ouvidos que Otílio Camacho, do alto da grande estima que, qual jovem Narciso, nutre pela sua própria pessoa, debitou mais umas tantas e pouco substanciais sentenças, como já nos vem habituando.
Evidentemente que não me refiro a qualquer opinião, que respeitarei sempre, mesmo que diferindo radicalmente da minha. O que me irrita grandemente é a desproporção entre arrogância e insignificância (esta breve clarificação serve apenas para não ser acusado de «assassino de carácter»).
Vou pegar apenas numa ou duas pérolas da sua erudição:
«Sonhar. Sim ou não?? Não existem razões para sonhar!»
1) se levarmos o termo sonho à letra, qualquer psicólogo lhe poderá explicar que este não é comandado conscientemente pela razão
2) se o levarmos para o lado da utopia, num sentido de esperança num devir melhor, essa, «é a última a morrer», como consubstancia o velho mito da caixa de Pandora, e de certeza que não vai ser este engenheiro de obras feitas que a vai definitivamente «matar», como parece propor-se o candidato a expropriador de sonhos alheios
A) a famosa canção «Pedra filosofal» de António Gedeão lembra-nos que «cada vez que um homem sonha, o mundo pula e avança, como uma bola colorida, entre as mãos de uma criança»... mesmo que nada mude, na realidade, o mundo avança noutro plano! se necessário for, por a esperança não se cumprir, há que recomeçar a sonhar, só isso já será vencer! desistir, sim, é perder; mas quem está mais preocupado em alimentar a sua voraz e verborreica vaidade nunca chegará a descobrir o que isso é, o sonho;
«Está em jogo a destruição de conquistas históricas dos guineenses»
1) nestas eleições está em jogo a destruição?
2) não consigo discernir a que «históricas» conquistas se refere e dispenso-me de ironizar
a meia dúzia de frases feitas e de lugares comuns, dispostos ao sabor do humor do momento, não se pode propriamente chamar uma opinião, muito menos um artigo publicável.
«Ainda, nenhum candidato às presidenciais apresentou o programa de governação»
1) quem apresenta programa de governação é o candidato ou candidata a Primeira(o) Ministra(o), no âmbito das eleições legislativas
2) mesmo que o(a)s candidato(a)s já tenham os seus programas, talvez estejam à espera do arranque oficial da campanha, não fosse a porca torcer o rabo e o Supremo invalidar-lhes as candidaturas
o dito pretendia servir de isco para a publicação do «artigo»?
«Apesar de pessoas novas e formadas começarem a ganhar protagonismo na arena política guineense, "e ainda bem", ainda nenhum merece a minha total confiança.»
1) pessoas é feminino, portanto a continuação correcta seria «ainda nenhuma merece a minha total confiança»
2) evidentemente que, para alguém lhe merecer a «total confiança» - sendo transparente a sua psicologia - esse alguém decerto terá de ser muito parecido consigo próprio, dotado do máximo de qualidades: numérico, cinzento, frio, infalível e nunca alimentando dúvidas - nem sonhos, claro - um grande estadista, já se vê (acrescentaria «como Cavaco Silva» mas arriscar-me-ia a que fosse entendido como um elogio)
pena que, muitas vezes, «pessoas formadas» sejam também tão formatadas
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